quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

50 Tons de Cinza


A estréia mundial hoje do filme “Fifty Shades of Grey” propicia um relato do meu histórico com tal “opus”.

Sou um Leitor voraz. Já fui até chamado de “page-turner”, não sei se com o objetivo de um elogio, mas não me soou como se o fosse.

Assisti ontem ao interessante filme “Liberal Arts”, que tem uma ótima visão da Leitura. Em um dos magistrais diálogos é desenvolvida a seguinte seqüência de raciocínio (em tradução e adaptação absolutamente pessoais):
“ O propósito da Literatura é combater a solidão.
  Mas ler muito acaba com a sua vida social.
  A Literatura portanto aumenta e diminui a solidão simultaneamente!”
(Vale a pena ver no mesmo filme o hilariante debate sobre a ‘saga’ “Crepúsculo”.)

Como qualquer Leitor ávido, estou em permanente busca de outras coisas boas e principalmente ótimas para ler; o estoque existente é exaurido muito rapidamente.

Desta forma, quando “50 Shades of Grey” começou a fazer sucesso no exterior, eu o procurei em uma FNAC com o propósito de adquisição. Peguei um exemplar, e comecei a lê-lo. Uma página aqui, outra lá, mais outra acolá, mais uma tentativa... não dava. Ruim demais! Fui embora sem o pocket book, e bem decepcionado: afinal, era uma trilogia a menos.

Algum tempo depois algumas Amigas no Facebook (na época eu estava no Facebook) começaram a elogiá-lo muito. Como se tratava de pessoas que eu admirava, e o sucesso do livro não parava de crescer, e o assunto evidentemente me interessava, fui à Livraria Cultura e novamente peguei um exemplar e folheei... li aqui e li ali... tentei... porra, não dava! Ruim DEMAIS, impossível ler aquilo! Desisti reassegurado, e larguei a idéia.

Mas o sucesso continuava a aumentar! E após mais alguns meses o livro saiu na capa da VEJA! “Não é possível”, pensei eu, “devo ter tido algum preconceito, eu PRECISO ler este livro, é uma questão de update pessoal!” Fui então à Saraiva, e pela terceira vez peguei o bendito livro, sempre em inglês.

Eu tentei, juro que tentei. Mas o livro é PÉSSIMO! HORROROSO! INACREDITAVELMENTE RUIM! INTRAGÁVEL! Abandonei de vez a idéia da trilogia – e note que já li até as tríades “Hunger Games” e “Maze Runner”!

Como desencargo final de consciência, pesquisei as opiniões sobre o Livro na Amazon.com. E minha recomendação é: leia as opiniões sobre o Livro na Amazon.com! São de rolar de rir, muito bem escritas, hilárias ao extremo. Uma delas tem como título (tradução pessoal):
- “Não é o pior livro que já li... Não, espere aí: É SIM!!!”
Um outro inicia sua avaliação com a seguinte observação:
- “Não é à toa que a Autora deste livro utilizou um pseudônimo para publicá-lo: se tivesse escrito tamanha porcaria, eu faria o mesmo!”
Um terceiro faz um summary da trilogia inteira em um único parágrafo, antológico! Não resisto, e transcrevo ao final deste texto (*).

Outros trechos de avaliações:
- “Se você tirar as partes onde a personagem feminina está corando ou mordendo os lábios, a trilogia será reduzida a 50 páginas.”
- “Ela tem um orgasmo se um chapéu cai no chão. Ele diz o nome dela, e ela tem um orgasmo. Ele a toca, e ela tem um orgasmo. Ela tem um orgasmo por página!”
- ”Os personagens parecem saídos da fantasia sexual de uma adolescente. Dá a impressão que duas adolescentes se juntaram e decidiram criar o “homem dos sonhos”, e então surgiu este bilionário (não é ‘milionário’, é ‘bilionário’) que fala francês fluentemente, toca piano como um concertista, é piloto de avião, atleta, lindo de morrer, alto, com um corpo perfeito, um pênis enorme, o melhor amante do planeta e usa seu dinheiro para combater a fome mundial. E nunca trabalha: passa todo o tempo ou fazendo sexo ou mandando e-mails para a personagem central.”

Em resumo: quem elogia uma gororoba destas não o faz por apreço à Literatura (é improvável que "I don't make love, I fuck hard" seja merecedor de veneração artística), mas por motivos outros: o estilo batizado de "mommy porn", o 'plot' do vigoroso Sr. Grey, a ‘profundidade’ da abordagem, ou então a incansável repetição do tema em um estilo bate-estacas.

Portanto, meu Amigo...

... vai fundo que o buraco é raso!


(*) “Once upon a time...
I'm Anastasia. I'm clumsy and naive. I like books. I dig this guy. He couldn't possibly like me. He's rich. I wonder if he's gay? His eyes are gray. Super gray. Intensely gray. Intense AND gray. Serious and gray. Super gray. Dark and gray. [insert 100+ other ways to say "gray eyes" here]
I blush. I gasp. He touches me "down there." I gasp again. He gasps. We both gasp. I blush some more. I gasp some more. I refer to my genitals as "down there" a few more times. I blush some more. Sorry, I mean I "flush" some more. I bite my lip. He gasps a lot more. More gasping. More blushing/flushing. More lip biting. Still more gasping.
The end.”

(SP, 12/fev/2015)

5 comentários:

  1. Também não li o livro. Acredito que seja tão ruim como você fala. Mas livro, música, comida ruim tem em todo lugar a toda hora. That’s not big news.

    Contudo, o que me intrigou foi o porquê da mulherada em massa ter caído de paixão pelo livro. Vi mulher das mais variadas castas, idades, credos, cabeças e granas fissuradas no livro.

    Ignorar isso é estupidez. Ficar bravo porque acha que a humanidade é medíocre e deveria não ler o tal do livro (ou ver o tal do filme, ou escutar a tal da banda ou gostar da tal da comida) também não leva a lugar algum.

    Olhemos o fato. Se interessa escrever sobre o livro acho justo pressupor que vale a pena indagar o porquê de tanto sucesso.

    Concordo com lado do “principe encantado”, o que parece ser fantasia recorrente em muitas (talvez a maioria) das mulheres. E antes que tenhamos moças surtadas com esse comentário, os homens tem também suas fantasias recorrentes , algumas mais comums outras menos, só que esse não é o tema agora.

    Mas, voltando ao tal do príncipe, acho que isso é apenas parte da explicação. Não sou psicólogo tampouco sexólogo, então o meu comentário vai somente como fruto da minha opinião:

    Acho que o lance da sacanagem – sim vamos usar sacanagem para não ficarmos com cortinas de palavras – toca , e muito.

    Vemos, ainda bem, que a mulher abre e descobre cada vez mais a sua sexualidade. Um bom amigo me disse “tem mulher que pra sexo já está pensando como homem” e isso é muito bacana. Quanto programa tratando de orgasmo e prazer. Como apimentar a vida sexual, etc.. Mas aparentemente o 50 tons toca em um ponto que é ainda pouco aberto: o Fetiche !

    Opa ! Falei Fetiche ? Fudeu (ou não), imediatamente a sociedade te rotula de depravado, maníaco, que gosta de coisas imorais, pouco confiável e que , se possível, devo ser evitado. Vai perder amigos.

    Gozar, pode, mas com algemas não. Ahh isso não. Moça pelada pode, mas de cinta-liga é tara. E tara não pode não. Não precisamos continuar com os exemplos né ?
    E de repente tem um monte de mulher que descobriu que também gosta dessas coisas ! Porra pode uma mulher normal, namorada, mãe, profissional, amiga, gostar de fetiche e não ser uma puta ou, pior ainda, uma pessoa do mal ?

    Pode essa mesma moça gostar de usar vinil, couro, de dar pra dois (ou mais) caras ao mesmo tempo, de beijar outra mulher, de querer dar chicotada, de ser amarrada, de usar vibrador, de olhar o outro transando, de colocar fantasia , de lamber o pé, de dominar ou ser dominada, e ainda por cima ser uma pessoa “normal”, do bem ?

    Pode sim !

    A psicologia tem um termo para isso tudo: Perversão. Acho uma bosta de termo. Serve para colocar praticamente qualquer coisa que não seja “normal” como “errada”. E vira perverso tanto o que gosta de ver um filminho pornô como aquele que é um pedófilo. Então colocamos uma coisa leve no mesmo nível do que uma monstruosidade. Nem tudo que é anormal é errado também.

    E será que é por isso também que o livro faz sucesso?

    Acho que sim. É um livro de mulher para mulher e, bom ou mau escrito, o assunto interessa a elas e, também a nós homens também. O tema é tão importante que parece que a qualidade literária foi pouco percebida mas, que bom que esse livro está aí, que bom que a mulherada está lendo e gostando. Quanto menos tabu, melhor vai ser o mundo.

    E no final de semana, vou ver o filme com a minha mulher porque Ricota gosta mesmo é de Picanha !

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Caro Mr. Star,
      agradeço o comentário (maior do que o texto!).
      Acho que você levou a questão para o lado certo: enquanto eu buscava a Literatura, você foi direto no clitóris: não é Literatura, estou tateando no lugar errado.
      O que de forma alguma altera a conclusão final do texto: vai fundo... my Friend!
      (Nota: me esforcei tanto para manter secreta a identidade do protagonista da postagem "Ricota Gosta de Picanha" (http://www.umpandaemsaturno.com/2012/03/ricota-gosta-de-picanha.html), e você dá uma bandeira destas!)

      Excluir
  2. Marcio, o livro é uma MERDA, nao tem como negar!!! Nao é literatura, nao é nada! Mas li os tres kkkkkk vai entender... E quero ver o filme uiiiii

    ResponderExcluir
  3. Ouvi o seguinte comentário feminino ontem no rádio: Esse Christian Grey é um bunda mole!

    ResponderExcluir