segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O Maracanã deixou de ser Azul


Uma ida ao Novo Maracanã para um clássico do futebol carioca. E antes mesmo de entrar no Estádio, uma colossal decepção: o Maracanã não mais é azul!

Os elegantérrimos, tradicionalísimos e marcantes ladrilhos azuis que o recobriam foram substituídos por um cimento de uma cor mais adequada à extremidade final de um sistema digestivo.

Um clássico em uma tarde de domingo, mas o Estádio está com funebremente vazio, com menos de 1/5 de sua lotação. Poucas bandeiras de lado a lado. Fica evidente o processo de lento esganamento a que o Futebol Brasileiro está sendo submetido.

Não são somente as bandeiras que são mal recebidas: bumbos e baterias nas arquibancadas se tornaram raridades. Cerveja, só sem álcool; assépticas, como se estivéssemos em um Hospital (talvez estejamos, onde o Paciente que agoniza é nosso Futebol). Os horários dos jogos não são idealizados para torcedores apaixonados, mas sim para quem se aboleta na frente da televisão para ver novela ou os infames e depressivos programas de auditório das tardes de domingo.

O mais claro reflexo deste marasmo são os gritos das torcidas. Deixaram de ser vibrantes e inflamados, e se tornaram muxôxos broxas. Antigamente se gritava (substitua a palavra “time” pelo nome de guerra de seu time):
- “TIMÊ!!! (tum-tum-tum) TIMÊ!!! (tum-tum-tum) TIMÊ!!! (tum-tum-tum)”
Já hoje, a coisa é:
- “Tiii... mêêê... Tiii... mêêê... Tiii... mêêê...”
Parece um enterro.

Pior ainda é quando se conquista um título! Antigamente:
- “ÉCAMPEÃO!!! ÉCAMPEÃO!!! ÉCAMPEÃO!!!”
Viril. Mas hoje:
- “É... cam... pe... ão... é... cam... pe... ão... é... cam... pe... ão...”
Impotente!

O espírito faiscante e entusiasmado do Futebol Brasileiro vai sendo (ou já foi) enredado, domado, pasteurizado. Importamos a frieza européia; torcedor com rédeas, com o reflexo no Campo.

(Poderíamos mencionar ainda a fabricação de ídolos sem o mínimo estofo devida à necessidade de vender chuteiras, camisas, transmissões e notícias; ou então a subserviente insistência de nossos jornalistas terceiromundistas para que os craques brasileiros vão “jogar nas Europas” como símbolo de status adquirido, sem considerar que com isto os adversários aprendem todos os truques e manhas dos jogadores brasileiros, e como enfrentá-los e neutralizá-los. Como diria Burt Ward: “Santa imbecilidade, Batman!”)

A nova cor do Maracanã somente reflete a nova cor de nosso futebol. Deixou de ser azul.

Agora tem cor de rato.

(Rio e SP, nov/2013)

Um comentário:

  1. Como sempre, dei algumas gargalhadas com o desenrolar do texto, apesar da matéria não ser propriamente para risos.
    Recomendo o documentário "Geraldinos", no IMS na próxima quinta-f 16/abr/2015 às 20h!

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