segunda-feira, 15 de julho de 2019

Trauma de Infância


No início dos anos 80 namorei Fulana por 2 anos. Éramos um Casal extremamente querido por todos os muitos Amigos, e ninguém – nem mesmo nós – imaginava que algum dia poderíamos nos separar. Mas a ruptura ocorreu em um diálogo inesperado e que durou menos do que 5 minutos. Ela começou a montar um Enxoval, Eu disse que não tinha intenção de me casar, Ela disse que então era melhor nos separarmos, e nos separamos. Foi bastante súbito; Eu tinha ido à sua Casa em um sábado absolutamente normal pela manhã, e em 5 minutos estava de volta à Rua, inesperadamente Solteiro. Foi um tremendo choque para todos, e uma grande surpresa para nós mesmos. Uma semana depois Eu comprava minha primeira Moto, e em dois meses me mudava do Rio para São Paulo pela primeira vez; mas isto é outra história (que no entanto tornou a Separação definitiva).

Alguns anos depois namorei Beltrana. Muitas Pessoas diziam:
- “Nossa, como é parecida com Fulana!”
Eu as achava completamente diferentes, mas muita gente achava que era alguma espécie de “paixão recolhida” por Fulana, e não havia jeito de convencê-los do contrário.

Mais alguns anos, e namoro Sicrana. Gente que não chegou a conhecer a Fulana, dizia:
- “Ela é igual a Beltrana!”
E a história se repetia. Beltrana teria “me marcado”, e Eu a estava buscando em Outra(s).

E a coisa se repete ao longo de nossas Vidas. As Pessoas reduzem seus Julgamentos à percepção e conhecimento limitados que têm. Ora, se Luciana lembra Cristiana e se Mariana se assemelha a Eliana, isto não significa que o Cabra ainda nutra sentimentos por Adriana! A resposta é muito mais simples: aquele é o tipo de Mulher (inclusive fisicamente) que o atrai! Aquela primeira foi tão-somente a primeira a se encaixar no Padrão, mas não se trata de uma Assombração a manifestar-se em noites insones!

Noto que o mesmo ocorre com diversas interpretações pueris de “Traumas de Infância”. Ah, o seu Pai te jogava para o alto e é por isto que você tem medo de altura! Quando era Bebê você viu uma vela no escuro e isto te apavorou, daí você hoje ter medo de fogo! Quando viu seu Pai nadando no Mar você se assustou, e até hoje tem preguiça de tomar banho! ME POUPEM! Milhares de crianças foram jogadas para cima e não têm medo de altura, milhares de crianças viram velas no escuro e não têm pavor irracional de fogo, milhares de Crianças viram o pai no Mar e não se tornaram Cascões. Aquelas primeiras vezes foram simplesmente as primeiras oportunidades de manifestação de algo intrínseco à Pessoa, mas não a causa. Tais outputs são meramente características pessoais, idiossincrasias, não correlacionadas de maneira forçada a ocorrências corriqueiras das infâncias de todos.

Não estou negando a existência de traumas de infância, apenas me colocando contra a vulgarização de seu uso como explicação rastaqüera para comportamentos pessoais. Qualquer coisinha tem logo uma explicação escalafobética pescada nos recônditos de suas memórias longínquas; ora, não sejamos tão simplórios!

Eu não gosto de Fabiana porque ela se parece com Morgana, mas sim porque Ela é intensa, elétrica, dinâmica, entusiasmada, corajosa, surpreendente, inteligente... e mignon. Assim como Viviana e Juliana também eram.

Às vezes, um Charuto é apenas um Charuto.

Aliás, em geral é.


(CopacabANA, 20190714)

(Curiosidade: neste Blog há uma Tag chamada “Perplexidades CotidiANAs”...)

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