Em 1973 prestei Vestibular no Rio (ou “Rio de Janeiro”,
como falam os não-íntimos).
À época, o Vestibular para todas as Universidades era
centralizado em uma única Prova que definia para onde iriam no ano
seguinte todos os Alunos que
encerravam o Científico ou o Colegial naquele ano.
O Candidato (ou “Vestibulando”) preenchia uma Lista de
opções por ordem de preferência. Por exemplo, a minha foi:
ENGENHARIA CIVIL
1ª Pontifícia Universidade Católica (PUC)
2ª Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
3ª Universidade Federal Fluminense (UFF)
4º Gama Filho (UGF)
, and so on.
Eram 5 matérias (“fecais?”, perguntava sempre meu Avô
Gustavo) divididas em 4 Provas: Matemática, Física, Química e Português &
Inglês. Estas Provas ocorriam no Maracanã ao longo de 1 semana (em dezembro,
creio; as aulas começariam em março, seriam férias corridas com matrículas e
decisões (2º semestre? manhã, tarde ou noite?)) com duração igual ou superior a
4 horas cada. A primeira ocorreu em um domingo, depois 3ªf, então 5ªf e a
última no domingo. Ah, como era bom sair de uma Prova destas, ir direto tomar
banho de Mar na Praia de Ipanema para descarregar toda aquela matéria (sim,
fecal!) da cabeça e aliviá-la, deixá-la mais leve, com mais espaço para as
matérias (“fecais?”) que ainda faltavam.
O sistema de pontuação era genial: havia uma Curva Normal
de Distribuição das Notas, que variavam a cada prova +/- entre 200 e 900 pontos
(podendo ir mais longe em ambas as direções), nota média 500. Somava-se a pontuação
de suas 4 provas e este total dava sua classificação no Vestiba.
Colocava-se então cada Candidato de acordo com sua pontuação e Lista de opções,
e ia-se preenchendo as vagas por ordem. Lógica objetiva e inteligente.
Vim a ouvir posteriormente na PUC algo como “todo mundo que
não faz Química ou Engenharia Química, detesta Química!” ou então “tem
dificuldade com Química”, “não entende Química”, algo assim. Pareceu ser
verdade, ao menos eu notava esta dificuldade na Galera e também em Mim. Mas
pouco antes do Vestibular Cesgranrio aconteceu uma coisa curiosa.
Véspera da Prova de Química. RT-nini (que viria a se
tornar renomadíssimo Advogado) me fala em desespero:
- “Eu não sei NADA de Química. O quê Você me recomenda?”
Pensei um pouco e respondi:
- “Bem, neste caso decore a Tabela Periódica! TUDO da
Química está lá, tudo deriva dela, é a Base de toda a Química!”
No dia seguinte, sem qualquer aviso... e pela primeira
vez na História dos Vestibulares... a Tabela Periódica veio IMPRESSA na Prova! Ninguém
sabia, foi uma completa surpresa. Fiquei puto, pois sabia que estava perdendo
uma vantagem competitiva sobre boa parte dos concorrentes.
Encontro RT-nini mais tarde, e pergunto acabrunhado (e
meio incrédulo) se Ele tinha afinal decorado a bendita Tabela Periódica:
- “PORRA, passei A NOITE decorando a Tabela! Imagina o
que senti quando abri a Prova!...”
Acho que para Ele foi pior do que para mim... Só pude me
defender:
- “Bem, a prova de que eu estava certo e que era realmente importante é que até a
imprimiram na prova!”
Neste 2019 a Tabela Periódica está completando 150 anos.
Minha profunda admiração por aqueles que a imaginaram e desenvolveram. Passei
para a desejada PUC (manhã, 1º semestre) e antes de acabar o Ciclo Básico já havia
me transferido para a Engenharia Mecânica, sempre mantendo equidistante meu afastamento
da Química.
E nunca esqueço algo que ouvi na Aula Magna, em um enorme
e lotado Salão Nobre:
- “Nós aqui não formamos Engenheiros... formamos
Cientistas!”
(Ipanema, 20190402)