ALICE COOPER PSYCHO-DRAMA
CREDICARD HALL, 12 de junho de 2007
“This won’t hurt... much!”
Faltando 4 dias para meu 51º aniversário, sou brindado no Dia dos Namorados com uma apresentação de TIA ALICE COOPER no CREDICARD HALL, em São Paulo. A Srta. A e eu nos dirigimos ao local nos entupindo de champanhe no gargalo, e ouvindo KILLER de cabo a rabo em volume terminal no trajeto.
Tia Alice foi o primeiro “gig” internacional que assisti, em 1974. Na época ele estava em transição de banda, e excursionando com a “equipe” de Lou Reed além de seu time de estrelas. Assim, (pelo que me lembro) o show da época contou com nada menos do que QUATRO guitarristas: os originais Michael Bruce e Glen Buxton (que morreu em 1997), e mais o suporte luxuoso de Dick Wagner e Steve Hunter (someone please confirm). Assisti tanto ao show intimista no Canecão como ao "popular-lotadaço" no Maracanãzinho.
Passados 33 anos, o público era o melhor possível, com gente de todas as idades, lotação média, espaço para deslocamentos, dança e aproximação do palco, as poltronas liberadas para quem quisesse subir e ter visão panorâmica. Muitos rockers com a pintura clássica de Alice nos olhos e cantos da boca. Um metaleiro usava uma camiseta escrita “BRITNEY WANTS ME”. E nas costas: “... DEAD”. Fomos cumprimentá-lo e indagar se tinha mandado fazer, o que ele confirmou (Alice usou esta camiseta na excusão “Brutally Live” de 2000). E antes do início do show, um gaiato desfilava pela pista gritando:
- “TODO MUNDO QUE ESTÁ DE CAMISA PRETA É VIADO!!!”
Às 22h00m as luzes se apagam, e as luzes por trás de uma imensa tela que escondia o palco projeta o contorno do próprio, de cartola e bengala. A banda ataca de IT’S HOT TONIGHT, a platéia uiva, e um SEGUNDO contorno sombreado de Alice começa a brigar com o primeiro. A primeira sombra, que fora ovacionada, é derrotada. Tínhamos ovacionado a Alice errada... A segunda se ergue, sobe a tela-cortina, e começa o delírio. Alice brinca com a bengala como o legítimo mestre-de-cerimônias que é.
A formação é clássica e essencial: dois guitarristas, baixo e o melhor baterista que se possa imaginar: ERIC SINGER, que há tempos excursiona também com o KISS (quando eles deixam de lado a ganância e o makeup). Alice sempre soube escolher muitíssimo bem sua banda, e se atualmente não excursiona mais com os guitar players Ryan Roxie e Bob Marlette, encontrou substitutos à altura nos afiadíssimos Keri Keller e Jason Hook.
O set list é impecável – creio que não cheguem a existir 10 bandas que possam se servir de um repertório tão espetacular. A segunda música é NO MORE MR. NICE GUY o que conquista de vez a platéia. Eu já começo a chorar na terceira, UNDER MY WHEELS (do obrigatório KILLER de 1971). Emendam I’M EIGHTEEN e aí o choro já é convulsivo, telefono para Gloug, para Garcia, para Lolota e para Mamãe. Somos brindados com IS IT MY BODY? e em seguida a única música do show que não conheço, provavelmente do último disco DIRTY DIAMONDS que é um dos pouquíssimos que não tenho (tenho 15 álbuns da Titia). A banda assume a postura clássica de rock’n’roll no palco, os dois guitarristas e o baixista em linha jogando a cabeça para a frente e para tras, arrebentando nos riffs, e no meio deles Alice destroçando no vocal e mise-en-scène. Estou no banheiro urinando champanhe quando ouço os arrasadores acordes iniciais de LOST IN AMERICA, e enquanto pulo descontrolado (na pista, não no banheiro) telefono para Gustavo que me apresentou ao excelente THE LAST TEMPTATION, de 1994.
O set list é brutal, um fino deleite para quem conheça o trabalho de Vincent Damon Furnier: BE MY LOVER, que jamais pensei ouvir ou ver ao vivo; RAPED AND FREEZIN; LONG WAY TO GO (!!!); MUSCLE OF LOVE; PUBLIC ANIMAL #9; DESPERADO; a inacreditável HALO OF FLIES, talvez a melhor música de todos os tempos; ainda por cima executam uma versão de mais de 10 minutos, com uma seção rítmica com os dois guitarristas abandonando seus instrumentos e também tocando bateria sob luz estroboscópica, ou seja, TRÊS bateristas e mais o baixo, seguida pelo solo de bateria do monstro Eric Singer (ainda bem que a PORRA do Peter Criss foi embora do KISS, eu sempre achei que a bateria era suspensa no show deles para evitar que “O Gato” fosse apedrejado com bosta). Como li certa vez no site da CDNOW: mesmo que o KILLER não fosse o álbum magistral e irrepreensível que é (de minha parte, foi simplesmente o disco que me fez gostar de música), ele já seria obrigatório pela simples presença de HALO OF FLIES. Por mim o show já poderia terminar aí mesmo...
Mas não. Seguiram-se WELCOME TO MY NIGHTMARE (com teatro de seres sem face, inclusive uma noiva!), COLD ETHYL, e com 1 hora de show uma balada: ONLY WOMEN BLEED. Alice dança com uma boneca vestida de Enfermeira, bate nela, a joga nas escadarias do palco, de repente não é mais uma boneca mas sim uma loura linda e gostosa que dança balé pelo palco. Pois Alice continua a estapeá-la no rosto até que ela o interrompe segurando-lhe a mão no ar, no meio do gesto, para delírio da platéia. A música acaba e emenda com STEVEN e então DEAD BABIES, quando Alice empurra um carrinho preto de bebê. Ele tira o bebê do carrinho, o ergue nos braços, a platéia não consegue ser mais ensurdecedora do que já está sendo, Alice coloca o bebê de volta no carrinho, crava-lhe uma estaca no peito, dá marretadas, e finalmente ergue o bebê em triunfo, segurando-o pela estaca atravessada. Entram médicos de preto sem face e colocam uma camisa de força no vocalista enquanto a banda toca THE BALLAD OF DWIGHT FRY do também obrigatório LOVE IT TO DEATH, também de 1971. A versão é longa, pesada, espetacular! Emendam um extrato de DEVIL’S FOOD, Alice fugiu da camisa de força e do palco, os médicos o procuram. Começa KILLER e uma gigantesca forca com patíbulo adentra o palco. Alice foi capturado, e será enforcado, o que efetivamente acontece ao som ensurdecedor daquele ZZZZZZZZZZZZZZ de guitarras distorcidas ao final da música. A platéia está totalmente enlouquecida, um show inacreditável. A Srta A está emocionada e sorridente, descobriu que show de Rock pesado pode ser o máximo, como é bom se descobrir metaleira. Chegamos perto dos músicos, passamos o show passeando pela pista e chegando bem próximo ao palco, às vezes vamos para trás e subimos para a privilegiada vista das cadeiras que hoje estão liberadas, e de onde se vê tudo; depois descemos novamente para dançar, os seguranças estão particularmente carrancudos mas hay que enfrentá-los, it’s only rock’n’roll but we need it! O corpo enforcado de Alice é retirado do palco ao som de um extrato de I LOVE THE DEAD cantado pelo guitarrista. Alice reaparece de blaser branco, cartola branca e bengala, e põe a platéia para cantar e pular com SCHOOL’S OUT. Enormes bolas de borracha são jogadas para lá e para cá pela audiência, e quando chegam ao palco são espetacularmente furdadas por Alice que a esta altura maneja uma espada de pirata, causando explosões e chuva de confetes. É o fim do show, às 23h24m.
Mas é claro que tem encore: em BILLION DOLLAR BABIES Alice brande a espada cheia de dinheiro cravado, e joga as notas para a platéia (ele faz isto desde sempre, durante décadas eu guardei as notas que peguei naqueles shows de 1974). Segue-se POISON e a reação entusiasmanda da platéia me surpreende, pois é uma música de 1989 (disco TRASH) e não a imaginava tão conhecida. E o final antológico com ELECTED, estamos bem perto do palco enquanto Alice discursa:
- “I know we have problems in Curitiba; I know we have problems in Belo Horizonte; I know we have problems in Rio; but frankly... I DON’T CARE!”
, enquanto figurantes carregam cartazes escritos “He doesn’t care”, “Wild Party”, “School’s Out”, etc. Em campanha presidencial, Alice sacode a bandeira do Brasil, e chegamos ao final de 100 minutos eletrizantes de Rock’n’Roll.
Eu teria escolhido – ou melhor, acrescentado – algumas músicas mais recentes, pois os últimos discos da Titia – especialmente a trilogia BRUTAL PLANET / DRAGONTOWN / THE EYES – são fenomenais. Para quem perdeu o show resta perseguir o Homem mundo afora, ou então se deleitar com o dvd BRUTALLY LIVE.
Sempre marco encontro com a galera junto aos palcos, no final de qualquer show, pois é sempre fácil chegar lá. Mas neste caso não foi: a pista junto à boca do palco estava ENTUPIDA de gente mais de 10 minutos após o término. Um fã chegou a invadir o palco, pegar alguma coisa, fazer um stagediving e se perder no meio da massa enquanto os seguranças ficavam putos e apontando inutilmente de cima do palco... Fui lá para a frente para tentar pegar alguma nota do dinheiro, mas o pessoal se acotovelava em busca de souvenirs de... Eric Singer! Ouvi o seguinte diálogo entre dois pitbulls, um dos quais com uma baqueta na mão:
- “Pago QUALQUER COISA por esta baqueta!”
- “Não vendo por dinheiro NENHUM!”
- “Pôrra, eu sou fã do cara desde o BADLANDS!...”
- “ Eu TENHO uma música chamada Badlands!!!...”
O público era de todas as idades, mas qual seria a reação dos mais novos frente a tal avalanche sonora? Ainda na pista, entreouvi de um vintagenário:- “Puta que o pariu, QUE SHOWZAÇO!!!”Uma descrição que sumariza tudo o que vivemos neste Valentine.
Outra medida do sucesso da gig foi a enorme quantidade de gente que se aglomerava em frente ao stand de venda de camisetas na saída. É muito raro ver tanta gente comprando camiseta depois do show. Uma dica quanto às camisetas é a loja CONSULADO DO ROCK nas GRANDES GALERIAS (atualmente mais conhecidas como GALERIA DO ROCK). A CONSULADO produz as camisetas oficiais de muitos shows; tem ótima qualidade, belas estampas e bons preços – principalmente se você adquirir as peças diretamente nas GALERIAS.
O mundo pode ser dividido entre as pessoas que já viram Alice Cooper e Eric Singer ao vivo, e as que não viram.
(jun/2007)
quarta-feira, 26 de maio de 2010
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