sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Antártica ou Antártida?

Uma vez que já fui ao "continente branco", sou comumente indagado se sei a resposta à pergunta "o certo é Antártica ou Antártida?". Não encontrei a resposta em nenhum iceberg ou tampouco na boca de algum pingüim, mas prestei bastante atenção ao assunto, e apresento minha especulação pessoal a respeito.

O nome Ártico (do Pólo Norte) deriva da palavra grega "arktikos", que significa "urso". Isto tanto pode se referir aos ursos brancos que habitam o Pólo Norte como às constelações Ursa Maior e Ursa Menor, que ficam no Hemisfério Norte (a Ursa Menor inclusive é a constelação que contém a Estrela do Norte, que fica "estacionada" acima deste Pólo).

No lado diametralmente oposto da Terra fica portanto... o Anti-Ártico, ou Antártica. Este me parece ser o nome correto.

De onde viria então a corruptela "Antártida", que se vê em todo canto no Ushuaia e é largamente utilizada em Português e Espanhol? Creio ser fruto da combinação de "Antártica" com "Atlântida" resultando "Antártida", com um generoso tempero de Ignorância no que se refere à origem da palavra.

Uma viagem à Antártica é uma lembrança mágica em uma vida. Um mundo intocado pelo Homem: pingüins, leões marinhos, focas, lontras e demais animais não aprenderam a ter medo do Homem, e se aproximam de nós sem a menor cermônia. É emocionante passear por dentro das colônias de pingüins, verdadeiras cidades. Fora o tremendo alarido que eles fazem ,"conversando" sem parar, todos se manifestando ao mesmo tempo, em uma algazarra da qual vou sentir saudades pelo resto de minha vida.

É possível optar por 2 diferentes "conceitos" de viagem. A travessia do Drake (os 1.000km de mar entre a América do Sul e a Antártica) pode ser terrível, pois trata-se do encontro de dois oceanos e um mar: o Oceano Atlântico (alguém diria "Atlântido"? Faria até mais sentido...) com o Oceano Pacífico mais o Mar Antártico - em resumo, são os 1.000km do Mar mais sacudido que você vai encontrar em sua vida. A travessia leva de 2 a 3 dias, e você pode optar por ir em um navio grande, estável e confortável de 500 passageiros ou então em um quebra-gelo de 87 passageiros, como eu & AMB optamos. Mas a diferença vai além da estabilidade da travessia do Drake: na Antártica são permitidos desembarques de no máximo 100 passageiros por vez (o que se dá através de barcos tipo "zodiacs" para +/- 8 passageiros). Assim, se você vai em um quebra-gelo, consegue desembaracar todo mundo ao mesmo tempo, o que habilita 2 ou 3 desembarques a cada dia; já em um cruzeiro do tipo Queen Elisabeth com 500 pessoas, serão necessários 5 turnos de 100 pessoas, e acaba ocorrendo apenas uma visita por dia. A escolha é sua... mas saiba que no Drake tivemos praticamente TODO MUNDO passando mal, até mesmo o Médico! É necessário colocar suas coisas no chão da cabine, mas mesmo assim ela passam a noite rolando para lá e para cá, e a cada 3 minutos se chocando violentamente em uma parede diferente da cabine. Além da tripulação eu fui o único a não passar mal (thanks, God-inho!) e assim passava os dias e noites (pois era impossível dormir) da travessia nas cabines de comando ou em salões desertos, ou então vendo a fúria do Drake pelas escotilhas. Para se ter uma idéia, uma das muitas ondas que cobriam nosso Antarctic Dream chegou a QUEBRAR uma das janelas em nosso deck, encharcando e enregelando um casal holandês que lá estava - note que o navio era um quebra-gelo! Repito: a escolha é sua...

Outra curiosidade são os banhos de mar. Você tomaria banho de mar no meio de icebergs? Quem toma ganha um Diploma, e isto despertou o interesse deste Mané. Ao longo da jornada (foram 2 dias de ida, 6 no Pólo Sul e 3 de volta) 3 heróis mergulharam, sob os aplausos de todos. No último dia teríamos um mergulho organizado pela tripulação na "Deception Island". Lá chegando, havia uma tempestade de neve. Fizemos um trekking sob fortíssimas ventania e nevasca, e chegamos à borda de uma cratera de vulcão. Voltamos à praia do desembarque, e até os pingüins tinham sumido. A tripulação cavou uma piscina-banheira, que ficou cheia de água vulcânica a uns 70º de temperatura. Estava PELANDO dentro da piscinita, e congelando fora dela! AMB desistiu do "mergulho", e apenas eu e mais uns 15 outros boçais entramos e lá ficamos queimando os bagos e congelando as costas e peitos. Não dava para ficar dentro da água e nem sair!

Quando voltamos para a cabine, lá estavam dois diplomas. Fiquei puto: AMB tinha se inscrito para o "mergulho" mas desistiu na última hora, então era injusto que ela também recebesse o Diploma; quanta desorganização! Mas o Diploma dela era um atestado de Inteligência e Raciocínio, ela era parabenizada pela racionalidade de ter desistido da "façanha"; já o meu era um Diploma De Inacreditável Imbecilidade, ressaltando que nem mesmo os pingüins estavam se banhando naquele momento...


(fotos: repousando no deck do cruzeiro /zodiacs e o Antarctic Dream / casal de pingüins / cidadela de pingüins / lontras / cratera de vulcão em Deception Island / banho que vale um Diploma)

(set/2010)

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