domingo, 28 de outubro de 2012

Ch-ch-changes



“As pessoas são muito abertas às coisas novas,
desde que elas sejam exatamente como as coisas antigas.”

(Charles Kettering, citado pelo jornal "O Estado de São Paulo" – 28/out/2012)

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

How do you feel?


Foram décadas  de espera. A bem da verdade, não era nem mesmo uma espera: parecia que os ROLLING STONES jamais viriam ao Brasil. Foi somente quando tinham mais de 30 anos de estrada, na Voodoo Lounge Tour em janeiro de 1995, que vieram pela primeira vez.

Eu estava no Estádio do Maracanã com (entre outros) o Amigo RdNBF, um old-time-fan que fez uma longa viagem para assistí-los no Rio. Majestoso e colossal são palavras débeis para descrever o palco. Estádio evidentemente lotado. Como sempre, fiquei na Pista. Difícil dizer se o sangue da platéia estava mais diluído por cerveja ou por adrenalina.

Em algum momento delirante da performance me viro para RdNBF (que era muito mais Fã da Banda do que eu) e pergunto, entusiasmadérrimo:
- “HOW DO YOU FEEL?!?...”

Confesso que jamais esperaria aquela resposta:
- “I FEEL LIKE PEEING!!!”

(out/2012)

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Il Pizzaiolo


As Áreas de Investimentos e de Marketing daquele Banco estavam em pé de guerra. O motivo era a implementação da URA (unidade de resposta automática, aquelas respostas pré-gravadas que acabaram levado ao fim do atendimento personalizado), de responsabilidade da primeira mas que deveria atender às solicitações das diversas Áreas da Empresa – Seguros, Crédito, Cartões, Previdência, Poupança, etc. No Menu inicial do atendimento, a Área de Investimentos ganhou o número “7” (“para Investimentos, digite 7...”); a partir daí, todos os Menu que se seguiam seriam desenhados por Investimentos, sob a orientação e responsabilidade final de Marketing.

Após algumas semanas de especificações, determinação dos menus pré-gravados, integração dos sistemas para fornecerem as respostas corretas – notadamente saldos – e adequadas, definição de prioridades, etc, o prazo estava apertando e parecia que jamais se chegaria a um formato final. Provavelmente a Área de Marketing estava tendo os mesmos problemas de repetidas mudanças e solicitações de todas as demais Áreas, pois os nervos estavam em pandarecos. Chegou um ponto em que o VP de Marketing mandou um mail interno geral, curto e seco:
“A Área de Marketing não é Pizzaria.”

Minutos depois circulava para os mesmos destinatários a resposta do VP de Investimentos, que era americano:
“Make mine pepperoni, please!...”


(out/2012)

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Radiateur


Frio extremo e temporão em São Paulo. Vou à festa de 40 anos de uma Amiga. O requintado apartamento está lotado de Mulheres, quase todas na mesma faixa etária da Anfitriã, e com uma minoritária participação masculina. O perfil feminil é uniforme: em excelente forma, as convivas vestem trajes elegantes e provocadores que mais ressaltam os dotes físicos do que as protegem do frio. Os Maridos fazem parte do passado. Garçons servem champanhe e vinho a granel, e garçonetes se encarregam de deliciosos e delicados canapés – tudo com extremo apuro e bom gosto.

Perto de 50 vozes femininas simultâneas são a trilha sonora do evento, abafando o som de “Tourist”, do St. Germain. Sempre me impressiona a capacidade das Mulheres de conversarem animadamente à minha frente, várias falando e se entendendo ao mesmo tempo sem que eu alcance uma única palavra do que está sendo dito.

A alturas tantas me vejo em um quarto onde 8 ou 10 Senhorinhas comentam a respeito de seus Ex-Maridos. Estão apartadas de convenções, e portanto à vontade para reprovar acidamente as atitudes pouco esmeradas e nada cavalheirescas dos ex-bofes. Reclamam da sem-cerimônia com que removiam taludas catotas dos narizes e expeliam sonoros e fétidos flatos na frente delas; comentam a “falta de educação”, “falta de gentileza”, “falta de respeito”, “falta de tato”, “falta de simancol”. Talvez enquanto estivessem casadas elogiassem a “enorme intimidade” que tais atitudes simiescas representavam; mas agora, livres para falar o que realmente sentem, trucidam sem piedade a deselegância dos antigos caras-metade.

Começo a dialogar desinteressadamente com uma Dama. E do alto da ingenuidade de meus cinqüenta e poucos anos comento inocentemente:
- “Uma das vantagens de ser Homem são as roupas. Eu estou trajando sapatos macios, meias de algodão, calça comprida e mangas compridas. Já vocês estão todas com desconfortáveis scarpins, de pernas e ombros de fora, decotadas e desprotegidas. Como é que vocês não ficam com frio???”

Ela encosta o corpo no meu, e sussurra lasciva e malemolente em meu ouvido:
- “São os hormônios!...”


(out/2012)

terça-feira, 23 de outubro de 2012

O Feitor e o Capacho


É quase infalível a receita para galgar promoções em boa parte das Empresas.

Com seus superiores, o Profissional se comporta como um capacho. Não se contrapõe, não enfrenta, não traz a voz da razão, não entra em atrito ou conflito. Não diz “não”. Simplesmente se dispõe sorridente a implementar atrocidades, deixando que o destino e o correr das águas (ou algum louco) venham a mostrar que a solicitação era inviável, impraticável, completamente estúpida. Afinal, neste meio tempo, já terá sido promovido. Ou ao menos terá conseguido manter seu posto.

Já com seus subordinados, o Profissional ambicioso se porta como um Feitor. Impõe – repassa –  retransmite – os absurdos que engoliu sorridente de seus superiores hierárquicos. E quando tais subordinados questionam usando a razão,  retrucam “são ordens de cima”, e consideram resolvida a situação. A satisfação de seus semelhantes – no caso, os subordinados que dele dependem – não lhe faz a a menor diferença, nem tem a menor importância.

Não há um único dia em minha existência em que eu não pense na sentença “o Homem é o Lobo do Homem”.

(set/2012)

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Rock’n’Roll All Nights


Dani G. estava desempregada e desconsolada. Recorri a todo meu arsenal de argumentos em favor da liberdade, disponibilidade, ócio criativo e mundo de oportunidades, mas nada a animava.

Sabedor de que a Menina era chegada numa night, resolvi apelar:
- “Pense nas noites de domingo! Todo mundo acha a noite de domingo depressiva, mas isto é porque as pessoas têm que trabalhar na manhã de segunda. Para quem está desempregado, as noites de domingo são maravilhosas!”

Na resposta, a voz dela brilhava:
- “Meu caro, não são só as noites de domingo do desempregado que são maravilhosas... São TODAS as noites!!!”


(out/2012)

domingo, 21 de outubro de 2012

Sismaria


Um fenômeno bastante comum no interior e do qual não encontro qualquer referência nos mecanismos de busca da Internet é a “sismaria”.

Ocorre quando vemos a luz dos relâmpagos sem ruído de trovões. Não é incomum em áreas rurais observarmos nuvens pesadas ao longe sendo repetidamente iluminadas por clarões, quase “piscando”... e sem um barulho sequer. Um estroboscópio majestoso, silencioso e hipnotizante.

A sabedoria sertaneja chama este impressionante fenômeno de “sismaria”.

Nas cidades grandes, nem mesmo chegamos a vê-lo. E quem vê, em geral não sabe o nome.


(Nota: pesquisei infrutiferamente diversas alternativas como “sesmaria”, “cismaria”, “cizmaria”, “cezmaria” e o que mais seja possível imaginar. Fica portanto a palavra registrada como a ouvi, ou como a entendi; afinal, o objetivo primário da grafia é representar e conservar a comunicação falada.)


(out/2012)

sábado, 20 de outubro de 2012

O Verdadeiro Final da Novela “Avenida Brasil”


“Avenida Brasil” foi uma novela fenomenal em seus primeiros 2 meses, o que me levou a recomendá-la entusiasticamente a diversos Amigos e Familiares. O problema é que depois disto ela entrou em espiral descendente, o que levou estes mesmos Amigos e Familiares a me espinafrarem – e com razão!

A meu ver, a “soap opera” se sustentou com monumental sucesso graças a 2 motivos básicos: a trama absolutamente fascinante tecida naqueles primeiros dois meses, e a genial galeria de tipos que foi criada – mérito para o Autor e para os Intérpretes. No entanto, a necessidade de encompridar a permanência do drama no ar levou a sucessivos “embarrigamentos” que praticamente mataram a trama, demonstrando incapacidade e falta de traquejo para um trajeto longo. E, limitado pela necessidade de tecer destinos compatíveis com “a moral e os bons costumes” da Dona Dorotéia de “Gabriela”, o Autor perdeu a chance de construir um final que seria antológico, marcante e inesquecível.

ÁGATA

Evidentemente era filha do Genésio. Daí o ódio da Carmem Lúcia por ela. Escolheram até mesmo uma atriz que "slightly resembles" o Tony Ramos...
Sendo irmã da Rita-Nina por parte de Pai e do Jorge-Batata por parte de Mãe, ela ainda ia poder dizer:
- "O meu irmão come a minha irmã."
E tudo bem!!!


O DESTINO DE CARMEM LÚCIA

O final da principal personagem da novela foi completamente pífio. A Vilã do Mal virar uma Santa do Lixão, nos poupem! Um final condizente se daria no próprio Aeroporto de Búzios, quando ela roubou a arma do Pai Santiago – que a violentava quando menina. Ela obviamente teria matado o Pai e daria uma banana para o Tufão e a Nina, embarcando no avião para o Paraguay com os $20 milhões e seguindo depois para a Itália conforme planejado. Um final muito mais nobre e adequado ao Personagem, ao invés da pantomina ridícula de contrição, submissão e redenção (incompatíveis com a personalidade dela) à qual fomos submetidos.

O ASSASSINO DO MAX

Ao longo dos últimos capítulos, diversos personagens se esmeraram em acobertar / proteger / ocultar o assassino: Muricy, Ivana, Lucinda, Nina, Nilo (que sabia quem matou porém não revelou, limitando-se a dizer que "não foi a Lucinda") e até a Carminha no capítulo final.

Ora, quem é a única pessoa que todos estes teriam interesse em proteger?

O Cauã, vulgo Jorginho Batata! Neto, Irmão, Neto, Namorado, Neto e Filho desta galera toda!
 
Inclusive quem revir a cena do crime verá que instantes antes de "apagar" a Nina correu para trás e gritou: - "Jorginho!"

Ele teria também a força necessária para dar a enxadada. E a raiva do momento: afinal, o cabra estava ameaçando estuprar sua amada.

Teríamos assim a Tragédia Absoluta: o Avô (Santiago) dele matou a Avó (Virgínia, mãe da Carminha), o mesmo Avô matou o outro Avô (Nilo), a Mãe (Carminha) matou o Avô (Santiago) e finalmente ele mesmo matou o próprio Pai. Tragédia Grega é pouco!!! Ousado e histórico ...

... se houvesse havido coragem.


(BÔNUS: DOIS FUROS NA TRAMA

Não sou favorável a buscar furos em trama de novela, mas dois saltam aos olhos por excesso de inabilidade.

Como é possível que o Adauto fosse analfabeto, se no capítulo final mostrou-se que ele era aluno de um Colégio interno (quando surgiu o apelido “Chupetinha”) ???

E o Tufão? No primeiro capítulo da novela atropelou  o Tony Ramos, porque estava dirigindo cantando e trocando um disco no CD Player de seu carro ao invés de prestar atenção na pista. Atropelou, matou e fugiu da cena do crime. E tudo bem? O cara ainda acaba sendo o “Herói” da novela?!?)


(out/2012)

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

A Azeitona e o Vento


O Amigo IS comenta:
- “Aos 50 anos, chega-se a uma idade onde se morre ou com uma bala no peito ou com um vento nas costas”!

(out/2012)

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Vitórias Ocas


O Adolescente-Quase-Homem está chateado. Triste, cabisbaixo, macambúzio. É evidente que alguma coisa não saiu de acordo com seus planos e expectativas.

O que ele ainda não sabe é que aprendemos muito mais com as derrotas do que nas vitórias. A bem da verdade, as vitórias nada nos acrescentam, a não ser alegria passageira e um tosco orgulho futuro onde a pessoa remói seu ‘passado glorioso’, ao invés de focar na construção do novo presente.

Nas derrotas e nos erros, crescemos. Nos tornamos melhores. Aprendemos quais foram as besterias que nos levaram ao fracasso, e – se formos atentos – como não repetí-las.

Por vezes é necessário errar duas ou mais vezes para então entender o padrão do desvio. Que seja.

Sofra a dor da derrota, mas principalmente aprenda com ela.

É claro que algumas vitórias são necessárias para manter um mínimo de astral, mas lembre-se que para cada time que é campeão brasileiro temos 19 que não são; para cada medalha de ouro temos dezenas de derrotados; e assim por diante.

Menos é mais. Aprender perdendo.

Foi assim que me tornei um gigante!

(out/2012)

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Manual de Redação



"Os grandes escritores não foram feitos para se submeterem às leis dos gramáticos,
mas para imporem as suas."

(Paul Claudel, citado pelo jornal "O Estado de São Paulo" - out/2012)