Em fevereiro de 1971 meus Pais se mudaram para Ipanema, e aos 14 anos de
Do Edifício Igarapu tenho algumas recordações preciosas:
·
os jogos de futebol diários na quadra do playground. Jogávamos por horas, a tarde
inteira, e eu jamais me cansava. Vestia uniforme completo do Vasco da Gama para
jogar e para andar – ou melhor, correr – pelas ruas das redondezas. Fazia
muitos gols, sempre fui muito objetivo. Nunca fui muito de comemorar os gols;
obrigação cumprida, vamos para a próxima;
·
andar
por sobre (e pular) os muros das vizinhanças, seja para apanhar bolas zunidas,
seja porque foi então que entendi que na próxima encarnação serei um Gato: para
andar pelos telhados, para namorar as Gatas à noite, para ser completamente Livre;

·
o
mas impressionante é que eu descia as escadas de nosso 3º andar até o Térreo
sem usar os pés! Somente usando as mãos, me agarrando nos corrimãos e descendo
em círculos acelerados pelas forças da Gravidade e Centrípeta, e descia andar
após andar em um vôo ininterrupto e espetacular. De vez em quando ainda sonho
com estas descidas, e me maravilho em como eu era hábil; um verdadeiro artista
de Circo.
E então, Ipanema. Sou suspeito para falar de Ipanema, por muitos
anos tive dúvidas (já esclarecidas) se o Centro do Mundo seria Ipanema ou se era o meu umbigo. Sou suspeito também
para falar sobre Copacabana: a considero o melhor lugar deste 4º Mundo para quem
se aposenta morar e viver.
Na Rua Visconde de Pirajá em Ipanema havia a mítica
Sorveteria do Morais, sempre cheia, sempre deliciosa, quase sagrada; ir lá era
um ritual quase religioso.
Mas o que mais me impressionava era a loja ao lado do
Morais: pelo que me lembro (eu tinha 14 anos) tinha a diversidade de um brechó,
inacessível para a compreensão de um garoto que corria pelas ruas de uniforme
do Vasco. Mas além das vitrines de roupas e acessórios fascinantes, o que me
cativava principalmente era o nome da loja:
AH, SE EU PUDESSE ARFAR NOS BRAÇOS ARGENTINOS DE
ANGELITA...

UM PANDA EM SATURNO
“Um Panda Em Saturno” existe portanto – ao menos em
minha cabeça – desde 1971; há 45 anos; desde que eu tenho 14 anos.
Naquele começo seria uma Loja. Em 2009 se tornou este espaço onde escancaro
uma pequena parte de minhas Perplexidades Cotidianas. Uma ponte entre a ética que
imagino e a barbárie que vejo, e com a qual convivo.
O refúgio de um animal em extinção em um Planeta
esquisito.
(fev/1971 – jan/2016)