quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O Parque de Diversões dos Espíritos

Espíritos não têm tato.

Não têm audição nem visão. Nem paladar, nem olfato. Espíritos vagam etéreos sem qualquer sensação física (1).

De vez em quando, em meio à vastidão vazia eterna e onipresente, temos necessidade de sentir emoções. De sentir prazer. De diversão. E então vestimos um corpo, para sentir o que quer que seja – mesmo que dor ou sofrimento.

Pode ser um corpo de animal ou de vegetal. Uma bactéria ou um esporo. Vida! Sensações! De vez em quando, encarnamos gente.

Viver está no prazer de tomar um cafezinho ou grital gol (2). A vida é muito simples, não a complique. Não a desperdiçe tentando ser Espírito, tentando se isolar dos prazeres mundanos: se fosse para ser Espírito, você não tinha encarnado!

Este mundo em que você vive atualmente é apenas um Parque de Diversões dos Espíritos. Acontece o mesmo quando você joga um jogo de tabuleiro – como Ludo, por exemplo. Durante o jogo, você é aquele conjunto de peças azuis! E os outros são as peças vermelhas, verdes, etc. Quando o jogo acaba as peças voltam para a caixa, e você volta a ser você. Mas durante o jogo – ah, você era aquelas peças azuis...

Ou então em uma estrada: você é um Fiat prateado, enquanto “os outros” são aquele ônibus amarelo, o enlouquecido caminhão vermelho, aquele irritante Audi preto que acha que dirigir bem é só correr. Quando os veículos forem estacionados, os motoristas saltarão e voltarão a ter seus nomes, seus rostos, suas personalidades e suas vidas. Mas enquanto na estrada, somos apenas os veículos que nos envolvem.

Um dia, também nossos corpos voltarão para a caixa de Ludo ou para a garagem, e nós voltaremos a ser nós mesmos. Mas enquanto isto não acontece, seja matéria enquanto estiver matéria; e deixe para ser Espírito quando estiver Espírito. O nome técnico disto é “aproveitar o momento”.

Sol no rosto. Água no corpo. Música nos ouvidos, paladar excitado. Se entregue àquele cheiro irresistível. Olhos bem abertos captando tudo.

Foi para isto que você veio.



Referências:
(1) A vida sem sal dos Espíritos foi maravilhosamente retratada em “Asas do Desejo” de Win Wenders, filme que por sua vez foi destroçado sob o nome “Cidade dos Anjos” com Meg Ryan e Nicolas Cage.
(2) Arnaldo Jabor, “A Morte Não Está Nem Aí Para Nós”.

(ago/2011)

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