Quando começou aquela mais uma Taquicardia, Ele pensou:
- “Mais uma Taquicardia.”
Elas surgiam inesperada e aleatoriamente, e duravam entre
alguns e muitos minutos. Ele as respeitava, assim como respeitava as igualmente
inesperadas e aleatórias Tonturas, que de quando em quando escureciam sua Visão e embotavam sua Consciência. Nestes casos Ele parava de interagir, fechava
os Olhos e se isolava do Mundo pelos minutos que fossem necessários, evitando
obedecer à vontade de se deitar no chão que certamente causaria alarde às
Pessoas a sua volta, uma apreensão que em poucos minutos se revelaria desnecessária.
Mas aquela não foi “mais uma taquicardia”, e Ele começou
a considerar que talvez desta vez ela (finalmente) não passasse.
Seu Pensamento a seguir foi que não havia agradecido o
suficiente. Algumas Pessoas lhe deram tantas coisas, o ajudaram tanto, se
empenharam tanto em lhe facilitar a Vida; agradecimentos nunca seriam
suficientes, e Ele era espartano neste sentido, pois por sua vez ficava
constrangido quando lhe agradeciam por coisas que lhe pareciam meramente o
cumprimento de tarefas; e igualmente receava deixar os Demais encabulados.
Especialmente Ela. Tamanhas Paciência, Dedicação,
Compreensão, Carinho, Entrega, Atenção, Cuidado. Fora sua Guardiã e sua Memória;
sua Companheira de Estrada. Ele jamais teria como agradecer o suficiente, mas
foi para Ela que, involuntariamente, direcionou seus últimos Pensamentos: não
tinha agradecido o suficiente, não tinha retribuído o suficiente, não a havia protegido o suficiente.
Obrigado, Amabo.
E então relaxou. Refugiou-se na idéia que sempre o fascinara:
“A Paz do Afogado no momento em que desiste de lutar”.
(Ipanema, 20200102)
Nenhum afogado afirmou paz
ResponderExcluirA Paz vem no momento da Passagem; no instante do abandono, do "let go", do "não tenho mais nada a ver com isto, acabou".
ExcluirQuem voltou não chegou a encontrar a Paz.
Amabo luv on !
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