sábado, 30 de janeiro de 2016

Ah, se eu pudesse arfar nos braços argentinos de Angelita...


Em fevereiro de 1971 meus Pais se mudaram para Ipanema, e aos 14 anos de idade deixei para trás as principais lembranças de uma infância que ficou na Rua Xavier da Silveira 53, em Copacabana.

Do Edifício Igarapu tenho algumas recordações preciosas:

·         os jogos de futebol diários na quadra do playground. Jogávamos por horas, a tarde inteira, e eu jamais me cansava. Vestia uniforme completo do Vasco da Gama para jogar e para andar – ou melhor, correr – pelas ruas das redondezas. Fazia muitos gols, sempre fui muito objetivo. Nunca fui muito de comemorar os gols; obrigação cumprida, vamos para a próxima;

·         andar por sobre (e pular) os muros das vizinhanças, seja para apanhar bolas zunidas, seja porque foi então que entendi que na próxima encarnação serei um Gato: para andar pelos telhados, para namorar as Gatas à noite, para ser completamente Livre;

·         o micro-apartamento que minha Família possuía, no 11º andar de um prédio de 10 andares. Lá tínhamos uma varanda, um banheiro, e uma grande sala / quarto. Era o quarto de bagunça da Família (meus Avós também moravam no prédio) e o principal ativo deste sótão eram os Livros. Cheirava a papel, a livros, milhares de livros, tínhamos estantes e uma enorme poltrona, lá eu passava tardes e mais tardes alimentando meu isolamento do Mundo e viajando para bem distante em leituras mágicas. Lá eram também estocadas minhas revistas em quadrinhos – coleções completas de Batman, Super-Homem, Thor, Tintin, Spirit, Luluzinha, Mônica, livretos da coleção ZZ7 de Lou Carrigan com a superespiã Brigitte Montfort (capas do genial Benício), e muito muito mais. Neste sótão me perdi para a leitura; lá fui enfeitiçado por Monteiro Lobato, Júlio Verne, Agatha Christie e Isaac Asimov, os 4 Profetas de minha existência.

·         o mas impressionante é que eu descia as escadas de nosso 3º andar até o Térreo sem usar os pés! Somente usando as mãos, me agarrando nos corrimãos e descendo em círculos acelerados pelas forças da Gravidade e Centrípeta, e descia andar após andar em um vôo ininterrupto e espetacular. De vez em quando ainda sonho com estas descidas, e me maravilho em como eu era hábil; um verdadeiro artista de Circo.

E então, Ipanema. Sou suspeito para falar de Ipanema, por muitos anos tive dúvidas (já esclarecidas) se o Centro do Mundo seria Ipanema ou se era o meu umbigo. Sou suspeito também para falar sobre Copacabana: a considero o melhor lugar deste 4º Mundo para quem se aposenta morar e viver.

Na Rua Visconde de Pirajá em Ipanema havia a mítica Sorveteria do Morais, sempre cheia, sempre deliciosa, quase sagrada; ir lá era um ritual quase religioso.

Mas o que mais me impressionava era a loja ao lado do Morais: pelo que me lembro (eu tinha 14 anos) tinha a diversidade de um brechó, inacessível para a compreensão de um garoto que corria pelas ruas de uniforme do Vasco. Mas além das vitrines de roupas e acessórios fascinantes, o que me cativava principalmente era o nome da loja:
AH, SE EU PUDESSE ARFAR NOS BRAÇOS ARGENTINOS DE ANGELITA...

Que nome intrigante! Eu o achava diferente e genial, e comecei a pensar (seguindo esta linha de falta de compromisso com o formal-habitual) em qual nome eu poderia dar a uma loja, preparando-me para a eventualidade de algum dia vir a ter uma. E em pouco tempo eu já tinha o nome:
UM PANDA EM SATURNO

“Um Panda Em Saturno” existe portanto – ao menos em minha cabeça – desde 1971; há 45 anos; desde que eu tenho 14 anos.

Naquele começo seria uma Loja. Em 2009 se tornou este espaço onde escancaro uma pequena parte de minhas Perplexidades Cotidianas. Uma ponte entre a ética que imagino e a barbárie que vejo, e com a qual convivo.

O refúgio de um animal em extinção em um Planeta esquisito.


(fev/1971 – jan/2016)

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Bodas de Diamante

 
Como é fácil enganar todo mundo.

Ficam todos achando que eu cuido de P&M, só porque se casaram há 60 anos.

Mas isto não é verdade.

Mesmo tendo se passado 59 anos, ainda são P&M que cuidam de mim.

Muito obrigado pelo excelente trabalho por todo este tempo.

Mas a mim não enganam!


(Ipanema, 23 de julho de 1955+60)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Se eu ganhar na Loteria

 
De todos os planos do tipo “se eu ganhar na Loteria” que já ouvi, o melhor foi de uma ex-Chefe. Seus olhos brilham enquanto ela descreve com um radiante sorriso:
- “Não contaria para ninguém. Durante uma semana iria a TODAS as reuniões de trabalho que conseguisse. Iria pegar todos os trabalhos: ‘deixa que eu faço’, ‘deixa comigo, isto é moleza’, ‘minha equipe resolve isto com facilidade’. Na semana seguinte eu simplesmente sumiria, sem dar satisfação a ninguém. E 15 dias depois faria questão de procurar e recortar no jornal o anúncio de meu Abandono de Emprego...”

Merece ganhar!


(SP, jan/16)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

die Verabredung


A Diretora do Deutsch Kurs conta que logo que se mudou para o Brasil convidou todos os Professores da Escola de Idioma para um jantar em sua residência. Dali a 2 meses, pois necessitava este tempo para arrumar a casa após a mudança e chegada.

Chegado o dia do evento, ela (und sein Ehemann) prepararam a casa e se arrumaram.
Ninguém apareceu.

No dia seguinte ela perguntou aos Professores o motivo de ninguém ter ido, e lhe responderam:
- “Ué... Mas você não confirmou!”
Ela ficou estupefata. Como assim, “confirmar”? O evento estava marcado! Nada em contrário havia sido dito! Porquê a necessidade de confirmar um evento que foi combinado e que não foi desmarcado?

Willkommen nach Brasilien!


(SP, 27/jan/2016; 
hoje tive que confirmar um evento marcado há 2 semanas para amanhã.)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

O Tímido


Quando adolescente era tímido, a ponto de as pessoas confundirem sua dificuldade de comunicação com arrogância.

Com o passar dos anos aprendeu a fingir que era comunicativo. Fingia razoavelmente bem, e sua vida se tornou muito mais fácil. Mas por baixo daquela aparente efusão de entusiasmo continuava esquivo, fechado, reservado.

Com o passar das décadas concluiu que o melhor era mesmo se fechar, e voltou a uma introspecção ainda mais ferrenha, pois agora sabia como e porquê defendê-la.

A idade nem sempre nos modifica; em alguns casos ela pode simplesmente nos tornar mais seguros daquilo que sempre fomos. Passamos a entender melhor os motivos pessoais que antes nos eram obscuros.

A idade nos confirma.


(SP, jan/2016)

domingo, 24 de janeiro de 2016

Proposta Indecente


À época do filme “Indecent Proposal” (1993) com Demi Moore, Robert Redford e Woody Harrelson, apresentei a vários Amigos questionamento semelhante ao da película, mas com um elemento a mais:
- “Se um cara te pagasse 1 milhão de dólares para dormir com você, você topava?”

As respostas eram sempre as mesmas, “nunca”, “de jeito nenhum”, “tá brincando?”, etc.

Somente um Amigo me respondeu diferentemente, e mais: fiz a pergunta a ele em três ocasiões diferentes, e nas três ele deu respostas diferentes.

Na primeira vez:
- “Se um cara te pagasse 1 milhão de dólares para dormir com você, você topava?”
- “Alguém ia ficar sabendo?”

Na segunda vez:
- “Mas sem beijo!”

E na terceira:
- “O problema vai ser se gostar!!!”

Ou seja: nunca disse “não”!


(SP, jan/2016)

sábado, 23 de janeiro de 2016

Um Mundo Sem Homens


Procurando entender como pensam as Serumanos, faço constantes pesquisas entre Pessoas próximas ou não. Certa vez perguntei a diversas Damas da Administradora onde trabalhava:

- “Se não existissem Homens no Mundo, você faria ginástica?”

Curiosamente a maioria das respondentes chegou a ficar indignada: “é lógico que sim, eu faço por minha causa, Homens não têm nada a ver com isto” ou então “a Mulher se preocupa mais com a opinião de outras Mulheres do que com a dos Homens”, e por aí. De nada adiantava o Researcher contrapor “mas se preocupam com a opinião das outras porque a disputa é pelo preferência masculina; o Homem é o prêmio final”. “Você está louco”, “egocêntrico”, “machista”, treplicavam as Pesquisadas.

Três Respondentes (ou seja, cerca de 30% das respostas) tiveram no entanto um viés mais objetivo. Me lembro das respostas de duas delas.
A Esposa de um Diretor:
- “Já foi dito que ‘um Mundo sem Homens seria um Mundo de Mulheres gordas e felizes’...”
Uma Amiga Gerente:
- “Eu já não faço ginástica nem tendo Homens, imagina se não tivesse!...”

Querida Dama: se não existissem Homens no Mundo... você faria ginástica?


(SP, jan/2016)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O Casamento do Meu Melhor Amigo


(Nota: o acompanhamento deste texto será amplamente beneficiada por uma leitura prévia do curto “Sabedoria Nordestina”, em http://www.umpandaemsaturno.com/2011/01/sabedoria-nordestina.html)

Sou Padrinho de 6 Casamentos, dos quais 3 permanecem (de 35 anos o mais antigo a 10 anos o mais recente), e 3 se foram.

Da mesma forma que em 1985 perguntei ao Tio José (septuagenário, solteirão e Paraibano) se tinha mesmo sido melhor ficar solteiro ou se seria melhor ter se casado, agora me foi concedida a oportunidade da pergunta inversa.

Estou com um dos Casais abençoados, juntos há mais do que a metade de suas vidas. A pergunta não é sobre eles específicamente; não se trata de algo íntimo ou pessoal, mas de uma visão de Mundo e das relações. Acham que um Casamento é uma coisa que na média deveria dar certo, ou se consideram uma feliz exceção? O que consideram que um Casal necessite para permanecer junto?

O Barbado responde de imediato:
- “Para te responder vou citar Confúcio!...”

Ela dá duas dicas.
- “Sempre comento com seu Amigo (e meu Marido) Barbado (*) que nós damos certo porque casamos com nossos Melhores Amigos!”
E depois complementa:
- “Para um Casamento dar certo é necessário Empenho. Dedicação. Os dois precisam se empenhar para que a coisa dê certo.”

Receita de quem faz.


(*) Os nomes foram alterados para proteger a privacidade dos Apadrinhados.

(Alto Leblon, 19/jan/2016)

domingo, 10 de janeiro de 2016

O Vento que vem do Sul


Pesada devido à baixa temperatura, a massa de ar sai do Pólo Sul e avança sobre o Mar Antártico, empurrando de sua frente o ar mais quente, que se afasta para os lados ou então para cima, para a parte alta da Troposfera.

Em seu caminho para o Equador a massa polar passa pelo Oceano Atlântico, e após percorrer mais de seis mil quilômetros atinge o litoral brasileiro e chega à costa do Rio de Janeiro. Passa por cima de Leblon e Ipanema, e prossegue com furor sobre a Lagoa Rodrigo de Freitas. Mas ali encontra pela primeira vez um obstáculo; um súbito paredão de cimento, um prédio alto, largo e estreito que ousa se interpor no trajeto definido há milênios por Thor.

Os janelões são de vidro, e com frenesi sibilante o vendaval busca atravessar suas frestas. O obstáculo seguinte é uma parede que divide o apartamento ao meio, longitudinalmente. Mas há de haver uma porta, e o vento a procura e encontra, e a ela se dirige impetuoso.

Mas comumente a encontra trancada! É o único jeito desta porta se manter fechada mediante tamanho ataque. E assim sendo, o vento só consegue passar quando o dono da porta o permite.

Ali reside um Guardião, que determina a vazão de ar entre o Pólo Sul e o Equador.

(RJ, jan/2016)

sábado, 9 de janeiro de 2016

Duro de Matar

 
“Inferno é ver as pessoas que você ama sofrerem.”


(Frank Miller via John Hartigan (Bruce Willis) em “Sin City 2: A Dame to Kill For”)


segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Resposta no Espelho

A capa deste disco de 1971
tinha um espelho

Quem você acha que paga o (salgadinho / biscoito / suco / sorvete / cerveja) que você vê (aquele/aquela) (espertinho/espertinha) (comendo / bebendo) no Supermercado?

Quem você acha que paga?

Bidu! É você (mesmo/mesma)!

(Ele/Ela) está te roubando!

Escancaradamente, acintosamente, sem qualquer vergonha!

domingo, 3 de janeiro de 2016

Trust Me, You Can Dance



A mais importante mudança em minha vida no último lustro foi...
... passar de WYBOROWA (*) para ABSOLUT (**)!!!

(*) Thanks, Du!
(**) Thanks, Arcanjo!


sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Resolução de Ano Novo


1) Em dezembro do ano N
, ele falou para sua Namorada / Esposa / Companheira de quase 1 década:
- “Nunca tomei resoluções de Ano Novo, mas desta vez tomei uma: em N+1 vou namorar uma ruiva de franjinha. Seja ela você ou não!”
Ela protestou, mas ele argumentou:
- “Preocupe-se mais com a Balada do que com o Trabalho! E tenho certeza de que no Trabalho você será tremendamente admirada pelo visual e pela atitude...”

2) Em dezembro do ano N+1
, ele falou para sua Namorada / Esposa / Companheira de pouco mais de 1 década:
- “Em N+2 vou namorar uma ruiva de franja, seja ela você ou não!”
Ela não respondeu.

3) Em dezembro do ano N+2
, ele retornou ao bem-sucedido hábito de não tomar resoluções de Ano Novo!


(SP e RJ, jan/2016)