segunda-feira, 22 de março de 2010

O Dia em que eu fiquei Velho

DREAM THEATER, CREDICARD HALL (SP), 19/mar/2010

Sempre disse que se só tivesse mais duas horas de vida eu quereria assistir a um show do DREAM THEATER. Pois por pouco não passo tais últimas duas horas de vida engarrafado na Marginal Pinheiros indo para o show... Graças a uma greve de professores que fechou a Avenida Paulista (como se uma coisa desse direito à outra), o trânsito paulistano ao longo da sexta-feira foi ainda mais caótico do que o habitual. Show marcado para as 22hs (na vez anterior em SP, o DT entrara no palco meia hora ANTES do horário!), Ane & eu saímos de casa às 20h30m - para ficarmos PARADOS na Marginal por mais de 100 minutos, cada vez considero mais incompreensível que alguém possa efetivamente GOSTAR desta Cidade onde os engarrafamentos não podem parar.

Felizmente desta vez o DT foi compreensivo. Mesmo já passando de 22hs, a fila da Platéia no lado externo do Credicard Hall era descomunal, serpenteando pelo estacionamento. Cambistas abordavam: -"Ingresso sobrando, eu compro!". Minha 5ª vez defronte do DREAM THEATER. A primeira foi no início dos anos 90, quando fariam uma World Tour e vieram fazer um aquecimento, um "ensaio geral" no IMPERATOR, no Méier (RJ), pois eram quase desconhecidos no Brasil. Fui sózinho (é óbvio) e assisti a uma das maiores execuções de Progressive Metal de minha vida, eles tocaram descompromissados, soltos e se divertindo por mais de 3 horas.

A 2ª e 3ª vezes foram no Credicard Hall em dois dias seguidos em 10 e 11 de dezembro de 2005, quando fizeram o show que batizei de "Dream Theater em 4 atos": no sábado, hora e meia, intervalo, e mais hora e meia; e idem no domingo, hora e meia, intervalo e mais hora e meia, totalizando SEIS HORAS de um show absurdamente arrasador.

A 4ª performance foi no estacionamento do mesmo Credicard Hall em dezembro/2008, o tal show em que entraram meia hora mais cedo. Foi a primeira vez que Ane os viu, e embora normalmente reservada, ela ficou boquiaberta com a massa sonora, e não consegui evitar que escapassem comentários -"Caralho!!!" umas 20 vezes ao longo do espetáculo.

De forma que estava excitado com o evento, a ponto de comprar camarote para ver tudo - uma vez que show de Metal prima pela altura dos headbangers. Desta vez, como no Imperator, nenhum conhecido compareceu.

Início às 22h40m. Visão perfeita, inclusive da massa compacta na Pista, que mais parecia uma maremoto do inferno com os condenados urrando e brandindo os braços erguidos. O que não impediu o comentário de Ane: -"Lá em baixo é mais legal... apesar do perrengue...". É verdade, para quem está acostumado à Pista, a impressão do Camarote nâo deixa de ser algo como estar assistindo a um mega DVD em ultra-high-definition.

O teclado é curioso, apenas um único keyboard engastado em uma estrutura que gira, e assim Mr. Jordan Rudess fica rodando e pode ficar de frente para o que quiser ao longo do show. Ele porta uma enorme barbicha branca de bode, que Ane classificou de "nojenta".

Muitas músicas do último disco, poucas que eu conhecia, mas TODO MUNDO cantava junto, inclusive muitas Mulheres. Uma grande diferença em relação ao AEROSMITH, STONES, THE WHO ou KISS, que não podem tocar nada novo, são escravos do repertório antigo, escravos dos preguiçosos fãs antigos. Aqui não, a platéia é composta por fãs vivos de uma Banda viva.

Um dos pontos altos da Banda para mim é o excepcional baixista John Myung, o "japa". O volume do baixo - muitas vezes distorcido, eletrônico, pedalado ou tratado - faz estremecer as paredes do recinto. Foi ele o responsável pela maioria dos "caralhos" de Ane no show passado.

Mas da mesma forma que o AEROSMITH em sua última gig no Brasil, também o DT tocou muitas babas. Não adianta, este é o Destino, até o DREAM THEATER acaba em baba, babas progressivas, "if I die tomorrow / the spirit carries on", convenhamos, já tinham tocado isto da última vez, eu queria ver ESPORRO!...

Não gostei dos graphics projetados nos telões, muito fracos. O cenário também era pobre: alguns trapos de cortinas dependurados. Ou seja, visual bastante meia-boca... se bem que todos os demais gigs que vi do DT foram assim também.

Felizmente fui recompensado com uma rara execução de PULL ME UNDER. Jordan Rudess vem para a frente do palco portando um portable keyboard em formato de guitarra ("teclado de algibeira", segundo Andre VASCO'n'cellos), e começa um genial duelo com o guitarrista John Petrucci. John gosta de se ouvir: ele toca cercado por amplificadores valvulados que lhe redirecionam o próprio som. Seus solos não são memoráveis; os riffs sim, os solos não, prefiro-o fazendo barulho e levação de som. Um guitarrista pesado que acha que é progressivo.

Com 1h25m de show, o vocalista James Labrie (gorducho, cabelo louro e cavanhaque preto, continua parecido com a Madame Mim) anuncia um "goodnight Sao Paolo!". É claro que é fake, mas a platéia brasileira nunca aprendeu a pedir bis em show, e o silêncio que envolve o palco vazio é quase constrangedor. Como sempre o puta baterista Mike Portnoy volta com a camisa amarela da seleção brasileira, e toca de pé.

Às 00h27m termina o show, sob ovação. Os músicos parecem deslumbrados, Portnoy entrega algumas baquetas de mão em mão, saca o microfone e grita: -"OBREE-FUCKIN-GADO!", a platéia delira.


Mas... não sei. As muitas babas me cansaram. Já vi o DT 5 vezes; os STONES 4 vezes, o AERO 3 vezes, IGGY 4 vezes, KISS 3 vezes, JETHRO 5 vezes, Udois 3 vezes, até o rush eu já vi. Me recusei a ver QUEEN com Paulo Ricardo Rodgers, imaginei que passaria o show inteiro consultando o relógio e pensando "quanto tempo falta para acabar isto". A tendência é que tal feeling venha a acontecer cada vez mais, as Bandas vão se tornando covers de si próprias, os shows vão se enchendo de babas.

Ou então eu é que vou ficando Velho...


(Nota - na saída, a Marginal estava novamente engarrafada!, desta vez no sentido inverso, de retorno. A ponto de uma jamanta - aquelas cegonheiras que carregam carros novos - dar MARCHA A RÉ EM UMA AGULHA para sair da pista expressa para a local!!! E passamos mais uma horinha dentro do carro, apenas para fazer um trajeto de 8km na "Cidade que não pode parar"...)

(mar/2010)

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