quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Um Dia Ideal para Jerome David

Sou um “single-minded” que só gosta de ler ficção (às toneladas). Fora as obrigações profissionais e acadêmicas e jornais e revistas, minhas únicas leituras de não-ficção são livros sobre Matemáticas e as biografias de 3 escritores: o Anjo Pornográfico, o autor de “1984” e Jerome David Salinger.

Sempre gostei de seu isolacionismo. Em sua (não-autorizada) biografia, quando perguntado se recebe visitas em seu refúgio no campo, ele respondeu: - “Mas claro! Tenho um canteiro de rosas cheio de marcas de pneu de carros para comprová-lo...”

J.D. ficou famos(érrim)o pel’O Apanhador, mas não é esta sua obra de minha preferência. São apenas 4 livros publicados, menos de 800 páginas ao todo, de forma que é muito fácil ler-lhe toda a obra repetidamente. Mas já são mais de 2 décadas desde que o li, de forma que este meu comentário pode conter algumas falhas alzheimerianas. Gostei muito da estória “Pra Cima com a Viga, Moçada” (originalmente chamada “Raise High the Roof Beam, Carpenters” e que em recente – e bisonha – tradução literal passou a ser “Carpinteiros, Levantem Bem Alto a Cumeeira”) e do livro “Franny & Zooey”. Pessoalmente creio que seus livros envelheceram; acho também que os personagens poderiam ser um pouco mais idosos, ao invés das precoces crianças de 5, 6 ou 7 anos de idade que ficam dando lições de moral e budismo.

Mas para mim o ponto alto é o “Nove Estórias”. Embora algumas delas sejam descartáveis (ao menos para mim, que não as consegui alcançar), o livro contém algumas pérolas. Entre elas destaco “O Gargalhada”, que cativa ao leitor da mesma forma que captura as crianças do ônibus da escola que diariamente ouvem o condutor narrando em capítulos a saga do herói mascarado Gargalhada, em paralelo a seu romance (do condutor) com uma jovem. O final é emudecedor, e você se sente como as crianças e também na pele do motorista.

No entanto, o ponto alto, o que me fez considerar Jerome David Salinger um escritor merecedor de se ler a biografia, é a primeira destas “Nove Estórias”. Creio que depois de ter escrito as 14 páginas de “Um Dia Ideal para os Peixes-Banana”, J.D. não precisaria escrever mais nada. Foi uma grande lição para mim: para ser um dos maiores escritores da história, 14 páginas são mais do que suficientes.

Procurei encontrar o conto na internet para deixar um link para quem lê este post, mas não consegui. E pior: todos os comentários a respeito revelam o final, o que é absolutamente imperdoável! É OBRIGATÓRIO ler “Um Dia Ideal para os Peixes-Banana” sem saber o final. Deixe-se levar pelo conto, deixe a estória crescer em você, e desemboque no final junto com ela.

Só resta a quem se interessar procurar o “Nove Estórias” nas livrarias. E não adianta me pedir emprestado, pois o exemplar número 2906 não sai de minha casa nem sob tortura. Como diz o ditado, “livro não se empresta; você perde o amigo... mas mantém o livro”!

(fev/2010, 1 semana após a morte de J.D.)

4 comentários:

  1. Não acredito no isolacionismo dele como forma de existência... Para mim foi fuga...Ele curtiu uma dor de cotovelo imensa por ter perdido a mulher que ele amava para o Alfred Hitchcoc...

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  2. Hi Marcio,
    Nào consigo entender o fascínio que algumas pessoas tem pelo David Salinger... Como escrevi em um outro comentário sobre o autor, acho que na minha visão burguesa, happy family, faço um link entre os estereotipos do CSI ...onde todos os fascinados por este autor são completamnte malucos...tipo serial killers... todos os serial killers ao serem perguntados sobre seu livro favorito citam o apanhador... Então...
    Outra visão muito feia que eu tenho é que ele não foi capaz de lutar pelo grande amor de sua vida e se refugiou... A atitude dele fez om que muitas pessoas o considerassem um gênio... eu simplesmente na minha humilde percepçao só vejo... um homem comum...
    Seu blog esta muito legal!
    Mary Louise....

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  3. "Eddie Sister, Mary Louise, needed an operation / to get the money, he would have to become an overnight sensation"!

    Dear Mary Louise,
    como escrevi, considero que os escritos de JDS envelheceram mal. Ele fazia sentido para os revoltados de décadas atrás, mas sua amargura não tem mais lugar atualmente. Leia no entanto "Um Dia Ideal Para Os Peixe-Banana" e "O Gargalhada", que são exercícios de bem-escrever.

    Você e o/a Anônimo/a se referiram a ele ter se escondido do Mundo por dor de cotovelo... Se foi por isto mesmo, azar o dele! O Mundo continuou a rodar! Se fudeu!

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  4. Hi Dear,
    Seguindo seus conselhos li "Nove Contos" -em edição portuguesa de 1953 - Realmente um exercício de bem escrever, aliás a maneira dele escrever é intrigante e prende a leitura. Não gosto do conteúdo de suas histórias, dai não compreendo o fascínio que desperta nas pessoas. E "Um dia perfeito para os peixe banana" comprova a minha tese... né não???
    Eddie Sister

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