O aumento descontrolado da população do Planeta – baseado em uma (bio)lógica que privilegia a quantidade, e não a qualidade; que enaltece o curto prazo da Raça Humana, e não o longo – conduz a uma inevitável pasteurização das massas. Torna-se mais importante uma vida simples que seja acessível aos 7 bilhões do que o aprimoramento e aprofundamento da cultura. Infelizmente, somos forçados a nivelar por baixo.
Um recente sinal desta forma de involuir a Raça é a tendência ao término do ensino da Caligrafia, ou letra cursiva. Aparentemente, em um futuro próximo somente será ensinada a letra de forma, ou as maiúsculas. Vários motivos respaldam tal regressão: facilidade de compreensão por pessoas que falam outras línguas, a péssima caligrafia de muita gente (a maioria), padronização, etc. Sem questioná-los, atenho-me aqui apenas ao aspecto romântico desta perda.
Sempre gostei de escrever à mão, e graças a isto muitos conhecidos consideram erroneamente que sou um apaixonado por canetas: não sou. Gosto de canetas por serem um instrumento ou meio para a caligrafia pessoal, da qual muito me orgulho; um prazer que será negado às gerações futuras. A Caligrafia voltará a ser privilégio de monges encastelados, ou um hobby de vetustos senhores – ou seja, eu mesmo.
No início dos anos anos 90, como parte do processo de admissão a uma grande Empresa, fui submetido a uma Análise Grafológica. Posteriormente, já como parte integrante do quadro de funcionários, infernizei a vida de uma Psicóloga do RH até conseguir acesso àquela análise. Sendo um apaixonado por Caligrafia, eu tinha que saber o que a minha dizia a meu respeito!
Apresento a seguir o texto, não como autopromoção mas sim como uma utopista defesa à Caligrafia; por considerá-lo uma das melhores análises já feitas a meu respeito (fora o Teste Vocacional quando tinha 16 anos de idade, é claro). É impressionante como se pode dissecar alguém através de sua letra; é inacreditável que alguém possa ter ido tão fundo olhando apenas a escrita, sem jamais ter conversado ou mesmo visto a pessoa. Note-se que a análise não se destinava a ser lida pelo analisado, mas sim exclusivamente pela Empresa; não tinha, portanto, nenhum interesse em impressionar o Objeto da mesma forma que tantas outras como alguns horóscopos, etc.
Lembro-me ter escrito algo comparando as coisas que gosto àquelas que não gosto. Transcrevo o texto ipsis litteris mantedo a grafia original, mesmo discordando de uma ou outra utilização de vírgulas, etc. O original é datilografado. Meu agradecimento àquela Psicóloga por me ter propiciado o acesso a esta Análise.
“Personalidade muito mais forte do que parece e bem dotada em muitos aspectos. Ótimo equilíbrio, não dispensando, no entanto, o uso do eficaz autocontrole mas permitindo um estado normal de reduzida tensão.
O Sr. Panda é um homem decidido, que sabe o que quer e que, com firmeza, determinação e sem atropelos, segue o seu caminho apesar dos obstáculos. É autêntico e parece estar em paz consigo e com a vida.
Vivas sensibilidade e emotividade dominadas com certa facilidade.
Respeito não incondicional às normas em vigor.
Bom nível de segurança.
Maturidade condizente com a idade.
Elevado autoconceito, baseado, certamente, na consciência do próprio valor, e grande preocupação com a impressão causada. Imagem projetada vistosa e arrojada, irradiando força e necessidade de afirmação. Autocrítica bastante desenvolvida e atuante.
Extroversão menor do que parece. Pessoa reservada quanto à vida pessoal e de fácil comunicabilidade. Relacionamento fácil, discreto e, certamente, agradável, com tendência para um profundo envolvimento por parte do Sr. Panda. Sociabilidade natural e cultivada. Certa agressividade latente. Integração verdadeira provavelmente lenta e difícil nos meios em que vive, podendo, porém, tornar-se intensa em certos casos.
Expressão verbal muito clara, fluente e desembaraçada, um dos grandes trunfos desta personalidade.
Impulsividade mais canalizada do que contida.
Eficaz domínio sobre as atitudes e palavras.
Ótimos dotes para a ordem e organização aplicados sistematicamente.
Excelente grau de eficiência – o Sr. Panda não desperdiça a sua energia.
Boa capacidade para chefia.
Atividade fluente, constante e muito disciplinada.
Dinamismo e energia maiores do que parecem e, geralmente, sob controle.
Ambição bastante desenvolvida.
Inteligência viva e profunda ao mesmo tempo. Invulgares agilidade e flexibilidade mental. Notável poder de concentração. Consideráveis lucidez e sensatez. Julgamento normalmente objetivo.
Ativa força de vontade favorecendo a constância, a persistência e a tenacidade. Combatividade, iniciativa e audácia temperadas pela prudência.
Grande, profundo e requintado orgulho exercendo uma forte influência no comportamento do Sr. Panda e incentivando a sua ambição e vontade de lutar. É, por isso, um fator positivo.
Conclusão: valioso elemento, muito ativo e esforçado, empreendedor e, certamente, responsável.”
(Nota: considero “respeito não incondicional às normas em vigor” a melhor frase já escrita a meu respeito. Adoro também “extroversão menor do que parece”: eu só finjo que não sou tímido!)
(mar/2012)