terça-feira, 24 de julho de 2012

Out of the Blue


Estavam juntos por mais de uma dúzia de anos, e formavam um casal estável. Se desentendiam como todos os casais se desentendem, mas seus Amigos e Famílias não conseguiam imaginá-los separados. E tampouco eles.

Mas certo dia, out of the blue, ela lhe falou:
- “Preciso de um tempo.”
Ele a encarou, imaginando tudo. Ela continuou, inapelável:
- “Amor antigo. Separamos sei lá por que motivo. Doença terminal, poucos meses de vida. Mora na Índia, pediu que vá encontrá-lo. Eu vou.”

Ele não foi trabalhar no dia seguinte. Empacotou suas coisas e se mudou para um Flat.

Ela levou pouco mais de uma semana se preparando para a viagem, se desligando do trabalho, se despedindo da Família, organizando a vida que deixava e a que começava. Neste período eles se falaram somente o indispensável, as coisas práticas: afinal, se sofre em silêncio mas as coisas práticas precisam de andamento. Nas duas vezes em que precisou buscar alguma coisa pessoal, escolheu horários em que – sabia – ela não estaria em casa.

Ela se foi do País, e de sua vida.

Ele cortou qualquer fonte que pudesse representar informação a respeito dela. Bloqueou-a em redes sociais, e não perguntava (e nem queria saber) dela quando encontrava alguém de suas relações. Ficou sozinho (ou quase), pois gostava da solidão e não buscava tapar artificialmente aquele buraco.

Ela também não o procurou.

10 meses e meio se passaram.

Ele estava tomando café no Escritório quando ela apareceu. Out of the blue. O cabelo bem mais curto. Pele curtida, queimada de sol. Uma cicatriz no queixo, lado esquerdo do rosto (“meu deus, qual a história desta cicatriz?”). Um ar mais maduro, de talvez sofrimento, que a deixava ainda mais distante.

Mais uma vez ele ficou sem palavras.

Ela só disse uma:
- “Acabou.”


(julho/2012)