COMITE CLUB, Baixo Augusta, São Paulo, 05 de agosto de 2010
Há vários anos espero para ver um show da dupla belga VIVE LA FÊTE ao vivo. Quase cancelei a subida ao Campo Base do Everest em outubro de 2008 quando soube que iriam tocar em São Paulo naquele mês: afinal, o Everest continuaria lá, mas não sabia quando conseguiria ver o VLF novamente...

Finalmente consegui presenciar o espetáculo de electronic-dance-techno-guitar in loco. Na última hora o Amigo FM decidiu sacrificar horas preciosas de sono, e compareceu ao evento. Marcado inicialmente para as 22hs de uma 5ª feira em um Clube azul para 600 pessoas (quase um Aeroanta) na região central de São Paulo, o espetáculo ficou prometido para a meia-noite mas só começou à 01h30m da matina.
Sob uivos da platéia de todas as idades, iniciaram o show com “Nuit Blanche”, com os 4 músicos totalmente vestidos de preto com uma faixa preta de “Maquilage (c’est Camouflage)” sobre os olhos em estilo Pris, a replicante 'pleasure model' de Daryl Hannah em BLADE RUNNER. Já a louraça vocalista ELS PYNOO trajava colete militar preto... e calcinha! A sucessão de hits só era abafada pela performance exuberante de Els, que não pára de se mexer um único instante, jogando a cabeça e os cabelos de um lado para o outro ininterruptamente. Um jogo magistral de luzes, e a guitarra de DANNY MOMMENS cuspindo riffs como se fosse um Angus Young do techno dance. O baixista lembra um Robert Smith um pouco mais "recheado", o que imediatamente remete ao comentário de SIOUXE sobre o guitarrista do THE CURE quando estes excursionaram junto aos BANSHEES: "ele parece uma salsicha empanada". O tecladista executa o ritmo hipnotizante que caracteriza o VIVE LA FÊTE, e como todas as músicas são razoavelmente parecidas, a todo momento FM brada:
- "É desta música que eu gosto!"
Em determinada altura o ritmo muda um pouco, e ele reclama contrariado:
- "Eu gosto mais daquela outra..."
Quando a execução seguinte retoma a batida característica, ele balbucia com um sorriso de criança marota no rosto:
- "É esta!!! É desta que eu gosto!"

Passam por “La Vérité” e “Machine Sublime”, e tocam até mesmo “Jesus Christ Superstar”. Para mim o ponto alto é a espetacular “Noir Désir”, que executam sem os ups and downs do gran finale original, pelo contrário transformando tudo em uma avalanche sonora, um rolo compressor musical debaixo dos uivos e urros lacerados da loura lasciva de cacinha. Antológico, impagável, inesquecível.
A última música é a irresistível e envolvente “Ev’rybody Hates Me (‘cause I Rock’n’Roll)” do disco novo. Els apresenta então os músicos pelos primeiros nomes, faz biquinho francês para gemer "obrrigadô" e se retira do palco. Os 4 músicos começam a levar som pesado e o fazem por quase 1/2 hora, brincando com o prazer de uma "jam" ao vivo. Encerram com uma versão de "I Wanna Be Your Dog" dos STOOGES na qual o tecladista soca seu keybord com o punho fechado, extraindo o som do piano original da música através de um único movimento repetitivo que mais parece uma masturbação sem imaginação. Mas não é o fim do show: Danny Mommens, o guitarrista / composer / líder da Banda (algo como o Chris Stein da BLONDIE) desce do palco e pega uma deliciosa louraça belzebu quase platinada na platéia, e a leva para cima do palco. Coloca a guitarra nela e continua tocando o riff, abraçando-a por trás; depois pega seus braços e NO PALCO ensina a beldade a tocar a música, e enquanto ela arranha a guitarra amplificada e distorcida, desce novamente e pega OUTRA mulher na audiência e lhe entrega o microfone. Ela fica gritando "Now I wanna / be your dog!", e oferece o microfone a outras pessoas na primeira fila, que têm seu momento de Iggy. Enquanto isto, Danny abandona o palco (- "O cara vazou!" exclama sorridente e incrédulo um barbarizado FM) e o show acaba com baixo, bateria e teclados do VLF fazendo base para duas mulheres da platéia que performam na frente do palco! São 3 horas da manhã, e é a coisa mais punk que já vi na vida.

Saindo do COMITE CLUB, FM e eu subimos a Augusta que fervilha em uma madrugada gelada no inverno paulistano. Porradaria no meio do asfalto, nightclubs com luzes piscando, damas da noite, botecos e moçada. A noite vive. Voltamos para casa felizes com a experiência. Viva a Festa!
(ago/2010)
hahaa que inveja. :(
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