Ele sempre considerou que 99% das pessoas são de boa
índole, e os restantes 1% terminam por aterrorizar a existência daqueles bons 99%.
Assim, se (por exemplo) em um assalto alguém tivesse a oportunidade de reagir e
mesmo perecendo levar um assaltante junto, seria uma troca com saldo positivo
para a Humanidade: afinal, se 1% das pessoas de bom caráter se sacrificassem
levando consigo os 1% de má índole, o que restaria seria 98% da Humanidade
levando uma vida sem sustos, medos ou receios. Um
sacrifício nobre, uma troca vantajosa: “the needs of the many outweigh the
needs of the few. Or
the one.”
A oportunidade se apresentou em um almoço numa
segunda-feira. O restaurante foi invadido por 4 meliantes que saíram saqueando
as mesas aleatoriamente. Um dos assaltantes ficou de costas para sua mesa, e de
frente para o resto dos clientes. Sobre a mesa, os talheres. Ele podia com
tranqüilidade pegar a faca e cravar em local escolhido nas costas daquele um. É
claro que seria fuzilado pelos outros três, mas era a troca justa sobre a
qual já filosofara. Hora de passar do
mundo das idéias para a ação.
Mas... sentada em sua mesa estava Lucía, no nono mês de
sua primeira gravidez. Ele ficou imaginando o trauma que ela teria ao ver seu
colega de trabalho esfaqueando alguém a 1 metro de distância, e sendo morto em
seguida. Seria correto expô-la a isto? Ele titubeou.
Os assaltantes foram embora, por puro acaso sem roubar
a mesa da grávida. No dia seguinte, dois aviões se chocaram com o World Trade
Center em New York, e Lucía não conseguiu segurar tanta tensão. Isola Bella
nasceu, sem saber que antes mesmo de fazê-lo já tinha salvado a vida de duas
pessoas.
(jan/2014)
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