Anos atrás circulou um rumor que o salário do Rubens Barrichello na Ferrari seria "subvencionado" pela Rede Globo. Afinal, sem um piloto brasileiro de ponta – ou ao menos em uma equipe de ponta – as corridas de Fórmula 1 perderiam todo o apelo para o público brasileiro, e a audiência cairia abaixo até mesmo de outras Fórmulas. Assim, para a Globo era mais barato pagar os tais US$ 5,5 milhões por temporada do Barrica do que perder 10 vezes mais em patrocínios, audiência e status. Fazia sentido. Pelo lado da Ferrari, bastava ter 1 piloto de ponta, era o suficiente; o outro assento era então vendido, para abaixar os custos e faturar algum.
Isto ficou mais evidente quando posteriormente vieram a ocorrer os eventos Schumacher / Barrica, onde (graças a um piti na reta de chegada que certamente não fazia parte do acordo) ficou claro para o Mundo que o brasileiro efetivamente era um Segundo Piloto. Nenhuma surpresa.
A situação se repete com o atual piloto brasileiro na Ferrari, sem tirar nem por, a única diferença sendo talvez um certo “escaldamento” por parte do público brasileiro, que não quer passar a mesma vergonha novamente. E dá-lhe acobertamento, fingimento e hipocrisia, que vinha funcionando, até que...
... até que Fernando Alonso fez uma ultrapassagem humilhante na entrada dos boxes no GP da China, na 4a. corrida desta temporada. O que fez o bravo, orgulhoso e combativo piloto brasileiro? NADA! Baixou a crista, “não quis brigar”, ficou quietinho, humilhou-se. E porquê? É óbvio: porque era - é - o Segundo Piloto da Ferrari. Provavelmente com o salário novamente bancado pela Globo, que não quer perder audiência, a Ferrari fatura, etc. Nada mudou desde os tempos do Barrica: a Massa ainda é a mesma!
Curiosamente, o evento que destapou o estrume não foi uma situação de rebaixamento de um Segundo Piloto. Felipe Massa ter deixado o Alonso passar no GP da Alemanha foi absolutamente normal, pois ele não tem mais como ganhar o Campeonato, e o Alonso sim, embora seja difícil. O que queriam os altivos torcedores brasileiros, que o Massinha fechasse a porta e os dois morressem afogados abraçados? Acorda, galera!!! Puro profissionalismo, jogo de equipe. A atitude foi corretíssima. A única estupidez foi o brasileiro não ter feito a coisa de modo mais sutil, forçando a equipe a dar-lhe uma ordem pelo rádio. Causa espanto, aliás, que isto não estivesse combinado desde os boxes. É mais coerente que tal acerto - da mesma forma que no caso de Barrichello, anos atrás - já estivesse previamente definido, porém na hora da concretização a vaidade do Piloto fala mais alto, e ele faz questão de mostrar ao Mundo que "eu venceria a corrida se não tivesse que cumprir uma ordem". Naquele momento ele não pensa em repercussão negativa, apenas nos louros que estão sendo negados a sua superioridade. Se assim for, o Felipe fez massa fecal; expôs o jogo, e o futuro dele na Ferrari pode estar em perigo.
A não ser que a Rede Globo segure...
(ago/2010)
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
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Assunto polêmico e complicado. Limite da moralidade.
ResponderExcluirAntes de mais nada, precisamos separar o fato do regulamento.
Analisar o procedimento da Ferrari é fácil. Ordens de equipe são proibidas pelo atual regulamento. Então, os dois pilotos deveriam ter sido desclassificados assim como a equipe.
Ao analisar o regulamento, fico em dúvida: A F1 é esporte ou negócio? Paixão ou razão? O vencedor não deveria ser o melhor e vice-versa?
A F1 tem essa característica particular que é o direito de uma equipe inscrever dois representantes simultâneamente numa mesma competição.
Abstraindo o fato de que não resistiria a tamanho sofrimento, imagine se fosse dada a oportunidade do Vasco inscrever duas equipes (uma com a camisa branca e outra com a camisa preta)no campeonato brasileiro. Lá pela 25a. rodada, as 2 equipes vão se enfrentar. O Vasco de preto, ao contrário do Vasco de branco, já não tem mais chances de ser campeão. E aí? O Vasco de preto deixa o Vasco de branco ganhar? Roberto Dinamite dá uma ordem para os jogadores do Vasco de preto "fazerem corpo mole"?
A diferença para o que aconteceu com a Ferrari na Alemanha, a meu ver, é pequena. O Massa fez "corpo mole". Como diz Boris Casoy: Foi uma vergonha. O quadro é agravado dado aos diversos interesses envolvidos: da Ferrari (ou Fiat), do Santander, da Shell, do Alonso, do Massa, dos espanhóis, dos brasileiros, da FIA, da FOCA e etc.
Reconheço não haver sentido no enfrentamento dos dois Vascos para, no final, o título do campeonato ficar para um rival.
Muitos sugerem que o regulamento deveria ser aperfeiçoado para permitir que um piloto possa trocar de posição com outro, da mesma equipe, que não tenha mais possibilidade de ser campeão.
Assim, nas próximas provas, o Massa poderia (ou deveria?)deixar o Alonso passá-lo, amparado pelo regulamento, como o Vasco de preto poderia (ou deveria?)entregar o jogo ao Vasco de branco, visando, ambos, a conquista do campeonato.
Acho o precedente muito perigoso. Se a Shell fornecesse combustível para duas equipes diferentes, estaria justificado que três carros "facilitassem a vida" de um único piloto (ou equipe)com chance de ser campeão ou se a Mercedes-Benz fornecesse motores a três equipes diferentes,poderia preterir cinco pilotos, sem chance de ser campeão.
Acontece que o piloto é considerado o representante de um país. Muitos levam no capacete as cores da sua pátria. No pódio, a bandeira é hasteada e o hino do país do vencedor (muitas vezes com a mão sobre o coração) é tocado. O piloto que entrega a sua posição, aos olhos dos seus compatriotas, estaria se curvando ao país do companheiro de equipe e, reencarnando Judas, "vendendo" seu povo?
Se a F1 é negócio, se deve prevalecer o profissionalismo, se os fins justificam os meios, então, nada de hinos, fora as bandeiras e cores nacionais pintadas nos capacetes e etc...
A solução definitiva (e utópica) seria limitar a inscrição de apenas um piloto por equipe.
Ronaldo(Senna)da Silva