quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Os Dois Lados da Traição

Qualquer um que já tenha estado em qualquer um dos lados – ou mesmo em ambos – de uma traição, tem consciência da tremenda devastação que ela causa.

Não se trata da perda de confiança no/a Companheiro/a, mas sim de algo muito mais profundo: trata-se de perder a confiança em si próprio.

Quem é traído e descobre fica sem rumo e sem norte: afinal, confiou em outra pessoa... e errou! Se enganou, acreditou erradamente. E agora? Como saber se na próxima vez que confiar novamente não estará errado novamente? Afinal, seu parâmetro pessoal de julgamento já se revelou incompetente; a pessoa não confia mais em sua própria capacidade de confiar.

A auto-confiança se vai, e com isto todo o resto. Não se acredita em mais nada, em uma única história, em uma única desculpa, em uma única ausência. Qualquer mínima distância se torna um sobressalto.

Pode levar anos para se recuperar a confiança. Pode exigir a interferência de um Anjo.

Pode exigir a interferência de uma Anja.

E embora eu não entenda a traição – afinal, é muito mais fácil, lógico, honesto e sincero simplesmente acabar com uma relação acabada e partir livre para uma nova, mais promisssora e atraente – não creio que a culpa seja daquele que trai.

Não se pode ou deve julgar ou condenar alguém sem ter passado pelo quê a pessoa passou; sem ter calçado seus sapatos, como na expressão em inglês (“put yourself in his shoes”). Provavelmente a história da pessoa que traiu é pungente, é sofrida, é dolorosa, é até mesmo de luta contra o turbilhão que a arrastou.

A culpa da traição está em outro lugar: está em nossa Educação. Em nossa Sociedade, em nossa Formação.

Somos educados – ou melhor, condicionados – a acreditar que o Amor é lindo e é para sempre. Quanta cegueira! Nada é para sempre: os produtos não são para sempre; as árvores não são para sempre; as raças não são para sempre; nem mesmo nosso Universo é para sempre. Ah, mas o Amor é para sempre!!! Quanta imbecilidade.

Se nosso condicionamento não fosse contrário a nossa essência poderíamos ter relacionamentos mais honestos, mais naturais, mais espontâneos, menos hipócritas. Interesses voláteis de curto prazo seriam compreendidos e aceitáveis, e não ameaçariam / abalariam sólidas relações de longo prazo. Por mais que se goste e se alimente de carne, uma pipoquinha de vez em quando é bem-vinda! Mas não: somos condicionados a achar que é só bife. Para sempre. Até depois do fim do Universo.

E assim, presos à Educação retrógrada de trocentas centenas de anos atrás, vivemos com as auto-confianças destroçadas. Uma enorme parcela da população se agrilhoando a relações falidas. A traições, por falta de coragem ou opção. Crucificados na hipocrisia.

Qualquer um que já tenha estado em qualquer um dos lados – ou mesmo em ambos – de uma traição, tem uma certeza: jamais trairá seu/sua novo/a Companheiro/a.

Sabe do Inferno no qual o/a está jogando, e não deseja isto para ninguém.

Não é uma promessa.

É uma conclusão.


(jan/2012)

Um comentário:

  1. Embora nunca tenha sentido na pele a traição, não sei se por ingenuidade ou por sorte.
    Acredito, pelo que vejo, que a traição pode ser devastadora. Principalmente para pessoa reservadas, as que confiam em alguém, abrem a guarda, confiam e descobrem que não tem reciprocidade.
    Assim como vc falou, acredito que isso pode ser devastador.
    Não existe nada pior do que perder a Fé... deixar de acreditar no outro... errar o julgamento...principalmente quando a pessoa em questão não é crédula e tem dificuldades em se expor...Realmente é devastador...
    Não acredito em condicionamento como vc fala, mas acredito em discernimento.
    No decorrer de nossa existência conhecemos determinadas pessoas que vão fazendo com que nosso julgamento as classifique de maneira que nosso subconsciente fique mais protegido para as decepções de um falso julgamento. Quando erramos neste julgamento porque o outro por puro egoísmo não teve o cuidado de se gentil e honesto...Isso deixa de ser condicionante e passa a ser vulgaridade e maldade com a pessoa que só teve o azar de dar o melhor de si para quem não merecia nada.
    Infelizmente, hoje em dia, os que tem a sorte de escolher parceiros honestos passam a ser sentir abençoados.
    Não deveria ser obrigação ser honesto e falar a verdade?

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