sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Thank You


Quando começou aquela mais uma Taquicardia, Ele pensou:
- “Mais uma Taquicardia.”

Elas surgiam inesperada e aleatoriamente, e duravam entre alguns e muitos minutos. Ele as respeitava, assim como respeitava as igualmente inesperadas e aleatórias Tonturas, que de quando em quando escureciam sua Visão e embotavam sua Consciência. Nestes casos Ele parava de interagir, fechava os Olhos e se isolava do Mundo pelos minutos que fossem necessários, evitando obedecer à vontade de se deitar no chão que certamente causaria alarde às Pessoas a sua volta, uma apreensão que em poucos minutos se revelaria desnecessária.

Mas aquela não foi “mais uma taquicardia”, e Ele começou a considerar que talvez desta vez ela (finalmente) não passasse.

Seu Pensamento a seguir foi que não havia agradecido o suficiente. Algumas Pessoas lhe deram tantas coisas, o ajudaram tanto, se empenharam tanto em lhe facilitar a Vida; agradecimentos nunca seriam suficientes, e Ele era espartano neste sentido, pois por sua vez ficava constrangido quando lhe agradeciam por coisas que lhe pareciam meramente o cumprimento de tarefas; e igualmente receava deixar os Demais encabulados.

Especialmente Ela. Tamanhas Paciência, Dedicação, Compreensão, Carinho, Entrega, Atenção, Cuidado. Fora sua Guardiã e sua Memória; sua Companheira de Estrada. Ele jamais teria como agradecer o suficiente, mas foi para Ela que, involuntariamente, direcionou seus últimos Pensamentos: não tinha agradecido o suficiente, não tinha retribuído o suficiente, não a havia protegido o suficiente.

Obrigado, Amabo.

E então relaxou. Refugiou-se na idéia que sempre o fascinara:
“A Paz do Afogado no momento em que desiste de lutar”.

(Ipanema, 20200102)


3 comentários:

  1. Nenhum afogado afirmou paz

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    1. A Paz vem no momento da Passagem; no instante do abandono, do "let go", do "não tenho mais nada a ver com isto, acabou".
      Quem voltou não chegou a encontrar a Paz.

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