terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Maioridade

Somadas minhas 3 encarnações nesta cidade, estou completando 21 anos em São Paulo.

Saí da casa de meus Pais para viver na “cidade cinza” aos 25 anos de idade. Morei em bairros diferentes, tive namoros em outros. Com isto conheci toda a metrópole – à exceção do Morumbi, pois nunca me interessei pelo “outro lado da ponte”, que para mim é o Paraná. Sempre me orientando por enormes mapas, acabei por desenvolver a teoria de que a pessoa de outra origem conhece mais uma cidade do que a originária dela - pois por conhecer “tudo” desde criança, esta raramente consulta um mapa.

-“Como é que sendo do Rio você pode gostar de morar aqui?”, perguntam com espantosa sinceridade os paulistas. A resposta não é curta, mas é fácil...

O primeiro motivo é o mais óbvio: é aqui que está o trabalho. Esta é a resposta-padrão da maioria dos “estrangeiros”, é uma grande verdade, e não é necessário se alongar a respeito.

Mas acima de tudo o que mais me fascina é o comércio. A qualidade dos serviços, a facilidade de acesso a tudo. Nenhuma outra cidade DO MUNDO tem a quantidade de hipermercados que temos aqui, a cada esquina. Você encontra de tudo, 24 horas por dia. A cidade é dinâmica, non-stop, fervilhante.

Já escrevi sobre as Grandes Galerias (ou “Galeria do Rock”): não existe lugar no Planeta que chegue aos pés desta maravilha para os amantes de Rock & Variantes. Digo isto com conhecimento de causa, pois sou fuçador compulsivo de lojas de Música & Afins pelo Globo inteiro.

O que dizer das “ruas de especialidades”? A Consolação para luminárias, Santa Ifigênia para eletrônicos, Florêncio de Abreu para ferramentas, José Paulino para roupas, a “Rua das Noivas”... New York, London, Berlin e Tokyo bem que queriam... mas não chegam aos pés!

O Museu do Futebol é bastante posterior a meu estabelecimento em SPCity. Mas é tão espetacular que por si só justifica uma vinda. É sério: viaje a São Paulo nem que seja apenas para visitá-lo!

Sampa City é incomparável em matéria de shows de Rock. Quanta gente passou por aqui e não foi ao Balneá-Rio nem para ver o Mar? Metallica, AC/DC, Aero, Rammstein, isto só para citar os mais recentes (e pesados, pois não tenho ouvido outra coisa).

Já houve épocas em que todos os meus amigos do Rio estavam casados, e todos os de Sampa (inclusive eu) estavam solteiros. Sim, o Rio tem a cabeça mais aberta, SP é bem careta – mas paulistas se separam mais que cariocas, não ficam presos a relacionamentos acabados, partem “welcome back to the circus” na noite que tem gente de todos os lugares do Brasil, sem muitos melindres ou preocupação. E encontram novos – e bons – relacionamentos. Admiro gente que tem coragem de acabar relacionamentos falidos, e neste ponto os paulistas são bem mais evoluídos do que cariocas.

Detesto o tão-amado Parque do Ibirapuera. God-inho, que coisa fake! Parece uma jaula de zoológico, um ambiente postiço, “venham pessoas, este é seu habitat natural”! Pavoroso.

Descer para a praia de carro também não faz o menor sentido para quem sempre morou a 50 metros de distância das praias de Copacabana ou Ipanema e sempre foi à praia à pé e descalço. As engarrafadérrimas voltas de carro subindo a serra, então, nem se fala.

Algumas coisas são sem dúvida ridículas: que expressão é esta, “de ponta-cabeça”?!? A fórmula paulista para “de cabeça para baixo” – que faz sentido – não tem O MENOR SENTIDO!!! Quando você ouvir alguém falar “de ponta cabeça”, esforce-se bastante para se manter sério: é educado e polido.

Idem para “carta de motorista”.

Paulista gosta de música caipira, o que está de acordo: afinal, estamos no Interior. Acho curioso quando falam “neste final de semana eu vou para o Interior”, se esquecendo que já estão a quilômetros de distância do Litoral!

O ponto realmente baixo da cidade é o trânsito: realmente inacreditável, e o pior é que a esmagadora maioria dos carros só tem uma única pessoa dentro... Praticamente deixei de andar de carro, e há mais de 1 ano só ando (por ordem de utilização) a pé, de ônibus, de moto ou de táxi. Meu carro está imundo na garagem, coberto por poeira causada pela inércia. Ele vai durar para sempre, ao menos a casca.

Muito curiosas são as referências a meu sotaque. Metade das pessoas diz: “é, depois de 20 anos aqui você já não tem nenhum sotaque!”, enquanto a outra metade considera que “mesmo com 20 anos aqui você ainda fala com sotaque”! Pessoalmente sou de opinião que alguns cariocas exageram de forma absolutamente ridícula as caricaturas vocais do Rio, forçando chchchiados e arrrraxtados. E quando você fala norrmalmentxe – que é meu caso – os paulixtas nem notam tanto.

Paulista recebe carioca muito bem, realmente gostam de nós. Já o carioca não retribui esta postura, mas sacaneia...

Talvez a maior vantagem de SP sobre o Rio seja NÃO TER a torcida de um certo time de futebol!...

Eu já poderia ter ido embora de Sampa há alguns anos, mas me sinto bem nesta cidade que tão bem me recebe e trata, e que tudo me oferece (exceto Natureza).

A maioria de meus Amigos cariocas já foi embora, mas eu teimosamente fico. Feliz por me identificar com a cidade cinza, feliz por ser um Carioca morando em Sampa, e poder dispor do “best of both worlds”; afinal, “ninguém é profeta em sua própria terra”...

(25/jan/2011)

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