sábado, 31 de julho de 2010

O consolo dos grisalhos

"É melhor branco na cabeça do que preto no chão!"

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Grosseria

Durante décadas eu me considerei o máximo do rapaz fino e elegante pelo fato de tratar todas as pessoas mais idosas do que eu por “Senhor” e “Senhora”. Somente quando passei a ser chamado de Senhor – e detestei – é que vi o quão grosseiro eu havia sido ao longo de tantos anos.

Teorizo sobre o que leve alguém a ser chamado de “Senhor”. Enquanto eu tinha 10% de cabelos brancos, 10% das pessoas me chamavam de Senhor. Quando os cabelos brancos passaram a representar 20% do meu quengo, 20% das pessoas passaram a ser “finas e elegantes” comigo. E assim por diante, até atingir 50% de cabelos brancos: a partir de então, 100% das pessoas me chamam de Senhor!

O fim do (meu) mundo vai ser no dia que alguém se levantar no ônibus ou metrô e oferecer seu lugar para que eu me sente.

Quando estava com o braço esquerdo partido e operado devido a um acidente de moto, pude verificar pessoalmente o dito “você está velho quando quer ser cavalheiro, mas não consegue”...

Mas já passei por situação pior quando voltava do cinema em uma sexta-feira à noite. Cerca de 23 horas, eu atravessando a larguíssima Avenida JK no Itaim BipBip em São Paulo e passa um carro cheio de galerinha. Uma Menina põe meio corpo para fora da janela e com as mãos em concha grita para mim:
- “EU ADORO UM COROA!”

Ou seja, já atingi um patamar além do “Senhor”...

(jul/2010)

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Melhorou!

Com a recente proibição da exposição de cartazes apelativos no lado de fora das casas de shows eróticos em São Paulo, os administradores do negócio foram forçados a recorrer a outros expedientes.

Agora, as próprias moças ficam do lado de fora de seus ambientes de trabalho, vestindo trajes minúsculos e reveladores, e exibindo caras e bocas convidadativas. Em pleno Centro da cidade, em horário comercial! (Certamente também em horários não-comerciais, não passei para conferir.)

Em um ou outro estabelecimeno pode-se ainda degustar um telão (situado dentro da casa, mas perfeitamente visível) com imagens em High Definition dos shows e danças.

Ou seja, ao invés de desbotados e esmaecidos cartazes duvidosos, agora o próprio “produto” fica exposto, em carne (muita carne, a característica das damas nunca foi a anorexia) e silicone.

Melhorou muito!!!


Disclaimer – o redator desta nota jamais frequentou bordéis ou suas associadas. Inclusive considero tal desconhecimento um fator depreciativo em minha formação, que ficou incompleta.

Mas uma dúvida me assola: porque a prostituição é criminalizada? Se a Mulher quer cobrar para dar e o Homem quer pagar para ter (ou vice-versa), o quê os demais têm a ver com isto?

Se o Homem quiser dar uma Mercedes para sua “fornecedora”, isto é prostituição? Alguém vai preso? Aonde fica o limite entre a “compra” e a “doação”ou “presente”? Se a Mulher estiver com frio e o Homem der um casaco em troca de “serviços”, pode? Ou é melhor morrer de frio? E se for um casaco de peles?

Criminalização da prostituição me soa bisbilhotice e hipocrisia. É impressionante como as pessoas gostam de se imiscuir na vida dos outros. Sem ter o direito.

(jul/2010)

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Quando nossos átomos se reencontrarem

A idéia a seguir não é minha; li alguma coisa a respeito há alguns lustros. Não saberia portanto dizer o quanto de tempero pessoal coloquei neste encadeamento, que explora nossa capacidade de compreensão do quase-infinito.

1. Por mais colossal que seja, a quantidade de átomos no Universo é finita.

2. Conseqüentemente, por mais incomensurável que seja (para nós), a quantidade de diferentes formas que estes átomos podem se combinar é igualmente finita.

3. O Tempo, no entanto, é infinito.

4. Existe portanto Tempo suficiente para que TODAS as combinações de TODOS os átomos ocorram. E se repitam. Infinitas vezes.

Ora, como o Tempo é infinito tanto para a frente como para trás, já passou Tempo suficiente para que todas as combinações já tenham ocorrido. Igualmente, haverá Tempo pela frente para que todas elas venham a ocorrer novamente.

Portanto, tudo que está acontecendo já aconteceu, incontáveis vezes; e vai acontecer de novo, incontáveis vezes.

Não há nada de novo! E não há, portanto, motivo para se preocupar com mesquinharias. Faça o que julgar melhor, o mais correto, o que você gostaria. Tenha coragem; você vai ter infinitas oportunidades de correr os mesmos riscos, ou de fazer as coisas diferentemente.

Vai viver sua vida inteira, igualzinha. Com a única diferença que em outra existência você tem / teve / terá olhos um pouquinho mais claros.

Vai viver sua vida inteira, igualzinha. Com a única diferença que em outra existência você saiu ontem com uma camisa verde.

Vai viver sua vida inteira, igualzinha. Com a única diferença que em outra existência você piscou o olho uma vez a menos hoje.

E assim por diante, e para os lados. Inesgotavelmente.

Eternamente.

(mar/2010)

terça-feira, 27 de julho de 2010

Agradecimentos na Dissertação de Mestrado

Como bem disse a amiga CEG (e como bem sabe todo mundo que já passou por isto), "tese é encosto".

Tomo a liberdade de apresentar aqui a página de Agradecimentos de minha dissertação de Mestrado "A Propensão ao Financiamento através de Cartões de Crédito" na FGV/SP. GWDF tinha me dito que "existem duas formas de se fazer uma Tese: ou você faz qualquer coisa só para se livrar da obrigação, ou se dedica e faz O Trabalho Da Sua Vida, uma coisa que te dê prazer". Bingo!, optei pela segunda alternativa. Tirei 15 dias de férias no início do trabalho e mais 15 dias ao final. Durante estas duas quinzenas (e ao longo dos 2 meses de intermezzo) eu praticamente morava na FGV, deixando pilhas de livros e um notebook em meu escaninho na Biblioteca e indo para casa somente para dormir (pouco). Às vésperas da defesa, um terrível tombo de moto (vide texto "Omelete" neste Blog) me deixou com o úmero quebrado em dois lugares, e me levou a adiar a apresentação final por 2 meses.

Mas a história teve um final feliz. Tive tanto prazer ao escrever a página abaixo quanto em redigir todo o restante da Dissertação.


AGRADECIMENTOS

Meu especial agradecimento ao Prof. Abraham Laredo Sicsú, cujos conhecimento iluminador e entusiasmo contagiante foram fundamentais para que este trabalho fosse efetuado com sucesso.

A meus chefes Andrea Dias e Fernando Santos, que ao longo do MPA tiveram uma compreensão que eu jamais teria. Ao Gustavo Freitas, que me “empurrou” para o MPA. E a todo o pessoal da CREDICARD, que deu suporte técnico e acompanhou com sincero interesse todas as etapas do Curso e da Monografia.

Às colegas de turma Alessandra Ginante e Ana Cristina Salzano, pelo incentivo, amizade e bom humor que amenizaram momentos difíceis e divertiram momentos leves.

A meus Pai & Mãe, que ao longo deste trabalho completaram Bodas de Ouro, pela confiança, estímulo e fé constantes, exemplares e inigualáveis. E, claro, pelo Amor e estóica paciência.

Aos Amigos, que embora acreditando que eu utilizasse os estudos como álibi para dar vazão ao prazer do isolamento, sempre insistiram em manter um saudável contato.

Aos Professores João Carlos Douat e Silvia Pereira de Castro Casa Nova, membros da Banca Examinadora, por terem atendido ao convite para desempenhar este papel, dispondo de seu tempo e conhecimento para analisar este trabalho.

Ao Corpo Docente e Funcionários da Fundação Getúlio Vargas, que fazem com que me orgulhe tanto de mencionar o nome da Instituição como de pisar em suas instalações.

Todas estas pessoas reforçam minha crença no ditado: “o maior ativo que alguém pode ter são pessoas que acreditem em sua capacidade”.

(set/2005)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

10% de Inspiração

A expressão “10% de inspiração e 90% de transpiração” foi criada por alguém que transpirava muito, porém estava pouco inspirado.

Para a execução de qualquer trabalho são necessárias inspiração e transpiração. Mas o que acontece se dispusermos somente de UM dos fatores?

Infelizmente é comum que aqueles que têm inspiração não sejam afeitos à transpiração. E assim, de nada vale tal inspiração: sem esforço, nenhum trabalho sai. Inspiração sem transpiração é igual a zero.

Por outro lado, mesmo o cabra não sendo um iluminado, se ele for batalhador vai sair alguma coisa. O trabalho pode não sair perfeito... mas sai! Para um Chefe é preferível ter um confiável carregador de piano do que um indolente e inútil einstein.

Assim, na verdade o que ocorre é que 90% do total de trabalhos realizados é proveniente de transpiradores, sendo apenas 10% fruto de inspirados.

É este o grande problema. Há tanta gente que tem o mais difícil (o Dom) e peca pela falta do mais fácil (o Esforço). Ter o que poucos têm, e não fazer o que qualquer mané faz; quanto desperdício!...

Qualquer um preferirá o batalhador confiável ao instável geniozinho estrela preguiçosa. Batalhe, meu caro. Não desperdice seu Dom. Não permita que qualquer um que não tem o que você tem faça muito mais do que você. Que é o que vai ocorrer em 90% dos casos. E exclusivamente por culpa do inspirado sequinho!

(jul/2010)

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Bolsa Masculina

As mochilas nada mais são do que um equivalente masculino às bolsas femininas. Se (como dizem) é verdade que existe uma “inveja do pênis”pelo lado das mulheres, certamente existirá uma “inveja da bolsa” pelo lado dos homens.

Saio sempre de mochila (tenho dez!), e assim passo a descrever o que se pode e deve carregar em uma. Eu não saberia remover um único item da lista abaixo:
- casaco
- guarda-chuva
(os dois ítens acima podem parecer desnecessários para moradores do Rio, mas asseguro que morando em São Paulo você sempre estará sujeito a utilizá-los, por mais improvável que possa parecer quando se sai pela manhã)
- livro
- caderno de anotações (idéias e errands)
- revista com a programação cultural da semana
- óculos de leitura
- caneta, lapiseira, borracha e régua (para sublinhar passagens do livro)
- necessaire (vide abaixo)
- garrafa de água
- porta-moedas

Recentemente ganhei uma belíssima necessaire DEUTER de meu Irmão, e preenchê-la tem sido um prazer:
- escova de dentes, pasta e fio dental (essencial!, sendo esta a minha resposta à pergunta “o que você levaria para uma ilha deserta?”)
- haircomb (em meu caso, “pixaimcomb”)
- pampers
- mini-maglite
- canivete
- bandaid
- e, já que cabe, vou acrescentando futilidades outras como engov, neosa (for the ladies), mini-plax, kit de costura de hotel, venda para os olhos, etc (idéias adicionais são bem-vindas).

E assim, ao sair de casa estou pronto para longos trekkings pela cidade. Não sei o que faz parte da lista de uma bolsa feminina – o cavalheirismo me levou a JAMAIS futucar dentro de uma. Imagino que seja uma lista tão ou mais completa – não me venham com uma “inveja da mochila”!


Nota – relação das dez mochilas:
1. FERRINO ZEPHYR 20L verde
(a mais antiga, primorosa, trouxe uma série de inovações geniais que depois se tornaram obrigatórias; utilizei no trekking de Machu Picchu)
2. FERRINO ZEPHYR 30L azul
(versão aumentada da anterior; foi a Ushuaia e Pólo Sul)
3. FERRINO LIMIT 50L azul / cinza
(Caminho de Santiago; Índia / Nepal; China; Thai Lan / Kam Pu Chea / Viet Nam / Lao)
4. DEUTER TRANS ALPINE 30L cinza / preta
(bagagem de mão em aviões e ônibus; mega-premiada)
5. DEUTER FUTURA 32L vermelha
(Everest trekking; Caminho do Sol; viagens curtas sem mala)
6. SALOMON X-TREKK 15L preta
(bagagito moto)
7. KAILASH XINCA 17L azul / preta
(bonita, prática, moderna, “handy”)
8. KAILASH EXTREME 28L cinza / vermelha
(vai dentro da mala em viagens longas, para uso "daypack" no destino)
9. VAUDE 30L cinza
(excepcionalmente bem dividida; water-proof; com aumento / redução de volume através de zíper que a contorna)
10. FERRINO GRAVITY 25L preta
(a mais recente; xodó!)


(jul/2010)

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Necessidade Orgânica

Não são apenas físicas as necessidades de nossos organismos. Fome, sede, frio, respiração são carências óbvias – mas não as únicas.

Temos também uma carência emocional; a necessidade de viver emoções fortes e intensas. Normalmente, tal manifestação acontece através da Paixão e do Amor.

Porém às vezes – muitas vezes – as pessoas não encontram correspondência sentimental, e ficam por longos períodos solitárias, carentes, necessitadas. Sobrevêm então o Desânimo, a Melancolia, a Tristeza. Uma imensa Tristeza.

Tal sentimento é simplesmente o organismo extravasando sua necessidade de Emoção, que se não é suprida pela felicidade amorosa, tem a saciedade através da dor no coração. Que é tão forte quanto as doídas pontadas causadas pelo Amor e pela saudade.

São sinais opostos de uma mesma operação, mas que ainda assim é a mesma operação. O corpo (ou a alma) fica “satisfeito” com esta intensa e imensa melancolia.

É assim que nascem os Blues, as poesias que rasgam a alma, as canções de dor-de-cotovelo.

Portanto, se você estiver macambúzio por falta de Amor, não se desespere. Pelo contrário, curta o momento, canalize a energia para a construção de sofridos lamentos e manifestações. Relaxe e aproveite: ficar triste não é ruim; faz parte. Comparta sua dor infinita, mas sem dar trabalho aos outros ou vomitar pelos cantos. Construa algo belo e pungente.

É apenas uma outra face da mesma moeda. Tão-somente mais uma necessidade orgânica sendo satisfeita.

(jul/2010)

terça-feira, 20 de julho de 2010

Um cruzeiro pelas Ilhas Gregas

Em setembro de 1992 recebi um convite para um cruzeiro pelas ilhas da Grécia com mordomia total: tudo pago, mega-iate particular, seguido por um tour de micro-ônibus pelo interior do País.

Aconteceu que a Família de meus Tios & Primos ia fazer a viagem, porém na última hora o Marido de uma Prima precisou operar o joelho, de forma que sobrou uma vaga. Único inconveniente: eu deveria estar na Grécia em 3 dias!

Entusiasmado mas ao mesmo tempo desanimado e sem jeito, fui falar com meu Chefe GWDF, apenas por desencargo de consciência. Expliquei-lhe a história, coroando com o "pequeno inconveniente". Mas a resposta que ele me deu foi inesperada, e um inesquecível ensinamento de administração:
- "Eu não seria um bom Gestor se não pudesse ficar sem um Funcionário de uma hora para outra. Boa viagem!"

A viagem foi maravilhosa e inesquecível. Procuro sempre estar preparado para seguir este exemplo todas as vezes que um/a Funcionário/a vier me pedir alguma coisa que lhe seja importante. Além de boa gestão, se trata de fazer com que a passagem de nossos companheiros de jornada por esta existência seja mais completa e realizada.

(jul/2010)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Na cuisine do Chéf

Embora apaixonado por comida (mas quem não é?), não entendo absolutamente NADA de Cozinha.

Costumo dizer que para cozinhar é necessário que a pessoa tenha três braços, mas eu só tenho um!

Um cardápio completo preparado por mim consistirá de omelete, arroz de saquinho, sanduíche misto no multi-toast, pipocas de micro-ondas, milk-shake de chocolate (existe outro?), caipirosca de maracujá, batida de côco e nescafé com leite. Não me peça para cozinhar nada além disto, não sei nem Miojar!

Li há alguns anos nas páginas amarelas da VEJA uma entrevista com um mega-Chéf francês, um paulbocuse da vida. E uma de suas respostas me marcou:
- "Se houvesse apenas um ingrediente em sua cozinha, qual seria ele?"
- "Seriam dois: batata e manteiga."

O cara está anos-luz à minha frente!

Desde então passei a apreciar purê de batata com muito mais respeito.

(jul/2010)

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Você sabe fazer macarrão?

Crescido iletrado no início do século XX em Mamanguape, no sertão da Paraíba – a 80km da capital João Pessoa – ele tinha pouquíssimas chances de ser bem sucedido na vida. Mas o sucesso está dentro das pessoas, e não em suas condições externas, e ele foi galgando seus degraus. Trabalhou em padarias, confeccionou fogos de artifício, empregou-se em uma usina de cana de açúcar. Foi progredindo graças a inteligência e obstinação, até chegar a ser dono de sua própria usina de açúcar na Mamanguape natal. Pagou os estudos dos 4 irmãos, que se tornaram administradores da usina e políticos locais, regionais e estaduais.

Religioso, optou por agradecer sua sorte a seu Deus através de uma peregrinação a Fátima, em Portugal. Em Recife embarcou em um vapor que vinha do Sul do País rumo à Europa. Na primeira noite a bordo, o Capitão foi recebê-lo e escolher uma mesa onde se sentaria às refeições. Ele estava sozinho, e o Capitão o colocou em uma mesa com um assento vazio junto a uma família do Rio Grande do Sul, descendente de italianos e alemães. Com sua cultura de nordestino interiorano, ele estava intimidado – mas não a ponto de deixar de puxar conversa com a bela mocinha, filha mais nova daqueles ilustres companheiros de viagem:
- “Você é descendente de italianos... Sabe fazer macarrão?”
- “Não”, retrucou ela, gélida. “Mas sei mandar fazer.”
Ele pensou: “Esta não é para o meu bico”.

E foi assim que meu avô e minha avó maternos se conheceram.

(mar/2004)

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Marcio em Cultura


Em 1951, aos 31 anos de idade, Isaac Asimov escreveu o texto "O Homem em Cultura" ("Breeds There a Man...?"). Nele relatava de forma inquestionável a possibilidade da existência da Humanidade ser para Seres imensamente superiores a nós algo equivalente ao que fazemos com as culturas de bactérias. Seríamos apenas objetos de estudos, existindo diversas "incubadoras" no universo. E mais, não somente a Humanidade seria tal objeto de análise; também os dinossauros e diversas outras formas de vida em nosso próprio planeta seriam foco de atenção. A história - e sua conclusão - são absolutamente brilhantes.

Eventualmente leio sobre experimentos com ratos, que são foco de muitas experiências por terem comportamentos e reações bastante semelhantes às dos seres humanos. Uma experiência me sensibilizou particularmente: um rato é colocado em uma gaiola com duas alavancas, uma das quais fornece comida quando pressionada enquanto a outra lhe dá um choque. Depois do rato estar acostumado a tais respostas, inverte-se os mecanismos, e a alavanca que dava choque passa a fornecer comida, e vice-versa.

Passado o susto inicial, o rato se acostuma à nova situação. E após algum tempo, nova inversão, voltando as alavancas à situação inicial. Novo susto e nova aprendizagem para o pobre rato. Este procedimento é repetido inúmeras vezes, até que se chega a um ponto no qual o rato não sabe mais o que esperar das alavancas. Ele chega a um nível de desespero tal que em dado momento se torna catatônico. Não reage mais às alavancas, mesmo que ambas passem a fornecer comida. O rato definha, mas não mais aperta as imprevisíveis, ilógicas e cruéis alavancas. Ele morre de fome.

Vivo em um Mundo no qual as respostas das pessoas são irracionais, imprevisíveis, ilógicas, cruéis. Os interesses que as movem são pequenos, minúsculos. Os retornos a meus gestos, por mais nobres ou filosóficos que eles busquem ser, é sempre inesperado. Machucam. O que quer que eu faça, levo um choque.

Asimov estava certo. Eu sou objeto de estudos. Um rato já quase catatônico.

Marcio em Cultura.


(Nota - Somente um Profeta consegue enxergar outro Profeta. Obrigado, Pitty, por nos abrir os olhos quanto à qualificação de I.A.)

(jul/2010)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

No Banheiro das Pimentas Ardidas

Aconteceu no show do Red Hot Chili Peppers em São Paulo em outubro de 2002.

Entrei no Pacaembú já entupido de cerveja, e portanto louco de vontade de mear. Fui das catracas direto para os banheiros, após a entrada e antes do acesso ao gramado. À esquerda, o banheiro feminino formigava do lado de fora, mulheres fazendo fila, um tumulto generalizado; já no lado direito, o banheiro masculino apresentava acesso livre.

Ao entrar no aseo cruzei com um casal que saía: um Cavalheiro tinha escoltado sua Dama para utilizar as dependências sanitárias masculinas. Genial! Lá dentro, mais um Gentleman montava guarda a uma Señorita que se utilizava de uma cabine, curiosamente com a porta semi-aberta.

Quando saí do banheiro, umas três ou quatro Mulheres olhavam lá para dentro entre curiosas e ansiosas, tentando ver alguma coisa. Falei o que elas queriam ouvir:
- “Tá cheio de Mulher lá dentro!!!”

Não foi necessário um segundo convite. Uma horda feminina imediatamente invadiu o banheiro dos Gentis-Homens!

Portanto, se você estava no banheiro do show do RHCP que foi invadido por Mulheres e nunca soube a quem agradecer, não é necessário fazê-lo: foi um presente de Homem para Homem, tenho certeza que você faria o mesmo por mim...

Mas isto leva também a pensar que seria elegantérrimo se os banheiros masculinos fossem permanentemente disponibilizados para as Damas. Uma prova de que nós Homens somos civilizados, ordeiros, limpos e cavalheiros. Os vasos sanitários haveriam de estar sempre limpinhos e cheirosos, à espera de Madames que não se arrependeriam de adentrar os banheiros dos Pimentas Vermelhas Picantes...

(jul/2010)

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Fear of the Dark

Só tenho medo de duas coisas neste Mundo:

Do Homem.

E de seu Melhor Amigo!

(jul/2010)

terça-feira, 6 de julho de 2010

Camisa de Onze Varas

Aconteceu em meu Caminho de Santiago, em junho de 1996.

Ao final da caminhada diária eu sempre lavava 4 peças de roupa usadas durante os "trabalhos": camiseta, cueca, meias e o lenço. Eu as estendia nos varais comunitários junto à toalha de rosto / banho (lembre-se portanto de levar pelo menos 10 pregadores quando for peregrinar). Lavava as peças em minúsculas pias de refúgios, desajeitadas, incômodas, a torneira atrapalhava, ficava com dores nas costas, um verdadeiro perrengue. Durante as caminhadas ao longo do dia via lavadeiras lavando seus róis de roupa nas beiras dos rios, em enormes pedras ao sol, ou então em grandes tanques de lavagem de roupa. Ficava com inveja delas: eu lavando roupa naquelas tinas minúsculas dentro de banheiros com cheiro de peregrino, e elas ao ar livre no Sol com muitíssima água correndo e ar puro e espaço.

A noite em que completei 40 anos foi desastrosa. Muitos peregrinos não tomam banho, e caí em um refúgio com uma desagradabilíssima concentração destes suínos. Tamanho era o fedor durante a noite que fui forçado a trocar de cama no meio da madrugada, pois era impossível respirar (e portanto dormir).

Por outro lado, o refúgio seguinte foi mágico. San Juan de Ortega é um Mosteiro construído entre nada e coisa nenhuma, são 20km antes e 20km depois sem absolutamente nada, seriam 40km sem qualquer suporte de civilização para os peregrinos, então foi construído o Mosteiro para nos dar condição de continuidade.

Cheguei a San Juan de Ortega por volta de 14hs, e surpresa: um enorme tanque de lavar roupa no meio do pátio! Lavei minhas peças feliz da vida, em um puta tanque com lugar para esfregar a roupa, debaixo de um espetacular Sol, e com 40 anos e 1 dia de idade. Estava muito feliz.

À noite, depois da Missa e de um tour conduzido pelo próprio Padre pelas obras de arte e catacumbas do Mosteiro - um privilégio peregrino - um momento especial: para jantar o Mosteiro oferece uma sopa de alho, mas o restante da refeição é fornecido por todos nós peregrinos. Cada um apresenta o que trazia de comida em sua mochila, fica tudo junto exposto em uma enorme mesa, cada um se serve do que desejar, é uma "Comum União", a verdadeira Comunhão. Lá depositei chocolate suíço e jamon crudo. Comemos com a alma enlevada.

Após o jantar, o Padre nos convida a falar sobre alguma coisa que nos tenha marcando no Caminho. E falei da lavagem de roupas, contei das dificuldades e das lavadeiras, e de como tinha ficado feliz por simplesmente ter um tanque grande para lavar minha roupas. -"Se estivesse em casa eu provavelmente estaria querendo uma TV maior, um carro mais possante, ou um computador mais poderoso. Mas aqui estou feliz simplesmente por ter um tanque grande para lavar a s roupas", concluí.

E o Padre disse:
- "Grande lição. Aqui na Espanha temos um ditado: 'os homens se vestem com camisas de 11 varas'", explicando que a vara é uma medida. Onze varas não é nada desmesurado, disse ele, mas é algo que certamente ficará grande em qualquer um.

No dia seguinte pela manhã, antes da partida ele oferece no desayuno um forte café misturado com vinho, "para ayudar em su caminada". Realmente este café com vinho foi tão eficiente que mudou meus hábitos matinais de expresso, zumo de melocotón ou coca-cola: passei a incluir religiosamente uma canequinha de vinho ("só uma, nunca duas", explicou o Padre; "uma dá um 'up', duas deixa tonto") em minha dieta quando começava a me cansar, lá pelas 11 da matina. Sempre funcionava esplendidamente. Mas esta já é uma outra história...

A moral desta história: Nos vestimos com camisas de onze varas.

(jul/2010)

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Critérios de escolha de celulares

Entre os diversos critérios de escolha de celular, os de dois amigos se destacam.

A Srta. SS deseja um celular que NÃO TENHA MANUAL. Algo tão simples quanto isto: um celular com teclas apenas para os dígitos, mais a tecla "send" e a tecla "end". Totalmente básico, nada além disto é necessário. Não precisa nem mesmo de Manual.

Já o amigo FC também opta por um celular simples. Mas faz uma exigência: tem que ter joguinho. "Para quando eu estiver dando um cagão", explica.

Ambos critérios inquestionáveis!

(jul/2010)

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Carta a Papai Noel


Revirando guardados familiares encontrei a carta anexa, com envelope e tudo, endereçada ao "Exmo. Snr. Papai Noel".

Foi escrita em 1936 por um garoto de 7 anos - meu Pai.

Época de Guerra.

E ele já revelava seu Amor pelo Futebol.

(Nota - "Natal" na última linha se refere à cidade onde ele morava, e não à época do ano)

(jul/2010)

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Aproveite o Momento

Os dois tiveram um desentendimento.
Passaram dois ou três dias se estranhando.
Chegada a tristeza da noite de domingo, a angústia do final do final de semana, estão mais ou menos tentando se acertar.
Começando a se entender.
E se abraçam, timidamente.
Ela, mais do que depressa, pergunta :
- "Está tudo bem entre nós?"
Surpreeendido e pressionado pela urgência dela, ele se afasta.
Ele precisa responder.
Estará mesmo tudo bem?
Ele pára para pensar.
O delicado momento foi quebrado.
A cicatrização foi apressurada.

Segure sua ansiedade.
Se estiver escalando uma montanha, pare para aproveitar a vista. Não pense somente em cravar o próximo grampo.
Troque a Segurança - que é efêmera, não existe, nunca existirá, não se iluda - pela Felicidade.
Simplesmente aproveite o momento.

(jun/2010)