quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A Teoria da Relatividade e a Cegueira do Corno

Nos anos 70 presenciei um Professor de Física IV na PUC-RJ apresentar uma maravilhosa explicação sobre a genialidade de Albert Einstein.

Ele expôs que a Teoria da Relatividade não é tão difícil de entender – contanto que você saiba que ela existe. O difícil é exatamente descobrir sua existência:
- “É como se eu dissesse que há uma barra de ouro nesta sala de aula: vocês a encontrariam em poucos segundos. O difícil é alguém intuir que exista tal barra e sair procurando por ela, sem nenhuma outra indicação. Foi assim a grande e genial sacada de Einstein.”

Ao longo da vida tenho eventualmente me confrontado com este tipo de situação e confirmado a sabedoria daquele ensinamento. Descobri certa vez um caso extra-conjugal por puro acaso: saíamos de uma aula tarde da noite, éramos um grupo de cerca de 10 pessoas. Como sempre faço, ofereci a uma aluna (que era casada) carregar uma de suas sacolas, que parecia estar bastante pesada. A reação dela foi um “não” desproporcional e assustado; e incompreensível, pois ela já aceitara este tipo de favor (absolutamente asséptico) nas saídas de diversas outras aulas. “Aí tem!”, pensei eu, e observei o grupo. Ela trocou um olhar rápido e quase involuntário com um outro aluno (também casado), o que me acendeu a centelha. A partir de então, foi fácil: passei a observar ambos discretamente, e era evidente que ali tinha coisa. Saímos de férias no final do ano, e quando voltamos os dois sequer se olhavam, tentando disfarçar ao máximo – e com isto dando a mais absoluta das bandeiras. De vez em quando eu os via trocarem olhares durante as aulas. Cheguei a fazer um maldoso teste de verificação: contei alguma barbaridade para ele, apenas para ele e para mais ninguém; e em poucos dias ela me fez uma pergunta a respeito... O curioso é que o tempo passou, o curso acabou, e ninguém jamais descobriu que o affair tinha rolado. Eles eram discretos, tinham pouco contato acadêmico, e se eu não tivesse tido aquele lampejo também teria ficado na mesma escuridão dos demais.

Esta talvez seja a receita para um caso dar certo: jamais despertar a desconfiança do parceiro. Porque depois que a pessoa desconfia, se efetivamente houver algum fundo de razão, adeus: ela vai prestar atenção aos detalhes, e vai descobrir. Porque não dá para esconder a verdade de alguém que esteja atento aos sinais que escapam, por mais disfarçados e sutis que eles sejam (ou tentem ser).

Imagine agora esta situação no Campeonato de algum esporte – digamos, Futebol. Com base em várias histórias que já presenciou, viu, ouviu e leu ao longo de anos, e com base na situação daquele ano específico, você desconfia que uma certa equipe será privilegiada. E passa a prestar atenção a seus jogos. Desde o início do Campeonato, vê diversos lances em diversos jogos nos quais invariável e repetidamente eles são beneficiados – e acompanha também os concorrentes diretos serem contínua e inequivocamente prejudicados. Uma quantidade sucessiva de ocorrências que não admite uma simples coincidência. A coisa fica clara para você – muito clara, e muito evidente.

O problema é que os manés que não acompanharam nada e não prestaram atenção em nada, assim como os que estão sendo beneficiados – ou ainda aqueles que não entendem a Teoria da Relatividade – pensam igual ao Marido Corno, e acham que você está psicótico e com mania de perseguição ou conspiração. E tal como uma Cassandra amaldiçoada, você não consegue explicar a eles que há uma barra de ouro na sala de aula.

Ali, bem ali, debaixo do focinho de todos.


(nov/2011)

2 comentários:

  1. No entanto, pode tb ser o contrario: a pessoa quer acreditar tanto em uma coisa que qualquer coisa eh um indicio para confirmar o que ela quer acreditar. Afinal se procurarmos bem encontraremos relacao quase tudo.
    Bj

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  2. É aí que entra o discernimento.
    Nem oito nem oitenta: nem ver pêlo em ovo, nem ser corno manso...

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