sábado, 24 de dezembro de 2011

Noite Feliz

Saiu na "Playboy" de dezembro/2011:






















Grato pela preferência!

(crédito: anúncio do Panda Motel com Nana Gouvêa)

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Votos melanoleucas

Que a pequenez do dia-a-dia

não atrapalhe a visão

da imensidão de nossa existência.

Boas Festas, e Feliz 2012!


Aurora Boreal no Alasca (fonte: Wikipedia)


terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Jumping into conclusions

Impressiona a capacidade de algumas pessoas – quase todas, na verdade – de achar que com 1% dos dados que outra tem, podem chegar a uma conclusão muito melhor.

Ouve-se uma história com uma ou duas informações, um único ponto de vista... e pronto! Já se parte para o julgamento e condenação. E a sentença é proferida na forma de uma linha de ação correta e impecável que deveria ter sido tomada pelo personagem da história, que obviamente é um autêntico boçal.

Onipotência é pouco!

Talvez este comportamento seja motivado por infantilidade, talvez por arrogância.

Provavelmente por ambos.


(dez/2011)

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A Sensualidade do Pupilão

Sai publicado em algum lugar que as lâmpadas – todas elas – serão substituídas em um futuro próximo por luz branca. É mais uma daquelas idéias geniais que em resumo significam sempre a mesma coisa: economia porca, oriunda de cabeças obtusas; o avanço da mediocridade.

Luz branca não existe na Natureza. Nossos olhos, pupilas e retinas não foram desenhados para esta luz, mas sim para a amarela.

O progresso já conduz a passarmos enorme parte de nossas existências sob luz artifical. Dentro de casas, escritórios, lojas, veículos, ou então acordados tarde da noite quando o Sol já se pôs há muito. Mesmo durante o dia, os janelões de grandes Escritórios ficam fechados, e as luzes artificiais acesas. Nossas pupilas passam suas existências expostas a luminosidades artificiais para as quais não foram projetadas. "Meus olhos não agüentam a luz do dia", dizem muitos. Sim, mas foram vocês mesmos os responsáveis por isto!

Para piorar, uma grande quantidade de pessoas (em parte por questões estéticas) coloca óculos escuros ao sair de casa – ou seja, nos parcos momentos em que seus olhos estão finalmente em contato com o brilho para o qual foram dimensionados, eles são “protegidos” dele – e a pupila volta a ficar dilatada, passando a quase totalidade de sua vida distendida, arreganhada, aberta e escancarada. Uso diferente do projeto.

Se nosso corpo fala, e se “os olhos são a janela da alma”, as pupilas são seu mais indiscreto porta-voz. Em uma conversa normal, através da dilatação das pupilas é possível avaliar sutilmente as intenções do interlocutor. Pupilas contraídas são sintoma de contração, tensão, apreensão, manejo de situação, falta de sinceridade, jogo. Por outro lado, pupilas dilatadas involuntariamente manifestam descontração, sinceridade, estar à vontade, interesse. Atração. Desejo.

Quando estiver em um ambiente claro, se durante uma conversa uma Mulher te fitar com as pupilas dilatadas...


(... agradeça a Augusto Xorxe, que encomendou - e nomeou - esta postagem!)


(dez/2011)

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Os Praticantes


AEA menciona uma genial definição apresentada no filme “Invictus”:

“O futebol é um esporte de nobres que é praticado por hooligans;

o rugby é um esporte de hooligans que é praticado por nobres.”

(dez/2011)

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O Lugar da Energia Parada

Tenho um ritual de final de ano que vai ficando mais exacerbado quanto mais vivido vou ficando.

Dezembro é uma época perfeita para deixar para trás coisas que não devem fazer parte do Novo Ano. Para ter um Feliz 2012, é necessário começar a prepará-lo desde já. Acabar com os shampoos que estão no finzinho, por exemplo – e ter o prazer de jogar a embalagem vazia no lixo. Usar aquele lindo sabonete importado ganho há tempos e guardado em uma gaveta e... nossa, está com cheiro de coisa velha! É deprimente  ter coisas amarelando em armários, sabonetes e cremes ressecando, comidas perdendo o gosto, itens de toilete perdendo a validade, acumulando mofo e ranço além de ocupar espaço.

Acabar com bebidas que estão abertas. Esvaziar a geladeira e a dispensa. Queimar as velas que estão pelo meio, e também aquelas vetustas varetas de incenso. Dar as roupas paradas há anos mas que "são tão boas, ah, um dia eu vou usar”... e nunca saem do armário, enquanto tem gente com frio, usando roupa velha e rasgada, passando necessidade, e que adorariam suas roupas paradas. Abrir espaço no armário, ter cabides sem nada pendurado, e lugar para sapatos novos. Energia estagnada é uma pesada âncora na caminhada; drena e empaca, e não faz parte do Futuro. Hebe Camargo participou de uma belíssima campanha em 2011: “Roupa Boa A Gente Doa”. Remexer tudo, reorganizar armários, gavetas e prateleiras, tirar pesos das costas e da vida. Começar o Novo Ano com leveza, disposição e espaço. Aproveitar este final de ano e se desfazer de peças inúteis que serão úteis para outros.

Para você o espaço vazio será muito mais útil do que a coisa inútil parada.

(Sim, este raciocínio se aplica também àquele relacionamento que você sabe que só está te empacando, e que não tem lugar em um futuro ensolarado...)

Limpar a vida. Ser leve. Fica mais fácil ir mais longe.


(dez/2011)

domingo, 11 de dezembro de 2011

A Lição de Edu Borges

Conheci Edu Borges em 2005, quando ele tinha 10 anos de idade.

Já então ele tinha um hábito que mantém até hoje, e creio que terá pelo resto da vida; e que foi uma bela lição que aprendi.

Trata-se de um ritual pessoal:
Se o Corinthians está em campo -> então Edu está vestido com a camisa do Corinthians!

Tão simples quanto isto, tão profundo quanto isto, tão nobre quanto isto, tão puro quanto isto. Tão belo quanto isto.

Edu foi em grande parte responsável por meu resgate pessoal do prazer em vestir a camisa de meu Time.

Passados 6 anos, quando ia fazer intercâmbio na Alemanha, Edu nos deu mais uma lição. Uma lição de extrema maturidade e coragem em um relacionamento emocional. Mas isto já é assunto para uma outra postagem...


(dez/2011)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Miriam Helena

Peixes é um signo de Água, e você tinha absoluta certeza quanto a isto ao abraçar Miriam Helena. Enlaçá-la significava ter contato com rios, cachoeiras, com a chuva que caía, com o gotejar das Florestas e a evaporação do solo. Era possível ouvir o murmúrio contínuo e sentir o movimento fluido: por dentro, Miriam era pura água manando com firmeza.

Batizada em homenagem a Madame Blavatsky, era extremamente independente: morava sozinha e viajava sem avisar ninguém, desaparecendo por longos períodos. Quando retornava era a mesma Mulher inteligente, desafiadora, decidida, difícil e completamente segura, e que sufragava pouquíssimos eleitos para respeitar as idéias – aos quais seguia com fidelidade idólatra.

Morava na Barra da Tijuca, no Rio. Durante um destes períodos de desaparecimento, sua vizinha de baixo notou uma infiltração vinda do andar de cima. Falou com o porteiro, que não conseguindo contatá-la entrou em contato com ZRen, um grande Amigo em comum. Ele tinha a chave do apartamento, e foi para lá.

Quando entraram no apartamento, a água invadia todos os aposentos e corria livre e descontrolada por toda a casa. Nunca foi possível descobrir ou sequer especular o que havia acontecido com ela: Miriam Helena já estava debaixo da água corrente do chuveiro havia mais de 10 dias. Tinha 39 anos; deixou um livro aberto na sala, em uma mesinha ao lado de uma poltrona, sob a luz acesa de um abajur de leitura.

Mas quem quer que a tenha abraçado com firmeza e atenção entendeu para onde ela havia retornado.


(dez/2011)

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Uma Criança vestida de Super-Herói

Disclaimer: este não é um texto sobre meu time, mas sobre a relação de Qualquer Torcedor com Seu Time. O marcio é utilizado aqui apenas como proxy.

Há alguns dias me concedi um prazer que não me dava há muito tempo: comprei a atual camisa oficial de meu time de futebol.

Relutei bastante, afinal, tenho MUITAS camisas do time. Além disto, jamais havia comprado uma camisa com patrocínio estampado – e esta mais parece um macacão de Fórmula 1. E para completar a argumentação em contrário, ao invés do que fazia no passado, eu tenho usado pouquíssimo as camisas do time na rua, graças ao medo da reação de meus semelhantes. Antigamente o Futebol era “just a game”, um motivo de diversão, alegria e orgulho; atualmente, chega a ser quase um perigo usar camisa de um time se arriscando encontrar um grupo de torcedores de outro na rua.

Mas a camisa atual era muito bonita (a preta, sempre a preta). Experimentei em uma loja e fotografei o resultado na cabine – e vivia olhando a foto. Em outra loja encontrei uma camisa sem numeração nas costas, o que aumentou minha aflição. Costumo dizer que o mais difícil  na vida é dizer “não” para si mesmo, resistir às tentações, então me empenhei ainda mais na auto-sabotagem. Mas após 3 semanas de sofrimento... cedi.

Que alegria! Que satisfação! Durante o final de semana inteiro eu não tirei a camisa. Parecia uma criança com um uniforme de Super-Herói (quando ainda pivete, morando em Copacabana, eu andava pela casa de capa vermelha). Muito feliz, por tão pouco.

O que posso concluir ou recomendar? Resista. Escolha cuidadosamente. Só ceda quando ela realmente te tocar.

Mas de vez em quando, compre a camisa oficial atual de seu time.

E vire uma orgulhosa criança de capa vermelha por todo o final de semana!


(nov/2011)

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A Teoria Geral do Emprego, do Juro, da Moeda e do Longo Prazo

“A longo prazo estaremos todos mortos.”
A conhecida frase de John Keynes foi incorretamente interpretada. Não apenas por toda a Humanidade, mas até mesmo pelo próprio Autor!

Costuma-se considerar que “se a longo prazo estaremos mortos, então vamos focar no médio / curto prazo”. Cegueira!

A visão pode ser muito mais filosófica: uma vez que a longo prazo estaremos mortos, não faz sentido ficar pensando no curto e no médio. Estamos aqui de passagem, e a longo prazo você estará morto! Pense portanto a longo prazo: não adianta ter vida boa agora se depois você vai ficar mal.

Em outras palavras: não suje sua Alma. Não roube, engane, trapaceie, iluda, prejudique. Se não for por obra e graça de um sentimento nobre, que seja por um utilitário. Você só estará sujando sua Alma em troco de um benefício ilusório e passageiro. Afinal, a longo prazo, você estará morto. E talvez para sempre!

Ajude portanto seus companheiros de jornada.

Todos os 7 bilhões.

Think long term.

Think big.


(nov/2011)

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A Teoria da Relatividade e a Cegueira do Corno

Nos anos 70 presenciei um Professor de Física IV na PUC-RJ apresentar uma maravilhosa explicação sobre a genialidade de Albert Einstein.

Ele expôs que a Teoria da Relatividade não é tão difícil de entender – contanto que você saiba que ela existe. O difícil é exatamente descobrir sua existência:
- “É como se eu dissesse que há uma barra de ouro nesta sala de aula: vocês a encontrariam em poucos segundos. O difícil é alguém intuir que exista tal barra e sair procurando por ela, sem nenhuma outra indicação. Foi assim a grande e genial sacada de Einstein.”

Ao longo da vida tenho eventualmente me confrontado com este tipo de situação e confirmado a sabedoria daquele ensinamento. Descobri certa vez um caso extra-conjugal por puro acaso: saíamos de uma aula tarde da noite, éramos um grupo de cerca de 10 pessoas. Como sempre faço, ofereci a uma aluna (que era casada) carregar uma de suas sacolas, que parecia estar bastante pesada. A reação dela foi um “não” desproporcional e assustado; e incompreensível, pois ela já aceitara este tipo de favor (absolutamente asséptico) nas saídas de diversas outras aulas. “Aí tem!”, pensei eu, e observei o grupo. Ela trocou um olhar rápido e quase involuntário com um outro aluno (também casado), o que me acendeu a centelha. A partir de então, foi fácil: passei a observar ambos discretamente, e era evidente que ali tinha coisa. Saímos de férias no final do ano, e quando voltamos os dois sequer se olhavam, tentando disfarçar ao máximo – e com isto dando a mais absoluta das bandeiras. De vez em quando eu os via trocarem olhares durante as aulas. Cheguei a fazer um maldoso teste de verificação: contei alguma barbaridade para ele, apenas para ele e para mais ninguém; e em poucos dias ela me fez uma pergunta a respeito... O curioso é que o tempo passou, o curso acabou, e ninguém jamais descobriu que o affair tinha rolado. Eles eram discretos, tinham pouco contato acadêmico, e se eu não tivesse tido aquele lampejo também teria ficado na mesma escuridão dos demais.

Esta talvez seja a receita para um caso dar certo: jamais despertar a desconfiança do parceiro. Porque depois que a pessoa desconfia, se efetivamente houver algum fundo de razão, adeus: ela vai prestar atenção aos detalhes, e vai descobrir. Porque não dá para esconder a verdade de alguém que esteja atento aos sinais que escapam, por mais disfarçados e sutis que eles sejam (ou tentem ser).

Imagine agora esta situação no Campeonato de algum esporte – digamos, Futebol. Com base em várias histórias que já presenciou, viu, ouviu e leu ao longo de anos, e com base na situação daquele ano específico, você desconfia que uma certa equipe será privilegiada. E passa a prestar atenção a seus jogos. Desde o início do Campeonato, vê diversos lances em diversos jogos nos quais invariável e repetidamente eles são beneficiados – e acompanha também os concorrentes diretos serem contínua e inequivocamente prejudicados. Uma quantidade sucessiva de ocorrências que não admite uma simples coincidência. A coisa fica clara para você – muito clara, e muito evidente.

O problema é que os manés que não acompanharam nada e não prestaram atenção em nada, assim como os que estão sendo beneficiados – ou ainda aqueles que não entendem a Teoria da Relatividade – pensam igual ao Marido Corno, e acham que você está psicótico e com mania de perseguição ou conspiração. E tal como uma Cassandra amaldiçoada, você não consegue explicar a eles que há uma barra de ouro na sala de aula.

Ali, bem ali, debaixo do focinho de todos.


(nov/2011)

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Erosão

O que nos desgasta ao longo da vida não é a idade. Não é declínio físico, ou perda de pique.

O que consome nosso brilho e extingue a vitalidade é a sucessão de injustiças. A vitória da persistência do medíocre. O sucesso do podre. A supremacia das soluções mais fáceis, cômodas e preguiçosas. A luta em vão por causas nobres. A inutilidade do esforço pelo honrado. O êxito do malfeito. A aceitação geral da hipocrisia. A mesquinhez das economias porcas. Os raciocínios curtos. A luta solitária por valores que deveriam ser universais.

O que desanima é se sentir Um Panda Em Saturno.



(nov/2011)

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Your Time Is Gonna Come

Uau, então chegou a sua hora!

E o que é melhor, você vai passá-la de forma tranqüila! Nada de dor, desconforto, agonia, sofrimento, desespero... não! Você está calmamante deitado, em seu leito de Morte, esperando e reavaliando a sua vida. Tem o privilégio de poder olhar para trás, rever suas ações, e pesá-las. (Max Frisch observou: “por quê as pessoas que estão morrendo nunca derramam lágrimas?”)

O quê você gostaria de ter feito mais vezes ao longo de sua vida?

Pessoalmente imagino que grande parte das pessoas venha a responder: “eu gostaria de ter comido mais”! Não me refiro a pessoas que passam fome por falta de opção; penso nos coitados e coitadas que passam a vida fazendo regime. Tive o privilégio – pelo qual sou grato – de nascer sem tendência para engordar, o que considero quase um Dom. As pessoas sofrem por fazerem regime, e eu quase sei como ficar com fome – ou com vontade de comer – é terrível. Quando não almoço por causa do trabalho, fico o restante do dia ainda mais intragável do que o habitual. Certa época fui forçado a um regime por estar com colesterol alto; na vez seguinte em que fui ao Rio, após passar ½ hora na casa de meus Pais, Mamãe já foi perguntando:
- “Você está fazendo regime?!?”
Ela cravou a resposta devido a meu mau humor, ainda mais insuportável do que o de costume!

Para piorar, normalmente se passa fome por uma questão estética, ou seja: pelos outros, pelos demais, pela imagem que se deseja projetar. Se a pessoa fosse egoísta e só pensasse em si mesma, ela iria saciar seu afã por comida, e dane-se o resto.

Fiz uma pesquisa entre as Mulheres na Administradora:
- “Se não existissem Homens, você faria regime? Faria ginástica?”
Através das respostas indignadas descobri que as Mulheres não se conhecem: 70% delas afirmaram - quase me batendo - que “imagine se eu faço regime por causa de Homem, eu faço é por minha causa”, “Mulher se preocupa mais com o que outra Mulher pensa dela do que com o que os Homens pensam” (“mas isto só acontece por causa da competição... por Homens!” retrucava eu, sem ser ouvido), “faço ginástica e regime para me sentir bem”, etc, etc.

Das respostas que demonstraram sensatez, duas me marcaram especialmente:
- “Se os Homens não existissem, o Mundo seria cheio de Mulheres gordas... e felizes!” disse Raquel; e
- “Eu já não faço ginástica nem com Homem, o que dizer sem Homem!” confessou (a magra) MFF.

Assim, acredito que na avaliação final, sem se preocupar com mais ninguém porém apenas consigo próprio, o arrependimento que aflora seja: “eu devia ter comido mais”...

Mas estamos fugindo do tema. Lá está você em seu leito de Morte: o quê você gostaria de ter feito mais em sua vida?


(“Why do people who are dying never drop a tear?”)

(nov/2011)

domingo, 20 de novembro de 2011

Para quê serve a Etiqueta

Ler livros de Etiqueta é extremamente útil e proveitoso. Não para ficar rigidamente preso a convenções, mas com o objetivo de aprender algumas saídas para situações comuns e nas quais alguém já pensou com antecedência. Assim, quando você se defrontar com uma circunstância nova ou inesperada e não souber exatamente o que fazer ou como se comportar, alguém (que já passou por isto) teve tempo para pensar e sugerir uma solução, e não é necessário que você improvise – o que comumente pode levar a uma tremenda pisada.

Existem algumas situações para as quais já existem ‘padrões’, mas que infelizmente pouca gente sabe.

Por exemplo: em um elevador comercial não se aplica a diretriz “ladies first”. O que faz todo o sentido: normalmente são muitas pessoas distribuídas aleatoriamente em um espaço exíguo, e se aquele que estiver junto à porta for esperar que a Dama lá no fundo saia primeiro, além de causar bulício gerará também uma tremenda demora – que será cumulativa quanto mais Damas e Cavalheiros tiverem as viagens do ascensor. Em outras palavras, Cavalheirismo tumultua elevador comercial – e portanto não deve ser praticado em um.

(O problema é que pouca gente sabe disto, e quando um Homem sai na frente de uma Mulher no elevador comercial, ele é encarado por todos com olhares de quem cheirou flato.)

Como proceder quando cai uma ligação telefônica? Como evitar que fiquem as duas partes se retelefonando simultaneamente, ou que fiquem ambos esperando que o interlocutor ligue? É simples: quem fez a ligação original liga novamente. Sempre. E o motivo é banal: quem ligou antes sempre sabe exatamente como fazer para completar a ligação novamente. O mesmo não se aplica a quem recebeu a chamada, que nem sempre saberá de onde a outra pessoa estava falando. Assim, por default, se você estiver ao telefone e a ligação cair, ambos já sabem como proceder; não é necessário nem combinar nada nem se arriscar em ligações ou esperas inúteis.

Outro ponto que deveria ser óbvio para todos, mas não é: na passagem por uma porta, a prioridade será sempre de quem está saindo, e não de quem entra. Novamente por uma razão axiomática: no limite, se entrar gente sem parar e sem que ninguém saia, o lugar vai acabar entupindo e se tornando impraticável; se por outro lado as pessoas saírem antes de quem entra, fatalmente chegará o momento em que o lugar estará vazio e haverá então tempo e espaço de sobra para quem quiser entrar. (Exceção a esta regra: se estiver chovendo lá fora.)

Na escada, ele sobe atrás e desce na frente dela. O motivo é prosaico: caso a Dama escorregue, o Cavalheiro segura!

Existe etiqueta até mesmo para abordar ou não uma Mulher em uma Festa ou Balada. Você deve? É claro que sim: ela passou horas se preparando para isto, e espera (ansiosa) por uma abordagem. Mesmo que venha a ser rechaçado, não há problema: você já cumpriu com galhardia seu papel de Cavalheiro. (E não se preocupe: mais tarde ela vai te dar mole...)


Pessoalmente faço uma combinação com qualquer um com quem esteja em um lugar muvucado ou que ambos desconheçamos: se nos perdermos, nos encontraremos no último lugar onde nos vimos. Certamente você estará bem perto do lugar onde viu a pessoa pela última vez; e este trato evita que fiquem ambos vagando cada qual para um lado diferente, até que a Morte os separe.


(nov/2011)

sábado, 19 de novembro de 2011

Ritual de Iniciação Sexual para Sacerdotisas e Feiticeiras (e Bruxinhas)

Por muitas eras o "Ritual de Iniciação Sexual de Sacerdotisas e Feiticeiras (e Bruxinhas)" vem sendo um procedimento reservado e distante do conhecimento público. Não é para menos: embora as Mulheres sejam profundas conhecedoras dos assuntos relacionados à reprodução, o método objetiva nivelar (por cima e por baixo) o conhecimento de certas experiências prévias necessárias ao bom desempenho da Magia.

Através deste Ritual, a Sacerdotisa ou Feiticeira (ou Bruxinha) adquire completa consciência de seu potencial enquanto aprofunda o auto-conhecimento em todas as suas possíveis formas de atuação. Ela sai do procedimento completamente revigorada e inteiramente segura de si e de sua sexualidade, e com total conhecimento e absoluto domínio sobre o próprio corpo e o dos Parceiros que venha a eventualmente ter ao longo de sua existência.

O ritual se dá em 3 etapas diferentes e complementares, que devem ser cumpridas sucessivamente em uma única – e comprida – jornada.

A escolha do Parceiro para a Iniciação – um Guerreiro, Sábio, Mago, etc, à critério daquela que se inicia – deve ser extremamente criteriosa. Ao longo do enduro, ele será o Companheiro e Guardião da Noviça, devendo manter sua cabeça no lugar ao longo de todo o processo. Deverá também ter força de vontade e se manter irredutível, inquebrantável e inflexível quando, por exemplo, dado o entusiasmo provocado pela progressiva libertação gerada pela seqüência de procedimentos, alguma Bruxinha possivelmente se entusiasme e queira “queimar etapas”, pulando logo para a derradeira. Todos os passos do Ritual devem ser criteriosamente cumpridos, sob pena de desembocarem no vazio.

Muito infelizmente, no entanto, não nos é possível esclarecer o passo-a-passo do “Ritual’ neste espaço. Embora redigido em linguajar eminentemente técnico, sua forte carga erótica é indelével, e este sítio correria o risco de ser delatado e deletado da Rede.

Fica portanto tão-somente uma recomendação de sua prática ao menos uma vez na vida por parte de qualquer aspirante a Sacerdotisa ou Feiticeira.

Ou Bruxinha!


(set/2009)

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Amarga Decepção

Possivelmente em algum momento aconteça com você. Talvez faça parte de nosso processo de amadurecimento.

Como sempre, você acompanha com afinco os jogos de seu Time de coração. Após longa maré negra, ele finalmente está em uma fase boa.

Nota no entanto que contínua e sistematicamente a equipe é prejudicada pelas arbitragens. Provavelmente por existirem claros interesses políticos, econômicos e até passionais em beneficiar um concorrente menos capaz porém de maior penetração junto à massa manobrável e a altos (altíssimos!) escalões.

A repetição implacável de eventos evidencia que a má-fé é dirigida, e indignado você coloca isto, manifesta, publica. E então, a triste surpresa: alguns Amigos e Pessoas que você admirava até então, e que nem mesmo viram os lances aos quais você se refere, se valem da mesma argumentação de políticos desonestos, corruptos e safados, e levianamente rotulam que sua indignação “é choro”. E pronto, consideram que com isto está esclarecida e resolvida a questão. Sem discussão, sem aprofundamento, sem análise.

Você sempre prezou a Justiça, a Honestidade, a Imparcialidade. Se empenha profundamente  em ter base lógica e consistente para qualquer afirmação que faça. Sofreu profunda e seguidamente com as claríssimas desonestidades e injustiças a que era submetido. E agora, gente que não tem conhecimento dos mesmos dados que você, o acusa de superficialidade; de “choro”.

Você esperava bem mais dos outros. Achava que de vez em quando conseguia encontrar em alguns de seus seus semelhantes alguma semelhança com seu modo abstrato e filosófico de enxergar nossa passagem por aqui. Mas – como sempre – estava enganado.

Dá vontade de chorar.

Um choro verdadeiro.

Mas eles não sabem o que é isto.


(nov/2011)

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Não tem tu

Ele fora contratado para exercer uma determinada função. Mas no primeiro dia de trabalho, o Chefe de sua Chefe chamou os dois para conversar e o encarregou de uma segunda função, observando que não iria “tomar mais do que 10% a 15% de seu tempo”.

A função adicional nunca tomou menos do que 50% de seu tempo – e eventualmente veio a ocupar 100% do tempo daquele Profissional.

Ao longo de sua carreira ele sempre se impressionou como as pessoas acabam sendo desviadas daquilo que fazem bem para algo que não fazem tão bem; e como isto cada vez as vai absorvendo mais, as tornando Profissionais piores e mais improdutivos.

Na “nova” função ele ia acumulando responsabilidades e sendo transferido. Sempre manifestava seu desconforto, mas os Chefes e Chefes de seus Chefes não lhe davam ouvidos. Até que chegou o dia em que foi promovido a Chefe Absoluto de Todo Aquele Setor.

Achou que era demais. Ele não tinha aquela formação, nem entendia aquilo direito, e muito menos gostava. Disse então para o C.F.O. (Chief Financial Officer) que se consideraria um covarde se aceitasse o cargo, e que preferia lutar por outra coisa dentro da Empresa – mesmo que esta outra coisa não existisse. E também que considerava uma covardia da Organização colocá-lo para chefiar uma atividade da qual vinha publica e manifestadamente tentando se afastar, e que todos sabiam que ele não conhecia direito e não gostava.

Ele jamais se esqueceu da inesperada resposta que ouviu do CFO:
- “O Profissional perfeito para esta função – alto, louro, de olhos azuis, que entende e gosta deste trabalho – não existe. O que nós temos é você!”

A história continuou, mas o ensinamento acaba aqui. Ele eventualmente mudou de Empresa e de trabalho; mas pelo resto da vida, quando alguém lhe dizia que não gostava ou entendia determinado trabalho, ele respondia:
- “O/A Profissional perfeito/a para esta função...”


(nov/2011)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Antena de Telefonia Móvel no Prédio

Adianto os passos para que você saiba o que vai acontecer quando propuserem instalar uma antena de telefonia móvel em seu prédio.

Comparecem às primeiras reuniões de condomínio somente aqueles que se fascinam com o ignóbil faturamento adicional oferecido pelos tubarões. Ou seja: quem considera o volume de sua herança mais importante do que o prazo em que ela será transmitida.

As promessas da Empresa serão as mais singelas possíveis: o peso da antena é entre 500kg e 1 tonelada, quase nunca irá ninguém no prédio fazer manutenção, não vai interferir em nada com o dia-a-dia do condomínio, etc, etc.

Para quem está disposto a se iludir, é tudo lindinho. E é tamanha a pressão dos demais condôminos que você fica se achando na contramão da história, um espírito de porco, o único que não quer as benesses propiciadas pelo fluxo do miserê de reais. E acaba concordando, pois se é o único do contra, provavelmente está errado.

É claro que nenhuma das promessas mencionadas nas reuniões constará do contrato. E daqui a pouco, quando começam a chegar mais de 5 toneladas de cimento, areia, cabos e mais um exército que varia entre 25 e 35 funcionários por dia entrando e saindo de sua propriedade, e o prédio começar a ser todo esburacado para a passagem dos cabos, finalmente aqueles vizinhos que faltaram a todas as reuniões a respeito do assunto começarão a se manifestar contra. E vão querer embargar a obra.

E você, que era o único contrário àquela instalação, de repente se vê forçado a defender o que foi acertado, pois entende que a honra deve ser mantida – mesmo que não tenha concordado com o acordo. É como a Democracia: não adianta dizer “eu não votei no Collor” ou “eu não votei no Lula”; o Brasil votou, e como fazemos parte de um jogo e concordamos com sua regra, agora devemos cumprí-la. Você votou, sim, no Collor e no Lula. E também na malfadada antena de telefonia móvel que estão erguendo acima de sua cabeça.

Uma vez finalizada a obra estrutural, para completar o “serviço” a NEXTEL envia uma lista de MIL E QUATROCENTAS PESSOAS autorizadas a entrar em seu prédio para manutenção eventual.

Nesta vida só se ilude quem quer.


(nov/2011)

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Não faz parte do meu Show

A Mentira é um comportamento que está além de minha capacidade de compreensão.

Até entendo – embora não concorde – a pessoa que corrompe, rouba ou suja sua Alma por motivos diversos. Cada um tem sua escala de valores, e se um Parlamentar acha que deve cobrar propina do restaurante do Senado para manter a franquia – e o dono do restaurante julga que deve pagá-la – isto é uma interpretação pessoal das regras do jogo. O cara sabe que está fazendo uma coisa que outros consideram errada, e ainda assim opta por fazê-la. Sabe que está sujando a Alma, e opta por sujá-la. Consigo entender o raciocínio – embora, insisto, não concorde com ele.

Mas quando o cara é pego e começa a se lamuriar “não fui eu”, “eu não fiz isto”, “isto é uma calúnia” e “não há provas”, aí já escapa a minha compreensão. Assaltou e foi pego? Estava embriagado e atropelou? A pessoa entrou em um jogo e perdeu, agora assuma seu comportamento; tenha hombridade, tenha honra! Como é possível alguém mentir? Está assumindo para si mesmo que estava errado? Eu honestamente não entendo; escapa a meu alcance.

O único comportamento que consigo compreender é o de assumir os próprios atos, sejam eles para o Bem ou para o Mal, carreguem ou não uma interpretação pessoal das regras do jogo. Caso eu discorde da regra estabelecida por uma maioria que considero idiota e me comporte em não-conformidade, na eventualidade de ser pego irei assumir, defender e justificar meus gestos; se outros irão ou não concordar com meu raciocínio, isto é outra questão; mas não saberia me comportar de outra forma que não fosse defender meu ponto de vista e os atos resultantes dele. Me preocupo muitíssimo mais com meu julgamento a meu próprio respeito do que com o julgamento dos demais. Quem mente pensa de forma contrária: se preocupa mais com o que os outros pensam a seu respeito do que o que ele mesmo pensa de si (a palavra “respeito” neste contexto chega a ser irônica...).

Não é que a Mentira não faça parte de meu software.

Ela não faz parte é de meu hardware.


(nov/2011)

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Mandrake e o Tempo

Embora nunca tenha deixado de ser Criança, eu era criança quando li uma história em quadrinhos do Mandrake que me marcou a vida.

Nela, Mandrake, Lothar e Narda iam parar em uma Sociedade onde não havia dinheiro; ou melhor, a unidade de troca não era o dinheiro, mas sim o Tempo. Todo mundo sabia exatamente quanto tempo lhe restava de vida, e isto era negociável; os miseráveis mendigavam por alguns minutos a mais, enquanto os bilionários dispunham de centenas de séculos por viver.

Aquela história me abriu os olhos para a real importância do Tempo em nossas vidas; e passei a prestar cuidadosa atenção ao fato de diariamente permutarmos – ou entregarmos, desperdiçarmos – minutos e horas preciosas em troca de coisas ou bens ou conquistas que não valem uma fração do precioso Tempo que nelas foi investido.

O dinheiro nada mais é do que uma unidade intermediária desta troca de Tempo por bens, conhecimentos, viagens, sensações. Quando estamos trabalhando, estamos na verdade dando parte do Tempo de vida que nos resta em troca de uma moeda transitória que nos propiciará outras experiências.

Minha sugestão / opinião pessoal é que se deve tomar extremo cuidado com a forma que gastamos nosso Tempo. Nossa sociedade não é tão diferente daquela do Mandrake, afinal; a diferença é que não percebemos que estamos empenhando o tão valoroso e insubstituível Tempo em troca de futilidades, inconseqüências e superficialidades que rapidamente se volatilizarão da memória, por não terem a menor importância. Não entregar algo precioso em troca de algo inútil, vão e desnecessário.

Diz o Amigo FM que o ditado correto seria: “Dinheiro é Tempo”; é um sábio.

 


Nota - Entrou em cartaz o filme “In Time” (“O Preço do Amanhã”), que passadas quase 5 décadas traz aquela mesma Sociedade que o Mandrake visitou. Recomendo fortemente; e ao vê-lo, não deixe de lembrar que seu Tempo pessoal está passando da mesma forma que o daquelas pessoas. Com a diferença que você não tem recarga.


(nov/2011)

domingo, 6 de novembro de 2011

O Rock Liberta

Nascido 14 anos à minha frente, RN me dá um súbito, inesperado, surpreendente – e acima de tudo esclarecedor – depoimento sobre o Rock.

Segundo ele, o Rock foi extremamente libertador – principalmente para as Mulheres!

Antes do advento do Rock, as Mulheres eram prisioneiras de algum convite masculino para poderem chegar à Pista de Dança. Elas ficavam à volta da Pista ansiosas por um chamado que se não chegasse as deixaria plantadas e frustradas por toda a noite. Com a chegada do Rock, elas passaram a não mais depender de tal convocação para evoluir pelos Salões. E mais, passaram a inclusive poder recusar o convite de rapazes com os quais não desejam dançar! O Rock lhes trouxe portanto... Liberdade.

E também para os Homens. Antes era necessário ter jeito para a coisa, fazer aulas, aprender os passos. E quantos passos! Eram vários para o Bolero, tantos para o Tango, e assim por diante. Quem não soubesse fazia feio, seja dentro da pista ou então por ficar fora dela. Com o Rock, “você vê até o mais desengonçado se sacudindo pela pista”, analisa o depoente.

É verdade. Me lembra uma palestra de AA – então Presidente nacional de um grande Banco internacional – que assisti, na qual ele proferiu um raciocínio que me marcou para sempre:
- “Aquele que respeita suas limitações, jamais se livrará delas.”

A sabedoria deste pensamento revolve o meu pensamento desde então. Quantas e quais limitações eu estaria / estava / estou respeitando, e carregando a carga de seus karmas por toda esta minha vida?

Logo me saltou a Dança à cabeça. Nunca fui muito dançarino, por achar – como ainda acho – os homens bastante ridículos na Pista, principalmente se comparados às Mulheres (que nascem sabendo rebolar com naturalidade, graça e sedução) e aos “All Blacks”, que também destilam elasticidade e molejo absolutamente espontâneos nas Pistas. Em resumo: eu nunca dançava, mas gostaria: e esta era uma limitação pessoal que eu respeitava. E que naquele momento aprendi que precisava enfrentar.

Hoje, graças ao Rock e a AA eu me sacudo desengonçadamente pelas Pistas de Dança – basta que as guitarras das Músicas sejam boas.

Quando me encontrar em um Show ou um Baile, você constatará que RN está coberto de razão: o Rock libertou as Mulheres.

Libertou os desengonçados.

Me libertou.

(nov/2011)  

sábado, 5 de novembro de 2011

Sitting on a Park Bench

Lançado em 1971, o disco “Aqualung” do JETHRO TULL teve uma “25th anniversary definitive edition” em 1996, depois uma “definitive remaster edition” em 1999 e agora em 2011 recebe a “40th anniversary definitive edition”.

Não seria melhor o incauto Fã esperar mais 10 anos e comprar a “50th anniversary definitive edition”? Ou melhor ainda: esperar mais 60 anos e comprar logo a “centennial definitive edition”?!?

(nov/2011)

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O Dia do Saci

Todo ano é a mesma coisa.

Com a chegada do Dia das Bruxas, alguns bem-intencionados interessados em resguardar o interesse nacional e preservar os brios patrióticos propõem transformar a data em um “Dia do Saci”.

É uma proposta que não tem um mínimo de criatividade. Pegar uma data que já existe, comemorando uma entidade esotérica, e a transformar na mesma data celebrando uma outra entidade esotérica – apenas sendo esta “brasileira”. Uma tradução, uma aculturação, uma adaptação – algo tão criativo quanto uma versão cover em português de uma música originalmente em inglês.

Um mínimo de inventividade, galera! Para início de conversa, Bruxas existem em todo o Mundo: todas as Mulheres são Bruxas! E a referência aqui não é às maldades, mas à capacidade de seduzir, envolver, enfeitiçar; o conhecimento do sutil, do indireto, do invisível aos olhos. A qualquer hora, em qualquer casa de qualquer Mulher você encontra sempre uma panela no fogão aceso, mesmo que esquentando somente água – um verdadeiro “caldeirinho”. Esta habilidade feminina para misturar ingredientes no caldeirão é puro sortilégio (falo de cadeira, pois sou um maneta na cozinha)!

Uma das mais interessantes características feiticeiras femininas é a capacidade de conversarem entre si  sem que os Homens à volta compreendam. Já presenciei a cena diversas vezes: estou em uma roda feminina de bate-papo, e de repente o assunto fica tão interessante – ou pessoal – que elas continuam conversando e eu de repente não entendo mais nada!!! Compreendo as palavras que estão proferindo, mas não sei o que estão dizendo, todas falando com extrema velocidade e ao mesmo tempo – e se entendendo!

Não, não sejamos silvícolas, não nos valhamos de um orgulho provinciano para cometer o sacrilégio de acabar com o Dia das Bruxas. Concordo plenamente que o Saci merece o seu dia, mas não usurpando o 31 de outubro. Minha proposta é outra: uma vez que o Saci é escorregadio, fugidio, aparece somente de quando em quando, é difícil de se ver... sugiro que seu dia seja o 29 de fevereiro. De vez em quando aparece. De vez em quando é avistado. Mas só de vez em quando.


29 de Fevereiro: o verdadeiro Dia do Saci.


(31/out/2011)

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Ter Filhos e a Segunda Divisão

Uma vez que nunca tive Filhos – e nem planejo tê-los, obrigado – me limitei a passar a vida ouvindo as loas alheias sobre as maravilhas de se ter um ou mais rebentos.

Nunca entendo direito as explicações, mas as pessoas sempre compreendem minha incompreensão alegando que “é algo que só se consegue entender quando se tem aquela coisinha te olhando, sorrindo para você, balbuciando, etc”, etc, etc – a ladainha habitual.

Sempre considerei que aquele/a que tem Filho/a/os/as não tem isenção suficiente para avaliar esta situação – afinal, afirmar que não vale a pena ter Filho/a/os/as seria renegar a própria descendência, e pouquíssimos Pais &/ou Mães seriam capazes de tamanha abstração. Mas tudo bem, nunca fui tolo a ponto de entrar neste debate; isto nunca me incomodou.

A primeira impressão que tive quando meu Time foi rebaixado à Segunda Divisão foi que se tratava do Fim do Mundo. Fiquei triste, chateado, quase deprê. Mas a realidade dos meses seguintes foi bastante diferente: o Campeonato foi para nós um Campeonato tranqüilo, com vitórias seguidas de vitórias, e com jogos às terças e sextas ou sábados, ou seja: quando chegava a rodada da Série A, meu Time já estava com seu dever confortavelmente cumprido, e eu podia curtir com calma os encarniçados embates das demais equipes. Podia curtir o Futebol com prazer, e não com a tensão dos emocionalmente envolvidos. Compartilhando este sentimento, a torcida lotava os estádios em todos os jogos, e fazia muita festa.

Atualmente, quando algum torcedor de um time que nunca foi rebaixado chega para mim e afirma cheio de um orgulho pueril: “O meu time jamais foi rebaixado!”, eu respondo com sinceridade: “Mas não faz a menor diferença!”; mas eles não entendem. Não conseguem alcançar que cair para a Segunda Divisão e voltar faz parte da vida, e não tem o menor problema. Pelo contrário, quem já caiu sabe que tem força para retornar – mas aquele que se equilibra lá em cima fica apavorado sem saber se conseguirá se superar caso algum dia tropece...

Talvez as duas situações gerem o mesmo sentimento: só quem já teve Filho/a/os/as pode dizer que é tranqüilo, que é bom, que não tem problema – da mesma forma que só quem já foi rebaixado pode dizer que é tranqüilo, que é bom, que não tem problema.

Não sei.

E – assim como o Torcedor que não quer ser rebaixado – nunca quero saber.

(out/2011)

domingo, 9 de outubro de 2011

Pacaembu em transe

Deep Purple e Sepultura
Kaiser Music - Estádio do Pacaembu, São Paulo 
20 de setembro de 2003.

Serei eternamente grato pelo precioso empurrão de Mr. Gloug Guedes, que me levou ao open air do Deep Purple no Pacaembu, São Paulo City.

Consegui ingresso privilegiadíssimo, melhor impossível. Estabeleci-me circa 10 metros do palco, naquele lugar que se você chegasse 8 horas antes do show e escolhesse “É este!”... seria ali. O esquema de cadeiras na pista gera este tipo de privilégio. Visão perfeita, e na boca do palco nem estava tão cheio. Bem... até que começou o show do Sepultura...

Terra em transe. Quem nunca viu o Sepultura ao vivo – e a 10 metros de distância em um estádio lotado – não tem dados para dizer que não gosta de Sepultura. É irresistível: tribal, furioso, energia e eletricidade incontidas, ritmo enlouquecedor, guitarras extasiantes, limpas (!). Agumas socialites do camarote da Kaiser atrás de mim tinham pulado a mureta e estavam a meu lado, e descobriam que seus longos cabelos eram iguais aos dos músicos, e que poderiam sacudí-los como eles, e dançar como eles, e se esbaldavam! Imagine a cena: socialites hiper produzidas dançando ao som do Sepultura e sacudindo suas cabeças como legítimas headbangers!...

A massa delirava, e a área VIP Premium onde eu e aquele monte de socialites estávamos foi furiosamente invadida. A partir daí, a situação chegou a ficar perigosa: cadeiras eram arrancadas e arremessadas para cima, ou então empurradas, prendendo as pernas de quem estava ali na frente; as rodas de pogar se formavam com extrema violência, a  galera sem camisa se empurrando, chutando e socando puxada pela ferocíssima música, e a pancadaria chegava muito perto (minhas reverências a Mr. Fabio Star, a única pessoa que conheço que já enfrentou um pogar – show dos Raimundos, abertura para Aerosmith, Praça da Apoteose, RJ, no gargarejo – macho paca!).

O Sepultura está em excepcional forma. Andreas captura os desejos da massa e faz com a guitarra exatamente o que se espera dele, ou seja: tudo e mais um pouco. Não houve um único acorde fora do lugar, a altura ensurdecedora era perfeita, o ritmo contagiante, a polícia tentando timida e inutilmente botar alguma moral nas rodas, debaixo das queixas das socialites assustadas porém dançando ensandecidas. Em momentos distintos Mr. Kisser tocou a intro de “Dazed & Confused” arrancando todos os arrepios e emoções possíveis da galera, e mostrando que o Zeppelin é eterno mesmo para gente nova; e também o start de “Lazy”, anunciando ser uma honra para o Sepultura abrir para o Purple. Quem gosta de guitarra – e mesmo quem não gosta – pode imaginar o que seja a ensurdecedora guitarra do Sepultura tocando “Dazed” e “Lazy”. Não tem preço. Não tem arterioesclerose nem Alzheimer que possam algum dia arrancar isto da cabeça de quem lá esteve.

Derrick Green está parecendo uma caveira preta, enorme, gigantesco, uma cordilheira de músculos, um hulk preto com olhos permanentemente esbugalhados e dreadlocks nos cabelos que vão abaixo da cintura. Presença fortíssima, arranhou algumas palavras em português, até quando ele fala “Um, dois, três, quaaaaatro” o estádio treme com sua voz gutural. Impecável.

Quando descobri Igor Cavalera, não mais consegui desgrudar os olhos. Uma bateria colossal, lindíssima, muito maior do que a do Purple, e ele furioso, compenetrado, ele era a música personificada, atento, não pensando em nada que não fosse socar alucinadamente os tambores. Para cada um dos milhares de acordes por segundo de Andreas, uma porrada na batera. Ser baterista de banda de metal é muito mais difícil do que ser guitarrista. Meu ilimitado respeito por Igor.

O  show do Sepultura durou 80 minutos. Uma hora depois, às 0h15m, o Deep Purple entrava no palco para 100 minutos que ficarão tatuados em meu cérebro.

Entraram com as luzes acesas e calmamente assumiram seus lugares no palco sob delírio e ovação ensudecedora da platéia. A abertura do show com “Highway Star” em uma versão moderna, soberba e com um ritmo alucinante e alucinógeno mostrou em instantes que Steve Morse é a guitarra perfeita para o Purple, enterrando qualquer idéia de algum dia voltar a ver o mal-humorado Blackmore. Rest in peace, Ritchie; and do not haunt us again!... A galera cantou o solo junto com Steve Morse, foi a segunda vez que vi a platéia cantar um solo, a anterior fora no show do Kiss no Autódromo de Interlagos quando mais de cem mil pessoas cantaram o solo de “Detroit Rock City” junto a Ace Frehley e Paul Stanley em um momento realmente lindo; mas o solo de “Highway Star” é muito mais difícil.

“Lazy” trouxe gaita ao Deep Purple, Ian Gillan puxando uma gaita perfeita, como estão soltos e bem humorados, com um astral altíssimo. Platéia na mão, por muitas e muitas vezes um emocionado Gillan agradecia – “You are amazing”, “You are unbelievable”, “You are fantastic”, “Thank you, thank you, thank you”. Somos nós que agradecemos, Mr. Gillan.

Eu temia que  o Purple só fosse tocar coisa antiga, quebrei a cara: banda ativa, viva, lançando discos, tocando coisas novas, todas irresistíveis, ritmo fenomenal, envolvente. “Perfect Strangers” é cada vez mais progressiva. Steve Morse junto à cozinha do Purple palco desfilou uma sucessão de riffs antológicos, começando por “Sweet Child o’ Mine” em uma versão que nos levou todos às lágrimas, emendando com uma “Gimme Shelter” viril e soberba – se Keith Richards ouvisse, mudaria sua forma de tocá-la – depois o solo de “Stairway to Heaven” (Gloug informa que no Rio foi “Whole Lotta Love”), emendando com “Day Tripper” (in Rio, “Here Comes The Sun”) e então... “Smoke on The Water”!!! Versão ultra moderna, ultra ritmada, eu não acreditava no que via e ouvia, chorava e perguntava ao fã a meu lado que tudo conhecia – e que já estava pegando uma das socialites bebadas – “O quê é istooooo?”. Eu não acreditava. “Eu não acredito!”. Marcio em transe.

A versão ainda mais radical e descerebradamente rocker de “Space Truckin’ ” deixou a massa catatônica, pulando todos em um só bloco conjunto e fazendo o Pacaembu balançar (Glauco descreve como “mortífera; soco no fígado”).

Outro momento antológico foi durante o solo de baixo. A platéia começou a urrar o ritmo de “Black Night”. Roger Glover, que está parecendo um enorme gnomo, está igual ao Ian Anderson, foi para a frente do palco e começou a tocar acompanhando a massa. Os músicos ficaram em silêncio e a massa berrava o riff. Pois em uma das paradas e reentradas, a banda entrou junto! E tocaram a mais emocionante versão de “Black Night” de todos os tempos, acompanhados por mais de cem mil bocas ululantes e pares de olhos lacrimejantes.

Na lateral do palco, entre várias gostosas que rebolavam, Jô Soares de camisa amarela fumava um cigarro. Talvez estivesse lá para tentar se redimir da entrevista levada ao ar na  véspera, provavelmente a mais bisonha de toda a sua carreira. Ele fez as mais despreparadas perguntas de todos os tempos: “’É a primeira vez que vocês vêm ao Brasil?” “Não, é a trigésima quarta” respondeu Roger Glover (o Deep Purple tem 34 anos de carreira). “É verdade que ‘Deep Purple’ era a música favorita da avó de Ritchie Blackmore?” perguntou ele, ignorando tratar-se de um desafeto da banda. “Não sei, nós não lembramos” respondeu Ian Paice. E muitas outras no mesmo (baixo) nível. Chegou a dizer ao Ian Paice: “Você é o membro da banda com quem eu mais me identifico: é gordo como eu”...

Não vou a um show no Brasil sem sair com a mesma impressão de sempre: platéia brasileira não sabe pedir bis. Pedem com pouco “punch”, com pouco tesão, acham que “já está incluso” no pacote, que é obrigação da banda. Pedido muito chocho. Resultado: as bandas voltam pouco.

Existem uns 20 shows que classifico com “um dos melhores 5 shows de minha vida”. Iggy, Jethro, Plant & Page, Dream Theater, INXS, RPM, Barão, Blitz (na chuva), Fish, Guns, Queen, Kiss (em 85), e muitos etcs. Bem o do Deep Purple se encaixa nesta categoria: foi um dos 5 melhores shows de minha vida. Estarei em todos os shows que eles vierem a fazer por aqui. Mais uma vez fui a um mega-show sozinho; mais uma vez eu era o mais velho, o que não mais me surpreende: “Still Crazy After All These Years”...

(set/2003)

domingo, 25 de setembro de 2011

Dress Code para os Silva Voadores

Então você vai ao AEROSMITH! Meus parabéns, é um show espetacular. Talvez com o passar dos anos tenha ficado um pouco requentado ou até mesmo com um certo excesso de “babas” – mas tudo bem, eles são o AEROSMITH, fizeram meu irmão GlouG (um Stonemaníaco sem igual, ou melhor KeefRichardsmaníaco) gritar -“O riff da minha vida!!!” durante a execução de “The Other Side” no Hollywood Rock de 1994 na Praça da Apoteose (RJ). Aquele foi um show antológico: embora estivesse acompanhado por 5 Amigos, dos quais 3 verdadeiros galalaus bem mais altos do que eu, isto não impediu que um negão colossal me agarrasse pelo pulso me encarando descaradamente, e arrancasse calmamente um Casio vagabundo de meu pulso. Um pouco mais tarde, em meio à muvuca concentradíssima – platéia próxima ao palco composta quase exclusivamente por elementos do sexo masculino tremendamente mal-encarados – um cabra abriu a barriguilha (não me venha com a pavorosa variante “braguilha”, pelo amor de deus, o termo deriva de “barriga”), puxou o pau pra fora e começou a urinar no meio da platéia! A galera abriu, se afastou, vaiou e ameaçou linchar, e o cara nem aí; continuou mijando. Não parava. Daí começou a GIRAR, a rodar em torno de si próprio esguichando urina de forma circular, e não parava! A galera à roda ficou incrédula, e começou a aplaudir. O cara levantou o punho esquerdo fechado e comemorava, e com o direito segurava o esguicho, nós todos delirávamos e aplaudíamos e a urina em círculos não parava... Unforgettable.

Também neste show Mr. Fabio Star me pediu em transe-desespero durante a execução de “Walk on Down” (do fenomenal “Get A Grip”, aliás o show era da própria excursão do “Get A Grip”) cantada por Joe Perry : “Você sabe que música é esta?”, é claro que eu sabia, “Então lembre dela depois e me diga, eu preciso saber que música é esta!”. Coerentemente, ele a curte até hoje.

Ao final da Apoteose, Brother GlouG tinha perdido as chaves de casa (ele morava em Santa Teresa, e tínhamos descido para a Praça a pé), e as ficamos procurando no meio do lixo do chão Sambódromo por mais de 1 hora. Não, você NÃO TEM IDÉIA do que seja revirar o lixo da Apoteose durante mais de 1 hora após um show de Rock. Encontramos de tudo, inclusive diversas chaves e chaveiros – mas não as dele, é claro. Retornamos à casa onde não era possível pular o muro na madrugada sob pena de sermos confundidos com os assaltantes que infestam o bairro – em resumo, foi uma epopéia.

Eu morava em frente à Praia de Ipanema à época, e quando finalmente chegamos ao apê – onde nos esperavam belas e buliçosas Moçoilas – ainda fizemos um concurso de milk-shake de chocolate ao nascer do Sol.

E agora mais uma vez os SILVA VOADORES se apresentam no Brasil, no dia 30 de outubro. Como você vai se trajar para vê-los?

No início de 2001 eu trabalhava com Cris Zazá em um Asset Management, e seu irmão iria se casar em dezembro. Pois em certo dia de fevereiro ela apareceu no trabalho com o cabelo levemente cortado, me contando sorridente e triunfante:
- “Cortei o cabelo para o casamento!”
Como assim, cortou o cabelo para o casamento? Faltavam ainda 10 meses!
- “É para fazer o coque...”

Aprendi assim que Mulheres podem iniciar a preparação do look com quase UM ANO de antecedência... e conseqüentemente algo parecido pode se dar com Homens em shows de Rock. Portanto, pare IMEDIATAMENTE de cortar seu cabelo! Se alguém perguntar porquê você está com tamanha gaforinha – lembre-se, nenhum cabelo é pior do que o meu, que inclusive serviu de referência para a criação do visual do Bozo – você tem a desculpa perfeita:
- “Estou deixando o cabelo crescer para o show do AEROSMITH.”
E basta. A pessoa vai ficar morrendo de inveja: de você ir ao Show, e também de seu cabelão.

O Traje
É muito simples o Dress Code para um show de Rock: Homens vão vestidos de METALEIRO, e Mulheres vão vestidas de PERIGUETE. Metaleiro pode ser qualquer coisa, em meu caso evidentemente de preto (desde criança balbuciante eu já gostava de “pleto”), com a obrigatória calça cargo. Nos bolsos vão ingressos, papel e caneta para anotações durante o evento, celular, isqueiro, grana, documentos e principalmente uma capucha no caso de ser um Open-Air. Se chover e você estiver acompanhado por uma Dama, a capucha é para ela; se não estiver, é para surpreender aquele Ser delicioso vestido de Periguete com o qual você estava se entrosando na espera do espetáculo, e que se derreterá toda com seu cavalheirismo-metal.

Vestir-se de Metaleiro é acima de tudo uma questão de Atitude: vale bermudão (embora eu seja um old styler, de quando os Rockers só se vestiam de calças compridas), o importante é que tenha muitos bolsos. O Amigo Martin (que estava na Apoteose em 1994, não sendo no entanto um dos "3 verdadeiros galalaus") costuma ir a shows com uma T-shirt com enorme estampa de Sidarta Gautama; talvez você o (re)conheça no próximo.

O trajo feminino é ainda mais simples: micro-saia de couro, decote devastador, meias-calças (vale até arrastão), botinha, e maquiagem à vontade. Não existe melhor lugar para ser "a-sedutora-que-você-sempre-quis-ser" do que em um Show de Rock.

Freqüente as GRANDES GALERIAS (aka “Galeria do Rock”) em São Paulo. E nos vemos no show do AERO!

(set/2011)

sábado, 17 de setembro de 2011

Dalai Lama em São Paulo


Parque das Convenções do Anhembi, 17/set/2011 (sábado)

Graças a uma inesperada e não surpreendente cortesia do Amigo FM, ganho um ingresso para assistir à palestra “Convivência Responsável e Solidária” do DALAI LAMA no Anhembi, 12 horas antes do evento.

Apesar de ser cedo (manhã de sábado!), a cidade ensolarada e fria já está engarrafada. É claro que o evento vai começar com pontualidade rigorosa; mas a moto assegura que eu chegue em um ótimo horário.

Há um enorme entourage organizando o acontecimento. Todos vestem a mesma camiseta com uma frase que é o mote da palestra, e que também está escrita em diversos cartazes imensos em todo o Pavilhão: “A convivência nasce do diálogo que celebra nossas diferenças”.

Às 09h30m (o horário marcado) a lotação é de 2/3 dos assentos; mas ao longo das 2 horas que se seguem, o lugar lota.

É indescritível a emoção de estar em um lugar no qual entra o Dalai Lama. Remeteu ao que senti quando cheguei a Angkor Wat e vi o Templo pela primeira vez: a emoção de estar fisicamente na presença de algo que extrapola muito o meramente físico. O Amigo (e ex-Chefe) Ronaldo Fraga estava no palco acompanhando o Dalai; ele faz parte da Comissão Executiva das vindas do Dalai Lama ao Brasil, e em todas elas o acompanha a todos os lugares. Curiosamente, quando fui a Angkor Wat e mencionei a emoção de lá chegar, o próprio Ronaldo se identificou com o que descrevi, dizendo que sempre tinha achado que quando lá chegasse sentiria exatamente o que eu senti. Pois bem, Ronaldo: você já viveu precisamente aquela emoção irrepetível de chegar pela primeira vez a Angkor Wat – só que muitas vezes!...

Pouco após a entrada do Dalai no palco enviei um torpedo para Ronaldo, descrevendo-lhe a roupa e pedindo que erguesse o braço no palco para confirmar que eu não estava enganado. Mas isto não teria sido necessário: eu o vi olhar a mensagem em seu celular tão logo a enviei. Quando ele ergueu o braço, acenei de volta; e poucos minutos depois tive a deferência de receber no meio da platéia a visita do ilustre membro da Comitiva.

Lia Diskin também estava no palco (é claro). Certa vez, em um curso que fiz com ela na PALAS ATHENA (Ronaldo Fraga costuma dizer que “a Palas Athena é o melhor motivo para se morar em São Paulo”), Lia comentou que é impressionante como depois que o Dalai Lama sai de um ambiente, as pessoas se empenham em ficar com os objetos que ele tocou.

Dress Code
Fui vestido com minha camisa nepalesa do Nó Infinito; mas minutos após o início do evento me arrependi de não ter levado uma kata...


Tenzin Gyatso iniciou seu ‘speech’ com um – “Brothers and Sisters!”, e me foi impossível não lembrar do “Kick Out The Jams”, disco do MC5 de 1969 (o disco de estréia da Banda foi ao vivo; inusitado!).

Ele emendou com “somos todos Seres Humanos; todos queremos ser felizes; não há diferença entre nós”.

(Todas as citações deste texto são adaptações pessoais – extremamente resumidas e concisas – das palavras de Tenzin Gyatso. A ordem cronológica de meus registros originais foi mantida, de forma que o encadeamento da Palestra foi o que se segue. Tentei me ater ao que escrevi em cada momento, e a manter exatamente as mesmas palavras que anotei. Se por um lado isto empobrece o texto – pois foi tudo rabiscado às pressas –, por outro espero que transmita de forma mais vívida o intenso sentimento daquelas 2 horas.)

Ele preferiu ficar de pé, falando sem a bancada que lhe havia sido preparada. Usava um boné-viseira com óculos escuros que lhe dava um ar quase de um rapper senhoril (posteriormente Ronaldo me explicou que ele o usa por causa das fortes luzes dos holofotes, quase onipresentes em suas apresentações e que são extremamente incômodas). O Dalai Lama é muito bem-humorado, e brincou diversas vezes com o Tradutor, que tomava notas durante suas palavras para depois as traduzir ao microfone (registre-se que com extrema competência) para os 3.000 presentes.

“Antigamente se falava em ‘nós’ versus ‘outros’. Havia distinção entre classes sociais e educação. Isto é passado, é discriminação, somos todos iguais, vivemos no mesmo Planeta.”

“O Século XX trouxe invenções fantásticas, mas foi extremamente violento. Guerras, bombas, genocídios. O Século XXI deve ser o Século da Paz, e para isto devemos cultivar o diálogo.”

“Guerra significa derrota de um e vitória de outro. Mas nesta nossa era de interdependência, não faz sentido pensar que alguém ganhe quando um outro alguém perde.”

“Ter boa intenção na guerra não justifica este uso do método errado.”

“Proposta: um Mundo desmilitarizado. O fim dos armamentos. Além da enorme economia que a não-produção de armas iria trazer...”

“Tenho 76 anos, e minha geração já está chegando no ponto de dizer: tchau! (e acenou um adeus para a platéia). Nossa mensagem para as novas gerações, aqueles com 20 ou 30 anos, é: criar um Mundo pacífico. Isto necessita 3 coisas. Em primeiro, Visão: uma perspectiva ampla, global, que abarque o Mundo todo. Em segundo, Educação. E terceiro, cultivem o calor do coração. Até para benefício próprio; um coração quente no peito faz a vida mais feliz, diminui o medo, traz paz interior.”

“Existem 3 caminhos para se cultivar os valores internos. Um são as Religiões Teístas, que oferecem um instrumento poderoso para lidarmos com nosso egoísmo e arrogância. Quem se submete de forma sincera à Fé e ao Deus superior enfrenta seus próprios egoísmo e arrogância.
Outro caminho são as Religiões Não-Teístas; os sistemas filosóficos que não pressupõem a idéia de um Criador. O próprio Budismo não propõe a existência de um Criador. Foca na causalidade: praticar o bem ao semelhante traz benefício à pessoa. Destruição e mal aos demais traz prejuízo a si próprio. Abstenha-se de prejudicar seu semelhante.
O terceiro caminho é o Secularismo. Não é essencial ou necessário ter uma religião; basta que o indivíduo seja uma boa pessoa, que tenha bom coração, que seja ético.”

“Tenho uma curiosidade pessoal: quantas pessoas aqui não têm engajamento sério em uma religião? Levantem o braço, não tenham vergonha.” (Levantei o braço; éramos uma minúscula minoria, talvez umas 50 pessoas, 100 no máximo. Pessoalmente não acredito em Religiões, mas sim em Espiritualismo. Curioso o questionamento do Dalai, pois naquele momento eu estava – como aliás sempre estou – refletindo em como passo a vida dedicado a descobrir o quê estamos fazendo aqui, neste Planeta, nesta existência. Sobre como Deus está em nós, em todos nós; como Deus sou eu. Mas isto nada tem a ver com religiosidade.)

“O Secularismo respeita não apenas as Religiões, mas também as pessoas que não têm religião!”

- “Secular ethics is very necessary.”

Lá pelas tantas ele se atrapalhou com sua cadeira no palco e quase caiu; riu de si mesmo, apontou para a platéia e disse:
- “I almost fell! Now you take good pictures!”.

O evento durou exatamente das 09h30m às 11h30m. Às 11h05m, o Dalai Lama começou a responder perguntas da platéia.

Como devemos educar as crianças?
“A educação deve focar a ética.”

Como manter a paciência em um Mundo tão corrido, sôfrego e apressado?
“Devemos cultivar a paciência. Mas só se consegue isto em situações de adversidade! Aprecie portanto seu Inimigo, por te dar a chance de cultivar sua Paciência. Isto não quer dizer que você vai se submeter a seu Inimigo; aprecie-o porque ele te traz a oportunidade de fortalecer seus valores internos.”

Se todos queremos ser felizes, porquê existe o Mal?
“Questão complexa e filosófica, existem diversas respostas. Para quem acredita em religiões teístas: pergunte para Deus! Já a resposta Budista é: o Mal é derivado da Ignorância. Enfrentemos a Ignorância, pois através do Conhecimento se reduz  o Mal.”

Como diferenciar Tolerância de Permissividade?
“Tolerância significa não cultivar raiva a aquele que quer prejudicar ou ser injusto. Tolerância não é submissão; é necessário se opor às injustiças. É preciso diferenciar a Pessoa e o Ato. Não aceitar a Ação, mas também não ficar com raiva de seu Autor. Se contrapor ao Ato injusto, mas sem nunca perder o respeito por seu Autor. ‘Deus não perdoa o Pecado, mas sim o Pecador’. Se o malfeitor fica livre para agir apesar de seu ato errado, ele irá repetí-lo no futuro – e isto é ruim para ele. Se contrapor é bom até para o próprio malfeitor.”

“Vou embora agora, mas seus problemas ficam com vocês.”

“Sejam felizes! Be happy!”

E o Dalai Lama se foi de nossa presença. Mas nunca mais de nossos corações, que ele indelevelmente aqueceu.

(17/set/2011)