quarta-feira, 10 de junho de 2015

O Vizinho Baterista


Um dos maiores pavores de toda a minha existência sempre foi ter algum Vizinho músico. Reuniões de amigos na porta ao lado com retumbantes rodinhas de violão. Encontros em apartamentos para entoar fervorosos cânticos religiosos, na crença de iluminar algum vizinho à força e na marra. Ensaios toscos. Tortura. Sadismo.

Como é apreciável a oportunidade de relaxamento, concentração e serenidade no recolhimento doméstico. Lugar de agito, tumulto e barulho não é aquele que incomoda os vizinhos. Civilidade, nobreza e respeito dependem de não transtornarmos nossos Companheiros de Viagem.

O organismumano é indefeso quanto a ruídos e barulhos. Se a pessoa no assento a seu lado em um ônibus Rio –> São Paulo se põe a cacarejar via Nextel, ou se um Tiozão gordo desfila em sua histérica Harley Davidson se sentindo o máximo por ser grosseiramente incômodo, ou ainda caso seu vizinho seja guitarrista, saxofonista, baterista ou qualquer outra invasão sonora destas, só te resta aturar a falta de civilidade ou então ter um monte de aporrinhações com este alguém que com tal comportamento já demonstrou ser um semi-selvagem. Como dizem que teria dito Nietzsche, “comportamento ético é aquele que se todas as pessoas do Mundo adotassem, ainda assim a convivência seria possível”. Bem, é fácil imaginar se alguma convivência seria possível caso todas as pessoas do prédio tocassem bateria...

E de repente você tem um Vizinho baterista! Incômodos diários, sobressalto permanente. Você imagina: qual seria a melhor lição para tal elemento? A resposta ocorre fácil: que na próxima encarnação ele passe exatamente por isto, para saber o malefício que provoca. Que na próxima encarnação ele tenha um Vizinho baterista.

E é assim que você descobre o que foi na encarnação passada...

(SP, 10/jun/2015)

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