quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Último Desejo


O Falecimento de Familiar bastante próxima e as cerimônias que se seguem nos levam a algumas considerações íntimas;

Para início de conversa, MUITO CUIDADO com a roupa que você vai usar no velório. Em uma cerimônia bastante reservada, tivemos a presença de uma Senhora (com a melhor das intenções!) vestindo uma camiseta com os dizeres “QUEM SERÁ O PRÓXIMO?” estampando suas preces. Em tal situação, com a presença de diversos octogenários e outros quase, por mais inevitável que seja a existência de um próximo (e de muitos outros mais, na verdade todos nós), não é exatamente o ápice do bom-tom alardear tal conjectura (mesmo que nas costas da camiseta ficasse esclarecido tratar-se de pregação religiosa, com outras frases como “cuidemos do Próximo”, “o Próximo precisa de nós”, etc.)

Uma cremação envolve diversas burocracias, pois implica a completa destruição do DNA de quem se vai. Desta forma, se não ficar muito direta e explicitamente clara a vontade do/a ex-dono/a do Corpo de que deseja ser cremado/a, todos os Filhos & Filhas deverão assinar um documento reconhecido em Cartório concordando com tal destinação. Ora, me escapa a compreensão de tal lógica: afinal, os Descendentes já reconhecidos nada terão a opor à destruição definitiva do DNA, mas sim aqueles que porventura ainda não tenham sido reconhecidos! E ainda, se tal destruição é tão incontornável e definitiva, não seria melhor, mais fácil e garantido deixar um tufo de células ou mesmo um exame do DNA pronto para uma eventual necessidade? (Posso estar falando caca.)

Passa-se a seguir ao inevitável questionamento “o que você quer que façam com seu corpo depois de você morrer?” A pergunta me soa estúpida: ora, eu estarei MORTO, portanto não me faz A MENOR DIFERENÇA o que será feito com meus carbonos. Mas uma vez que tal pergunta deve ser respondida, com o objetivo de simplificar a vida de quem continua por aqui eu manifesto oficialmente meu Desejo Final do que deve ser feito com este corpitcho que foi tão útil para mim (e também para algumas outras pessoas). São duas as alternativas.

UMA, jogar meus restos no Triângulo das Bermudas. Virar alimento para a mais eficiente raça que habita este Planeta, os Tubarões. De quebra, a oportunidade de assombrar alguns incautos.

OU ENTÃO doar o corpo para um bando de necrófilos homossexuais tarados. Já que tenho sangue ruim e não há como aproveitar meus órgãos, ao menos poderei ser útil e dar prazer a alguém mesmo depois de despachado.

Enjoy!

(Rio, jan/2015)

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