terça-feira, 30 de outubro de 2018

Em uma Galáxia muito, muito distante


Era um Restaurante que ele não conhecia, em uma região que não conhecia de uma Cidade que não conhecia.

Chegou e Ela já estava sentada. Aproximou-se por trás, e portanto pôde observá-la cuidadosamente. Blusa branca por baixo de um cardigã branco impecáveis; louríssima, ainda mais do que o habitual; cabelo liso, ainda mais do que o habitual; chiquérrima como sempre. Quando ela se virou e sorriu para ele, teve enorme dificuldade em conter um fortíssimo impulso – ou vontade – de beijá-la na boca. Já haviam saído juntos diversas vezes, Ela era Amiga, Alegre, Divertida, Elétrica, Antenada, Articulada, Talkative, Casada. “Controle-se, deixe para lá, você se deslumbra com muita facilidade”, ele disse para si mesmo, com total conhecimento de causa. E se manteve em seu habitual auto-controle.

Não conseguiu se sentar, pois todas as cadeiras estavam com seus fundos de palha trançada esfarrapados; por mais que procurasse, estavam todas ocupadas ou rotas. Acabou se desentendendo com os Responsáveis pelo Restaurante, que estavam conversando em um outro andar, e para quem ele era apenas mais um Cliente Chato atrapalhando algum inadiável assunto não-profissional.

Quando retornou à mesa já estavam 2 Pessoas sentadas com Ela, conversando, e ele não existia mais.


Em seguida estavam na Praia de Ipanema, na Avenida Vieira Souto. Era um dia frio, à tarde, algo como 17hs no Inverno, nublado forte, garoa finíssima, vento mais do que moderado. Estava tudo deserto, completamente deserto, nem Pessoas nem Veículos passando, ela encostada em um Carro parado estacionado na pista junto ao calçadão e à areia, o olhava ainda vestida de branco, ainda louríssima, mais do que o habitual, cabelo liso, ainda mais do que o habitual, mais atraente do que nunca. Não havia absolutamente ninguém, ele foi se aproximando, ela o olhando fixamente, vento, garoa, frio, até a areia vinha para a pista, ela suportando tudo, encarando sua aproximação com olhar indecifrável. Ele não poderia resistir, tinha que correr o risco, qualquer outro gesto teria sido uma afronta ao Romantismo, a aquela situação, a Ela, ao Mundo todo que pedia aquele beijo, estava claro que o Universo foi criado apenas para aquele momento. E ele beijou aquela boca irresistível, e ela correspondeu, um beijo longuíssimo, delicioso, maravilhoso, ele não queria que acabasse, pelo jeito ela também não, o lugar era perfeito para o momento, cenário, condições climáticas, aquele deserto em meio a uma cidade sempre tão cheia de gente, deixaram tudo para os dois, para aquele beijo que não acabava. E ele estava Feliz, porque não era um Sonho.

Mas era.

Acordou desconcertado, sorridente e alto-astral com aquela belíssima lembrança, porém triste porque Ela não a teria.

Afinal, qual a diferença entre Lembranças e Sonhos, se ambos estão apenas em nossas Memórias?


(Ipanema, 10.jun.2018)

4 comentários:

  1. Uau...que texto! Adorei, de verdade. Greetings from Down Under, Mr. Guedes. :)

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  2. Uau, que demais, Di! Note que escrevi o texto no início de Junho mas somente o postei no final de Outubro; não conseguia me colocar no lugar de quem o leria, e não conseguia imaginar como as Pessoas se sentiriam. Muito bom este seu feedback, obrigado! Greetings from balneá-Rio!

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  3. Saudades do Rio! Tempos bons...
    Achei a última frase desse texto ‘matadora’. Você escreve de forma brilhante, Márcio - and quite entertaining sometimes, indeed! :)
    Great to hear from you. Beijos!

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  4. UAU, Di, que DEMAIS!!!
    Muito obrigado, fico honrado!
    Great to hear from you, too!

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