terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

O Menino que quebrou seu Brinquedo


Quando era Criança (ainda sou, mas na época o era oficialmente) fui certa vez submetido a uma Injustiça tão colossal e dolorosa que minha reação foi quebrar um Caminhão de brinquedo que eu adorava.

Fiquei impressionado com aquele gesto, que prejudicava somente a mim mesmo. E passei a analisá-lo como um Adulto (que eu já era, apenas ainda não oficialmente): o que teria me levado a um gesto que só feria a mim, quebrando uma coisa que eu tanto gostava?

Cheguei à conclusão – e esta especulação é estritamente pessoal, como de resto tudo o que coloco neste Espaço – que a Dor era tão grande que eu me sentia compelido a espargí-la, para minimizá-la; distrair a atenção com uma outra dor.

Talvez seja por isto que quando em Dor as Pessoas mordem os lábios, ou se beliscam, ou se auto-infligem outros flagelos: para desviar a própria atenção.

E até hoje, quando sou Criança que se finge de Adulto, ou Adulto que se sabe Criança, continuo observando tal comportamento em mim e em Outros. Acabar um Relacionamento quando estamos deprimidos por um outro motivo. Deixar de ir a lugares que gostaríamos, por estarmos magoados. Desfazermo-nos de coisas que gostamos.

Só nós sofremos.

Só nós entendemos.

Dor espalhada incomoda menos do que Dor pontual.

(Ipanema, 20200224)

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