DREAM THEATER
Vivo Rio, domingo 05/out/2014
Pela 6ª vez na vida vou a um show do DREAM THEATER, desta vez no Rio (a primeira também foi, no Imperator no Méier) no VIVO RIO no Aterro do flamengo. É noite de domingo, dia do primeiro turno das eleições para Presidente do País, ainda não sabemos quem passará para o 2º turno; terminarei a noite orgulhoso ou envergonhado?
Vou de Metrô, cada vez o transporte particular fica mais no passado. Atravesso os viadutos para pedestres, e após tantos anos finalmente encontro no Balneá-Rio a galera metaleira tão comum em gigs em Sampa e nas Grandes Galerias, e tão escassa por aqui. É fim de tarde, está escurecendo, e além dos metaleiros de camisa preta, a fauna no lado de fora da Venue é composta por vendedores ambulantes com seus isopores sobre cavaletes oferecendo cerveja, vodka e cachaça a preços módicos, e também alguns mendigos. Tudo acontece em volta da fila, o local do acesso é quase uma festa.
O piso do Aterro é composto por grandes placas de cimento ou pedra, com um razoável espaço (circa 6cm, eu diria) entre elas. E ocupado que estou em encontrar o fim da fila e avaliar os vendedores de smirnoff, me distraio e PIMBA!, afundo o pé em um destes intervalos entre as placas no chão. Quase caio; alguns metaleiros, ambulantes e mendigos fazem menção de acudir, mas me recomponho com rapidez e tento brincar:
- “Eu quase caí porque ainda não bebi nada! Se tivesse bebido, não estava caindo...”
Um Mendigo se compadece de minha situação, se aproxima de mim, aponta para um dos ambulantes e diz com voz séria e compungida:
- “Tome ali uma dose, eu pago para você!...”
O insólito da situação me pega de surpresa, e não penso rápido o suficiente para aceitar; recuso polidamente, sinceramente grato. Mas depois fiquei pensando na oportunidade perdida: um Mendigo ofereceu pagar uma dose de cachaça para mim, e eu recusei! Uma oportunidade que só se tem uma vez na vida, e eu perdi a minha...
No início do show, a projeção de uma animação com os "making of" das capas de todos os discos, uma emendando na outra, formando uma quase-história. A platéia está, evidentemente, em delírio. Nunca fui a um show com tanta gente com camisa da própria Banda que toca no palco, eu mesmo também estava.
Uma nova situação acontece comigo já com o lotado show rolando. Meu cabelo está enorme, e devo ser o único com cabelos brancos (cada vez isto é mais freqüente); lá pelas tantas um cara se vira para mim e pergunta cheio de respeito:
- “Me diga, com toda a sua experiência: posso enrolar unzinho e acender aqui dentro?”
Cabe aqui um parêntesis: as crescentes restrições aos cigarros e ao fumo legalizado acabaram por afetar diretamente o consumo de maria joana em recintos públicos fechados. Antigamente não era possível distingüir se a brasa acesa era de um marlboro ou de um joint, mas atualmente não há mais dúvida: acendeu, é ganja!
Respondo a ele:
- “Há muito tempo não venho a um show no Rio, não sei dizer. Sugiro que você aguarde um pouco e espere mais alguém acender para ver o que acontece.”
Ele ignora a cautela, enrola, acende e fuma à larga. E em pouco me cutuca e oferece:
- “Vai um tapa aí, ô Andy Warhol?...”
Já fui chamado de Einstein e Ritchie, e agora Andy Warhol!!!
É show de fã nerd, a platéia canta tudo junto, sing along, ou melhor, scream along. Como diriam Martin-L e Vasco-N, “platéia bem ensaiadinha”. O guitarrista John Petrucci arrasa, desbunda, arrasa, arrebenta, é um Andreas Kisser virtuose (mas sua enorme barba preta quase-ZZTop está ridícula demais). Seu momento-solo é belíssimo, mas não fica sozinho no palco: os outros 3 músicos fazem um “tema” para que ele sole, apenas o vocalista saiu. Sempre fico querendo que as pessoas estivessem ali comigo vendo, me iludo acreditando que iriam gostar; mas sei que Gloug teria ficado apenas 1 hora, e Martin talvez ½.
Petrucci olha os próprios dedos todo o tempo. O momento keytar é igualmente maravilhoso, e desta vez é o guitarrista quem se une aos demais fazendo fundo para a performance de Jordan Rudess. Já o solo do novo Baterista é realmente solo: tremenda responsabilidade, o cara está substituindo nada menos do que Mike Portnoy, carismático e icônico fundador da Banda e ídolo desta galera por décadas.
É um show do tipo “An Evening With Dream Theater” que eles tanto fazem ao longo da carreira: quase 3 horas de duração, com um intervalo de 15 minutos no qual passa uma colagem de vídeos feitos por fãs com brincadeiras com os clipes da Banda, covers ultra-toscas de músicas e outras paródias; divertido.
A segunda metado do show começa com a AVASSALADORA “The Mirror”, que da mesma forma que ocorre no disco “Awake” emenda com “Lie”. Nesta segunda parte do show eles simplesmente tocam inteiro o “Awake”, que eu adoro. Entendi então que poderia perfeitamente ter convocado os mencionados Gloug e Martin-L para assistir somente à segunda parte da gig.
O palco simula uma garagem de beco com amps. A única vez que eu tinha visto uma guitarra tão alta foi George Kooymans com o GOLDEN EARRING na Holanda. Uma Dama com quem já assistira ao DT duas vezes, e que durante aquelas performances só conseguira falar – “Caralho!” umas vinte vezes, me pediu para falar dois “caralho!”s por ela. Falei vários; foi primoroso, caralho! Tocaram a raríssima “Space-Dye Vest”, caralho!
Se tiver a oportunidade, não deixe de assistir a um show do DREAM THEATER ao vivo, em pessoa. Não é necessário gostar deles para se impressionar: embora tenha diversos discos, eu jamais os ouço, acho chatos. Mas ao vivo...
Caralho!
(Rio, out/2014)
SENSACIONAL!!!
ResponderExcluirShow do ano, sem duvida!
Bem escrito, as usual. Como já não escuto o único disco que tenho do DT (nem lembro o nome) e as chances de ir a um show são mínimas...já viu né ?
ResponderExcluirGuedes, fica o desafio. Quando nos revermos, se a famigerada banda estiver ao vivo, wherever it is, irei contigo.