segunda-feira, 4 de abril de 2011

Sai Desta Vida!

Se você é um Engenheiro com Pós-Graduação em Economia de Empresas e Mestrado (strictu senso) em Administração Financeira, muito provavelmente estará trabalhando na Área Financeira de uma grande instituição financeira internacional. E como é sua vida profissional?

Nada é mais sensível para Empresas e Países (e até para domicílios) do que a Liquidez. Assim, em qualquer sacolejo – por mínimo que seja – da Economia local ou internacional, você certamente é instado por agentes externos a gerar uma penca de relatórios novos, urgentes, complicados e difíceis, e que fazem pouco ou nenhum sentido para a sua Instituição. Tais relatórios nascem como provisórios, temporários, mas você já não se ilude mais, não é mesmo? Apesar de serem inúteis, eles vieram para ficar. Alguns perrengues a mais em sua carregada rotina diária – mas , como se diz nas Áreas de Controle Financeiro, “o que é uma bolha para quem está ensaboado?”(1).

O Federal Reserve inventa um novo relatório para a Filial canadense de sua instituição? Você terá que replicá-lo, afinal “somos uma instituição mundial”.

Você é um “Latin America Manager”? Que ótimo! Pena que o que isto realmente signifique na prática é que você precisa consolidar reportes de Trinidad Tobago, Honduras, El Salvador, Jamaica e Guatemala. É claro que cada um vem em um formato diferente, e contendo dados completamente díspares e incompatíveis.

Resolvido um “issue” de Information Security na Argentina? Bom! Mas como são eles os responsáveis pela padronização da Segurança da Informação para toda a América do Sul, logo a solução se espalha compulsoriamente por todo o continente – mesmo que não tenha nada a ver com as rotinas, procedimentos e necessidades do seu País.

O sistema que deveria ter rodado às 03h48m não baixou adequadamente os dados em função de uma não-informada manutenção no programa, e que ficou incompleta. Como conseqüência, o sistema que roda às 04h12m puxou dados da antevéspera, que alimentaram o sistema das 05h03m. Isto gera um relatório que segue a regra “o problema dos processos serem automáticos é que os problemas também são automáticos”(2). Mas é claro que ninguém te avisa que ocorreram tais "não-conformidades" na madrugada (na verdade, nem sabem!), e você só consegue detectar o problema após ter executado suas rotinas diárias e ter gerado um relatório final completamente sem sentido, perto da hora do almoço.

Você precisa de um relatório novo. Pede à Área de Sistemas, que após 3 reuniões de especificação levará 3 meses para te retornar uma proposta que não atende às suas necessidades. Acontece que “os sistemas que vão gerar seu relatório utilizam uma contabilização customizada e diferente da usual, para atender a uma demanda de Fulano em mil novecentos e bolinha”. E ainda por cima “não é possível segregar os clientes que você necessita, pois seria necessário um campo alfanumérico adicional e para tanto será preciso fazer uma manutenção em todo o programa”. O custo é $$$, altíssimo. Enquanto busca uma solução, sua Área desenvolve uma planilha que fornece o resultado desejado. Sob pressão, você não tem outra alternativa e passa a utilizá-la – mas cuidado com a Auditoria, pois planilhas não são aceitas e você pode vir a ser formalmente repreendido.

Se sua vida profissional é parecida com isto, eu tenho uma sugestão para você. Ela está nas Empresas menores. Em Escritórios, Escolas, Agências ou Sociedades, por exemplo.

As empresas menores usualmente terão crescido através da composição / congregação / agregação de diversos sócios que foram se juntando ao longo dos anos, e que subitamente se descobrem com uma grande estrutura de enorme know-how em sua área específica de atuação porém com pouca experiência administrativa-financeira. Eles provavelmente têm uma Área Administrativa e Financeira, e também um Escritório de Contabilidade que lhes atende as necessidades básicas; mas não dispõem de conhecimento específico em Planejamento, Orçamento, Projeções, Sistemas de Informações, Relatórios, critérios de alocação e avaliação, enfim, lhes falta aquilo que é o seu sangue, meu caro Engenheiro com Pós-Graduação em Economia de Empresas e Mestrado (strictu senso) em Administração Financeira. Se você fôr trabalhar lá, será como juntar a fome com a vontade de ser comido!

O que você encontra em uma empresa assim? Possivelmente um ambiente elegantérrimo. Pessoas finas, bem vestidas, que sabem falar muito bem – e falam baixo; móveis impecáveis, talvez várias salas de reunião para receber Clientes, Imprensa e Políticos; quem sabe até copeiras que às 16hs prepararão uma farta mesa de frutas descascadas e sem caroço, porque é bom para a sua saúde. Máquina de café expresso. E com localização possivelmente privilegiada.

Mas o mais importante é a necessidade de informação útil. Serão profissionais ávidos por informação consistente, organizada, e que os ajude a melhor gerir o seu negócio. E tal informação estará lá, dormente, crua, somente aguardando que alguém carinhosamente a colha, recolha, estude, compreenda, estruture e apresente. Você fará análises de Lucratividade, de desempenho de Áreas, de custos individuais, de rentabilidade de clientes, contratos e serviços, determinará Metas, alocará custos, fará a festa. É seu ambiente, você é o Senhor dos Números (até os Servidores são seus!) – e o melhor é que é exatamente isto que esperam de você.

Você finalmente se tornou um Executivo útil. Finalmente o Trabalho faz sentido.

(Como fringe benefit, as Mulheres – maquiadas, perfumadas e de saias – se vestem maravilhosamente!...)

Meu caro Engenheiro: saia desta vida. Vá oferecer seus serviços de Consultoria em uma Empresa de menor porte.

Todo Mundo sai ganhando...


(1) e (2): as expressões originais não são exatamente estas, mas quem as conhece sabe do que estou falando...

(mar/2011)

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