(Palco
São João, domingo 19 de maio de 2013, 18hs)
Quando eu soube, foi difícil
acreditar: DAVID JACKSON iria tocar na virada Cultural! O saxofonista de meu venerado
VAN DER GRAAF GENERATOR, banda progressiva que considero a mais complexa de se
entender e gostar. Cabem algumas explicações: egresso dos anos 70 (claro), o
VdGG era formado por 2 tecladistas, um baterista e este saxofonista. Sempre
tive imensa dificuldade em alcançar a profundidade de suas músicas, sendo que
no caso de alguns álbuns cheguei a levar décadas para entender (parcialmente); no
caso de outros, continuo tentando! O que acaba sendo um alívio no marasmo que
se tornou a Música, que se soma à covardia de bandas antigas e famosas ainda em
atividade que repetem ad nauseam
setlists exauridos há décadas.
O grande gênio e mentor é (pois o
VdGG continua ativo) o compositor Peter Hammill. David Jackson deixou a Banda em
2006, e eu não tinha idéia do que passou a fazer a partir de então.
Terminado o show do NEKTAR, eu dispunha
de um intervalo de 30 minutos. Dos banheiros químicos mais próximos escorria um
volumoso carpete de urina, exalando um odor de uréia que deixava a área
inaproximável. Em busca de banheiros menos entupidos e fétidos acabei vagando
pela Avenida São João. Damas da noite, travestis e demais habitueés faziam suas
festas, passeando, bebericando, curtindo, acompanhando os eventos. Muitos
casais homo, talvez a maioria. Parei no simpático boteco Cantinho da Mesquita
onde uma TV passava ao vivo os 15 minutos finais de Santos x Corinthians, a
final do Paulistão. Pedi minha bebida de sempre (vodka com suco de maracujá
coado e açúcar), que o barman “deixa comigo!” preparou nas seguintes
proporções: meio copo (dos grandes) com maracujá coado, açúcar e gelo; e o
restante meio copo (dos grandes) de smirnoff. Desnecessário dizer que 6 horas
mais tarde eu ainda estava bêbado... Encontrei um cara com uma camiseta do Van
der Graaf. -“Como você conseguiu?”, perguntei estupefacto (pois não encontro
camisetas deles nem em Londres); “mandei fazer, é claro!” foi a resposta, é claro.
Estava acompanhado por um corinthiano que deixou de ver a Final para assistir
NEKTAR e DAVID JACKSON:
- “Perder isto? COMO???”
Acompanho o jogo até o fim, saio do
Cantinho da Mesquita e me dirijo ao palco com sua exígua audiência. Vejo outro
cara com outra camiseta do Van der Graaf, me aproximo e repito a pergunta: -“Como
você conseguiu?”. A roda de amigos se abre e lá estão os mesmos dois que eu
encontrara no boteco. -“Olha ele aí de novo!”, me saúdam, e o que se segue é uma
saraivada: -“Ele é a cara do Peter Hammill!”; “vamos tirar uma foto com o Peter
Hammill”, etc. Já fui confundido com o Ritchie em um show do Marcelo Nova,
agora virei Peter Hammill. (E a resposta a minha pergunta foi a mesma: -“Mandei
fazer, é claro”. É claro.)
Às 18h15m, David Jackson e a
italiana ALEX CARPANI BAND ocupam o palco. A Itália foi o país onde o VdGG fez
mais sucesso. Não gosto de sax (que chamo de “cornetas”), mas não sabia que
existiam tantas lágrimas dentro de mim até ver e ouvir David Jackson tocando a
10 metros de distância. Tocavam Van der Graaf Generator; era um show de covers
somente de músicas do VdGG!!!
- “AUMENTA O SAX!”
Apresentações (em italiano):
- “Em homenagem a vocês, hoje
estamos com um baixista brasileiro: Gabriel Costa, do VIOLETA DE OUTONO!”
A segunda música é “Sleepwalkers”. A
noite cai, a smirnoff sobe, a emoção domina: o show é ESPETACULAR!!! Existe vida inteligente neste Planeta, afinal; e boa parte está concentrada na frente
do Palco São João às 19hs deste domingo.
Quase toda grande Banda se baseia em
2 gênios (Page & Plant, Jagger & Richards, McCartney& Lennon), e o
VdGG tinha Peter Hammill & - agora descubro - David Jackson. Não eram apenas
as composições, afinal; a interpretação do corneteiro fazia TODA a diferença na
música do Van der Graaf. Pois aqui os arranjos com uma banda completa
(incluindo guitarra e baixo) e com uma galera jovem e cheia de energia mostra
que o movimento de Mr. Jackson foi brilhante: as versões são nada menos do que primorosas, e o show é entusiasmante. Evidencia
que Peter Hammill é o maior gênio musical de nossas existências. Tocam “Refugees”,
e o que já era um choro descontrolado se torna convulsivo. Jamais chorei tanto
em um show, jamais fiquei tão completamente emocionado. Muita gente nova olha
mais para mim do que para o palco, e imagino que esteja imaginando: “what the
fuck?!?”.
Foi uma demonstração de extrema
coragem e conhecimento dos organizadores da Virada trazerem o NEKTAR e o
DJ+ACB=VdGG; minha gratidão e reconhecimento.
David brinca com a platéia:
-
“We were told not to mention Argentina here...”
Tocam “Killer”. David toca 2
saxofones simultaneamente - sua marca registrada - quase o tempo todo.
Entram então os mais de 10 minutos
de “Man-Erg”. A música de minha vida, com sua melodia gloriosa e letra idem (♫♪♫ “The Killer lives inside me... / The Angel lives
inside me... / I too, live inside me...” ♫♪♫) . Meu coração não resiste. Estou
morto. A partir daí você pode até pensar que está conversando comigo, mas se
engana: marcio ficou naquela platéia, naquele show, naquele palco. O marcio (se)
acabou ali.
No solo de bateria, toda a banda se
abaixa, senta, ajoelha, para que somente o batera seja visto; belo gesto.
O genial bis encerra com “Theme One”
e David comanda a platéia: tocando uma flauta quase infantil, faz com que todos
cantem o lá,lá-lá-lá-lá-lá do ritmo original da canção; e então ele nos
acompanha! Absolutamente simples, majestoso e tocante; absolutamente lindo.
O show acaba às 19h40m. A Virada já terminou,
os banheiros químicos já foram retirados, sigo para a Praça da Bandeira em
busca dos ônibus mas o Centro já está bastante deserto e começa a ser
ameaçador. Após 2 shows deste quilate seguidos, estou emocionalmente
destroçado.
Me conhecerá.
(Nota
1: não saiu NENHUMA nota no jornal sobre estes dois shows primorosos, seja
antes ou depois dos eventos, ilustrando aquela consideração sobre a dificuldade
em encontrar vida inteligente neste Planeta.)
(Nota
2: eu sei que “inaproximável” não existe, mas é a palavra que melhor exprime
aqueles banheiros.)
Deve ter sido um showzaço! Será que dá para ter esperança de que tragam Hawkwind ano que vem?
ResponderExcluirVeja no youtube:
ResponderExcluirMan Erg
http://www.youtube.com/watch?v=ve9TACqTUuM
Refugees
http://www.youtube.com/watch?v=2KUr4Jii6eE
Cara obrigado por postar isso aqui. Pelo menos uma nota sobre o grande show! Eu fui pra virada do Paraná sozinho e não aguentei esperar pelo David Jackson. De manhã após show do Mão Morta, com corpo e mente destroçados fui pra rodoviária quase morto. Mas se eu tivesse ficado pra ouvir Killer, Sleepwalkers e Man-Erg, morreria por certo!
ResponderExcluirEu estava lá. Cheguei atrasado para o Nektar mas peguei o David Jackson completo. Até levei e gravei o show com meu Zoom H4n mas o som estava muito ruim. O pessoal acha que show de Rock TÊM que ser no último volume. Assisti a outro show no dia 26 na Virada de Santos e o som esta ótimo. Nunca tive uma semana tão prog rock fechando com chave de ouro com o Gong no Sesc Belenzinho dia 24. È isso aí. Pena que dificilmente veremos toda esta galera de novo. É o fim de uma era que aos poucos deixa de ser "ao vivo".
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