sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Os 2 tipos de Reveillon

Para mim, existem dois tipos de Reveillon:
- os que passo na Praia de Copacabana; e
- os que eu gostaria de estar na Praia de Copacabana!

Em Copa ficamos cercados por luzes: todos os apartamentos da Avenida Atlântica estão iluminados, a feérica iluminação da orla, milhares de velas de despachos na areia, as luzes dos barcos e navios no Oceano Atlântico à frente, e no Céu a infinitude dos potentes e torrenciais fogos de artifício.

Chegar lá é fácil: todos os ônibus levam a Copa. Dentro deles estará todo mundo vestido de branco, assim como nas ruas.

Sugiro levar sua própria garrafa de champanhe para entornar garganta adentro durante a queima dos fogos - ritual que (estando lá) eu invariavelmente cumpro. Leve-a dentro de um saco plástico, para evitar o assédio de bebuns.

Ao descer à areia, retire imediatamente seus sapatos. O melhor lugar para assistir aos 17 minutos de queima dos fogos é na beira da água, com os pés descalços dentro do Mar. Assim não fica nada nem ninguém entre você e a emocionante queima, e seus pés ainda estarão em contato com a Natureza e com Iemanjá. Muita gente aproveita esta hora para pular algumas ondinhas; muitos outros não resistem e mergulham de roupa e tudo (em geral esquecem e mergulham com o celular no bolso!).

Se você agüentar e o tempo estiver bom, dê uma esticada para ver o primeiro nascer do Sol do ano na Pedra do Arpoador. Tal noite será uma lembrança que, asseguro, você jamais esquecerá... E mais: fora a champanhe, foi tudo de graça!

De vez em quando eu mudo meu dress code, e vou de verde - para combinar com a garrafa de champanhe...

(dez/2010)

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

“Friends” e o Reveillon

Um episódio de “Friends” em uma de suas primeiras temporadas me marcou profundamente. Era noite de Ano Novo, e estavam todos reunidos no apartamento que é o cenário principal da série. Ofereciam uma festa para vários Amigos. A personagem Phoebe tinha um Namorado não muito convincente, mais para nada-a-ver do que para tudo-em-cima. Ela teve uma epifania lá pelas 21hs, e comunicou a ele que não deveriam passar a meia-noite juntos; que achava que não devemos passar o reveillon junto a uma pessoa com quem não acreditemos que vamos passar o próximo ano inteiro juntos, e que ela não desejava passar o novo ano inteiro com ele. Depois desta o cara foi embora imediatamente, é claro. E apesar de sozinha, ela ficou bem melhor sem ele.

Nunca deixei de pensar na sabedoria deste raciocínio. Primeiramente a lógica irrepreensível de não começar o ano com alguma coisa que não queiramos para o ano todo. É melhor começar o ano já zerado, já limpo, não carregar um fardo para o novo ano que se inicia; é preferível fazer a limpeza ainda no ano que está acabando.

Outro ponto é a revisão periódica do relacionamento. Não se ter aquela certeza perene, e que acaba levando à inércia. Nada disto!, sua relação será reavaliada no final do ano, e cada um irá decidir se deseja continuar com o outro ou não. Se você gostar de sua relação e quiser mantê-la tem que se empenhar para ganhar mais um aninho, mais um mandato - porque o atual expira bem breve!

Obrigado, Phoebe! Acabo de terminar a 4ª Temporada, e continuarei com os Friends ao longo deste ano que começa.

(dez/2010)

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Anti-Marketing

Diversas atitudes mercadológicas acabam tendo efeito adverso para o Consumidor.

Posso citar alguns casos, como o Programa de Fidelidade da ITAPEMIRIM por exemplo. Completando 10 viagens em seus ônibus o Cliente ganha 1 de graça. Quando completei minhas primeiras 10 viagens e fui fazer a troca, soube – o que não me havia sido informado no início do Programa – que tais 10 viagens deveriam ser cumpridas em um prazo de 12 meses. Espumei, mas me esforcei por conseguí-lo. Uso bastante a ponte rodoviária entre Rio e São Paulo, mas minha prioridade é normalmente dada ao primeiro ônibus que estiver saindo após minha chegada à Rodô. E assim, durante alguns meses, eu ficava sempre com 8 ou 9 viagens válidas, fazia uma viagem mas uma outra vencia, sempre na boca de obter o tal bilhete prêmio. Até que consegui! Mas quando fui trocar, outra decepção: eu deveria solicitar o bilhete telefonando para um 0800 com no mínimo 48 horas de antecedência. Ora, nunca sei sequer o dia em que vou ao Rio, ainda mais o horário com 48 horas de antecedência! Eu esperava ganhar um vale-passagem que pudesse ser trocado por um bilhete à hora que desejasse. Fiquei furioso por ter me dedicado à toa, e por estar pagando por 11 passagens e somente utilizando 10 (ou alguém acredita que a tal 11ª passagem seja “de graça”?). E assim me tornei um feliz cliente do EXPRESSO BRASILEIRO, que não tem Programa de Fidelidade.

Sabonete PROTEX. Fui usuário fiel na época do lançamento; comprei muitos. Mas depois foram “aumentando o leque de opções”, e chegamos ao ponto de hoje encontrarmos sabonetes Protex de: própolis, aveia, balance, fresh, cream, erva doce, ultra, suave e aloe. A Colgate me confundiu, e nem eu e nem mesmo suas promotoras sabíamos mais qual era o sabonete original! E assim sendo, eu simplesmente PAREI de comprar o produto...

Já escrevi sobre o CENTRUM: eu tomava diariamente há mais de uma década. Mas contrataram um garoto propaganda de 1 milhão de amigos, que além de sorridente, custa caro. Resultado: o preço do produto disparou (já contrataram até a Esposa dele para os comerciais) evidenciando que vivemos uma época de maior interesse no cliente novo do que no cliente antigo. Fui!

Leite BATAVO: entre outros critérios para a escolha do leite, faço questão de que haja uma VACA na embalagem. Neste caso o fabricante não tem culpa, pois pouquíssimas pessoas devem ser tão idioticamente românticas assim; mas com a mudança da embalagem tive que migrar para o ELEGÊ (embora a vaca da embalagem seja uma caricatura tosca, foi o que me restou).

Um casal amigo comprou em dez/2010 um computador APPLE em uma loja americana: quando foram retirar o produto, todos os vendedores da loja aplaudiram! Os dois ficaram sem jeito, tímidos, e saíram de fininho da Apple Store, se sentindo quase escorraçados. Queriam voltar e comprar mais coisas, mas acharam preferível não se expor ao mico novamente.

De vez em quando a WÖLLNER aparece com uma campanha de desconto progressivo que dá desconto de 10% para quem compra 1 peça, 20% para quem compra duas, 30% para quem compra três e 40% para quem compra 4 ou mais peças. Descontos sobre o total da compra, bem entendido. Sempre gostei das calças cargo deles (por muito tempo foram as melhores do Brasil), mas eu nunca tinha mais do que 1 peça para comprar. E sabendo que tal peça poderia custar 60% do preço da etiqueta, é claro que eu não iria pagar 90%! Tampouco iria me forçar a comprar 3 ítens que não necessitava. E assim eles deixaram de vender diversas calças para mim...

THANK GOD IT’S FRIDAY... mas somente se não for o seu aniversário! Todos os atendentes virão cantar “parabéns pra você” (tão constrangedor que deveria ser proibido até em casa) em sua mesa. Tentarão até te fazer pagar o mico de subir na mesa; afinal, no dos outros é refresco! É claro que, embora adore as ribs do TGIF, jamais passei por lá em um mês de junho.

E ainda tem gente que ganha dinheiro para bolar estas campanhas...

(dez/2010)

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Fato Relevante


A matéria ao lado por pouco não passou despercebida. Foi publicada sem qualquer destaque n’O ESTADO DE SÃO PAULO em 02 de julho de 2004.

“Um Panda Em Saturno” presta aqui inestimável serviço público, divulgando crucial precedente jurídico.

Cumpra-se a Lei!

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A Palavra Mágica

Li algo assim há muito tempo e jamais esqueci, pois faz todo o sentido.

Existe uma palavra que quando é dita por uma Mulher faz o Homem ter certeza de que ela está a fim dele. Quando qualquer Mulher fala esta palavra para qualquer Homem, está dando a ele uma pista definitiva de que está irremediavelmente interessada, praticamente louca por ele. E ele passa naturalmente a corresponder a todo aquele interesse, se sentindo quase assediado.

A palavra é:
- “Oi.”

(dez/2010)

domingo, 26 de dezembro de 2010

Take me down, little Susie

N. News (Seguidora deste Blog) jamais gostou de flores. Era engraçado: quando ela recebia um buquê, eu já ficava esperando a desconcertante resposta:
- “São lindas... Pena que estejam mortas!”

(dez/2010)

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Os votos da Viola

... são também os votos do Panda!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Gisele, a Fedorenta

Vivemos uma Sociedade curiosa. Se você chamar a Gisele Bündchen de fedorenta, ninguém vai se importar. Se chamar um cabeludo – digamos, o Paul Stanley – de careca, ninguém vai se importar. Mas se chamar um careca de “careca”... escândalo! Se chamar um fedorento (and you know what I mean...) de “fedorento”, corre o risco de ir preso! E o mesmo para baixotes, feiosos, burros, etc.

Recentemente tivemos o caso de alguém que foi processado por chamar uma loura peituda de... “loura peituda”!

A conclusão é óvia: trata-se de uma Sociedade completamente hipócrita. Se você mentir, não há o menor problema. Pode chamar a Gisele Bündchen de baranga, fedorenta ou careca à vontade.

Mas cuidado: se falar alguma verdade, será processado!

(dez/2010)

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Não Cabe Mais Nada

Eles formariam um belo casal, se fossem um casal. Bonitos e dinâmicos, ele chegando aos 30, ela pouco mais do que 20. Mas estavam sempre enroscados com outras pessoas, e quando um estava disponível a outra não estava, ou vice-versa. De modo que saíam esporadicamente, digamos uma vez por ano. Aquele que estivesse disponível ficava quase meio apaixonado pelo outro, mas os sentimentos nunca se encontravam. Só de vez em quando rolava alguma coisa.

Mas naquela vez tudo parecia sincronizado. Os dois manifestando claramente interesse no encontro. Marcaram cedo para terem todo o resto do dia livre. Um sábado pela manhã, ele a convidou para almoçar, ela aceitou. Saíram felizes, estavam animados, conversavam muito, tudo ia bem. Tinha demorado, mas finalmente iriam se acertar.

Passeando de carro após o almoço, ele a convidou para irem a seu apartamento (ela morava com os Pais). Mas foi surpreendido pela resposta dela:
- “Sabe o que é... Não cabe mais nada!”

Ele continuou dirigindo em silêncio, desnorteado, completamente puto. Deixou-a em casa, não sem antes passar-lhe um sabão: você não sabe o que quer, faz os outros de palhaço, brinca com os sentimentos, etc, etc.

Ele talvez tenha sido muito pouco romântico, pouco paciente, ou inocente, imaturo, etc. Eventualmente saíram novamente, mas apesar de até materializarem o interesse, jamais conseguiram transformar aqueles desencontros em um Encontro.

E pelo resto da vida, em situações diversas ele de vez em quando repetia esta frase. Não cabe mais nada! E sorria, divertido com a lado engraçado daquela triste lembrança.

(dez/2010)

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

No Comando de Reinos, Planetas e da Enterprise

Alguns grandes personagens da ficção nos deram magníficas lições de nobreza, altivez, comando e força.

O primeiro foi o PRÍNCIPE VALENTE, personagem de Hal Foster em uma das primeiras graphic novels épicas já escritas. O personagem saiu em tiras semanais de página inteira durante mais de 30 anos, em um desenho que não trazia os habituais “balões” de diálogos mas sim uma narrativa fluida. A história de Amor entre ele e a Rainha Aleta é uma das mais lindas já contadas. Valente tinha comportamento e postura de Rei, e não era possível dobrar sua vontade ou postura, pois tinha a altivez de um Monarca: ele caminhava ereto e inquebrantável, com as costas retas, o queixo erguido e o nariz empinado acima de todos os demais. Um aprendizado de infância que ficou para sempre.

Mais recentemente tivemos PADMÉ AMIDALA, a Rainha de Naboo no Episódio I de Star Wars. Padmé vestia as mais espetaculares roupas que uma Rainha já vestiu, mas trazia algo muito mais impressionante: sua postura. Não havia diálogo com ela; Padmé não admitia réplica. Ela falava o que queria e depois virava as costas e ia embora; ela não tinha o MENOR interesse no que os demais teriam a dizer. Sua palavra era a Lei; altivez no mais alto grau! Infelizmente Padmé decaiu ao ponto de dobrar roupa de cama no Episódio III, o que me deixou completamente transtornado. Nada tenho contra dobrar roupa, mas uma Rainha com aquele nariz empinado não poderia jamais se dedicar a este tipo de tarefa mundana.

Entre ambos, o Capitão JAMES KIRK me deu a mais forte noção do que é ser um verdadeiro Comandante. A Enterprise estava em uma situação dúbia e crítica, pois poderiam ou não ser atacados a qualquer momento. Se demorassem para levatar os escudos defletores poderiam ser avariados ao ponto de rendição incontinenti; se por outro lado o fizessem em hora excessivamente prematura isto poderia ser considerado um ato belicoso, pois não havia certeza de que os adverários efetivamente fossem atacá-los; ademais, estavam na Zona Neutra.
Um imediato mais nervoso na ponte de comando disse para o Capitão Kirk:
- “Acho que devemos atacá-los!”
Kirk olhou para ele e respondeu:
- “Sua opinião será levada em consideração, Senhor Fulano... no dia que isto aqui for uma democracia!”

(dez/2010)

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Escravo da Liberdade

Sou totalmente avesso a qualquer tipo de dependência. Qualquer coisa da qual você dependa é na verdade uma âncora que te tolhe a liberdade de movimentos.

Não existe nenhuma dependência boa. Não dependa de seu emprego, e nem do dinheiro que ele gera; não dependa do carro para ir trabalhar; não dependa do conforto de sua casa; não dependa do final de semana para descansar; não dependa do sorriso de quem você ama; não dependa de nenhuma cidade, ou bairro, ou droga. Não dependa de um Marido ou de uma Companheira; não dependa de companhia.

Note que não estou sugerindo que você não goste ou não tenha nenhuma destas coisas; pelo contrário, ser o senhor de coisas e não seu escravo é engrandecedor. Se eu tenho, ótimo; se não tenho, não há problema. Eu não dependo.

Não dependa da aceitação ou aprovação dos demais. Não dependa de seu time de futebol. Não dependa de um empréstimo ou de uma boa vontade. No que depender de você, não dependa dos outros.

SGdF me descreveu certa vez como “escravo da liberdade”. Agradeço a definição.

Só não consigo deixar de depender dos óculos para leitura... ou do Wagner, para dar um jeito na gaforinha!

(dez/2010)

domingo, 19 de dezembro de 2010

O Bêbado Chato

RA sempre disse que eu era o verdadeiro bêbado chato. Dizia ele:
- “Você bebe, bebe, bebe - e fica igualzinho!!!”

(dez/2010)

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Uma Terrível Descoberta

Comecei a me dar por gente no início dos anos 70. Sou rockeiro desde sempre, e era a época dos cabelões. Todos os músicos tinham cabelos lisos, longos, enormes. Um único grande rock star tinha cabelos que pareciam com os meus: Marc Bolan, meu primeiro grande ídolo na música, um porta-voz em “Telegram Sam”: ♫ “Me I funk, but I don’t care, I ain’t no square with my cork screw hair!” ♫

OK, eu não tinha cabelo liso. Isto já tinha me assombrado ao longo de toda a infância e pré-adolescência; mas agora ao menos o Bolan tinha o cabelo igual ao meu!

Nesta época estourou o Pedro Aguinaga, que até ganhou um concurso “o Homem mais Bonito do Brasil”. Ele fazia alguma novela que eu assistia. O cara era realmente pintoso (*) . E não tinha cabelo liso, mas cacheado!

Um dia tomei coragem, juntei grana e fui cortar o cabelo no Souza em Ipanema, na época o mais famoso barbeiro / cabelereiro para homens. Levei no bolso uma enorme foto do Pedro Aguinaga que tinha saído em alguma revista “Manchete”. E quando chegou minha vez de cortar o cabelo, do alto de meus 15 anos eu mostrei a foto e disse para o Souza:
- “É assim que eu quero!”

O Souza olhou para a foto, coçou a cabeça, e disse:
- “O seu cabelo não é bem assim... mas vou tentar fazer algo parecido.”

Aquele corte de cabelo caríssimo e tão aguardado, com o mais renomado cabeleireiro masculino da época e copiando "o Homem mais bonito do Brasil", ficou a mesma bosta de sempre. E foi neste dia que eu finalmente aprendi que não tinha cabelo cacheado, mas sim pixaim.

Tremendo bombril!


(*) Nota – “pintoso” era gíria de época que significava “bonito”. Não tem nada a ver com “pinto”, please!...

(dez/2010)

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Marcando um Homem para Sempre

Todo mundo sabe que Homens são criaturas simples, “diretos ao ponto”. Vou entregar aqui uma das muitas maneiras que uma Mulher tem para marcar uma destas criaturas pelo resto de sua vida.

É bastante simples: você sai com ele e aplica à vítima um serviço completo. Dá ao cara a noite de sua vida: divertida, alegre, sem a menor frescura, sexy, erótica (MUITO erótica), plena para ambos. Só sorrisos, gargalhadas, amor e felicidade. Se despede feliz e agradecida, e combinando para bem breve um próximo encontro. Nenhuma nuvem no ar, nenhum motivo para queixas ou dúvidas.

E nunca mais sai com ele de novo.

O coitado jamais vai entender. Vai viver na esperança daquela noite (que foi perfeita para ele) se repetir. Homens são muito mais românticos do que Mulheres – não à toa se diz que “Mulheres vão para a cama por Homens por quem estão apaixonadas, Homens se apaixonam pelas Mulheres com quem vão para a cama”. Você o deixou se sentindo o máximo, crente que abafou, e ele vai querer aquela sensação de novo. Você foi um porto seguro em um oceano de dúvidas, negaceios, incertezas e recusas. Ele vai esperar por uma outra oportunidade forever. For ever!

As criaturas simples e “straight to the point” não devem me criticar por abrir o jogo de forma tão escancarada. Sim, você ficou desguarnecido; seus mecanismos estão expostos, ela agora sabe te manipular (como se já não soubesse antes...). Mas graças a este conselho ela vai te dar uma noite espetacular; inesquecível. Sim, você vai ficar apaixonado por ela por um bom tempo, não vai entender nada, vai sofrer, vai encher a cara, vai escrever poesias e blues; mas por outro lado, sempre resta a possibilidade de algum dia ela cair em si e falar “puxa, aquele cara era O cara” e voltar a te dar uma chance – quem sabe uma ligação no meio da madrugada.

Todos saem ganhando.

Entregue-se de alma e corpo.

Ao menos por uma noite.

(dez/2010)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

As funções do Relógio de Pulso

Li certa vez que Adriane Galisteu teria dito algo como “um relógio de pulso realmente elegante não pode fazer nada além de indicar as horas; não pode nem mesmo ser à prova d’água!”.

Estou sempre vestindo algum relógio de pulso; mas curiosamente, já há décadas faço um grande esforço para não olhar as horas neles.

Explico: acho que é possível ver as horas em todo canto, e que portanto não seria necessário usar um relógio de pulso para isto. Assim, para comprovar esta teoria, busco as horas nos pulsos alheios (mas nunca perguntando, o que também seria cretinice demais: eu com um relógio no pulso perguntando as horas para os outros? xaveco pobre!), nos “outdoor-displays”, nas telas de terminais públicos. E reservo os ornamentos de meu pulso de rato para funções mais nobres, das quais a principal são os despertadores (meus relógios de pulso necessitam ter vários despertadores, se possível com função “snooze”). Uso também os cronômetros progressivos e regressivos (principalmente para jogos de Futebol de Botão, e para marcar o tempo de espera em filas e restaurantes; quando alguém diz “vai demorar 10 minutinhos” eu aciono o cronômetro na cara da pessoa); horário mundial (sabe lá o que é estar no Nepal com fuso horário de 8h45m de diferença?); e uma agenda básica para registrar alguns números que precisam estar sempre (literalmente) à mão.

A partir destes requisitos básicos, meus relógios têm algumas funções específicas: desenho do mapa celeste em qualquer data (utilizável em aniversários para traçar o mapa astral da Aniversariante, caso tenha interesse); altímetro, termômetro, bússola e barômetro (estes “triple-sensor” são imbatíveis em viagens); ou mesmo aqueles com ponteiros para visualização rápida ou no escuro (mas sempre com plataforma digital por baixo, algo como o DOS por trás do Windows).

Desta forma, evitar olhar as horas em meu pulso e tentar encontrá-la à volta acabou por se tornar um pequeno e desafiante divertimento para mim.

Aposto que a Adriane Galisteu nunca pensou nisto!...

(dez/2010)

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Haja vista que é Róráima!

O fato de não sermos completamente escravos aumenta a responsabilidade sobre nossos atos. Uma vez que ninguém é obrigado a fazer nada, qualquer falta de bom senso em nossas atitudes será uma responsabilidade exclusivamente pessoal.

Algumas vezes ouvimos atrocidades que evocam o desejo que o pelourinho estivesse de volta, fosse para justificar o “eu só cumpro a regra, sem colocar nenhum bom senso pessoal no gesto”, fosse para punir os mentecaptos que as pronunciam.

A principal rede de televisão do País insiste em uma lavagem cerebral em toda a população, esfregando uma pronúncia “Róráima” quase que a cada telejornal diário. O pretexto é o mais tosco possível: perguntam a alguém que mora lá: “como é que se fala?” e como o local responde “é Róráima”, pronto! Tentam impingir nacionalmente a pronúncia local. É como se perguntassem ao caipira: “como é que se pronuncia a palavra ‘caipira’?” e ele respondesse: “é caipiᴙa”, e pronto! Todo mundo deveria passar a pronunciar “caipiᴙa”, afinal foi o próprio quem ensinou! (E se o caipira se apresentar como Feᴙnando, você também deverá chamá-lo de “Feᴙnando”.)

Outra expressão irritante, repetida à exaustão pela Rádio que toca Notícia, é “haja vista”. Sim, está no Aurélio. Mas convenhamos: a justificativa para tal descalabro é que significa “conforme já foi colocado à vista”. Mas nem tudo o que já foi visto foi colocado à vista, aos olhos! Principalmente em uma Rádio! Sobre coisas que já foram debatidas e estudadas podemos afirmar: conforme já foi visto, e isto não se refere aos olhos. Tão simples, tão óbvio, tão elementar. Haja visto. Haja saco!

Seguir este tipo de regrinha é se acomodar em uma preguiça intelectual próxima à escravidão.

Outra expressão comum e irritante é a substantivação da sigla BRIC, com sua conseqüente pluralização: “os BRICs, que são o Brasil, a Rússia, a Índia e a China, (...)”. Ora, BRIC é uma sigla que embute e representa o nome dos países; não tem cabimento aplicar-lhe um plural. É o mesmo que dizer “os OTANs”, “os ONUs”, “os FIFAs”, etc. O único plural que cabe aqui é: “os manés”.

Pelourinho neles!

(dez/2010)

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Praça de Alimentação

O Arcanjo Gabriel e eu temos um debate que já dura toda a Eternidade em que nos conhecemos. Refere-se à devolução de bandejas em uma Praça de Alimentação. Tentarei ser imparcial na apresentação da argumentação; terei sucesso se ao final você não souber qual o lado que ele ou eu defendemos.

Note-se que a abordagem é puramente Econômica e Social, não havendo nenhum desvio de foco para o “cuidado”, “educação” ou “elegância” para com os demais usuários de tais Praças.

A questão é: deve-se devolver a bandeja usada à estação de limpeza, ou é melhor deixá-la sobre a mesa? Quando se deixa a bandeja sobre a mesa se está gerando um emprego; alguém deverá ser contratado para ir à mesa e levar a bandeja para a área de lavagem. Adicionalmente, o custo/hora de tal pessoa provavelmente será inferior ao custo/hora do usuário do restaurante, o que significa uma melhor utilização de recursos. E o funcionário da Praça sabe melhor o que fazer com os pratos, talheres e bandejas sujas do que o usuário eventual, que fica perdido um par de minutos e ainda acaba fazendo lambança.

Por outro lado... Como disse Delfim Neto (me recuso a adotar estas letras dupplas), deixar crescer o bolo para então distribuir. O emprego gerado para o recolhedor de bandejas na Praça de Alimentação é um benefício menor do que o lucro adicional gerado para o empresário dono da tal Praça, que o investirá em outros Shoppings, ou então deixará o dinheiro no Banco o que por sua vez vai possibilitar investimento governamental em Escolas, etc. Assim, o dinheiro que não for para a recolhedora de bandejas vai para um uso melhor, um emprego melhor ou para uma educação melhor.

Mas... se a recolhedora de bandeja não tiver o emprego agora, o filho dela vai precisar conseguir dinheiro agora de alguma outra forma... E talvez nem chegue a haver tempo para ele chegar a usufruir do investimento do dono do Shopping.

Levei a questão ao Professor BP de Filosofia, que levantou um outro ponto: não é por uma fábrica de armas gerar empregos que vamos passar a defendê-la.

Portanto, se você vir a mim ou ao Arcanjo (só um dos dois, o outro não concorda) deixando uma bandeja na Praça de Alimentação, ou o carrinho de supermercado no meio de estacionamento, não será por descaso, preguiça ou derespeito... é geração de emprego!

(dez/2010)

domingo, 12 de dezembro de 2010

Correndo contra o Muro

Estando de moto ou de carro, ele sempre estranhava quando era ultrapassado em alta velocidade por algum outro veículo mesmo havendo uma barreira de carros parados debaixo de um sinal fechado alguns metros adiante.

Considerava o uso do freio um sinal de ineficiência; um indicativo de que o motorista tinha usado o acelerador em demasia anteriormente, consumindo um combustível que seria desperdiçado logo em seguida com um igualmente desnecessário gasto dos freios. Em resumo, quanto mais se necessita frear ao dirigir, maior a comprovação da limitação de raciocínio.

Mas aquela vez foi demais. Era uma tarde de sábado e ele vinha de moto pela larga e bastante deserta Avenida JK em São Paulo, e o sinal estava fechado cerca de 100 metros adiante. Ele estava a 50km/h no centro de uma faixa de rolagem, e foi subitamente ultrapassado por um veículo que ia a mais de 100km/h na diagonal, cruzando as faixas vazias quase como se quisesse atingí-lo (ou ao menos assustá-lo). O “grande piloto” evidentemente teve que fritar seus freios, e parou alguns metros adiante, atrás dos carros que já estavam parados no sinal bem antes daquela presepada.

O motociclista não resistiu. Passou devagar pelo veículo, e quando estava ao lado do motorista, levantou a viseira e disse:
- “Correu à toa...”
Enquanto se afastava ele ainda ouviu o urro do piloto do carro:
- “VAI TOMAR NO ESFÍNCTER!!!”

O motociclista foi embora rindo, e divagando porquê será que as pessoas não gostam de ouvir a verdade...

(dez/2010)

sábado, 11 de dezembro de 2010

Dia dos Engenheiros



11 de Dezembro é o Dia dos Engenheiros & Engenheiras.

Sempre recordo o que foi dito na Aula Inaugural de minha Graduação na PUC-RJ:
- "Aqui não formamos Engenheiros, mas Cientistas".

Minha orgulhosa saudação nesta data aos colegas.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Big Bang Baby

O Homem prospectou o incomensurável espaço à sua volta, infinito de acordo com as escalas que conhecia. Mirou o mais longe que conseguia enxergar, e concluiu:
- “É espaço demais para que somente eu exista. Certamente existirão outras raças.”

O Homem investigou seu passado, o mais longe que conseguia enxergar, e concluiu:
- “O início de tudo se deu em uma grande explosão. Um jorro incomensurável de energia. Tal origem é inexplicável. Mas a partir de então, tudo começou a se formar.”

O Homem analisou seu futuro, o mais longe que conseguia enxergar, e concluiu:
- “Só tenho certeza de meu fim. E então, encontrarei o Criador.”

O tempo passou.

O Homem cresceu. Evoluiu. Lentamente foi compreendendo e ocupando o infinito que o cercava. Mas não encontrava outras raças. Não conseguia explicar sua origem. E não sabia o que aconteceria depois que deixasse aquele Universo que conhecia.

Eventualmente o Homem ocupou todo o Espaço. Viu que não existiam outras raças, e que se enganara: aquele Universo era na verdade exíguo para ele. Apertado. Sufocante. Compreendeu que não tinha levado em consideração seu próprio crescimento quando, ainda naquele estágio primitivo, avaliou o então inexplicável vazio do que parecera ser uma infinitude. Agora necessitava sair, e encontrar algum outro Universo para viver.

A bolsa d’água se rompeu, e chegou ao fim a existência do Homem em seu pequeno universo uterino. Ele saiu, e encontrou enfim seu Criador.

Mas também ele não sabia de onde vinha, e nem para onde ia.


(Thanks, I.A.!)

(dez/2010)

sábado, 4 de dezembro de 2010

Casamento Republicano

Apresento abaixo discurso que fiz no casamento do Arcanjo Gabriel com Juliana, com algumas observações:
- um discurso falado, composto para ser ouvido, tem uma estrutura bastante diferente daquela de um texto feito para ser lido;
- foi tremendamente difícil lembrar-me de todos os detalhes, pois o casal à minha frente estava completamente emocionado, e a força de suas lágrimas desviava muito minha atenção; alguma passagem pode ter sido saltada durante o “speech”;
- peço desculpas caso seja excessivo o número de menções, mas me é impossível assumir palavras de outros sem atribuir-lhes a autoria.


Boa Noite a todos,

gostaria de começar agradecendo à Juliana e ao Gabriel por esta Festa. Este é ou o primeiro ou o único Casamento Republicano de todos os tempos, de forma que de qualquer maneira estamos presenciando um evento histórico. Acompanhei o cuidado e carinho dos preparativos, e é muito claro que os homenageados da noite somos nós, e não eles. Esta é uma festa que eles estão dando para nós; o que temos aqui são eles celebrando a todos nós.

E quem somos “todos nós”? Vou fazer as apresentações. Meu Pai mencionou em seu discurso de Bodas de Ouro que "a Família são os Amigos que a Natureza escolheu para nós, e os Amigos são a Família que nós escolhemos". Pois são estes que aqui estão: as Famílias e Amigos escolhidos por e para Juliana & Gabriel.

Vou me apresentar, também. Meu nome é Marcio, e sou ex-Chefe do Gabriel, e seu atual Aluno - ou seja, uma tremenda evolução! Sou também uma pessoa extremamente romântica. E é exatamente como uma pessoa romântica que digo considerar o Casamento como o mais romântico gesto de todas as nossas vidas.

O mais romântico gesto, primeiramente, porque o Casamento é a única data que festejamos na vida que foi escolhida por nós mesmos. Não escolhemos nenhuma outra das datas que celebramos em um ano: aniversário, Natal, Ano Novo, Carnaval, Semana Santa, os feriados; mas a data do Casamento é uma escolha pessoal. De hoje em diante, a cada dia 4 de dezembro Juliana & Gabriel irão acender uma vela próximo a algumas plantas, para comemorar e relembrar o dia de hoje e este ambiente que nos cerca.

Outra coisa tremendamente romântica sobre o Casamento são os votos feitos pelos nubentes. Você chama os Familiares, Amigos, o pessoal do Trabalho, a Lei e o Governo, em alguns casos a Religião, sobe em um palco e jura solenemente que vai ficar com aquela Pessoa na fome e na doença, na pobreza e no fracasso, na miséria e na desgraça, até que a Morte os separe! Nada pode ser mais forte do que isto, nada mais solene, nada mais romântico! Vi certa vez um Padre falar em um Casamento “até que um enterre o outro”. Fortíssimo, é exatamente isto, você está elegendo seu Companheiro de Jornada, vai cuidar dele até o último momento, não há nada mais que se possa fazer por outra pessoa do que cuidar dela por toda a sua existência, até o último momento. Sempre choro nos Casamentos neste juramento.

Mas ao mesmo tempo esta é minha grande dúvida quanto às cerimônias de Casamento. Como é possível afirmar como você estará daqui a 10 anos? E o outro? Vocês não vão mudar? Interesses, estilos, desejos? Como é possível afirmar – jurar – que daqui a 10 anos os dois vão continuar querendo ficar juntos? Sempre que possível levo esta questão aos casais em vias de se casar. E o pior é que às vezes ouço como resposta: “ah, sem problema, se não der certo a gente se separa”. Como assim?!? Isto me revolta. Você chama todo mundo, faz a promessa solene, e se não estiver dando certo vai simplesmente ignorar, passar por cima de tudo e quebrá-la? Considero esta postura inaceitável.

Eu estava portanto preocupado com o que dizer aqui, pois poderia chegar e fazer todo um discurso “forever & ever” e depois o casal dizer “ah, desencana Marcio, se não der certo a gente se separa”! E fui conversar com eles a respeito de suas intenções, para sincronizar o que diria. Mas a Juliana foi absolutamente taxativa e direta: “conosco não tem disto, conosco é para sempre!”. Naquele momento eu fiquei totalmente convencido: ela não precisava dizer nada, não estava em cima de um palco com gente observando, estávamos conversando em “off” e totalmente descontraídos, ela podia dizer o que quisesse. Ali eu vi que eles já estavam casados.

Todos os discursos e sermões de casamento têm conselhos, então eu vou dar dois. Não que vocês precisem, mas pelo registro. O primeiro deriva de algo que um Tio meu falou em suas Bodas de Prata. Perguntei-lhe então o segredo para manter um Casamento por 25 anos; ele me disse que o Amor pode ser decomposto em 4 fatores (ele é Engenheiro, eu também, então adorei isto!): Amizade, Admiração, Respeito e Confiança. Eu gostaria de falar aqui sobre o Respeito. Respeito deveria permear todas as nossas relações. Cuidado com as palavras, cuidar em não irritar ou magoar os outros com o que dizemos, cuidado em sermos agradáveis e fazermos as vidas dos outros agradáveis. E mais ainda em um Casamento, em uma relação tão íntima e diária. Certa vez ouvi um Padre dizer: “ ’até que a Morte os separe’ com alguém buzinando e reclamando no ouvido é insuportável!”. Não acho que vocês corram este risco: vejo o carinho e respeito com que se tratam. Mas deixo para todos a referência.

O outro conselho se refere às palavras de um Amigo Budista. Ele extende o conceito de aura individual e energia do corpo de cada um à unidade do Casal. Diz que existe uma aura em torno do casal, um “invólucro” em volta dos dois, um “campo de energia” que não deve ser invadido ou rompido. Se for permitido que uma outra pessoa estranha, uma terceira pessoa entre neste envoltório, a energia do casal se enfraquecerá, se esvairá, comprometendo a unidade. Lutar sempre para não cair em tentação. E a melhor maneira que conheço de não cair em tentação é não se expor a ela. E, na eventualidade de aparecer a tentação, resistir de todas as formas; nunca ceder.

Vou agora cometer duas indiscrições, e contar para vocês duas histórias do casal. A primeira ocorreu quando o Gabriel conheceu a Juliana. Ele chegou para mim e falou “cara, conheci uma Mulher incrível no Mergulho, fantástica! Mas não vai rolar, ela é demais para mim, está muito além”. As semanas passavam, eu perguntava “e a Mulher do Mergulho?” e ele dizia “é espetacular, mas não vai dar para mim, é muita areia para o meu caminhão”. O tempo passou, eles acabaram ficando juntos, e ele continuou sempre entusiasmado por ela. Recentemente fui conversar com ele e o relembrei desta história: “lembra que você dizia que ela era demais para você?”. Ele abaixou a voz e segredou: “sabe de uma coisa? Ela ainda é muita areia para o meu caminhão...”. Isto foi muito lindo, remete a outro daqueles 4 fatores do Amor, agora a Admiração. Acho que as pessoas deveriam sempre achar isto de seus parceiros, colocá-los em um Altar, acima de todos os demais. Seu Companheiro de Viagem é uma pessoa única no Mundo.

A outra história se refere à Teoria das Azeitonas. Eu estava conversando outro dia com o Gabriel, e contava da Teoria das Azeitonas. Ela diz que para um casal dar certo é necessário que um dos dois não goste de azeitonas. O racional por trás disto é que já existem muitos motivos para querelas e desentendimentos ao longo da vida em comum, e se ainda por cima os dois forem brigar por causa da azeitona, será este o detalhe que vai fazer o copo transbordar e a relação não dar certo. E o Gabriel respondeu:
- “Puxa... A Juliana me ama tanto que até finge que não gosta de azeitonas!”
É a beleza desta visão poética – ou então o sacrifício da Juliana... – que me dá a certeza que o encontro de vocês é muito sólido.

Uma última palavra: indispensabilidade. Aquele mesmo Tio, agora em suas Bodas de Ouro, disse que o segredo do casal feliz é que sejam indispensáveis um para o outro por toda a vida. Acho isto lindo: você querer ouvir a opinião do parceiro, seja para comprar uma camisa, seja para decidir um computador. Não estou falando de dependência; meu Avô disse em suas Bodas de Ouro que “um casal deve ser como duas madeiras em uma fogueira: próximos o suficiente para se aquecerem, mas afastados o suficiente para que ambos respirem”. As duas cabeças do casal trocando idéias e decidindo juntas irão muito mais longe.

Meus votos são que vocês continuem sendo indispensáveis um para o outro, até o último momento. Parabéns pelo Casamento.


citações (por ordem de menção):
- Bodas de Ouro de P&M, jul/2005
- Casamento Ronaldo & Leticia, nov/2005

- Bodas de Prata Tios Luiz & Mirian, mai/1982
- Amigo Budista RdNBF
- Casamento André & Luma, nov/2010
- Bodas de Ouro Tios Luiz & Mirian, mai/2007
- Bodas de Ouro Vovô Gustavo & Vovó Aurora, nov/1979

(04/dez/2010)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Período Gestático

Já tendo passado por 2 ou 3 dos chamados períodos sabáticos, tenho alguma vivência para comentar o tópico.

A coisa começa sempre da mesma forma: quando sabem que você vai sair de seu Trabalho sem embarcar imediatamente em outro, as pessoas começam a te perguntar e falar:
- "Está maluco?!?"
- "Você não fica com medo?"
- "Mas o seu emprego é tão bom..."
- "Pense bem!"
- "Entendo seus motivos, mas agora não é o momento. A crise!..." (o Mundo está SEMPRE em crise)
- "Mas você vai fazer o quê?..."

Passado algum tempo, as mesmas pessoas notam que você está bem e feliz, não morreu, está vivendo melhor, dormindo mais, comendo direito, lendo, freqüentando o cinema, saindo à noite sem culpa, ajudando os demais, arrumando sua vida, escrevendo um Livro, encontrando as pessoas, enfim, está muito mais produtivo. E aí o papo muda:
- "Como você está bem!"
- "Estou tão de saco cheio do que faço..."
- "Eu queria ter a sua coragem..."

Nós NUNCA paramos de trabalhar. Paramos, isto sim, de ganhar dinheiro; mas o Trabalho é ininterrupto. É até pior: você deixa de ter horário para trabalhar, TUDO passa a ser horário de trabalho para suas novas (e muito mais úteis e interessantes) atividades.

Isto é importante: nunca deixar de fazer, de atuar, de progredir, de trabalhar. O desenvolvimento é constante. Discordo terminalmente desta expressão "período sabático". A intenção não pode ser de descansar, parar, cessar; a pessoa deve aprender, mudar, crescer. Você está desenvolvendo algo, gestando; e depois de tal interregno, no outro lado deve sair um você melhorado.

O período é gestático.

(nov/2010)

terça-feira, 30 de novembro de 2010

A Camisa do Mendigo

Muita gente usa camisa com símbolos, imagens e logotipos sem dar importância ao significado ou à mensagem que panfleta. Sinceramente não consigo entender este "desapego": por mais bonita que seja uma estampa, jamais irei trajá-la se não estiver de pleno acordo com o recado irradiado na mesma direção do meu olhar.

(Não consigo aceitar, por exemplo, as propagandas nas camisas de times de futebol. Ou então, para não ser excessivamente "naive", posso até concordar com a propaganda na camisa que a equipe veste em campo - mas não com propaganda na camisa que é vendida ao Torcedor. O apaixonado que compra uma camisa de seu time está comprando... uma Camisa Do Seu Time, e não um outdoor ambulante de sabão em pó ou tempero de galinha. Já tem time com propaganda de desodorante no suvaco; há também calção com propaganda de cueca. Daqui a pouco vai ter propaganda de Hipoglós nos fundilhos dos atletas!)

Da mesma forma, presto bastante atenção às camisas que as pessoas vestem. No entanto é bastante comum que ao perguntar "o que é esta figura na sua camiseta?" eu ouça um "sei lá!" como resposta...

A camiseta cuja estampa mais me marcou era trajada por um Mendigo. Eu os vi há alguns anos, ele e a camiseta estavam na esquina da Rua Maestro Chiaffarelli (continuação da Pamplona) com a Avenida Brasil, em São Paulo. Eu passava de moto e parei no sinal. Tive que resistir para não propor trocar sua camiseta pela minha. Ela tinha um comprido Don Quixote, e ao lado trazia grafado:
"Eu me esforço tanto para ser eu mesmo, e você fica querendo que eu seja igual a todo mundo!"

Até hoje me arrependo de não ter proposto a troca.

(nov/2010)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Grandes Galerias

Na condição de maníaco obcecado por tudo que se refere à música que gosto (ou seja, Rock Progressivo e Rock Pesado), fico garoto para afirmar que não existe lugar NO MUNDO para se comprar discos e vídeos de música como as GRANDES GALERIAS (hoje conhecida como "Galeria do Rock") em São Paulo.

Freqüento regularmente as GG desde que me mudei para Sampa em 1982; atualmente vou lá pelo menos uma vez por mês. A primeira lembrança marcante foi de uma vez que queria comprar algum bootleg do GENESIS: a Banda já tinha acabado havia alguns anos (Progressivos que merecem tal rótulo simplesmente ignoram, ou melhor, ABOMINAM o Genesis Cover com Phil Collins no balbucio) e era evidente que nenhum outro material viria a ser lançado; resolvi então comprar algo ao vivo nas GG, alguma coisa que para mim seria "nova". Lá chegando encontrei mais de CINQÜENTA piratas ao vivo, os registros de diferentes excursões com diferentes setlists. Era simplesmente impossível escolher entre tanta oferta; e acabei voltando para casa sem comprar nada!

As GRANDES GALERIAS oferecem tudo o que o fã nerd garimpeiro possa desejar, e muito mais do que ele espera: boxes, edições especiais, pirataria, imagem e som de shows de diversas excursões que seriam inacessíveis de outra forma, camisetas baratérrimas e de boa qualidade, e toda a sorte de penduricalhos. Com o passar do tempo outras tribos se alojaram, como rappers, góticos, blacks, sk8, funkers. Tem de tudo convivendo em harmonia: piercings, tattoos, lojas de roupas para palco ou pista, uma profusão de tênis e bermudas, bolsas, couros, pinturas de cabelos, vampiros, tudo o que se possa imaginar e desejar. Mas o supra sumo são ainda as lojas de música: lá encontro discos de todas as nacionalidades, edições raríssimas, edições moderníssimas, edições únicas. E você ainda pode encontrar músicos como por exemplo os do Dream Theater, o Joey Molland do Badfinger ou até mesmo o Ian Anderson, todos fuçando discos!

Visito obcessivamente as lojas de discos em todos os lugares do Mundo; já freqüentei toda espécie de muquifo e megastore em Hong Kong, NYC, London, Berlin, Paris, Beijing, Rio, Madrid, Amsterdam, Frisco, e centenas de etceteras. Acredite, e faça bom uso de minhas mais de 5.000 horas de pesquisa: NÃO EXISTE lugar algum NO MUNDO para se comprar "music-related items" que se equivalha às GRANDES GALERIAS.

RNBF comentou certa vez que "a PALAS ATHENA é um bom motivo para se morar em São Paulo"; bem, as GRANDES GALERIAS também são!

(nov/2010)

domingo, 28 de novembro de 2010

Aqui Tem Amor Para Todos


Em 1999 fui com vários Rockers assistir ao show do KISS no Autódromo de Interlagos. A expectativa era enorme, mas o vexame foi maior ainda. De volta às máscaras após frutífero período como uma legítima banda de Heavy Metal, o KISS espremeu ainda mais a laranja dos velhos (e, reconheço, excelentes) sucessos com uma performance circense que não estava à altura. Até hoje tenho os óculos 3D daquele show; mas até hoje guardo a impressão que a bateria de Peter Criss era suspensa durante o solo para que ele não fosse apedrejado...

A curiosidade ficou por conta da Banda de abertura, o desconhecido RAMMSTEIN da Alemanha. Um heavy metal indescritível, ficamos pasmos e atônitos com a performance sado-couro-homo-labredas da Banda. E durante anos aquela noite foi motivo de chacota em uma 'private joke' entre nós que lá estivemos.

Passados 11 anos, o RAMMSTEIN está de volta ao Brasil, de volta a São Paulo para duas noites no VIA FUNCHAL nos dias 30/nov e 01/dez. Nos últimos dois meses aprendi a admirá-los a ponto de ter comprado TODOS os cds e dvds do grupo. Considero-os A Melhor Banda em atividade, lançando ótimos discos, com um enorme respeito pelos Fãs e apresentando um show excepcional - além, é claro, de música "headbanger" da mais alta qualidade.

A excursão se baseia no disco "Liebe Ist Für Alle Da" (LIFAD) de 2009, ou "Aqui Tem Amor Para Todos" em uma tradução bastante liberal e pessoal. Tocam 8 das 11 músicas do último disco (todos os discos do RAMMSTEIN têm 11 músicas), que é como acredito que deva se comportar uma Banda que se orgulha do material que lança.

Apresento e comento a seguir o setlist do show no Chile, que iniciou a excurão pela Südamerika no dia 25/nov. Caso queira verificar a performance, anexo um ou outro link - mas recomendo som de boa qualidade nas caixas, com reforço nos graves.

1. Rammlied ("Canção Ramm"; LIFAD 2009)
Várias músicas deles têm a palavra "Rammstein". Abertura do disco, e um excelente gig-opener. Certamente o VIA FUNCHAL irá abaixo, com minhas lágrimas descendo junto.
2. B******** (LIFAD 2009)
Palavra inventada. Uma das possíveis interpretações seria "Letra" (do alfabeto), o que neste caso geraria a tradução "L****".
3. Waidmanns Heil ("Saudação do Caçador", LIFAD 2009)
Ou seja, a abertura do show é com 3 músicas do novo disco. O R+ não é como diversas Bandas que vivem de glórias passadas e que lançam discos novos somente como pretexto para mais uma excursão... para tocar toda aquela josta antiga uma vez mais!
4. Keine Lust ("Sem Tesão"; Reise Reise 2004)
Um dos melhores clips de todos os tempos. Foi indicado para MTV Europe Video Awards em 2005, e é descrito pela banda como "reflete nossa vontade de tocar, fora de todo o circo; algum dia no futuro vamos nos reencontrar apenas para fazer música juntos". O divertidíssimo, crítico e genial clip está em HD em:
http://www.youtube.com/watch?v=ytRQjrP4A0s
5. Weisses Fleisch ("Carne Branca"; Herzeleid 1995)
6. Feuer Frei! ("Atire à vontade!"; Mutter, 2001)
Em um show já pródigo em pirotecnias, imagine-se o desvario em uma música com este nome...
7. Wiener Blut ("Sangue Vienense", LIFAD 2009)
8. Frühling in Paris ("Primavera em Paris", LIFAD 2009)
Inclui trecho de "Non, je ne regrette rien", gravada por Edith Piaf.
9. Mein Teil ("Meu Pedaço"; Reise Reise 2004)
Baseada em história real de homem que colocou anúncio na internet, conheceu uma garota, seduziu-a, matou e canibalizou. "Você é o que você come... este pedaço é meu!" Trouxeram para a Südamerika a encenação de palco original, com o vocalista Till vestido de açougueiro, microfone-facão e um enorme caldeirão cozinhando Flake, o tecladista - contra quem ele dispara um lança-chamas. Pessoalmente considero uma performance visual excessivamente "Mamonas".
10. Du Riechst So Gut ("Você cheira tão bem"; Herzeleid 1995)
11. Benzin ("Gasolina"; Rosenrot 2005)
"Eu não preciso de amigos, nem de cocaína / não preciso de médico e nem de medicina / não quero uma mulher, só quero vaselina / me dê nitroglicerina, eu quero gasolina!". Incendiária! Uma boa oportunidade para conhecer a movimentação "Tillhammer" do vocalista está em:
http://www.youtube.com/watch?v=ccu21wGUSgU
12. Links 2 3 4 ("Esquerda 2 3 4")
O antológico clip das formigas headbangers. O nome se refere a um hino de marcha militar. O número 2 (zwei) é aqui pronuncido em sua forma arcaica "zwo" (danke shön, Herr Potamus!); alemães costumam usar a pronúncia zwo ao telefone para não confundir zwei (2) com drei (3). Música com resposta gritada da platéia enlouquecida. Em:
13. Du Hast (Sehnsucht, 1997)
A tradução dos trocadilhos contidos na letra seria longa demais para este espaço; pesquise! O próprio nome da música soa como "You Have", mas se pronuncia "You Hate" (du hasst).
Por muito tempo "Sweet Child O' Mine" foi o último grande clássico gravado na história do Rock. Mas Du Hast é irresistível, a "Bohemina Raphsody" do R+. Para ouvir ao vivo chorando emocionado, e depois poder dizer: - "Eu vi "Du Hast" ao vivo!".
http://www.youtube.com/watch?v=7I7gUmq2E3w&playnext=1&list=PLAE34AE5CD16D7BF1&index=23
Por incrível que pareça, esta é a única música que tocam daquele que é (merecidamente) reconhecido como o melhor álbum do R+, "Sehnsucht".
14. Pussy (se você não sabe o que é, não sou eu quem vai explicar!; LIFAD 2009)
Sobre turismo sexual. "One size fits all"! Utilizam várias palavras alemãs de conhecimento geral, para ressaltar os clichês das cantadas (Merzedes-Benz und Autobahn, Blitzkrieg, Schnaps, Kopf, Bratwurst, Sauerkraut). O clip é completamente pornográfico, hardcore sem pudor, e quando o vi pela primeira vez estava com Papai & Mamãe! Quando acabou a execução explícita ficamos em silêncio por alguns segundos, até que Papai comentou:
- "É... Não faltou nada!"
A versão disponível no You Tube é censurada: as cenas de sexo explícito - que são muitas - estão fora de foco. A única opção para ver o original está no site onde a música foi lançada, em: http://www.thegauntlet.com/)
15. Sonne ("Sol"; Mutter 2001)
16. Haifisch ("Tubarão", LIFAD 2009)
Refrão baseado na música ("Mack the Knife") da ópera "Die Dreigroschenoper" (The Threepenny Opera) de Bertolt Brecht e Kurt Weill.
17. Ich Will ("Eu Quero"; Mutter 2001)
Incendiadora de multidões. Vídeo imperdível no You Tube:
18. Ich Tu Dir Weh ("Eu te machuco", LIFAD 2009)
Proibida na Alemanha, é um highlight do último disco.
19. Te Quiero Puta! ( Rosenrot 2005)
Brincadeira genial e irresistível. Cantada em espanhol com uma mulher gritando "ai, qué rico!" ao fundo enquanto Till canta "dáme, dáme tu calor", mistura rumba e hardcore e é um encerramento perfeiro para um show em Südamerika. Torçamos para que a executem também no Via Funchal.

O tecladista Flake não navega mais sobre a multidão em um bote salva-vidas ao final do show porque relata já ter se machucado muito fazendo isto, inclusive com ossos quebrados. (Uma idéia simples, um belíssimo momento de integração músico/platéia no encerramento do show em Berlin está em:
http://www.youtube.com/watch?v=j5cU_BEqS8Q)

Do Brasil seguem para NYC, onde se apresentam no Madison Square Garden no Dia do Engenheiro. O símbolo do show é a Estátua da Liberdade... segurando uma tocha em chamas!

Graças ao R+ estou querendo passar 2 meses em Berlin estudando Deutsch. E, claro, para tentar assistí-los Live Aus Berlin.

Sempre fui extremamente exigente com Música, e há muitos anos não me entusiasmava tanto com uma Banda. Se você tiver a oportunidade de comparecer, asseguro que não vai se arrepender. É claro que é necessário ter bom humor, mas isto é necessário para curtir qualquer coisa na vida. Será fácil me localizar nos shows: um grisalho com camisa da seleção alemã. Ich hoffe dich da zu sehen!

(nov/2010)

sábado, 27 de novembro de 2010

Os Emissários do Buda

Cupins são mensageiros de Buda, trabalhando incansávelmente para nos lembrar que tudo é impermanente...

(nov/2010)

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Time Table

De todas as letras de meus quase mil discos, a frase que mais me marca e é recorrente em minha vida está em "Foxtrot", disco de 1972 do GENESIS:
♫ "(...) a time when honor meant much more to a man than life (...)"♫

Vivemos um tempo em que as vitórias se tornaram mais importantes do que a honestidade. O mais evidente exemplo disto são os jogadores de futebol se arremessando no ar, voando pelo vazio, cavando faltas inexistentes, expulsões injustas e penalties desonestos, canastrões que só se preocupam em enganar o árbitro a curto prazo, pouco se lixando para as milhões de pessoas estão vendo seu patético e chinfrim papel escancaradamente desonroso. Se o atleta consegue enganar o Juiz, tudo lhe é perdoado. E assim é com tudo: ninguém apresenta a verdade, mas somente mentiras para se safar das conseqüências de seus atos. Políticos flagrados choram sua "inocência". Ninguém é macho de assumir seus erros. Nunca ninguém fez nada. Ou então não se lembra. E apenas quando as provas do erro são irrefutáveis, a pessoa "se arrepende".


Eu sou daquela época. Nada me é mais importante do que a Honra, o Respeito, a Hombridade e a Coragem de tentar fazer o correto, e de assumir e arcar com as conseqüencias de seus atos porventura errados.

Se você admira tais valores, nasceu na época errada.



Nota: "macheza" e "hombridade" são aqui mencionadas como valores, e não como referência sexual.

(nov/2010)

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Erros de Projeto

Por mais que se diga que "a Natureza é perfeita", a meu ver existem em nós 2 erros de projeto inaceitáveis.

Um deles são as cáries. Como é possível que algo feito para mastigar e comer, atividades obrigatórias à vida, inevitáveis e recorrentes, possa se decompor exatamente por executar aquilo para o que foi projetado?!? Os dentes foram feitos para morder e mastigar; e é exatamente isto que causa sua ruína! Li certa vez que muitos leões morrem por causa de suas cáries: chega um ponto em que os dentes lhes doem, não conseguem mais morder, mastigar ou se defender, ficam fracos e se tornam presas fáceis. Por causa das cáries! Falha em seu principal sistema de ataque, defesa e sobrevivência!!!

Outro erro inacreditável são as pedras nos rins. Como é possível que um órgão - ou uma série de tubos, filtros e canais - ENTUPA exatamente com aquilo que é feito para processar?!? Já tive pedra nos rins, uma coisa minúscula e que quase me matou de dor e deixou meu organismo de tal forma descontrolado que chegou a convulsionar - e note que bebo bastante água. De novo: os rins são feitos para processar os sais. Mas processam e deixam uma titiquinha de tais sais (5 mg de cálcio oxalato, segundo o laudo), e pronto: o cabra quase MORRE!

Erros de projeto.

Ou todos nós - bichos inclusive - somos "work in progress", ou então O Projetista cagou no pau!...

(nov/2010)

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Esperanto

Uma Dama me comenta: a Igreja deveria adotar o Esperanto.

Faz todo o sentido: afinal, se através da Religião todas as pessoas são Irmãs, nada mais adequado do que o congraçamento durante os rituais - em qualquer parte do Mundo. A pessoa poderia estar a duas dezenas de milhares de quilometros de sua casa, mas quando entrasse no Templo que professa sua crença encontraria terreno conhecido; cumpriria rituais que lhe são familiares com perfeito entendimento, ao invés de se sentir um estranho tentando adivinhar o que está acontecendo. No Templo mais distante o religioso se sentiria em casa, pisando solo conhecido. O Esperanto adotado pelas Igrejas ou pelas Religiões uniria a Humanidade, reforçaria os rituais, aproximaria as pessoas. E poderia até servir para alavancar esta língua cuja idéia por trás é bastante racional.

O único e grande problema é fazer olhar para a frente uma gente que só sabe olhar para trás...

(nov/2010)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Novela em 4D

Nossa vida é uma novela em 4D. Não temos (cons)ciência, mas somos todos ao mesmo tempo autores e personagens de um enredo que dispõe de Tecnologia muito além de nossa compreensão atual.

Esforce-se portanto para que aqueles que te acompanham não fiquem comententando a seu respeito: "mas é um babaca!", "como é egoísta", "como é mau caráter", "como é que ela agüenta isto", "como é que ele agüenta ela"!

Seja o/a Protagonista da sua novela. Um/a Protagonista nobre e admirável. Divertido e criativo. Corajoso. Que dê gosto acompanhar.

(nov/2010)

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Eleições

"Votar não se trata de eleger o melhor, mas simplesmente de escolher o menos pior."
(Winston Churchill)

"O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam."
(Arnold Toynbee, citado por Dora Kramer)

(out/2010)

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O Gol Mil do Pelé

Eu tinha 13 anos de idade no dia 19 de novembro de 1969, quando Papai me levou ao Maracanã para assistir àquele Vasco da Gama x Santos.

O País vivia há semanas a sensação do Gol Mil do Pelé (era assim que era chamado, e não "Milésimo Gol" ou qualquer outra variante). Todos acompanhavam a contagem regressiva. Quando chegou a 999, a expectativa transbordou. Mas o gol não saía.

Antes daquele confronto contra o Vasco, o Santos jogou contra o Bahia. Mas o gol não saiu, tendo o Pelé inclusive chutado uma bola no travessão (houve quem o acusasse de ter mirado na trave só para que o Gol Mil acontecesse no Maracanã!). E a torcida do Vasco foi presenteada com o jogo mais esperado do ano.

Meses antes o Papai tinha vaticinado: - "Vai ser contra o Vasco". Eu era um tremendo fã do goleiro vascaíno, o argentino Andrada, uma muralha de encher os olhos de qualquer torcedor, e principalmente os de uma criança. O único goleiro tão bom quanto ele era o Andrada de chumbo de meu time de botões!

Jogo à noite. Foi uma das poucas vezes que me sentei no lado oposto ao habitual da torcida do Vasco, e ainda assim estava cercado por torcedores do Vasco. Ou talvez não: não sei dizer quantos daqueles (oficialmente) 65 mil torcedores eram cruzmaltinos; à época, me pareceu que todos eram. O Vasco abriu o placar no primeiro tempo, e o Santos empatou no início do segundo. Próximo ao final do jogo, quando parecia que mais uma vez o Gol Mil não sairía, penalty contra o Vasco! Ele não queria bater, mas a torcida urrava: -"PELÉ! PELÉ!". Eu era criança, e não queria ver o Vasco perder. Não queria que ele fizesse o gol (o que mostra como é raso o raciocínio de uma criança). Mas Pelé foi convencido, talvez até para acabar com aquela expectativa que deixava a ele, ao time do Santos, às torcidas e a todo o País em total ansiedade. Na hora de cobrar, todo o time do Santos ficou atrás do meio campo! E se o Andrada rebatesse?

Antes da cobrança. Andrada passeia abraçado a Pelé na entrada da grande área, e conversa com ele em um intrigante tête-à-tête. Fiquei curiosíssimo (e até hoje ainda sou) sobre o que o goleiro do Vasco - pois só ele falava - estaria dizendo para ele.

Excitação domada, a torcida se senta. Pelé cobra o penalty: Andrada se estica todo, e quase agarra! Mas é gol, e a torcida pula, grita GOL!, pela primeira - acho que única - vez na vida eu vejo a torcida do Vasco comemorar um gol que o time sofreu, pela primeira e única vez na vida eu fico sentado na arquibancada vendo um monte de bundas pulando quarenta centímetros à minha frente. E é claro que me levanto também.

Depois de muita festa, antes do jogo recomeçar, soam os auto-falantes do Maraca (a sonoridade com eco dos auto-falantes do Maracanã é inesquecível, quem a ouve uma única vez se lembrará para sempre, quem ouve milhares de vezes passa até a anunciar alterações em jogos de futebol de botão com a mesma entonação):
- "SUDERJ IN-FOR-MA! SUBSTITUIÇÃO NO SANTOS: ENTRA FULANO; SAI..."
Suspense. O Radialista se alonga na pausa, propositadamente demorando para dar a informação que vai acabar com o jogo:
- "... PELÉ!"

A torcida do Vasco não se importou com a derrota (só eu); e hoje me orgulho de ter presenciado aquele momento. Durante anos o Papai carregou na carteira o ingresso do jogo, para pegar nele um autógrafo do Pelé no dia que o encontrasse. E eventualmente o Papai realmente o encontrou; mas esta já é uma outra história...

(out/2010)

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A Pedra e a Receita

Penso que é comum aprendermos com um erro somente quando o cometemos pela segunda vez. Apenas quando conseguimos comparar os pontos em comum nas duas trilhas que levaram ao desastre é que conseguimos apontar: ah, foi AQUI que eu errei!

O mesmo acontece com algumas doenças mais complicadas. Foi apenas quando tive minha segunda crise renal é que entendi que já tinha tido uma primeira 8 anos antes, além de um outro aviso de médio porte no meio do caminho.

Domingo de eleições. Chego de madrugada ao Rio para votar. Estou preparando o café da manhã, e a dorzinha que vem me incomodando há alguns dias inicia um crescendum que intuo só irá acabar no Hospital. Abandono o desayuno pronto na mesa antes mesmo de tocá-lo e parto para um banho rápido, pois não sei o que tenho e portanto não sei quando terei oportunidade de um outro. Aviso a Papai & Mamãe que ao invés de irem à Missa eles me levarão ao Hospital.

Chego à Casa de Saúde devastado, mas lá eles não atendem este tipo de Emergência, e me arrasto até o carro para ir a outro Hospital. Nas ruas a eleição fervilha; o tempo não pára, mas o trânsito sim. Passamos por um Cemitério e me dá vontade de ficar logo por ali, com tudo resolvido; mas em breve chegamos ao Hospital que me recebe com uma cadeira de rodas, antes de me transferir para uma maca.

A dor é como uma pontiaguda vontade de urinar que vai crescendo sem nunca mais parar. A alturas tantas o organismo perde o controle do que está acontecendo, não mais sabe o que se passa - e começo a vomitar. Em seco, pois estava em jejum. Contrações fortes, vomito, vomito e não sai nada; a boca fica toda babada, e é só. Meu Irmão avisa que daqui a pouco estarei vomitando bilis. Mas felizmente o organismo entende que esta reação também não adianta, e desiste dos engulhos.

Um pouco mais tarde, já medicado, ouço uma Enfermeira que comenta:
- "Dizem que as duas piores dores são a do parto e a da crise renal. Mas eu já tive dois filhos, e o que senti não chega aos pés deste estado em que vejo vocês chegarem aqui..."

Saio do Hospital com missão de procurar um Urologista. Ele me dá uma animadora notícia:
- "Se a criança não sair de parto natural dentro de alguns dias, teremos que partir para a cesária..."

O passar dos anos vai te deixando acostumado com o rolar ladeira abaixo, e fazer xixi em um coador é apenas mais um degrau nesta escada descendente.

Mas o coador funciona, e capta uma pedrinha! (Igualzinha à que vi em um desenho no consultório do Urologista).

Em uma última consulta, o Xamanz me alerta:
- "Você tem mais algumas areias nos rins, e deve se hidratar bastante para tentar limpá-los. Beba bastante líquidos. Cerveja..."
- "Muita água?", pergunto eu.
- "Cerveja."
- "Chá?"
- "Cerveja."
- "Água de côco?"
- "Cerveja."
- "Suco de Melancia?"
- "CERVEJA!!!"

(out/2010)

sábado, 9 de outubro de 2010

Um Panda em Rapa Nui

Dear Friend,

"Um Panda Em Saturno" entra em recesso por um breve período, em função de retiro em um dos pontos mais ermos desta nossa Shikasta.

Em um exercício corporativo em 2001 fui questionado quanto a meu objetivo de vida.
Passados quase 10 anos, a resposta permanece a mesma:
- "Conhecer o Universo. Mas por enquanto me contento em conhecer este Planeta."

(out/2010)


sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Antártica ou Antártida?

Uma vez que já fui ao "continente branco", sou comumente indagado se sei a resposta à pergunta "o certo é Antártica ou Antártida?". Não encontrei a resposta em nenhum iceberg ou tampouco na boca de algum pingüim, mas prestei bastante atenção ao assunto, e apresento minha especulação pessoal a respeito.

O nome Ártico (do Pólo Norte) deriva da palavra grega "arktikos", que significa "urso". Isto tanto pode se referir aos ursos brancos que habitam o Pólo Norte como às constelações Ursa Maior e Ursa Menor, que ficam no Hemisfério Norte (a Ursa Menor inclusive é a constelação que contém a Estrela do Norte, que fica "estacionada" acima deste Pólo).

No lado diametralmente oposto da Terra fica portanto... o Anti-Ártico, ou Antártica. Este me parece ser o nome correto.

De onde viria então a corruptela "Antártida", que se vê em todo canto no Ushuaia e é largamente utilizada em Português e Espanhol? Creio ser fruto da combinação de "Antártica" com "Atlântida" resultando "Antártida", com um generoso tempero de Ignorância no que se refere à origem da palavra.

Uma viagem à Antártica é uma lembrança mágica em uma vida. Um mundo intocado pelo Homem: pingüins, leões marinhos, focas, lontras e demais animais não aprenderam a ter medo do Homem, e se aproximam de nós sem a menor cermônia. É emocionante passear por dentro das colônias de pingüins, verdadeiras cidades. Fora o tremendo alarido que eles fazem ,"conversando" sem parar, todos se manifestando ao mesmo tempo, em uma algazarra da qual vou sentir saudades pelo resto de minha vida.

É possível optar por 2 diferentes "conceitos" de viagem. A travessia do Drake (os 1.000km de mar entre a América do Sul e a Antártica) pode ser terrível, pois trata-se do encontro de dois oceanos e um mar: o Oceano Atlântico (alguém diria "Atlântido"? Faria até mais sentido...) com o Oceano Pacífico mais o Mar Antártico - em resumo, são os 1.000km do Mar mais sacudido que você vai encontrar em sua vida. A travessia leva de 2 a 3 dias, e você pode optar por ir em um navio grande, estável e confortável de 500 passageiros ou então em um quebra-gelo de 87 passageiros, como eu & AMB optamos. Mas a diferença vai além da estabilidade da travessia do Drake: na Antártica são permitidos desembarques de no máximo 100 passageiros por vez (o que se dá através de barcos tipo "zodiacs" para +/- 8 passageiros). Assim, se você vai em um quebra-gelo, consegue desembaracar todo mundo ao mesmo tempo, o que habilita 2 ou 3 desembarques a cada dia; já em um cruzeiro do tipo Queen Elisabeth com 500 pessoas, serão necessários 5 turnos de 100 pessoas, e acaba ocorrendo apenas uma visita por dia. A escolha é sua... mas saiba que no Drake tivemos praticamente TODO MUNDO passando mal, até mesmo o Médico! É necessário colocar suas coisas no chão da cabine, mas mesmo assim ela passam a noite rolando para lá e para cá, e a cada 3 minutos se chocando violentamente em uma parede diferente da cabine. Além da tripulação eu fui o único a não passar mal (thanks, God-inho!) e assim passava os dias e noites (pois era impossível dormir) da travessia nas cabines de comando ou em salões desertos, ou então vendo a fúria do Drake pelas escotilhas. Para se ter uma idéia, uma das muitas ondas que cobriam nosso Antarctic Dream chegou a QUEBRAR uma das janelas em nosso deck, encharcando e enregelando um casal holandês que lá estava - note que o navio era um quebra-gelo! Repito: a escolha é sua...

Outra curiosidade são os banhos de mar. Você tomaria banho de mar no meio de icebergs? Quem toma ganha um Diploma, e isto despertou o interesse deste Mané. Ao longo da jornada (foram 2 dias de ida, 6 no Pólo Sul e 3 de volta) 3 heróis mergulharam, sob os aplausos de todos. No último dia teríamos um mergulho organizado pela tripulação na "Deception Island". Lá chegando, havia uma tempestade de neve. Fizemos um trekking sob fortíssimas ventania e nevasca, e chegamos à borda de uma cratera de vulcão. Voltamos à praia do desembarque, e até os pingüins tinham sumido. A tripulação cavou uma piscina-banheira, que ficou cheia de água vulcânica a uns 70º de temperatura. Estava PELANDO dentro da piscinita, e congelando fora dela! AMB desistiu do "mergulho", e apenas eu e mais uns 15 outros boçais entramos e lá ficamos queimando os bagos e congelando as costas e peitos. Não dava para ficar dentro da água e nem sair!

Quando voltamos para a cabine, lá estavam dois diplomas. Fiquei puto: AMB tinha se inscrito para o "mergulho" mas desistiu na última hora, então era injusto que ela também recebesse o Diploma; quanta desorganização! Mas o Diploma dela era um atestado de Inteligência e Raciocínio, ela era parabenizada pela racionalidade de ter desistido da "façanha"; já o meu era um Diploma De Inacreditável Imbecilidade, ressaltando que nem mesmo os pingüins estavam se banhando naquele momento...


(fotos: repousando no deck do cruzeiro /zodiacs e o Antarctic Dream / casal de pingüins / cidadela de pingüins / lontras / cratera de vulcão em Deception Island / banho que vale um Diploma)

(set/2010)

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Saída Para Uma Situação Sem Saída

Existe uma situação na qual você fatalmente só se dá mal.

É quando conta para alguém alguma coisa que não deve ser divulgada.

A partir daí, se você disser "não conte para ninguém", ou então "fulano/a não pode saber", com certeza vai ouviu um desaforado:
-"Mas é ÓBVIO que eu não vou contar, o quê você acha que eu sou???"

Por outro lado, se não der nenhum aviso, a pessoa vai sair contando a história para os outros, e quando você for questioná-la vai te responder:
-"Ué... Mas você não disse que não era para falar!"

Esta situação só tem duas soluções:
- ou você dá o 'warning' ANTES de contar o tal segredo, ou
- não conta nada (que é a melhor política).

"Segredo entre três pessoas só está bem guardado quando duas delas estão mortas."


(Nota - na verdade a frase "você não disse que não era para falar" incorre em erro básico, pois uma dupla negativa não é uma justificativa. Mas isto é amplamente ignorado, e usa-se a rodo "eu não sabia que não podia...", como se ignorância fosse desculpa. Neste caso, a resposta adequada é "não é por alguém não saber que o fogo queima que ele vai deixar de queimá-lo".)

(set/2010)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Heleno e Tesourinha

Esta história aconteceu na década de 40, e me foi contada por meu Pai. O Campeonato Brasileiro era então disputado pelas seleções estaduais. Tínhamos confrontos entre os “scratchs” gaúcho, mineiro, carioca, paulista, etc, e para que um jogador atuasse por um Estado não era necessário ter nascido nele, mas sim estar atuando naquele Estado naquele ano. Mas por mais encarniçados que fossem os certames, as finais eram sempre as mesmas: Cariocas versus Paulistas.

Em uma destas finais, Heleno de Freitas (que jogava pelo Botafogo) e Tesourinha (Vasco da Gama) eram titulares da Seleção Carioca. O Estádio de São Januário (o Maracanã ainda não estava construído) assistiu a uma jogada espetacular do Heleno, que driblou metade da Seleção Paulista e deixou Tesourinha solto na cara do gol. Mas Tesourinha errou a finalização, chutando para fora. Heleno ficou furioso e passou uma verdadeira descompostura em Tesourinha; todos no estádio viam sua gesticulação agitada e furiosa. Tesourinha abaixou a cabeça e se afastou.

Na jogada seguinte foi a vez do Tesourinha driblar meio time paulista, investindo pela ponta direita como se fosse o Garrincha. Ele deixou Heleno solto no meio da área, de cara para o gol com a bola limpa e completamente sem marcação. Mas Heleno errou o chute, e isolou a bola por cima do gol.

Tesourinha se aproximou dele e simplesmente lhe deu dois tapinhas nas costas, e se afastou...

(aniversário do Papai/2010)

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Em Outras Condições

Um dos mais tocantes elogios que recebi na vida veio de uma mendiga imunda, desgrenhada, mulambenta e cujo cheiro era condizente com esta descrição.

Tarde de domingo, eu estava na Rodoviaria Novo Rio aguardando o ônibus que me levaria para São Paulo. Bebia uma água mineral com gás no boteco ao lado do embarque. Observei a Mendiga rondando pelos 3 botecos que ficam ali. Devia ter cerca de 30 anos, e poderia até ser bonita, mas para tanto precisaria passar primeiro por meia hora de banho em desinfetante, pois seu estado era realmente lastimável. Conseqüentemente, todos a tratavam muito mal.

Ela se aproximou de mim. Falava com bastante calma, não era agressiva nem insistente, abordou-me educadamente. Pediu-me que lhe pagasse um refrigerante. Normalmente não dou nada, mais para evitar alimentar este tipo de comportamento pedinte de que por ser mão-de-vaca. Mas a quase-fineza de sua abordagem contrastava muito com modo que vinha sendo tratada pelos demais transeuntes, e me sensibilizei. Dei-lhe 5 reais (posteriormente me arrependi, pois ela realmente parecia estar precisando de mais), porém acho que o que a tocou não foi o dinheiro mas sim o fato de ser tratada de forma igualmente educada.

Ela agradeceu e se afastou rumo a outro Bar. No meio do caminho parou, deu meia volta e veio falar novamente comigo:
-"Sabe, eu gostaria de ter te conhecido em outras condições."

Fiquei sem palavras enquanto ela se afastava. A resposta só me ocorreu quando já dentro do ônibus: eu também gostaria de tê-la conhecido em outras condições.

(set/2010)

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Metal Progressivo

Li certa vez que "o Heavy Metal é o hobby dos fãs de Rock Progressivo, e o Progressivo é o hobby dos Metaleiros".

Concordo. Em muitos trechos de suas músicas as Bandas Progressivas descambam para a pancadaria. E da mesma forma muitos trechos do Metal são verdadeiras suítes progressivas.

Sempre fui um Progressivo, com o Heavy Metal como hobby.

Mas de um (bom) tempo para cá, o Rock Progressivo é que se tornou meu hobby...

(out/2010)

As Desvantagens da Beleza

Muita beleza e gostosura acabam sendo karma ruim para uma pessoa. Por quatro motivos:

- Ao invés da meia ou uma dúzia de pessoas que em média realmente se interessam por alguém ao longo de uma vida, a gata-avião gostosérrima terá à sua volta centenas de gaviões permanentemente rondando, cercando e azarando. Descobrir entre eles quem é The One será muito mais difícil, pois tal oceano de interferências inevitavelmente inibirá a sensibilidade;

- Exercer poder de sedução é bom e viciante, e será difícil para a Linda Mulher parar com o brinquedo - mesmo se tiver encontrado O Cara Certo;

- A pessoa muito bonita tende a querer alguém igualmente muito bonito, o que reduz o universo amostral - e conseqüentemente as chances de acerto;

- Como se diz, "Amor que vem com a Beleza, vai com a Beleza".

Portanto, caro/a Leitor/a, quanto mais feio/a você for, mais abençoado/a por Deus será!

(set/2010)

sábado, 2 de outubro de 2010

Images and Words

"Uma imagem vale por mil palavras.
Mas tente dizer isto com imagens!"

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Marcio Contra o Vulcão (Parte I)

(Embora esta história tenha ocorrido na primeira semana de 2003, até o momento em que a redijo - setembro de 2010 - ainda não existe uma Parte II para ser contada.)

Uma das mais impressionantes e espetaculares viagens que fiz foi ao Deserto de Atacama. Não à toa os sábios, loucos e iluminados buscam o deserto, lá permanecendo por longas temporadas. Passei no Atacama o Reveillon de 2002/2003 e as duas semanas seguintes. As vivências desta viagem foram profundamente marcantes, no Deserto não há como evitar uma avassaladora invasão da Espiritualidade, as conversas com as Divindades são intensas, em uma troca direta e objetiva que chega a ser um diálogo. Espero algum dia registrar adequadamente toda a experiência; por enquanto uma página-resumo está no texto "As Cores do Deserto", postado neste Blog em set/09. Relato a seguir três momentos distintos desta viagem que se fundem em uma experiência única que tatuou minha Alma.

No dia 4 de janeiro de 2003 fiz o belíssimo passeio das LAGUNAS ALTIPLANICAS, a mais de 4.400 metros de altitude, com caminhadas por lugares inesquecíveis e de cores inacreditáveis. Durante uma de tais caminhadas avistei algo que parecia um vulcão, com um cume cônico uns 400 metros acima do nível em que estávamos. Um alarme interno soou: desde "Joe Contra O Vulcão" sonho subir um, e ali - a 'walking distance' - estava uma oportunidade. Expliquei para o Guia da excursão que gostaria de me desligar do Grupo por algumas horas: eu subiria o vulcão enquanto eles faziam um outro passeio que era parte da programação, e os encontraria na volta em local e horário que combinamos. Ele deu o OK, dizendo que "uma perda de 10% dos turistas é aceitável em um tour"... Ressaltou no entanto que minha impressão era falsa, pois a montanha era mais alta do que parecia e naquela altitude o esforço seria muito maior. Nada me demoveu; felizmente um francês (Hugues) optou por me acompanhar, declarando que "ninguém deve ficar sozinho na montanha".

Foi uma sucessão de coisas que deram errado, como uma fortíssima ventania de areia finíssima que entra nos olhos e a perda dos óculos de proteção. Mas o pior problema foi a exaustão absoluta: cheguei a um ponto de cansaço que a cada subidinha de 3 metros eu precisava parar por 5 ou 10 minutos para me recuperar. Aproximava-se o horário de retornar, e afinal, a cerca de 30 metros do cume (Hugues tinha parado uns 50 metros antes) optei por desistir da tarefa que levaria ainda mais de 1 hora, apesar da proximidade. Imaginava então que a descida fosse ser fácil, mas nada disto: estava no limite das forças, com reservas zeradas, e a cada 50 metros que descia eu deitava e morria, ou queria morrer, até que em uma das paradas o Hugues (que eu já reencontrara) sugeriu uma pequena siesta. Dormi na encosta do morro, e em resumo a descida levou as mesmas 3 horas da subida, cheguei ao ônibus com a cabeça estourando e o corpo fervendo.

Quais as lições? Primeiro que uma cagada nunca tem cara de cagada, no começo parece um desafio interessante, aí você vai se envolvendo e se aprofundando até que chega um momento em que não está mais se aprofundando mas sim se atolando. Como distingüir uma cagada de um desafio? Não tenho a mínima idéia, pois as pessoas te alertam que é perigoso em ambos os casos. Esta história poderia ter sido uma bela aventura com uma cratera de vulcão no topo como a cereja do bolo, mas acabou sendo um quase-desastre com um insucesso no meio.

Uma segunda lição é a do limite pessoal. Não utilizar toda a s forças, energias, reservas ou o que seja, pois depois você pode precisar de muito mais do que imagina. É a lição dos gatos, que sempre deixam um pouco de comida no prato até que seus donos cheguem da rua. Também esta é uma lição de muito difícil ajuste fino, pois existem situações em que é efetivamente necessário irmos até o limite. Como saber se iremos necessitar mais do que aquele limite que imaginávamos?

E a principal e mais difícil lição: saber desistir. O reconhecimento de que não podemos atingir algumas coisas (além das Mulheres). Esta lição fiquei orgulhoso de ter aprendido, Marcio Contra o Vulcão Parte I não foi afinal um fracasso total, não me frustrei por não ter atingido o cume, até me orgulhei por ter ido até o limite e ter retornado sem conseguir, por ter compreendido que o cume do vulcão estava além de meu máximo. (Talvez não haja tanto motivo para orgulho, pois não foi minha cabeça quem decidiu, e sim o corpo é que impôs sua limitação à mente).

Mas aprendi uma coisa: EU TENHO QUE CHEGAR À BOCA DE UM VULCÃO! (Em janeiro de 2007 cheguei à boca de uma cratera na Antartica, mas ainda não foi aquilo que desejo.)

Esta história não termina aqui: Deus não deixa barato, e mandou ver logo em seguida para saber se eu tinha aprendido a lição!

Tirei o dia seguinte como day-off, e passeei pelo povoado de San Pedro de Atacama - quase um oásis - fazendo turismo, compras, comendo muito bem e fazendo passeios curtos. É interessante porque para lá vão turistas "rapaziada-galera" do Mundo inteiro, e ali se alojam por 2 ou 3 ou mais meses. Neste período arranjam trabalho nos hotéis e restaurantes, e assim temos uma grande rotatividade de cozinheiros extremamente variados e criativos, e de diversas partes do Mundo - parece mesmo haver uma competição entre os Restaurantes para ver qual apresenta o melhor e mais criativo Cozinheiro. Melhor para que os freqüenta, pois comi muitíssimo bem lá, coisas que nem imaginava e que dificilmente vou encontrar novamente.

Eu revezava dia de aventura / day-off, e assim no dia 6/jan chegou a vez de me aventurar novamente. Optei por ir a uma antiga aldeia que estava sendo desenterrada no meio do deserto, as RUÍNAS DE TULOR, a cerca de 11km ao sul de SPA. Me equipei profissionalmente, mandei para as cucuias os conselhos de seguir pelo caminho mais fácil e óbvio (a carreteira, imagine só fazer 11km de deserto por cima da estrada de asfalto!), e optei pelas quebradas, meio do mato, leito de rio seco, sendas, etc. Em resumo, foi meu segundo fracasso consecutivo: um SΘL causticante, calor inacreditável, nem um arbusto ou sombrinha, e após muito andar e suar e sofrer, o coração começou a disparar, bateu taquicardia, no vulcão tinha ficado a 130 bpm por muito tempo (daí a siesta), pois aqui foi a 160. A carretera estava distante, mas como o coraça não melhorava resolvi caminhar até lá, me arrastei escaldando, quando cheguei encontrei um pontilhão, me abriguei debaixo dele, tumtumtumtumtumtumtum, 160 firme, pensei agora fudeu, escrevi no diário algumas famous last words (não é meu único diário de viagem que tem uma despedida...) e fiquei esperando o piripaque. Como o coração não desacelerava e nem o piripaque vinha, resolvi comer um plátano, última ceia, "nada se parece mais com um homem do que a forma de sua morte" disse GGM, um piripaque no deserto seria legal, mas "morreu engolindo bananas" nem tanto.

Após meia hora de descanso debaixo do pontilhão no meio do nada infernal o corpo começava a ficar legal. Recomecei a perambular ao SΘL e após uns 2km descobri que a porra do mapa que haviam me dado na operadora de turismo estava errado! A esta altura já eram 15h30m e eu talvez ainda conseguisse chegar às ruínas, no limite do horário e das forças. Mas considerei que este era um teste cósmico - Deus verificando se eu tinha aprendido a lição do vulcão - e tremendamente decepcionado voltei para o Hotel em San Pedro de Atacama.

Naquela noite, frustradíssimo e desanimado após dois insucessos seguidos, escrevi em meu diário:
"Cheguei em SPA às 5½da tarde exausto, sem ter feito porra nenhuma a não ser mostrar para God-inho que aprendi a lição do vulcão: tornei-me um cagão. Mas convenhamos, God-inho: TAQUICARDIA?!? Tenha a Santa paciência! Assim é sacanagem, assim é covardia... Oh Pai, oh Pai, por quê me abandonastes?"

No dia seguinte optei por um passeio a PUCARA DE QUITOR e ALTOS DE CHULACAO. A curiosidade ficou por conta do Senhor que cobrava ingresso na entrada da Pucara. Ele apontou para algumas nuvens ao longe, e afirmou entusiasmado:
-"Está chovendo na Bolívia!"
Realmente de lá se avistava muitos quilômetros de distância. Ainda por cima o Chile é estreito, de forma que além da Bolívia ele também me mostrou o Peru. Esta história me lembra uma conversa com o Guia às Lagunas Altiplanas: perguntei-lhe se em San Pedro chovia, e ele respondeu:
-"Mas claro! Todos os anos!"

Passeei pela fortaleza de terra batida (pucara = fortaleza) e a seguir comecei a enorme subida para os Altos de Chulacao, um mirante ("mirador") que há muito tempo me atraía, pois era avistável de todos os pontos de San Pedro. Às três e meia da tarde, com o SΘL a pino, cheguei até lá em cima...

... e tive a vista mais espetacular de toda a viagem!!!


EL VALLE DE LA MUERTE, inteiro, enorme, colossal, extraterreno, vermelho, escamoso, gigantesco, todo à vista, todo a meus pés. Eu absolutamente sozinho, no absoluto silêncio, perto do Céu, com aquela visão cósmica esparramada à frente, como nosso Planeta é maravilhoso, como o Deserto é maravilhoso, fiquei extasiado, atônito, deslumbrado, emocionado. Gastei 1 rolo inteiro de filme naquele lugar.

Continuei subindo até o mirador, com uma construção moderna bem no alto, um muro redondo em volta de 4 cruzes que se complementavam, um belíssimo monumento, eu estava novamente feliz por estar ali, andando pelo Céu totalmente integrado e realizado, a mesma sensação de Joe náufrago de frente para a Lua nascendo no horizonte agradecendo a Deus por sua vida que se esgota (a imagem que ilustra este Blog). No meio de toda aquela emoção fui examinar as 4 enormes cruzes. E nelas estava escrito em 4 diferentes línguas (uma das quais o Português):
"OH PAI, OH PAI, PORQUE ME ABANDONASTES?"

Um tapa na cara.

Eu não sabia se ria ou se chorava.

Optei por tirar fotos.


(Nota - alguns dia depois cheguei até as Ruínas de Tulor, indo de bicicleta.)

(Fotos: Hugues na encosta do vulcão / Rumo à Aldeia de Tulor via leito de rio seco / "Está lloviendo en Bolívia!" / Vista rumo ao mirador (esquerda e direita) / No caminho do mirador dos Altos de Chulacao / Monumento em cruzes)

(set/2010)

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Porta de Saída

Uma das maiores paixões na vida de boa parte dos Homems é seu time de Futebol, e comigo não foi diferente. Eu era criança, e invariavelmente andava - ou melhor, corria - pelas ruas de Copacabana com o uniforme completo do Vasco: camisa, calção, meião e tênis. Tinha a camisa branca e a preta, o calção branco e o preto, tinha meiões brancos, pretos, zebrados e cinzas. Meu uniforme preferido era o totalmente preto,"de gala", camisa, calção e meião "all blacks". Jogávamos futebol quase todos os dias no playground de meu prédio na Rua Xavier da Silveira, sendo estas as minhas melhores lembranças da infância - daí eu não entender vizinhos que não gostem de crianças jogando bola no pátio do prédio, o que me parece coisa de espírito-de-porco-de-mal-com-a-vida. Mesmo não tendo filhos, sempre defendo em reuniões de condomínio que as crianças possam jogar futebol nos prédios: o que pode ser mais saudável do que isto? Mas a mediocridade avança, e as interferências destrutivas na vida alheia também; "o Homem é o Lobo do Homem".

Até os 14 anos eu JAMAIS tinha visto o Vasco da Gama ser Campeão no futebol; Campeão de nada! Meu primeiro título carioca ocorreu em 1970 (anteriormente o Vasco tinha sido campeão em 1958, mas eu tinha então apenas 2 anos de idade e não tinha qualquer entendimento). Mesmo assim, nos anos 60 eu andava - corria - célere pelas ruas, completamente uniformizado. E feliz.

Isto demonstra que independentemente dos resultados, eu sempre me orgulhei de meu Time. Entendo que seja assim com todos os torcedores, e por isto não entendo brigas entre torcidas. A principal função de um time de futebol é (ou deveria ser) deixar as pessoas orgulhosas e felizes, e não belicosas. Sou invadido por uma alegria infantil ao ver alguém na rua com camisa do Vasco, e sempre lhe profiro um -"Vascão!". Mesmo sendo um torcedor de qualquer outro time que esteja uniformizado, sempre lhe observo com admiração esta bela exibição de um orgulho que vem da infância.

Há todavia um porém. É possível que saiamos pela mesma porta pela qual entramos; e neste caso, o Vasco está desde 2003 sem ganhar nada (convenhamos, título da 2ª Divisão não conta). Em 2011 já serão 8 anos. É possível que, saindo pela mesma porta em que entrei, eu novamente esteja passando 12 anos andando com a camisa do Vasco e sem vê-lo ganhar nada. E neste caso, quando ele ganhar um título - o que se daria em 2015 - eu já esteja vivendo meus derradeiros 2 anos, gagá e senil, e sem qualquer entendimento...

(set/2010)