terça-feira, 22 de junho de 2010

Presentes Exauríveis

Estamos cada vez mais soterrados por átomos. As casas estão entupidas de coisas paradas: roupas, livros, discos, vídeos, baixelas, lembranças.

“Quando possuímos alguma coisa, esta coisa nos possui. Se eu compro um fogão, o fogão me compra.”

A cada mudança, toca a encaixotar, desencaixotar e arrumar a tralha. E a guardar coisas que ficarão por muito tempo sem uso.

“What’s in your backpack?”

O pior é que continuamos a comprar coisas inúteis e desnecessárias, só para afastar a ansiedade. Para nos sentirmos atualizados. Para encontrar fora um significado que falta dentro.

Chega de ter tantas coisas! Nada de dar presentes que fiquem, que permaneçam; pelo contrário, só regalar coisa que se desvaneça e acabe, só coisa que queime ou se exaura: sabonete, shampoo, hidratante, vela, incenso, birita. Ou similares.

Ou então coisas usadas. Coisas que você gostou e achou útil. Um livro que você leu, um disco que gosta mas já comprou a versão remasterizada com bonus tracks (mas não do Rush, por favor!). Ou mesmo um disco que você detestou, mas que acredita que em função do gosto "diferente” do Amigo, ele talvez goste.

Chega de ter tantos átomos. E de continuar empilhando-os. Isto dificulta o desapego e a mobilidade.

E ainda vai transtornar a vida dos outros quando você morrer.

(jun/2010)

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