sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Quatro por Quatro


No trajeto entre Ipanema e a Gávea, um motorista de táxi conta sua história.

“Sou casado há 10 ou 12 anos. Neste período, aprendi que este negócio de ter Amante não tem nada a ver. Depois de um tempo a Mulher se apaixona, fica exigente, quer ter filho, fica pressionando, liga pra tua casa, cria caso... O negócio é freqüentar bordel e casa de swing! Tem cada Menina linda, e sai muito mais barato, é só fazer as contas. Tem uma casa ótima, a Quatro Por Quatro, conhece?” (Não, eu não conhecia.) “Fica no Centro, na Rua Buenos Aires. Vou sempre lá com uns amigos. Cada princesinha que você não acredita!... Outro dia eu estava lá e tinha uma Deusa, daquelas que você pede em casamento na mesma hora. Fiquei olhando para ela, parado e bobo, sem ação, e então ela me perguntou:
- “O quê você está olhando?”
- “Eu estava te procurando...”
- “Gostou de mim?”
- “Você é muito bonita!”
- “Sou bonita, sou gostosa, e quero que você coma o meu cu!”

Ele continua, entusiasmado:
“Eu a abracei e falei: - Você é minha!!!”

E arremata, quase emocionado:
- “Eu estava apaixonado!...”

Portanto, que os Rapazes perdoem a inconfidência, mas fica aqui entregue de bandeja às Moças uma receita para conquistar qualquer Varão no primeiro contato. Basta ser bonita, ser gostosa, e...

... é Amor à Primeira Vista!

(ago/2012)

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Agenda Oculta


São dois os motivos para não nos ser facultado saber o que acontece após a Morte.

Um, porque a partir deste conhecimento nenhum gesto seria espontâneo, ou teria mérito.

Outro é que, se soubéssemos, todo mundo se mataria!


(ago/2012)

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Resposta do Futuro


Se me fosse facultado saber uma única coisa sobre o quê o Futuro nos reserva, eu não faria a pergunta óbvia – se a Humanidade vai sobreviver a si própria, a suas próprias patuscadas. Isto me parece altamente improvável, e até mesmo imerecido. Minha demanda seria outra.

Sou carnívoro, e mais: fico mal quando passo muito tempo sem comer carne. Fico fraco. Além dos bois, como também frango (quase todos os dias) e também peixe. Me alimento das carcaças de outros habitantes de nosso Planeta, que compartilham a nossa existência. Acontece que observo pelas reações de meu organismo – e também pela história da evolução das cáries nos dentes da Humanidade – que o corpo do Homem necessita carnes. Existem motivos naturais para termos dentes caninos na boca. E, verdade seja dita, ainda não encontramos um substituto aceitável para as carnes, para seu suprimento de ferro-M e vitamina B12, por exemplo.

Eu como a carne – mas não mato o boi. Nem o frango. E nem o peixe! Quando criança eu morava em Copacabana, e um ótimo passeio era atravessar o Corte de Cantagalo a pé e ir à Lagoa Rodrigo de Freitas passear, atirar com espingarda de ar comprimido (o famoso “chumbinho”) na Pedreira da Catacumba, ou então... pescar na lagoa. Foi com enorme excitação que fui pescar pela primeira vez por volta de 10 anos de idade. Na primeira vez não peguei nada, mas quando retornei na semana seguinte consegui fisgar algo pouco maior do que um girino. Euforia! Entusiasmo infantil! Que murchou de imediato quando vi a Babá de meu Irmão menor tirar o anzol da boca daquele peixinho que se debatia em desespero. Ele estava machucado por minha causa! Estava morrendo asfixiado por minha causa! Fiquei traumatizado pelo sofrimento daquele Ser Vivo, e esta acabou sendo a única vez que pesquei em toda a minha vida.

Estive na África do Sul em maio/2012. A intensa vivência próximo aos animais nos leva a compreendê-los e admirá-los ainda mais. Dormem, comem, descansam, brincam, se exercitam. São outros habitantes desta mesma existência, mas que a aproveitam tão bem – ou muito melhor – do que nós. Não faz sentido que os matemos para nos alimentarmos. É bárbarismo. Mas... meu organismo precisa do que as carnes trazem! Como resolver esta questão?

Portanto é esta a resposta que desejo do futuro. Conseguiremos em algum momento sintetizar alguma substância que substitua as carnes? Conseguiremos parar de matar nossos Irmãos para comer? Será que nossa racionalidade vai servir para alguma coisa?


(E pelamordedeus me poupem de respostas do tipo “vegetarianismo com injeções de vitamina B12”. Estou falando de futuro. De evolução tecnológica. Em solução global. I'm talking business.)


(ago/2012)

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Take the Long Way Home


Quando se anda de moto, qualquer trajeto é passeio.

Assim, existem 2 ótimos motivos para um motociclista pegar um caminho que seja mais longo:
  • porque tal caminho tem menos sinais de trânsito; ou
  • porque é mais longe!

(ago/2012)

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

It’s only Rock’n Roll, but I like it


Por muito tempo acreditei que nossa capacidade de se apaixonar por Bandas novas ficasse restrita a determinada faxa etária – digamos, entre 15 e 25 anos de idade por exemplo. É claro que me baseava em um universo amostral bastante restrito para chegar a tal conclusão: Eu, meus Amigos, Eu, meus Parentes e Eu. Afinal, é bastante comum a afirmação que “a música atual é uma porcaria”, qualquer que seja a idade de quem faça tal comentário. Assim, se quando tinha 16 anos eu ouvia T.Rex, Genesis, Alice Cooper, Emerson Lake & Palmer e Led Zeppelin, ouvia também comentários que “antigamente é que a Música era boa”. Hoje, já um ancião quase centenário, sou eu quem profere a mesma ladainha, sempre me referindo – como todos de minha geração – ao “maravilhoso panorama musical dos anos 70”.

Acontece que ao mostrar músicas que sempre adorei para pessoas que nunca as ouviram, tento empatizar como se eu fosse tal ouvinte noviço, considerando como eu mesmo analisaria aquela música se a estivesse ouvindo pela primeira vez. O resultado é desastroso! Tente por exemplo ouvir os quase 44 minutos de “Thick As A Brick” como se não a conhecesse: é insuportável!

De vez em quando alguém me apresenta um som que gosta desde seu passado, e que eu ainda não conheço: Def Leppard, Judas Priest, etc. O Amigo está sempre entusiasmado, mas eu... acho um puta porre! Que som adolescente! E fico pensando que o cara só gosta deste som porque aprendeu a curtí-lo quando tinha seus 18 anos.

Isto justificaria o porquê de coisas como rap, funk, sertanejo e quetais conseguirem fazer sucesso atualmente, apesar de serem intragáveis. Se deve ao fato do ouvinte ter a cabeça virgem do adolescente musical, aberto para tudo, terreno em que se plantando tudo dá.

No entanto, recentemente dois fatos vieram a modificar esta minha hipótese. Primeiro foi a descoberta do RAMMSTEIN, Banda de Metal alemã com base Progressiva que me encantou e de quem vim a gostar de TODOS os discos, como se eu fosse um adolescente. Fui aos shows, comprei os vídeos, e até voltei a estudar alemão; matusalém reborn.

Mas o golpe de misericórdia na teoria foi o disco de 2012 “Tits’n Ass”, do GOLDEN EARRING. Como já aconteceu com dezenas de álbuns que vim a amar, eu o ouvi as primeiras vezes com bastante distanciamento. Foi apenas quando escutava o disco pela 6ª vez que vim a entender que se trata de Uma Verdadeira Obra Prima!!! E um raio me abriu a cabeça: não é que na adolescência nós tivéssemos a cabeça mais aberta musicalmente; ocorre que naquela época nós ouvíamos um disco diversas vezes antes de chegar a um veredicto sobre ele. Nós comprávamos discos, e os ouvíamos! Mas com o passar do Tempo e com a idade, já maduros, experientes, impacientes, reumáticos e enrijecidos, passamos a ouvir um disco novo apenas uma vez – ou ½ vez, se tanto – e então já o rotulamos, de  imediato, e em geral de forma negativa. Não nos aprofundamos, não descobrimos os detalhes, não nos envolvemos – e assim fica tudo sendo mesmo uma merda!

Somente dedicamos sete ou oito audições a um disco novo de um Banda que gostemos muito – uma daquelas que nos conquistou décadas atrás. E assim se cria o círculo vicioso: só gostamos hoje dos discos novos de quem já gostávamos antes!

Algumas sons eu demorei muito para compreender: passei quase 40 anos comprando discos e ouvindo o VAN DER GRAAF GENERATOR, para finalmente vir a me deliciar completamente com a Banda somente de 2010 para cá. É inimaginável que atualmente eu fosse dedicar 40 anos a uma Banda que eu não entenda...

Uma exceção honrosa a este tipo de comportamento é Mamãe: ela sempre ouviu e curtiu coisas novas com muito mais abertura do que eu. Foi a Miami assistir a um show “No Security” dos STONES (sem seguranças entre a platéia e a Banda); foi ao Maracanã assistir o PRINCE na Pista; e algumas outras peripécias definitivamente impublicáveis.

Ou talvez eu esteja errado: o som atual é mesmo uma titica. E mesmo com 50 anos de estrada, o GOLDEN EARRING é uma exceção fenomenal!


(ago/2012)

domingo, 26 de agosto de 2012

Fastio Tântrico


Tenho pena das pessoas que pregam se estenderem em preliminares sexuais por dias, semanas ou meses sem orgasmo; se orgulham de levar o desejo até um limite quase insuportável para depois terem fortíssimas descargas. Revelam uma falta de conhecimento do próprio organismo e também de raciocínio lógico extremamente danosos à saúde a longo prazo.

O orgasmo nada mais é do que uma necessidade orgânica, assim como beber, comer ou respirar. É uma ferramenta de reprodução da espécie, nada tendo a ver com "contato cósmico com Deus", "atalho para o Nirvana" ou qualquer outra baboseira similar. A diferença é que, ao contrário das demais necessidades do organismo, precisamos levar esta a um extremo antes de saciá-la. Assim, quem tem fome, come, e quem tem sede, bebe – é simples e direto; mas quem tem desejo sexual precisa elevar sua excitação ao limite antes de satisfazê-la. A sensação de saciar é muito mais intensa; e é por isto que o sexo se torna tão forte em nossas vidas.

Evidentemente quem levar a fome ao extemo terá uma tremenda sensação de prazer quando comer; da mesma forma que aquele que está quase morrendo de sede tem um monumental prazer ao beber. Esta sensação foi muito bem explorada há muitos anos pela campanha do refrigerante TEEM “para a pior sede”, que dizia: “provoque a sede até não agüentar mais”. E apresentava um náufrago completamente ressecado sendo resgatado de seu bote e levado para um navio, onde pedia para surpresa de todos:
- “Amendoim torrado!”
Na frente da tripulação horrorizada ele colocava os amendoins na boca ressecada, e então abria a mochila que o acompanhava no bote salva-vidas: era um isopor cheio do refrigerante, gelado!

Outro anúncio da mesma série (um deles era com o Paulo Cesar Pereio) mostrava um homem saindo do deserto totalmente ressecado e entrando em um bar. Ele estava torrado, em petição de miséria. Se arrastava até o balcão e pedia:
- “Batata chips!”
Todos ficavam chocados, e ele enchia a boca seca. Abria então a mochila que trazia nas costas, cheia de... gelo e Teem! E se refastelava...

Ficar meses em preliminares provocando e não satisfazendo o organismo equivale a ficar dias sem comer e então se deliciar; ou muito tempo sem beber, e então se saciar. Ou mesmo ficar vários minutos sem respirar e então encher os pulmões. Dará mais prazer, mas evidentemente a repetição a longo prazo fará mal ao organismo.

A sensação instantânea pode até ser uma delícia.

Mas prepare-se para o cancer de próstata, mané.


(ago/2012)

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Mickey 3D


Ela caminhava pela mesma calçada que eu, vindo em minha direção.

Vestia uma camiseta justa, com um enorme Mickey estampado.

Estava evidentemente apressada.

E a cada passo largo que dava, como balançavam as orelhas daquele camundongo!


(ago/2012)

domingo, 19 de agosto de 2012

O Sonho que eu mais temo


Existe um sonho que eu tenho pavor de ter algum dia.

Me aparece uma figura messiânica, como um Anjo ou coisa que o valha. E tal figura me diz:
- “Quando acordar você vai se lembrar desta conversa, e vai achar que foi um sonho. Mas não é. É um aviso: sua hora está chegando. Seu tempo nesta existência está se esgotando. Este seu corpo será descontinuado dentro de 1 mês (ou 1 ano, ou 1 semana, etc). Aproveite direito este intermezzo que te resta.”

Você acorda. Lembra da conversa, e acha que foi um sonho. Ou... será que não foi???

E agora? Como vai viver este 1 mês (ou 1 ano, ou 1 semana)? Vai se desligar do trabalho e passar o tempo escrevendo, ou viajando, ou se despedindo das pessoas, ou procurando as pontas que ficaram desamarradas? Ou vai ignorar o que talvez tenha sido um aviso, e viver o que podem ser seus últimos dias... como se nada tivesse acontecido?

Vai viver como se não tivesse sido avisado?


“You have some time left, Mister Banks. You have some life left. My advice to you is: live it well.”


(ago/2012)

sábado, 18 de agosto de 2012

Romantismo é isto!


Papai lembra que em sua festa de formatura no Clube Militar na Avenida Rio Branco no Rio de Janeiro ele conheceu Mamãe há exatos 61 anos.

Ele tinha estudado no C.P.O.R., e já estava descendo as escadarias do Clube e indo embora da festa quando viu um Amigo de turma chegando com a Irmã. Papai olhou a Menina... e deu meia volta, subiu novamente as escadas e voltou para a Festa.

Este Amigo veio a ser meu Tio, e a tal Irmã... minha Mãe!

Todo ano, no dia 18 de agosto, ele faz questão de comentar que naquele dia de 1951 começava a minha história, e a de meus Irmãos.

(18/ago/2012)

terça-feira, 7 de agosto de 2012

A Flor de Lótus


Talvez o grande exemplo a ser seguido seja o da flor de lótus.

Ela não se preocupa em melhorar o pântano onde vive. Não se preocupa em limpá-lo, reformar-lhe a aparência, torná-lo agradável, sábio, lógico, respeitoso ou inteligente. Sua única preocupação é manter-se limpa. Pura, diferente do lodaçal que a cerca. A flor de lótus tem consciência de que não conseguirá mudar o pântano. Preocupa-se consigo própria, e isto lhe é suficiente.

O pântano que se dane.


(ago/2012)

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Downgrade


O plantel feminino da Área de Finanças daquela Administradora de Cartões de Crédito era simplesmente espetacular. Existia uma foto das Damas abraçadas em algum evento que tinha sido batizada pelos Homens como “Great Place to Work”, sendo também conhecida como “Porquê eu gosto de trabalhar na Administradora”.

Estávamos todos juntos no casamento de um Trader em Higienópolis. A Administradora tinha recebido poucos dias antes um novo Tesoureiro, que evidentemente compareceu ao evento. Conversávamos animadamente do lado de fora da Igreja junto com o Noivo – nosso amigo do dia-a-dia – e o Treasurer se entusiasmou com a beleza da Mulherada (quem não se entusiasmaria?). Eu estava falando com dois ou três aviões, e discretamente ele pediu que o apresentasse a elas. Eu disse:
- “Fulana e Beltrana, este é o Sicrano, nosso novo Tesoureiro”. (Todo mundo sabia que tinha chegado um Tesoureiro novo na Empresa.)
E me afastei.

Poucos minutos depois o Sicrano se aproximou de mim e reclamou em voz baixa:
- “Pô, você me queimou! Não dá para dizer que eu sou o Treasurer, ficam todas sem jeito e distantes, me chamam de Senhor e ficam sem assunto! Faz o seguinte... para as próximas deusas, me apresente como Estagiário!”

(jan/2011)