sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Machine Sublime

VIVE LA FÊTE
COMITE CLUB, Baixo Augusta, São Paulo, 05 de agosto de 2010

Há vários anos espero para ver um show da dupla belga VIVE LA FÊTE ao vivo. Quase cancelei a subida ao Campo Base do Everest em outubro de 2008 quando soube que iriam tocar em São Paulo naquele mês: afinal, o Everest continuaria lá, mas não sabia quando conseguiria ver o VLF novamente...

Finalmente consegui presenciar o espetáculo de electronic-dance-techno-guitar in loco. Na última hora o Amigo FM decidiu sacrificar horas preciosas de sono, e compareceu ao evento. Marcado inicialmente para as 22hs de uma 5ª feira em um Clube azul para 600 pessoas (quase um Aeroanta) na região central de São Paulo, o espetáculo ficou prometido para a meia-noite mas só começou à 01h30m da matina.

Sob uivos da platéia de todas as idades, iniciaram o show com “Nuit Blanche”, com os 4 músicos totalmente vestidos de preto com uma faixa preta de “Maquilage (c’est Camouflage)” sobre os olhos em estilo Pris, a replicante 'pleasure model' de Daryl Hannah em BLADE RUNNER. Já a louraça vocalista ELS PYNOO trajava colete militar preto... e calcinha! A sucessão de hits só era abafada pela performance exuberante de Els, que não pára de se mexer um único instante, jogando a cabeça e os cabelos de um lado para o outro ininterruptamente. Um jogo magistral de luzes, e a guitarra de DANNY MOMMENS cuspindo riffs como se fosse um Angus Young do techno dance. O baixista lembra um Robert Smith um pouco mais "recheado", o que imediatamente remete ao comentário de SIOUXE sobre o guitarrista do THE CURE quando estes excursionaram junto aos BANSHEES: "ele parece uma salsicha empanada". O tecladista executa o ritmo hipnotizante que caracteriza o VIVE LA FÊTE, e como todas as músicas são razoavelmente parecidas, a todo momento FM brada:
- "É desta música que eu gosto!"
Em determinada altura o ritmo muda um pouco, e ele reclama contrariado:
- "Eu gosto mais daquela outra..."
Quando a execução seguinte retoma a batida característica, ele balbucia com um sorriso de criança marota no rosto:
- "É esta!!! É desta que eu gosto!"

Passam por “La Vérité” e “Machine Sublime”, e tocam até mesmo “Jesus Christ Superstar”. Para mim o ponto alto é a espetacular “Noir Désir”, que executam sem os ups and downs do gran finale original, pelo contrário transformando tudo em uma avalanche sonora, um rolo compressor musical debaixo dos uivos e urros lacerados da loura lasciva de cacinha. Antológico, impagável, inesquecível.

A última música é a irresistível e envolvente “Ev’rybody Hates Me (‘cause I Rock’n’Roll)” do disco novo. Els apresenta então os músicos pelos primeiros nomes, faz biquinho francês para gemer "obrrigadô" e se retira do palco. Os 4 músicos começam a levar som pesado e o fazem por quase 1/2 hora, brincando com o prazer de uma "jam" ao vivo. Encerram com uma versão de "I Wanna Be Your Dog" dos STOOGES na qual o tecladista soca seu keybord com o punho fechado, extraindo o som do piano original da música através de um único movimento repetitivo que mais parece uma masturbação sem imaginação. Mas não é o fim do show: Danny Mommens, o guitarrista / composer / líder da Banda (algo como o Chris Stein da BLONDIE) desce do palco e pega uma deliciosa louraça belzebu quase platinada na platéia, e a leva para cima do palco. Coloca a guitarra nela e continua tocando o riff, abraçando-a por trás; depois pega seus braços e NO PALCO ensina a beldade a tocar a música, e enquanto ela arranha a guitarra amplificada e distorcida, desce novamente e pega OUTRA mulher na audiência e lhe entrega o microfone. Ela fica gritando "Now I wanna / be your dog!", e oferece o microfone a outras pessoas na primeira fila, que têm seu momento de Iggy. Enquanto isto, Danny abandona o palco (- "O cara vazou!" exclama sorridente e incrédulo um barbarizado FM) e o show acaba com baixo, bateria e teclados do VLF fazendo base para duas mulheres da platéia que performam na frente do palco! São 3 horas da manhã, e é a coisa mais punk que já vi na vida.

Saindo do COMITE CLUB, FM e eu subimos a Augusta que fervilha em uma madrugada gelada no inverno paulistano. Porradaria no meio do asfalto, nightclubs com luzes piscando, damas da noite, botecos e moçada. A noite vive. Voltamos para casa felizes com a experiência. Viva a Festa!

(ago/2010)

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