sábado, 31 de março de 2012

Os Desalmados


A idéia de nós, Humanos, termos cada um uma Alma individual não resiste à análise da Criônica, ou “criopreservação de longo prazo” (usualmente confundida com Criogenia). É uma pena, pois a mim (a todos nós) o conceito de Alma era extremamente agradável; mas teremos que aprender a viver sem ele.

Criônica é, segundo definição na Wikipedia, “o processo de preservação em baixas temperaturas de humanos e outros animais que não podem mais ser mantidos vivos pela medicina contemporânea, na esperança de que a cura e reanimação sejam possíveis no futuro”. Diz-se – o que é largamente refutado – que o corpo de Walt Disney estaria em uma câmara criogênica desde sua morte em 1966. Suponhamos que sim, apenas como exemplo. Onde estaria sua Alma durante todo este tempo? Esperando para saber se ele será revivido? A Alma fica circulando por aí, até que a Medicina decida por sua alforria? “OK, este não vai dar para reviver; vamos desligá-lo.” E então a Alma aliviada poderia enfim seguir seu curso – após esperar inutilmente quase 50 anos por uma decisão dos médicos!
- “Ei, Doutor, estou esperando! Posso ir embora?”

Ou ao contrário: a alma do elemento crionicado vai embora... e de repente é chamada de volta:
- “Ooops, o cabra foi restaurado. Volta lá, correndo!”

Ou ainda uma terceira alternativa: a Alma se vai, e o corpo acorda sem uma! E uma vez que a memória ficou retida no cérebro restaurado, o coração voltou a bater e a circular sangue, e a máquina funciona novamente, o pobre coitado se torna um zumbi sem Alma; um personagem de Crepúsculo!!!

Infelizmente a única conclusão lógica é: não existe esta invenção feita por nós mesmos, com o objetivo de nos dar o conforto da garantia de existência de um confortável Além. 

É curioso que consigamos ser tão racionais quanto à inexistência de uma “Alma” quando analisamos os seres que chamamos de “Irracionais”, e tão irracionais quando analisamos os que chamamos de “Racionais”...

Sem Alma, o que seríamos então? A resposta é ainda mais simples: somos células de Deus. Cada um de nós – racionais ou irracionais – é uma fagulha do Todo; do Divino.

Mas esta é uma outra história.

Namaste!


Nota: A falha neste raciocínio é o pressuposto da linearidade do Tempo. Isto por sua vez é vinculado a nossa limitada percepção - e conseqüente incapacidade de compreensão - do que efetivamente seja o Tempo.

(mar/2012)

sexta-feira, 30 de março de 2012

A lógica do futebol brasileiro


Classificação da Taça Guanabara 2012:
Vasco da Gama – 21 pontos (7 jogos, 7 vitórias)
Botafogo – 15 pontos
Flamengo – 15 pontos
Fluminense – 13 pontos
Campeão: Fluminense!

Repetida e exaustivamente vemos no Brasil campeonatos de futebol nos quais o melhor time – por motivos diversos – não é o Vencedor.

Isto se deve a um tipo de raciocínio pequeno e de curto prazo bem típico de gente subdesenvolvida.

Não é sem motivos que somos cada vez menos importantes e respeitados neste campo.

Estar em 6º lugar no ranking da FIFA é muito mais do que merecemos.


(março/2012)

domingo, 25 de março de 2012

Análise Grafológica


O aumento descontrolado da população do Planeta – baseado em uma (bio)lógica que privilegia a quantidade, e não a qualidade; que enaltece o curto prazo da Raça Humana, e não o longo – conduz a uma inevitável pasteurização das massas. Torna-se mais importante uma vida simples que seja acessível aos 7 bilhões do que o aprimoramento e aprofundamento da cultura. Infelizmente, somos forçados a nivelar por baixo.

Um recente sinal desta forma de involuir a Raça é a tendência ao término do ensino da Caligrafia, ou letra cursiva. Aparentemente, em um futuro próximo somente será ensinada a letra de forma, ou as maiúsculas. Vários motivos respaldam tal regressão: facilidade de compreensão por pessoas que falam outras línguas, a péssima caligrafia de muita gente (a maioria), padronização, etc. Sem questioná-los, atenho-me aqui apenas ao aspecto romântico desta perda.

Sempre gostei de escrever à mão, e graças a isto muitos conhecidos consideram erroneamente que sou um apaixonado por canetas: não sou. Gosto de canetas por serem um instrumento ou meio para a caligrafia pessoal, da qual muito me orgulho; um prazer que será negado às gerações futuras. A Caligrafia voltará a ser privilégio de monges encastelados, ou um hobby de vetustos senhores – ou seja, eu mesmo.

No início dos anos anos 90, como parte do processo de admissão a uma grande Empresa, fui submetido a uma Análise Grafológica. Posteriormente, já como parte integrante do quadro de funcionários, infernizei a vida de uma Psicóloga do RH até conseguir acesso àquela análise. Sendo um apaixonado por Caligrafia, eu tinha que saber o que a minha dizia a meu respeito!

Apresento a seguir o texto, não como autopromoção mas sim como uma utopista defesa à Caligrafia; por considerá-lo uma das melhores análises já feitas a meu respeito (fora o Teste Vocacional quando tinha 16 anos de idade, é claro). É impressionante como se pode dissecar alguém através de sua letra; é inacreditável que alguém possa ter ido tão fundo olhando apenas a escrita, sem jamais ter conversado ou mesmo visto a pessoa. Note-se que a análise não se destinava a ser lida pelo analisado, mas sim exclusivamente pela Empresa; não tinha, portanto, nenhum interesse em impressionar o Objeto da mesma forma que tantas outras como alguns horóscopos, etc.

Lembro-me ter escrito algo comparando as coisas que gosto àquelas que não gosto. Transcrevo o texto ipsis litteris mantedo a grafia original, mesmo discordando de uma ou outra utilização de vírgulas, etc. O original é datilografado. Meu agradecimento àquela Psicóloga por me ter propiciado o acesso a esta Análise.


“Personalidade muito mais forte do que parece e bem dotada em muitos aspectos. Ótimo equilíbrio, não dispensando, no entanto, o uso do eficaz autocontrole mas permitindo um estado normal de reduzida tensão.

O Sr. Panda é um homem decidido, que sabe o que quer e que, com firmeza, determinação e sem atropelos, segue o seu caminho apesar dos obstáculos. É autêntico e parece estar em paz consigo e com a vida.

Vivas sensibilidade e emotividade dominadas com certa facilidade.

Respeito não incondicional às normas em vigor.

Bom nível de segurança.

Maturidade condizente com a idade.

Elevado autoconceito, baseado, certamente, na consciência do próprio valor, e grande preocupação com a impressão causada. Imagem projetada vistosa e arrojada, irradiando força e necessidade de afirmação. Autocrítica bastante desenvolvida e atuante.

Extroversão menor do que parece. Pessoa reservada quanto à vida pessoal e de fácil comunicabilidade. Relacionamento fácil, discreto e, certamente, agradável, com tendência para um profundo envolvimento por parte do Sr. Panda. Sociabilidade natural e cultivada. Certa agressividade latente. Integração verdadeira provavelmente lenta e difícil nos meios em que vive, podendo, porém, tornar-se intensa em certos casos.

Expressão verbal muito clara, fluente e desembaraçada, um dos grandes trunfos desta personalidade.

Impulsividade mais canalizada do que contida.

Eficaz domínio sobre as atitudes e palavras.

Ótimos dotes para a ordem e organização aplicados sistematicamente.

Excelente grau de eficiência – o Sr. Panda não desperdiça a sua energia.

Boa capacidade para chefia.

Atividade fluente, constante e muito disciplinada.

Dinamismo e energia maiores do que parecem e, geralmente, sob controle.

Ambição bastante desenvolvida.

Inteligência viva e profunda ao mesmo tempo. Invulgares agilidade e flexibilidade mental. Notável poder de concentração. Consideráveis lucidez e sensatez. Julgamento normalmente objetivo.

Ativa força de vontade favorecendo a constância, a persistência e a tenacidade. Combatividade, iniciativa e audácia temperadas pela prudência.

Grande, profundo e requintado orgulho exercendo uma forte influência no comportamento do Sr. Panda e incentivando a sua ambição e vontade de lutar. É, por isso, um fator positivo.

Conclusão: valioso elemento, muito ativo e esforçado, empreendedor e, certamente, responsável.


(Nota: considero “respeito não incondicional às normas em vigor” a melhor frase já escrita a meu respeito. Adoro também “extroversão menor do que parece”: eu só finjo que não sou tímido!)


(mar/2012)

sexta-feira, 23 de março de 2012

Vidas Descartáveis


Comento com uma jovem Avó a respeito das (para mim) extremamente fúteis e vazias vidas que boa parte dos Adolescentes levam atualmente. Esvaem seus tempos em programas que ignoram as fronteiras da boçalidade: Pânico na TV, Big Brother, Ultimate Fighter, a profusão de partidas de futebol de campeonatos inglês-espanhol-italiano-alemão e até o Brasileiro, mesas redondas, videogames de pancadaria ininterrupta, e muitos etcs até um quase-desligamento de suas sinapses (*).

A jovem Avó pensa em seus netos, e responde:
- “Os jovens de hoje levam vidas descartáveis.”

Me remete a algo que li ou ouvi: os jovens sempre deram mais importância à opinião das pessoas de sua faixa etária do que à dos mais velhos. No entanto, no passado eles tinham pouca exposição ao convívio dos demais manés da mesma idade: se encontravam na escola, em algumas atividades fora do colégio e de casa... e pronto. Na maior parte do tempo estavam com gente adulta, saíam com seus Pais, ou seja: ouviam, aprendiam e se desenvolviam com a experiência dos mais experientes.

Atualmente a juventude passa muito mais tempo na rua, plugados, antenados, se comunicando via messengers, torpedos, redes sociais, caralivros, celulares. A convivência com os mais vividos – e conseqüentemente sua influência – reduziu barbaramente. O resultado é óbvio: sem referência daquilo que já foi vivido, experimentado e testado alguns milhões de vezes, o jovem de hoje passa a vida empenhado em inventar o isqueiro – sem cair em si que está desperdiçando seu tempo para descobrir o que já existe; perdendo tempo que lhe deveria servir para seguir em frente. Ao invés de embarcarem no trem-bala da História, optam por puxar-lhe a carroça.

Talvez seja este o grande desafio do jovem atual: a coragem de passar por cima de seus semelhantes – que nada sabem, assim como eles – e se aplicar a um modelo de dedicação, esforço, humildade e aprendizado que valerá o escárnio por parte dos brothers manés preguiçosos: afinal, “a desgraça ama companhia”. Enfrentar a preguiça e a comodidade dos imbecilérrimos programas que demandam inteligência parca e que nada acrescentam ao inculto que os assiste – ou pior, acrecentam envelhecimento inútil à própria existência. Menos vida a usufruir, sem qualquer retorno; sem mais nada.

Cuidar para não se tornar uma Pessoa que pouco ou nada tem a acrescentar, a não ser o próprio deslumbramento com descobertas há muito ultrapassadas.

Cuidar para não escorregar para uma vida descartável.


 (*) © Calvin

(mar/2012)

quinta-feira, 22 de março de 2012

Idade de Celotex

Eu já tinha de meio século de vida.

Recebi um telefonema de RDu. Eram cerca de 20 horas e eu estava no Banco, trabalhando. O que me valeu o seguinte comentário por parte do Amigo:
- “Você não está mais em idade de estar trabalhando às 8 da noite. Está em idade de estar jogando botão às 6 da tarde!”

(mar/2012)

segunda-feira, 19 de março de 2012

Tá namorando?


Ele gostava de perguntar às pessoas:
- “E aí, tá namorando?”
Todos o olhavam com cara de “que abelhudo!”, mas ele considerava não haver informação mais importante ou pertinente do que esta para se saber a respeito de um Amigo ou Amiga.

Em sua visão pessoal, “namoro” significava “indisponibilidade”. Estar comprometido, seja lá qual o tipo de compromisso.

Mas o conceito de “Namoro” mudou com o passar do tempo. Antigamente – há uns 30 anos – quando se queria dizer que um relacionamento não era sério (no sentido compromisso-a-longo-prazo), se dizia:
- “Ah, não é nada sério, estamos só namorando...”

Atualmente as coisas mudaram (muito), e a coisa mais difícil de se ouvir é “estamos namorando”. E ao perguntar:
- “E aí, tá namorando?”
, em geral passou a ouvir um indignado:
– “Quêisso, tamos só ficando!!!”

Namoro agora era coisa séria!...

Até que ouviu uma definição perfeita do que vem a ser a “coisa séria” atualmente:
- “Namoro é quando você beija de dia!”

 (mar/2012)

domingo, 18 de março de 2012

Deus é Fiel


A Natureza já teve milhões de anos para aprender que a proporção 1 macho para 1 fêmea não é necessária – pelo contrário, é contraproducente.

O objetivo essencial (e irracional) de uma espécie é crescer e multiplicar-se para dominar o máximo de território possível. Ora, para que uma raça cresça e se multiplique será muito mais eficiente se existirem 10 – ou mesmo 100 – fêmeas para cada macho. Afinal, enquanto a fêmea está prenhe (ou “ocupada”, como se diz no Nordeste), o macho passa um longo período de absoluta inutilidade biológica. Caso passasse este período fecundando outras fêmeas, a raça progridiria com rapidez exponencialmente maior.

Assim, se para cada 100 indivíduos nascidos tivéssemos 98 fêmeas e 2 felizardos, a raça se multiplicaria com muito mais eficiência do que com o tosco equilíbrio 50/50. No entanto, isto não acontece.

Por quê será, considerando-se que a Natureza sempre foi pródiga em encontrar as formas mais eficientes de ocupação e adaptação?

Só consigo encontrar uma única explicação para este fato: Deus existe.

Existe, e interfere na Natureza.

Existe, interfere na Natureza... e é monogâmico!


(mar/2012)

sábado, 17 de março de 2012

Ricota gosta de Picanha


No final dos anos 70 os muros do Rio ficaram cobertos por um grafite que proclamava: “Celacanto provoca Maremoto!”. Era grafado sempre da mesma forma, e em locais estratégicos da cidade. Foi um mistério que perdurou por muito tempo, mas cuja origem era evidente para quem assisitiu National Kid nos anos 60. Mas isto já é uma outra história.


Eles se conheceram no trabalho em São Paulo no início dos anos 90, e ficaram Amigos. Um era carioca e tinha estudado na PUC-RJ, onde a história do Celacanto era tremendamente famosa. O outro era paulista. Com o passar do tempo, o carioca notou que o paulista fazia bastante sucesso com as Mulheres, e um dia lhe perguntou qual era a causa.
- “É simples”, respondeu o Amigo. “Quando tomo banho eu não lavo bem o pau, e fica um pouco daquela sujeirinha – aquele ‘queijinho’ – em volta da cabeça do animal. E mulher adora isto, daí o meu sucesso!”

Ao ouvir tal explicação, o carioca imediatamente apelidou o don juan paulista de ‘Ricota’.

Mais alguns meses, e nova observação: o questionador observou que Ricota usualmente se fazia acompanhar por Senhoritas mais... “fornidas”, e novamente foi questionar seu Amigo.
- “É, eu gosto de carne com uma gordurinha!”, retrucou o outro. (Anos depois o questionador ouviria esta frase em outra forma: “mulher boa é aquela que enche a cama!”, aparentemente um ditado com origem nas arábias.)

Imediatamente foi cunhada a expressão “Ricota gosta de Picanha!”, que passou a ser espalhada pela Empresa onde os dois trabalhavam. Papéis com a frase no mesmo formato do “Celacanto” original apareceram por todo lado. Mas como muitos anos haviam passado, a cidade era outra e a nova frase nada tinha a ver com a original, evidentemente ninguém entendeu nada. E aquilo se tornou uma “private joke” entre os dois.


Esta lembrança é uma homenagem ao Amigo que, passadas duas décadas, continua barbarizando com as Picanhas. Pelo jeito, a ricota continua fazendo sucesso!


(mar/2012)

sexta-feira, 16 de março de 2012

Menino Prodígio

Mamãe conta a seguinte história, que se passou entre 1968 e 1969, quando eu tinha 12 ou no máximo 13 anos.

Numa tarde em um final de semana, a Família foi ao Cinema São Luiz no Largo do Machado no Rio para assistir “Os Seus, Os Meus e os Nossos” (“Yours, Mine and Ours”) com Lucille Ball e Henry Fonda. O São Luiz era um cinema imenso, como só existia antigamente (ou atualmente, porém fora do Brasil), mas em se tratando de uma comédia familiar em uma tarde de final de semana, estava completamente lotado. Acabamos nos sentando separados, e eu fiquei distante do local onde Mamãe se sentou.

A história do filme é sobre um viúvo com 10 filhos que se casa com uma viúva que tem 8 filhos. Evidentemente a balbúrdia se estabelece, com guerra entre as 18 crianças, bagunça, tumultos, etc. A alturas tantas, no meio da sessão e com o vozeirão de 12 anos, eu berrei:
- “MAMÃE! É POR ISTO QUE EU NÃO VOU ME CASAR!!!”

Ela conta que o cinema quase veio abaixo com as gargalhadas!


Passadas mais de 3 décadas, me mantive fiel àquela diretriz. Recentemente Madame veio a saber desta história, e comentou:
- “Nossa, você já era traumatizado nesta idade?!?...”
- “Negativo!”, retruquei. “Eu era um menino prodígio!”


(mar/2012)

quinta-feira, 15 de março de 2012

Feijoada com pinças

Ficarei surpreso se alguém conseguir explicar o motivo das carnes de uma feijoada precisarem ser pegas com... conchas!

Sim, a concha é útil e necessária para pegar o próprio feijão. Para isto, é suficiente que a cumbuca com o feijão tenha a seu lado uma concha. Já as demais travessas – com lingüiça, lombo, carne seca, etc, boiando ou afogadas no feijão – podem e deveriam ser servidas com pegadores, e não com conchas. O que acontece é que cada vez que a pessoa se serve de orelhas, pés e rabo de porco utilizando uma concha, compulsoriamente vai junto para seu prato um monte de caldo e caroços de feijão que não eram necessariamente desejados. Fora a dificuldade de escolher e pegar as carnes. E a sujeirada!

Façamos assim: quando for servir feijoada, coloque pegadores – ou pinças – na mesa para que seus convidados se sirvam das carnes. Junto à cumbuca do feijão, aí sim, coloque uma única concha.

Isto vale também – e principalmente – para Restaurantes, por favor.


(Nota: como como em média uma feijoada a cada 6 meses, esta medida tem uma tolerância de 5 meses e 29 dias para ser implementada.)

(mar/2012)

quarta-feira, 14 de março de 2012

Ultrapassagem pela Direita

Não tem qualquer resquício de inteligência a legislação que multa veículos que ultrapassam pela direita em rodovias.

A obrigação de qualquer motorista é dirigir pela direita, utilizando a pista esquerda somente para ultrapassagens. Feita a ultrapassagem, o motorista deve retornar para a pista à direita.

Imagine a situação: uma estrada com limite de velocidade de 100km/h; você está na pista direita a 80km/h, e um pouco à frente e à esquerda segue um imbeciliota a 60km/h. ATENÇÃO: pela legislação de trânsito, você não pode prosseguir!!! Está abaixo do limite de velocidade, está na pista da direita – a correta – mas não pode prosseguir! Você precisa:
i) reduzir a velocidade;
ii) passar para a pista à esquerda, atrás do imbeciliota;
iii) piscar o farol para ele, que está a 60km/h;
iv) dar seta à esquerda pedindo passagem; e
v) se aproximar, até que o imbeciliota se digna a muito lenta e mal-humoradamente sair para a pista à direita. É o fim da picada: você estava fazendo tudo certo, e é forçado pelo código de trânsito a ser prejudicado por um imbeciliota que estava fazendo tudo errado – e sem que ninguém ganhe absolutamente nada com isto!

Não faz a menor diferença estar no limite de velocidade daquele trecho da estrada; isto não gera um “direito” de seguir pela pista à esquerda. Ninguém é guarda, regulador ou limitador de trânsito; se o outro motorista quiser ir acima da velocidade máxima – talvez por ter uma Mulher dando à luz no carro, ou por estar transportando algum acidentado, ou mesmo por ser um daqueles completos idiotas que acham que “dirigir bem é correr” – o problema é dele. Se não estiver ultrapassando, ninguém tem o direito de – e nem motivo para – dirigir à direita e atrapalhar os outros.

Note-se que não estamos defendendo as ultrapassagens pela direita, mas sim que o responsável por elas é outro. O correto e racional seria que quem é ultrapassado pela direita fosse multado. Com isto, nunca mais teríamos imbeciliotas dirigindo desnecessária e morosamente pela pista da esquerda.

É tão simples.

Tão óbvio.

Tão completamente óbvio.


(mar/2012)

sábado, 3 de março de 2012

30 anos em 2 Rodas

Em março/2012 estou completando 30 anos de moto.

A primeira foi comprada graças a um coração partido (aliás, o parapente teve a mesma causa) (embora por outra causadora). Heartbroken no final da tarde de uma 6ª feira, eu voltava do trabalho na RHEEM em São Cristóvão na garupa do Roxo. Trânsito INFERNAL no Viaduto Paulo de Frontin (quase um Minhocão no Rio). Seguíamos tranqüilos pelo acostamento quando passamos por uma varanda onde uma Deusa apareceu enrolada somente em uma toalha, com os cabelos molhados. Dava para ver as gotículas d’água nos ombros desnudos, o Roxo enlouqueceu! Seguiu até o final do viaduto, deu uma “quebrada” à direita para evitar a entrada do Túnel Rebouças, contornou-o por cima da boca de entrada, voltou todo o Paulo de Frontin por cima do Rio Comprido, fez retorno no início da Francisco Bicalho, atravessou mais uma vez o Viaduto, e menos de 10 minutos depois daquela visão quase fantasiosa lá estávamos de frente para a toalha felpuda. Saltamos da moto fingindo que procurávamos alguma coisa no acostamento do viaduto (como os homens são ridículos) e o Roxo foi puxar papo com a moçoila limpinha. Ou seja, o que era um trânsito pavoroso para milhares de carros não significava absolutamente nada para uma moto! O Roxo foi rechaçado pela Deusa, mas decidi a compra na mesma hora.

Eu tinha 25 anos e desde sempre quisera ter uma moto, apesar da resistência ferrenha dos Pais e Avô. Chegando em casa naquela noite de 6ª feira, comuniquei:
- “Papai, vou comprar uma moto amanhã e gostaria de contar com seu suporte na negociação. Me acompanha?”
É claro que o Papai foi junto.

Meu Avô também sempre se opusera ferozmente a meus devaneios de compra de moto, afirmando peremptório:
- “Quando comprar moto não entra mais na minha casa!”
Quando voltei com o Papai na manhã de sábado após a compra da Yamaha RX180 (a mesma moto do Roxo), fui direto para a casa do Vovô, e anunciei da porta:
- “Vovô, comprei uma moto! Posso entrar?”

O Roxo tinha comprado sua RX180 umas duas semanas antes, e corajosamente (ou loucamente) a emprestou a mim no dia da estréia. Era alta madrugada em Botafogo (onde ele tinha um Restaurante), e fui dar uma volta no quarteirão. Parei em um sinal, duas da manhã, tudo deserto, silêncio e eu. Dois caras esquisitos se aproximam. Fico nervoso, tento sair apressado avançando o sinal, deixo um pé no chão como “garantia de equilíbrio”, a moto roda em volta de meu próprio pé (que mané!), e PLAFT no chão!!! Os dois caras esquisitos que eu temia se chegaram, e ajudaram a me erguer e à moto...

E ainda devolvi a moto ao Roxo em seu primeiro dia com seu primeiro tombo...

Algumas estatísticas destes 360 meses:

·         50 mil quilômetros rodados
·         3 motos (Yamaha RX180 1982, Honda CB400 1982, Falcon NX400 2004)
·         1 acidente sério (embora estivesse a baixa velocidade)
·         3 tombos no trânsito
·         cerca de 15 tombos ridículos (postos de gasolina, estacionamentos, parado em sinais fechados, etc)
·         nenhum retrovisor quebrado.

E muitas caronas felizes. Por mais que se possa afirmar em contrário, jamais encontrei uma Dama que se recusasse a andar de moto. Muito pelo contrário: Mulheres ADORAM moto!

E eu também!



(mar/2012)

sexta-feira, 2 de março de 2012

Empoderamento

Somos nós que decidimos quem tem poder sobre nós.

O Chefe manda um Subordinado fazer alguma coisa errada, ou que ele não quer, ou não concorda. E arremata:
- “Se você não fizer, eu te demito!”

A partir daí, existem duas alternativas:

(“Não posso ser demitido.”)
- “Tá bom, Chefe, eu faço.”
E o Subalterno faz, emburrado e de má vontade.
Neste caso, o Chefe tem Poder sobre o Funcionário.

OU:
- “Dane-se, Chefe, pode me mandar embora, estou pouco me lixando. Mas isto eu não faço!”
Neste caso, o Chefe não tem poder sobre o Funcionário.

Note-se que a situação é exatamente a mesma; foi a reação diferente do Subordinado que determinou o poder – ou não – do Chefe.

Cuide portanto para não meter sua vida em situações nas quais você seja forçado a empoderar gente que te manda fazer coisas erradas, ou que você não quer fazer, ou não concorda.

De quanto menos coisas formos dependentes, menos pessoas terão poder sobre nós.

Sobre você.


(mar/2012)

quinta-feira, 1 de março de 2012

A Inveja é uma Reforma Abortográfica

Era uma vez um dicionarista que tinha inveja de outro Dicionarista, que era muito mais famoso do que ele.

O que mais corroía o dicionarista era a substantivação do nome do outro, o fato de seu prenome ter se tornado nome comum: um sinônimo da própria palavra 'Dicionário'.

Mais preocupado com a vaidade do que com o bom senso ou o respeito a sua língua-mater, ele arquitetou uma forma de suplantar a fama do outro. Inventou uma reforma abortográfica, e preparou um dicionário – que levava seu próprio nome na capa, é claro – que contemplava de antemão as modificações que desejava impor. O fato de ser completamente descabida não lhe fazia a menor diferença: quando a reforma fosse aprovada, o dicionário com o seu nome passaria a imperar como referência abortográfica. E ele se lançou tenaz à tarefa de aprovar seu estrupício.

Tarefa esta que se revelou bem mais difícil do que o esperado – o que era explicável pelo fato de se tratar de uma proposta que afrontava a erudição e a inteligência. Por exemplo, a exclusão do acento diferencial na palavra ‘pára’, diferenciando o verbo da preposição. A publicação de uma matéria com o título “Novo goleiro para o Corinthians” no caderno de Esportes do jornal O Estado de São Paulo deixaria o leitor na dúvida: um novo goleiro teria parado o “todo-poderoso”? Ou teria sido contratado um novo goleiro para o “timão”? Com a reforma abortográfica proposta, até um não-corinthiano teria que ler a matéria para saber o que estava acontecendo. A oração deixava de ser auto-explicativa!

Ou então o surgimento de “vogais-excrescência”: com a absurda abolição da maioria dos hífens, palavras como ‘moto-serra’ passariam a ser grafadas ‘motosserra’. A separação das silabas evidencia o descalabro: mo-tos-ser-ra. “Tos”? De onde vem este “tos”, que não existia em nenhuma das duas palavras originais???

Também o desaparecimento de alguns acentos – mas não todos – sem qualquer lógica ou regra defensável, mas com base em uma profusão de exceções, causou asco a quem se aprofundava no conteúdo da Reforma.

Mas a cereja do bolo fecal era a proposta de fim do trema. O trema não é um acento, mas sim um indicativo de pronúncia. Assim, não faz qualquer sentido incluir sua exclusão em uma reforma abortográfica. E mais, tal exclusão representava muito mais do que um condenável empobrecimento da língua: criava uma impossibilidade de se saber qual a correta pronúncia de diversas palavras.

Dada a completa estupidez da proposta, o tempo passou além do que o dicionarista esperava, e ele acabou morrendo. Mas aquele rebento confuso e disforme continuou se movendo nas bureaucracias daquele País, e – dada a completa estupidez da proposta – acabou indo bater nas mãos do Presidento. Ora, tratava-se de um Presidento de reconhecida ignorância e preguiça, que já chegara até mesmo ao absurdo de afirmar na abertura de uma Bienal do Livro que “ler um livro dá uma preguiça...”! E o Presidento, com seu objetivo pragmático de nivelar as coisas por baixo e deixar tudo mais fácil para os incultos ignorantes preguiçosos, acabou por aprovar a Reforma Abortográfica. Ficou uma herança maldita para os habitantes tanto daquele País como dos demais que porventura usassem a mesma língua.

Alguns escritores puristas e autores de Blogs – como “Uma Toupeira Em Netuno”, por exemplo – optaram por se manter fiéis à muito mais inteligente ortografia anterior. Tinham consciência de estarem se prejudicando, pois em breve seriam encarados como dinossauros que só faltavam escrever ‘Pharmácia’, ‘insecto’ ou ‘pateo’ por exemplo. Mas se ofereceram em sacrifício, tanto como uma homenagem aos tempos de pessoas mais cultas como aquele Dicionarista original como também como resistência ao ininterrompível avanço da mediocridade. Afinal, como disse Marcelo Nova, “tem que ter cultura pra cuspir na escultura”.

E todos viveram infelizes para sempre.


Disclaimer: os personagens desta parábola são fictícios. Qualquer semelhança com qualquer pessoa real da qual você tenha notícia... a responsabilidade pela inferência é sua!


(fev/2012)