Não sou exatamente “religioso” – pelo contrário,
acredito que a palavra “Fé” seja o antônimo de “Racionalidade” (um dos muitos
antônimos). Mas cresci e fui educado na Religião Católica, de forma que minhas
referências religiosas sempre estarão relacionadas a este Culto.
Em janeiro de 2011 escrevi um manifesto a respeito da
principal oração católica, o Pai Nosso (em http://www.umpandaemsaturno.com/2011/01/minimo-esforco.html).
Lá questionava o que considero um excessivo comodismo da oração, onde o Fiel
pede que o Pai-Nosso-Que-Estais-No-Céu faça tudo
por ele, enquanto O Bom Fiel fica só esperando que no colo lhe caiam o maná e o
perdão. Apresentava então uma sugestão de Oração que implicaria uma promessa de
esforço e dedicação do Fiel, que se comprometia em batalhar por ser uma Pessoa
melhor, e que apenas pedia a ajuda do Pai Nosso para tal.
Enviei aquela proposta de Oração a algumas pessoas próximas
(Familiares & Amigos) mais ligadas ao dia-a-dia religioso para saber-lhes a
opinião. Emboras alguns mais carolas não tenham compreendido o conceito
envolvido (cheguei a ser chamado de sacrílego e ameaçado com o fogo do
Inferno, fiquei morrendo de medo!), outros entenderam a mensagem até me apresentaram outras alternativas e
diferentes enfoques. Thanks!
Uma das Pessoas a quem enviei o texto naquele janeiro
de 2011 foi a muito querida Tia Mirian, extremamente religiosa. Ela faleceu em janeiro
de 2015, a 1 mês de completar 83 anos. Meses depois sua filha Laura estava revisando
seus papéis e encontrou uma carta endereçada a mim, e ma entregou. Reproduzo-a a seguir, pois é a resposta de
minha Tia àquela proposta, e também e principalmente uma belíssima análise da
principal oração católica.
“Querido sobrinho Marcio,
só hoje chegou a minhas mãos “Um Panda Em Saturno:
Mínimo Esforço”. Não quero combater sua imaginação sempre tão brilhante, quero
apenas replicar da maneira que eu penso.
Vamos lá! O Céu não é longe, pelo contrário, ele
cobre toda a humanidade. Por isso Ele, Deus, está presente junto, cobrindo,
protegendo a todos. Acho que Cristo quis que para rezar baste olhar para o Céu
e lá está Deus, onde você estiver.
“Venha a Nós o Vosso Reino”
É que o Reino de Deus é algo diferente do Reino da
Terra, é um reinado onde há paz, amor, tudo enfim de bom. E aí? Cristo quis que
nós tivéssemos isso mesmo aqui na Terra. É um pedido legal, você não acha?
Então o “Pão Nosso”... Esse sim, tem mil e uma
interpretações. Ao se pedir o pão de cada dia, se está pedindo uma porção de
coisas.
E quanto ao resto da oração, você diz: “é tudo pedido!”
Mas foi justamente isto que os Apóstolos pediram a Jesus: uma oração para pedir
ao Pai. Lembre-se que os Apóstolos eram homens rudes, pobres, ou melhor:
pescadores.
O pedir não quer dizer que se fica sentado de braços
cruzados. Você pode estar voltado com o coração para o Céu e trabalhar
normalmente com os braços, com a mente, etc.
Bem, Marcio, não quero me estender. Você pode replicar a
réplica, sou bastante aberta para ouví-lo.
E quero dizer que gostei também de sua maneira concreta
de ver a vida.
Beijos da
Tia Mirian”
Muito obrigado pela resposta, Tia Mirian.
E parabéns pela forma que encontrou de enviá-la!
(20/fev/2016)
Querido Marcio,
ResponderExcluirLi seus 2 textos com atenção e emoção. Na parte da resposta da minha Mãe, as lágrimas eram tantas que eu mal enxergava o que lia.
Entendo seu ponto sobre a oração e até concordo (apesar que não se mudam textos originais). Mas considero a resposta dela perfeita. Representa a fé, sem perder a racionalidade.
Bjs.
Meu caro Marcio,
ResponderExcluirdepois das palavras de Míriam é difícil acrescentar algo, pois elas vêm de alguém que vivia em comunhão com o autor da oração.
Em todo caso, vou tentar lhe passar minha visão.
Divido o Pai-Nosso em dois segmentos.
O primeiro é de reconhecimento da relação pai-filho.
Todos somos criaturas de Deus, pois fomos por Ele criados. Mas filhos são aqueles que o aceitam como pai. E fazem a sua vontade.
Seja feita a vossa vontade significa exatamente isso: a consciência de que a vontade divina é perfeita - embora nossa natureza adâmica espere exatamente o contrário: que Deus cumpra a nossa vontade. Mas quando adquirimos intimidade com ele, vem no mesmo pacote a certeza de que dele só virá aquilo que for o melhor. Devemos expor nossos desejos, sim, mas, com a consciência de que, ainda que não recebamos o que pedimos, o que dele vier será o melhor.
O segundo segmento é de súplica: a exposição de nossas necessidades.
A primeira súplica - o pão nosso - engloba, antes de tudo, a benção de Deus para tudo o que fizermos. Absolutamente tudo. Por isso é que não podemos desejar o mal a ninguém. Deus não pode abençoar o mal. Esse pão nosso abrange tudo o que precisamos: fé, alimento espiritual, alimento material, alegria de vida, esperança - tudo, enfim.
Perdoai-nos as nossas ofensas é consequência do acima. Mais uma vez: nossa natureza caída tende para o mal. Mas Deus nos estende o perdão: um perdão condicional, pois é vinculado ao nosso perdão aos que nos ofendem. E, sem brincadeira: essa condicional é um grande negócio (digamos assim). Deus perdoa nossos pecados contra ele em troca de nosso perdão aos que pecam contra nós. É por isso que quem não consegue perdoar seus ofensores, ao fazer essa oração estará fechando a porta ao perdão de suas próprias faltas.
Cair em tentação é desobedecer a Deus, assim como o mal é a ausência de Deus. Nossa súplica é que ele nos livre de ambos.
Realmente, é uma oração perfeita. Em seu conteúdo e em sua formulação.
Espero ter conseguido traduzir para você meu entendimento do Pai-Nosso.
Abraço do
Assis
Lindo!
ResponderExcluirApenas isso!