Um dos maiores pavores de toda a minha existência
sempre foi ter algum Vizinho músico. Reuniões de amigos na porta ao lado com retumbantes
rodinhas de violão. Encontros em apartamentos para entoar fervorosos cânticos
religiosos, na crença de iluminar algum vizinho à força e na marra. Ensaios
toscos. Tortura. Sadismo.
Como é apreciável a oportunidade de relaxamento, concentração
e serenidade no recolhimento doméstico. Lugar de agito, tumulto e barulho não é
aquele que incomoda os vizinhos. Civilidade, nobreza e respeito dependem de não
transtornarmos nossos Companheiros de Viagem.
O organismumano é indefeso quanto a ruídos e barulhos.
Se a pessoa no assento a seu lado em um ônibus Rio –> São Paulo se põe a cacarejar
via Nextel, ou se um Tiozão gordo desfila em sua histérica Harley Davidson se
sentindo o máximo por ser grosseiramente incômodo, ou ainda caso seu vizinho seja
guitarrista, saxofonista, baterista ou qualquer outra invasão sonora destas, só
te resta aturar a falta de civilidade ou então ter um monte de aporrinhações
com este alguém que com tal comportamento já demonstrou ser um semi-selvagem.
Como dizem que teria dito Nietzsche, “comportamento ético é aquele que se todas
as pessoas do Mundo adotassem, ainda assim a convivência seria possível”. Bem, é
fácil imaginar se alguma convivência seria possível caso todas as pessoas do
prédio tocassem bateria...
E de repente você tem um Vizinho baterista! Incômodos
diários, sobressalto permanente. Você imagina: qual seria a melhor lição para tal
elemento? A resposta ocorre fácil: que na próxima encarnação ele passe
exatamente por isto, para saber o malefício que provoca. Que na próxima
encarnação ele tenha um Vizinho baterista.
E é assim que você descobre o que foi na encarnação
passada...
(SP, 10/jun/2015)
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