quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A Pedra e a Receita

Penso que é comum aprendermos com um erro somente quando o cometemos pela segunda vez. Apenas quando conseguimos comparar os pontos em comum nas duas trilhas que levaram ao desastre é que conseguimos apontar: ah, foi AQUI que eu errei!

O mesmo acontece com algumas doenças mais complicadas. Foi apenas quando tive minha segunda crise renal é que entendi que já tinha tido uma primeira 8 anos antes, além de um outro aviso de médio porte no meio do caminho.

Domingo de eleições. Chego de madrugada ao Rio para votar. Estou preparando o café da manhã, e a dorzinha que vem me incomodando há alguns dias inicia um crescendum que intuo só irá acabar no Hospital. Abandono o desayuno pronto na mesa antes mesmo de tocá-lo e parto para um banho rápido, pois não sei o que tenho e portanto não sei quando terei oportunidade de um outro. Aviso a Papai & Mamãe que ao invés de irem à Missa eles me levarão ao Hospital.

Chego à Casa de Saúde devastado, mas lá eles não atendem este tipo de Emergência, e me arrasto até o carro para ir a outro Hospital. Nas ruas a eleição fervilha; o tempo não pára, mas o trânsito sim. Passamos por um Cemitério e me dá vontade de ficar logo por ali, com tudo resolvido; mas em breve chegamos ao Hospital que me recebe com uma cadeira de rodas, antes de me transferir para uma maca.

A dor é como uma pontiaguda vontade de urinar que vai crescendo sem nunca mais parar. A alturas tantas o organismo perde o controle do que está acontecendo, não mais sabe o que se passa - e começo a vomitar. Em seco, pois estava em jejum. Contrações fortes, vomito, vomito e não sai nada; a boca fica toda babada, e é só. Meu Irmão avisa que daqui a pouco estarei vomitando bilis. Mas felizmente o organismo entende que esta reação também não adianta, e desiste dos engulhos.

Um pouco mais tarde, já medicado, ouço uma Enfermeira que comenta:
- "Dizem que as duas piores dores são a do parto e a da crise renal. Mas eu já tive dois filhos, e o que senti não chega aos pés deste estado em que vejo vocês chegarem aqui..."

Saio do Hospital com missão de procurar um Urologista. Ele me dá uma animadora notícia:
- "Se a criança não sair de parto natural dentro de alguns dias, teremos que partir para a cesária..."

O passar dos anos vai te deixando acostumado com o rolar ladeira abaixo, e fazer xixi em um coador é apenas mais um degrau nesta escada descendente.

Mas o coador funciona, e capta uma pedrinha! (Igualzinha à que vi em um desenho no consultório do Urologista).

Em uma última consulta, o Xamanz me alerta:
- "Você tem mais algumas areias nos rins, e deve se hidratar bastante para tentar limpá-los. Beba bastante líquidos. Cerveja..."
- "Muita água?", pergunto eu.
- "Cerveja."
- "Chá?"
- "Cerveja."
- "Água de côco?"
- "Cerveja."
- "Suco de Melancia?"
- "CERVEJA!!!"

(out/2010)

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