sábado, 20 de fevereiro de 2016

A Resposta Veio do Céu


Não sou exatamente “religioso” – pelo contrário, acredito que a palavra “Fé” seja o antônimo de “Racionalidade” (um dos muitos antônimos). Mas cresci e fui educado na Religião Católica, de forma que minhas referências religiosas sempre estarão relacionadas a este Culto.

Em janeiro de 2011 escrevi um manifesto a respeito da principal oração católica, o Pai Nosso (em http://www.umpandaemsaturno.com/2011/01/minimo-esforco.html). Lá questionava o que considero um excessivo comodismo da oração, onde o Fiel pede que o Pai-Nosso-Que-Estais-No-Céu faça tudo por ele, enquanto O Bom Fiel fica só esperando que no colo lhe caiam o maná e o perdão. Apresentava então uma sugestão de Oração que implicaria uma promessa de esforço e dedicação do Fiel, que se comprometia em batalhar por ser uma Pessoa melhor, e que apenas pedia a ajuda do Pai Nosso para tal.

Enviei aquela proposta de Oração a algumas pessoas próximas (Familiares & Amigos) mais ligadas ao dia-a-dia religioso para saber-lhes a opinião. Emboras alguns mais carolas não tenham compreendido o conceito envolvido (cheguei a ser chamado de sacrílego e ameaçado com o fogo do Inferno, fiquei morrendo de medo!), outros entenderam a mensagem  até me apresentaram outras alternativas e diferentes enfoques. Thanks!

Uma das Pessoas a quem enviei o texto naquele janeiro de 2011 foi a muito querida Tia Mirian, extremamente religiosa. Ela faleceu em janeiro de 2015, a 1 mês de completar 83 anos. Meses depois sua filha Laura estava revisando seus papéis e encontrou uma carta endereçada a mim, e ma entregou.  Reproduzo-a a seguir, pois é a resposta de minha Tia àquela proposta, e também e principalmente uma belíssima análise da principal oração católica.

“Querido sobrinho Marcio,

só hoje chegou a minhas mãos “Um Panda Em Saturno: Mínimo Esforço”. Não quero combater sua imaginação sempre tão brilhante, quero apenas replicar da maneira que eu penso.

Vamos lá! O Céu não é longe, pelo contrário, ele cobre toda a humanidade. Por isso Ele, Deus, está presente junto, cobrindo, protegendo a todos. Acho que Cristo quis que para rezar baste olhar para o Céu e lá está Deus, onde você estiver.

“Venha a Nós o Vosso Reino”
É que o Reino de Deus é algo diferente do Reino da Terra, é um reinado onde há paz, amor, tudo enfim de bom. E aí? Cristo quis que nós tivéssemos isso mesmo aqui na Terra. É um pedido legal, você não acha?

Então o “Pão Nosso”... Esse sim, tem mil e uma interpretações. Ao se pedir o pão de cada dia, se está pedindo uma porção de coisas.

E quanto ao resto da oração, você diz: “é tudo pedido!” Mas foi justamente isto que os Apóstolos pediram a Jesus: uma oração para pedir ao Pai. Lembre-se que os Apóstolos eram homens rudes, pobres, ou melhor: pescadores.

O pedir não quer dizer que se fica sentado de braços cruzados. Você pode estar voltado com o coração para o Céu e trabalhar normalmente com os braços, com a mente, etc.

Bem, Marcio, não quero me estender. Você pode replicar a réplica, sou bastante aberta para ouví-lo.

E quero dizer que gostei também de sua maneira concreta de ver a vida.

Beijos da
Tia Mirian”

Muito obrigado pela resposta, Tia Mirian.
E parabéns pela forma que encontrou de enviá-la!


(20/fev/2016)

3 comentários:

  1. Querido Marcio,
    Li seus 2 textos com atenção e emoção. Na parte da resposta da minha Mãe, as lágrimas eram tantas que eu mal enxergava o que lia.
    Entendo seu ponto sobre a oração e até concordo (apesar que não se mudam textos originais). Mas considero a resposta dela perfeita. Representa a fé, sem perder a racionalidade.
    Bjs.

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  2. Meu caro Marcio,

    depois das palavras de Míriam é difícil acrescentar algo, pois elas vêm de alguém que vivia em comunhão com o autor da oração.

    Em todo caso, vou tentar lhe passar minha visão.

    Divido o Pai-Nosso em dois segmentos.

    O primeiro é de reconhecimento da relação pai-filho.

    Todos somos criaturas de Deus, pois fomos por Ele criados. Mas filhos são aqueles que o aceitam como pai. E fazem a sua vontade.

    Seja feita a vossa vontade significa exatamente isso: a consciência de que a vontade divina é perfeita - embora nossa natureza adâmica espere exatamente o contrário: que Deus cumpra a nossa vontade. Mas quando adquirimos intimidade com ele, vem no mesmo pacote a certeza de que dele só virá aquilo que for o melhor. Devemos expor nossos desejos, sim, mas, com a consciência de que, ainda que não recebamos o que pedimos, o que dele vier será o melhor.

    O segundo segmento é de súplica: a exposição de nossas necessidades.

    A primeira súplica - o pão nosso - engloba, antes de tudo, a benção de Deus para tudo o que fizermos. Absolutamente tudo. Por isso é que não podemos desejar o mal a ninguém. Deus não pode abençoar o mal. Esse pão nosso abrange tudo o que precisamos: fé, alimento espiritual, alimento material, alegria de vida, esperança - tudo, enfim.

    Perdoai-nos as nossas ofensas é consequência do acima. Mais uma vez: nossa natureza caída tende para o mal. Mas Deus nos estende o perdão: um perdão condicional, pois é vinculado ao nosso perdão aos que nos ofendem. E, sem brincadeira: essa condicional é um grande negócio (digamos assim). Deus perdoa nossos pecados contra ele em troca de nosso perdão aos que pecam contra nós. É por isso que quem não consegue perdoar seus ofensores, ao fazer essa oração estará fechando a porta ao perdão de suas próprias faltas.

    Cair em tentação é desobedecer a Deus, assim como o mal é a ausência de Deus. Nossa súplica é que ele nos livre de ambos.

    Realmente, é uma oração perfeita. Em seu conteúdo e em sua formulação.

    Espero ter conseguido traduzir para você meu entendimento do Pai-Nosso.
    Abraço do
    Assis

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