sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Sem Pisar nas Formigas


Alguns imediatistas com limitados horizontes classificam o andar de cabeça baixa como “derrotismo”, em uma conclusão simplória e maniqueísta de quem só enxerga o Mundo em preto e branco e ignora existirem 50 tons de Blues. Se não, vejamos.

Eventualmente pode-se andar com a cabeça erguida. Olhar voltado para o Céu, para o cimo dos prédios com suas antenas, para o topo das montanhas ao longe, para as nuvens. Remete à nobilíssima postura do Príncipe Valente, que mesmo quando foi escravizado todos sabiam tratar-se de um Príncipe devido a seu porte altivo ao caminhar.

Eventualmente pode-se também caminhar com a cabeça baixa, bem baixa, olhos grudados no chão que desfila. São inúmeras as vantagens: facilita enormemente a concentração do pensamento; propicia a detecção de algumas perigosas irregularidades no piso (e igualmente bolos fecais, também conhecidos como “vidro mole”); evita o contato visual, usualmente invasivo, incômodo e desnecessário.

É claro que andar de cabeça baixa tem o downside de acarretar a perda de visão de algumas opulências, mas até isto tende a ser criminalizado nesta sociedade-patrulha cada vez mais politicamente idiota.

Classificar / carimbar sumariamente o comportamento de quem está andando com a cabeça baixa com qualquer rótulo pré-concebido é desconsiderar que podem existir vários argumentos válidos para fazê-lo. Sugiro ampliar seus horizontes antes de limitar os alheios.


(Nota – Sim, às vezes poderá ser desânimo. Mas se observarmos com cuidado o Meio que nos cerca, concluiremos que apenas os completamente alienados não ficam eventualmente desanimados.)

 
(SP, 23/out/2014)

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