Ele estava em estado deplorável e terminal, algo como
embriagado ao limite - mas não era possível dizer qual substância havia
ingerido.
Talvez tenha sentido vontade de desabafar com alguém, vomitar,
enfim: expor a alguém desta Era a sua estupefação. Eu estava ali, e já tinha
tido algumas conversas descambadas para a filosofia com ele. E assim, por puro acaso, acabei ouvindo seu
desabafo.
Confessou-se um Viajante, um Estudioso, um Arqueólogo. O único de seu Tipo, as far as he knew. Oferecera-se e foi escolhido para fazer uma curta viagem e conhecer a Raça
Humana antes daquilo que chamava de “A Evolução”. Quando ainda era composta por
homo sapiens individualistas, egoistas, auto-centrados, belicosos, ignorantes.
Estava destruído pela forma com que tratamos nossos
semelhantes. Com o descaso e o abandono. Sim, haviam estudado a barbárie anterior
à Evolução, mas parecia ser exagero. Não era, e o que ele encontrou era
incompreensível, inadmissível, inaceitável. Insuportável.
Não tinha como se comunicar com sua própria Era, que
nem era tão distante. Sempre soubera disto, mas aceitara o afastamento
irreversível. A única coisa que lhe preocupava então era o cuidado em manter
seus registros arqueológicos no meio combinado, onde seriam encontrados e
viriam a ser importantes e esclarecedores. Estarrecedores.
Perguntei se poderia divulgar sua história, ele me
perguntou “para quê?” mas autorizou, com uma única condição - que até hoje eu
cumpro.
Nunca mais voltei a saber dele. Desapareceu no Mundo, e
não faz parte de nenhuma Rede Social. Mas não se passa um único dia sem que me
lembre de sua história. Sem que imagine quão distantes ainda estamos d’A
Evolução.
Ou sem que compartilhe o seu Horror.
(em abr/2014, ainda distantes d’A Evolução)
(Com uma pequena referência ("near-man") ao grande Dick de Philip K.)
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