“A diferença que existe entre andar de carro ou de moto
é a mesma
diferença que
existe entre andar em 4 patas ou em 2 patas.”
(Marcio Guedes)
(Marcio Guedes)
Uma viagem a países asiáticos dá a exata dimensão de
como o Brasil está atrasado em sua política de transportes "intracity".
Em muitos países da Ásia, a movimentação
sobre duas rodas tem sempre prioridade sobre a movimentação em quatro. Assim,
em ruas com (p. ex.) 5 pistas, 3 delas são dirigidas às motos e apenas 2 para
os carros, ônibus e caminhões. O resultado prático desta medida é tremendamente eficaz:
sem medo de serem abalroadas pelos desajeitados veículos grandes, as pessoas
migram em massa para os biciclos! E assim o que se vê é uma profusão de
senhoras, crianças, jovens, adultos, trabalhadores, e todo o tipo de gente
andando em scooters, motos pequenas e bicicletas, trafegando céleres, incólumes
e em massa pelas largas avenidas. E mais, sem necessidade de usar capacete,
pois o trânsito intenso ocorre sempre a baixa velocidade, ininterrupto e praticamente
sem acidentes. Não são motos grandes, pelo contrário; e até mesmo os carros,
caminhões e ônibus são civilizadamente reduzidos. Todo mundo tem sua scooter e
a utiliza civilizadamente, e aqueles que precisam usar o carro vão para a pista
lenta, a pista dos quatro-rodas. É uma minoria.
No entanto, embora o Brasil seja pobre como uma Índia,
tentamos aparentar ser ricos como os Estados Unidos. Veículos enormes,
desproporcionais, dispendiosos e inúteis - a não ser para quem tem necessidade
de se exibir para pessoas que se impressionam com isto. O luxo de poucos
sobre as dificuldades de muitos. Priorizar o transporte em quatro rodas é algo
tão estúpido quanto uma cidade do Velho Oeste onde a primazia fosse das
charretes, carroças e carruagens, e não dos cavalos. O escoamento de biciclos
por pistas exclusivas é imensamente mais eficiente do que o escoamento de quadriciclos,
mas o que temos aqui é uma política burra e assassina de deixar motos e scooters (e
agora as bicicletas) espremidas entre os carros, ônibus e caminhões, se
sacrificando para tentar ensinar alguma lucidez.
Imaginemos se todas as motos passassem a ocupar cada uma o
espaço de um carro: o trânsito iria parar
completamente. Agora imaginemos se todos os carros passassem a ocupar cada um o espaço
de uma moto: o trânsito iria fluir
completamente. Um raciocínio simples que mostra a direção a seguir. Mas no
Brasil o transporte inteligente e que ocupa pouco espaço é malvisto, mal gerido
e desincentivado - o que mostra o alcance do cérebro de nossos “rulers”.
É claro que ululam argumentos a favor do conforto, do
comodismo e da preguiça; afinal, o malfeito é muito mais fácil e menos
trabalhoso do que o bem-feito. Mas tais raciocínios defendem o individualismo (do
rico), e não a necessidade da maioria.
Um dos sintomas de maturidade que aguardo desde sempre é
que algum dia o bom-senso e a inteligência prevaleçam sobre o interesse
financeiro (não é difícil vislumbrar quem são os que ganham com o favorecimento dos carros sobre veículos de duas rodas, ferrovias e transporte fluvial). Creio
que aguardo em vão.
Um argumento favorável aos carros que eventualmente se
ouve: “moto é uma coisa feita para cair”. Ora, trata-se do mesmo argumento usado
pelo boi para defender que se ande de quatro!
O futuro é este. O tempo que levaremos para chegar a
ele dará a medida de nosso atraso.
(nov/2013)
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