Era um Restaurante que ele não conhecia, em uma região
que não conhecia de uma Cidade que não conhecia.
Chegou e Ela já estava sentada. Aproximou-se por trás, e
portanto pôde observá-la cuidadosamente. Blusa branca por baixo de um cardigã
branco impecáveis; louríssima, ainda mais do que o habitual; cabelo liso, ainda
mais do que o habitual; chiquérrima como sempre. Quando ela se virou e sorriu
para ele, teve enorme dificuldade em conter um fortíssimo impulso – ou vontade
– de beijá-la na boca. Já haviam saído juntos diversas vezes, Ela era Amiga, Alegre, Divertida, Elétrica, Antenada, Articulada, Talkative, Casada. “Controle-se,
deixe para lá, você se deslumbra com muita facilidade”, ele disse para si
mesmo, com total conhecimento de causa. E se manteve em seu habitual
auto-controle.
Não conseguiu se sentar, pois todas as cadeiras estavam
com seus fundos de palha trançada esfarrapados; por mais que procurasse,
estavam todas ocupadas ou rotas. Acabou se desentendendo com os Responsáveis
pelo Restaurante, que estavam conversando em um outro andar, e para quem ele
era apenas mais um Cliente Chato atrapalhando algum inadiável assunto
não-profissional.
Quando retornou à mesa já estavam 2 Pessoas sentadas com
Ela, conversando, e ele não existia mais.
Em seguida estavam na Praia de Ipanema, na Avenida Vieira
Souto. Era um dia frio, à tarde, algo como 17hs no Inverno, nublado forte, garoa
finíssima, vento mais do que moderado. Estava tudo deserto, completamente
deserto, nem Pessoas nem Veículos passando, ela encostada em um Carro parado estacionado
na pista junto ao calçadão e à areia, o olhava ainda vestida de branco, ainda
louríssima, mais do que o habitual, cabelo liso, ainda mais do que o habitual,
mais atraente do que nunca. Não havia absolutamente ninguém, ele foi se
aproximando, ela o olhando fixamente, vento, garoa, frio, até a areia vinha
para a pista, ela suportando tudo, encarando sua aproximação com olhar
indecifrável. Ele não poderia resistir, tinha que correr o risco, qualquer
outro gesto teria sido uma afronta ao Romantismo, a aquela situação, a Ela, ao
Mundo todo que pedia aquele beijo, estava claro que o Universo foi criado apenas
para aquele momento. E ele beijou aquela boca irresistível, e ela correspondeu,
um beijo longuíssimo, delicioso, maravilhoso, ele não queria que acabasse, pelo
jeito ela também não, o lugar era perfeito para o momento, cenário, condições
climáticas, aquele deserto em meio a uma cidade sempre tão cheia de gente, deixaram
tudo para os dois, para aquele beijo que não acabava. E ele estava Feliz,
porque não era um Sonho.
Mas era.
Acordou desconcertado, sorridente e alto-astral com aquela
belíssima lembrança, porém triste porque Ela não a teria.
Afinal, qual a diferença entre Lembranças e Sonhos, se
ambos estão apenas em nossas Memórias?
(Ipanema, 10.jun.2018)