sábado, 3 de maio de 2014

O Último Pensamento


Quarto na penumbra, costas estendidas sobre a cama, lhe ocorreu um pensamento, o quê aprendi com esta Raça afinal, e a resposta sobreveio de imediato, aprendi que se não houver interesse do interlocutor não haverá como enfrentar seus baixos instintos, suas más intenções, seu desejo de maldade, seu egoísmo. Em sua grande maioria estão interessados em continuar sendo da mesma pequenez que já são, evoluir dá trabalho ou exije esforço, podemos no máximo nos esforçar em dar bom exemplo, mas se não partir de uma vontade própria e individual de aprender, crescer e compartilhar, nada pode ser imposto a nenhum deles.  A liberdade de pensamento implica a liberdade de optar por ser um estorvo, por ser um problema, pelo direito de ser idiota, “a vitória final é sempre do medíocre” ouvira certa vez e aquilo lhe marcou profundamente, “só o medíocre tem paciência para ficar insistindo martelando insistindo martelando insistindo e martelando até que o visionário se cansa, se desilude, desiste e vai buscar terreno mais fértil” (que não vai encontrar). A vitória final é sempre do medíocre, e não há como enfrentar seus baixos instintos, suas más intenções, seu desejo de maldade e seu egoísmo, se assim não o quiserem; foi isto que aprendi com esta Raça, afinal. Desligou seu cérebro e adormeceu.

Acordou no meio da noite com uma inédita dor no lado direito do pescoço, um forte incômodo, parecia algo como um grão de arroz entupindo uma veia, atravancando o caminho, tentando subir, tentando achar o caminho até o cérebro, seria isto um avc, pensou, é assim que acaba?

A dor não parou, pelo contrário, aumentou, o lado direito do pescoço parecia inchar.

E então aquele Mundo que já lhe era escuro se tornou ainda mais impenetrável.

(Via Dutra, 02/mai/2014)

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