Estavam juntos por mais de uma dúzia de anos, e formavam
um casal estável. Se desentendiam como todos os casais se desentendem, mas seus
Amigos e Famílias não conseguiam imaginá-los separados. E tampouco eles.
Mas certo dia, out of the blue, ela lhe falou:
- “Preciso de um tempo.”
Ele a encarou, imaginando tudo. Ela continuou,
inapelável:
- “Amor antigo. Separamos sei lá por que motivo. Doença
terminal, poucos meses de vida. Mora na Índia, pediu que vá encontrá-lo. Eu
vou.”
Ele não foi trabalhar no dia seguinte. Empacotou suas coisas
e se mudou para um Flat.
Ela levou pouco mais de uma semana se preparando para a
viagem, se desligando do trabalho, se despedindo da Família, organizando a vida
que deixava e a que começava. Neste período eles se falaram somente o
indispensável, as coisas práticas: afinal, se sofre em silêncio mas as coisas
práticas precisam de andamento. Nas duas vezes em que precisou buscar alguma coisa
pessoal, escolheu horários em que – sabia – ela não estaria em casa.
Ela se foi do País, e de sua vida.
Ele cortou qualquer fonte que pudesse representar
informação a respeito dela. Bloqueou-a em redes sociais, e não perguntava (e
nem queria saber) dela quando encontrava alguém de suas relações. Ficou sozinho
(ou quase), pois gostava da solidão e não buscava tapar artificialmente aquele
buraco.
Ela também não o procurou.
10 meses e meio se passaram.
Ele estava tomando café no Escritório quando ela
apareceu. Out of the blue. O cabelo bem mais curto. Pele curtida, queimada de
sol. Uma cicatriz no queixo, lado esquerdo do rosto (“meu deus, qual a história
desta cicatriz?”). Um ar mais maduro, de talvez sofrimento, que a deixava ainda
mais distante.
Mais uma vez ele ficou sem palavras.
Ela só disse uma:
- “Acabou.”
(julho/2012)
Out of the blue, into the black... !
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