Em janeiro de 2001 adquiri uma espetacular mochila FERRINO ZEPHYR 20 litros verde, que trazia uma série de inovações que posteriormente vieram a se tornar padrão em todas as mochilas. Fiquei entusiasmado com a bichinha, e me senti na obrigação de levá-la para um trekking. O destino escolhido foi Machu Picchu, no Perú.
Às vésperas da viagem eu estava com uma gripe e febre tremendas, mas não havia como cancelar - e fui assim mesmo. Chegando a Cusco, por mais que eu evitasse as águas não-engarrafadas, não tive como impedir uma violentíssima diarréia, graças às sopas, chás, saladas, gelo ou mesmo a água que entra na boca durante os banhos ou escovações dos dentes.
A violência das águas marrons do Rio Urubamba era uma pálida amostra de como meu intestino se comportava.
Para piorar, a subida à antiga capital inca é extenuante, com intermináveis escadarias montanha acima. Subimos apenas eu e um Guia local.
É claro que a chegada é mágica, recomendo que se chegue a Machu Picchu somente através da Porta do Sol, última etapa do Caminho Inca. Não é necessário fazer a trilha completa de 3 dias: a trilha "curta" de 1 dia te dará uma exata noção do que é o Caminho (você passa até por um monte de lhamas!), além de propiciar a fantástica entrada pela Porta do Sol que é como Machu Picchu deve ser vista pela primeira vez, de cima. JAMAIS faça todo o caminho de trem, o que leva a chegar à cidade por baixo e tira toda a graça desta primeira visão (a não ser que a pessoa tenha problemas para caminhadas puxadas, é claro).
O fato é que eu cheguei lá em cima MOÍDO, o corpo inteiro doía, todos os músculos e nervos, mais a gripe, febre, diarréia e calafrios. Passeei para lá e para cá. Perguntei ao Guia como se rezava ali, pois eu estava tendo dificuldades em "ajustar o foco"; passado algum tempo, ele me mostrou uma "janela cega" e disse: "Quer saber como se ora aqui? Coloque sua cabeça ali dentro e faça OHM" (é claro que eu fiz, e tudo vibrava). Um pouco mais tarde, ele me mostrou uma caverna que "vai sair em São Tomé das Letras"...
À noite fui dormir em Águas Calientes, ao pé da capital inca, a 6km de distância. Recomendo fortemente este pernoite, não somente para que se conheça com vagar a graciosa cidadela com suas fontes termais como também para visitar uma Machu Picchu completamente deserta na manhã do dia seguinte, antes da chegada do trem diário com as hordas de turistas-de-3-horas; esta introspectiva visita matinal com a cidade deserta não tem preço.
Faltou luz em minha noite em Águas Calientes, mas fui com uma vela em uma mão e uma toalha na outra até o Parque das Fontes Termais. Eu tremia descontrolado e era sacudido por calafrios de febre, cansaço e doença. Estava imundo. Chegando às fontes, entrei primeiramente no tanque de pedras com água a 30°C; quando o corpo se acostumou, passei para o de 32°C; mais alguns minutos, e imergi no de 34°C; e finalmente entrei no de 36°C. Aconteceu então uma coisa maravilhosa: eu simplesmente deixei de sentir meu corpo!, todas as dores foram esquecidas, nada mais me incomodava, eu era apenas uma mente flutuando cercada por poucas velas, pouquíssimas pessoas, e nenhum peso ou dor física. Estava completamente fora do Mundo.
Descobri então que morrer pode ser maravilhoso, você se desfaz de uma carga de 70kg (ou qual seja seu peso), se liberta de tudo. Não à toa Shirley MacLaine teve lá seu 'insight' de outras vidas.
Não deixe de ir a Machu Picchu. Não deixe de subir à pé. Não deixe de ficar em Águas Calientes, e de tomar banho termal lá. Você vai perder qualquer medo que tenha de morrer.
Fotos: desembarque trem e início trilha / Wiñay Wayna / lhama / meu intestino visto da sacada do quarto em Águas Calientes / manhã deserta / oração / passagem para São Tomé das Letras.
(ago/2010)
Às vésperas da viagem eu estava com uma gripe e febre tremendas, mas não havia como cancelar - e fui assim mesmo. Chegando a Cusco, por mais que eu evitasse as águas não-engarrafadas, não tive como impedir uma violentíssima diarréia, graças às sopas, chás, saladas, gelo ou mesmo a água que entra na boca durante os banhos ou escovações dos dentes.
A violência das águas marrons do Rio Urubamba era uma pálida amostra de como meu intestino se comportava.
Para piorar, a subida à antiga capital inca é extenuante, com intermináveis escadarias montanha acima. Subimos apenas eu e um Guia local.
É claro que a chegada é mágica, recomendo que se chegue a Machu Picchu somente através da Porta do Sol, última etapa do Caminho Inca. Não é necessário fazer a trilha completa de 3 dias: a trilha "curta" de 1 dia te dará uma exata noção do que é o Caminho (você passa até por um monte de lhamas!), além de propiciar a fantástica entrada pela Porta do Sol que é como Machu Picchu deve ser vista pela primeira vez, de cima. JAMAIS faça todo o caminho de trem, o que leva a chegar à cidade por baixo e tira toda a graça desta primeira visão (a não ser que a pessoa tenha problemas para caminhadas puxadas, é claro).
O fato é que eu cheguei lá em cima MOÍDO, o corpo inteiro doía, todos os músculos e nervos, mais a gripe, febre, diarréia e calafrios. Passeei para lá e para cá. Perguntei ao Guia como se rezava ali, pois eu estava tendo dificuldades em "ajustar o foco"; passado algum tempo, ele me mostrou uma "janela cega" e disse: "Quer saber como se ora aqui? Coloque sua cabeça ali dentro e faça OHM" (é claro que eu fiz, e tudo vibrava). Um pouco mais tarde, ele me mostrou uma caverna que "vai sair em São Tomé das Letras"...
À noite fui dormir em Águas Calientes, ao pé da capital inca, a 6km de distância. Recomendo fortemente este pernoite, não somente para que se conheça com vagar a graciosa cidadela com suas fontes termais como também para visitar uma Machu Picchu completamente deserta na manhã do dia seguinte, antes da chegada do trem diário com as hordas de turistas-de-3-horas; esta introspectiva visita matinal com a cidade deserta não tem preço.
Faltou luz em minha noite em Águas Calientes, mas fui com uma vela em uma mão e uma toalha na outra até o Parque das Fontes Termais. Eu tremia descontrolado e era sacudido por calafrios de febre, cansaço e doença. Estava imundo. Chegando às fontes, entrei primeiramente no tanque de pedras com água a 30°C; quando o corpo se acostumou, passei para o de 32°C; mais alguns minutos, e imergi no de 34°C; e finalmente entrei no de 36°C. Aconteceu então uma coisa maravilhosa: eu simplesmente deixei de sentir meu corpo!, todas as dores foram esquecidas, nada mais me incomodava, eu era apenas uma mente flutuando cercada por poucas velas, pouquíssimas pessoas, e nenhum peso ou dor física. Estava completamente fora do Mundo.
Descobri então que morrer pode ser maravilhoso, você se desfaz de uma carga de 70kg (ou qual seja seu peso), se liberta de tudo. Não à toa Shirley MacLaine teve lá seu 'insight' de outras vidas.
Não deixe de ir a Machu Picchu. Não deixe de subir à pé. Não deixe de ficar em Águas Calientes, e de tomar banho termal lá. Você vai perder qualquer medo que tenha de morrer.
Fotos: desembarque trem e início trilha / Wiñay Wayna / lhama / meu intestino visto da sacada do quarto em Águas Calientes / manhã deserta / oração / passagem para São Tomé das Letras.
(ago/2010)
Hi Dear,
ResponderExcluirAdorei ler seu post sobre Machu Picchu. Imagino a emoção que você sentiu ao atravessar o portal e se deparar com aquela cidade maravilhosa! Sou completamente parcial ao fazer qualquer comentário sobre os Incas por ser completamente apaixonada pelas civilizaçoes pré-colombianas. Depois de ter sentido a força e a magia que a cordilheira dos Andes tem, fiquei ainda mais envolvida com tudo o que diz respeito a estas civilizações. Vc despertou ainda mais minha vontade de saber e conhecer Macchu Pichu. Espero que vc traga novos posts.
Esse serviu de aperitivo...
Aew Brow blz?
ResponderExcluirShow de bola o seu post!
Eu e 3 amigos da Facul estamos planejando ir para Machu Picchu...
Tem algumas dicas?
me add la: jean015bc@hotmail.com
conversamos
GOD BLESS
abraçs