quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O Porta-Retratos

Em 1986 / 1987 trabalhei na Usina Monte Alegre em Mamanguape, na Paraíba, a 60km de João Pessoa na BR 101 no caminho para Natal.

Durante vários meses morei na casa grande da Usina, que tinha diversos cômodos enormes. Eu era o único residente fixo da casa, pois as 3 mucamas que cuidavam da casa e da comida iam embora à noite, deixando-me sozinho naquele imenso casarão escuro.

Nesta época cheguei inclusive a acordar no meio de uma noite com um fragor altíssmo e impressionante, um estrépito trepidante que derrubava as louças e panelas na cozinha, e que passou após longos segundos. Na manhã seguinte soube que se tratara de um terremoto a algumas centenas de quilômetros... foi uma das mais impressionantes experiências de minha vida.

Não sei dormir sem ler na cama, e a casa não dispunha de abajures nas mesinhas de cabeceira. Assim, após a leitura de final do dia, antes de dormir eu tinha que me levantar para desligar a luz do quarto no interruptor junto à porta - um tremendo corta-sono. Mas o casarão dispunha de uma dispensa abarrotada de coisas velhas do tipo panelas, ferragens, fiação, aparelhagens, etc, em um labiríntico emaranhado irresistível para um Engenheiro Mecânico.

Em um sábado me dispus a enfrentar a tal dipensa-ferro-velho com o objetivo de encontrar as peças necessárias para montar / construir um abajur. Comecei a revirar e retirar as coisas, e de forma absolutamente inesperada acabei por encontrar...

... um antigo e pesado porta-retratos com uma foto do casamento de meus Pais, tirada 30 anos antes no Rio de Janeiro!

Fiquei estarrecido e incrédulo olhando aquela peça perdida no interior da Paraíba, e obviamente decidi incorporá-la. Limpei o porta-retratos e o coloquei em meu quarto. Quase 20 anos mais tarde, esta foto foi utilizada no convite para a festa das Bodas de Ouro deles (caso não saiba, fique ciente de que festas de Bodas de Ouro não são organizadas pelo casal, mas sim por seus Descendentes).

Evidente e descaradamente, isto foi um presente dos Deuses. A foto e o porta-retratos original adornam hoje minha sala.

E complementando a história, eu encontrei as peças e montei um abajur-frankenstein. É uma pena que não tenha tirado uma foto dele.

(ago/2010)

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