terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A Esposa Na Porta Ao Lado (The Wife Next Door)

O modelo tradicional de casamento já expirou há bastante tempo; no entanto, ainda não foi encontrado um novo desenho para substituí-lo. Apresento a seguir uma humilde (e definitiva) sugestão.

Na Sociedade antiga, tanto o Homem como a Mulher tinham muito a ganhar com o casamento.

O papel reservado para o Homem não envolvia cuidar da casa, cozinha, roupas lavadas, crianças, compras, empregadas e tudo que se referisse às prendas domésticas. O casamento representava então um porto seguro e tranqüilo, onde o Homem encontrava pouso, rango e salvaguarda social sem muito esforço ou compromisso além de levar dinheiro e o próprio corpo para casa.

A Mulher também tinha seus motivos práticos para o matrimônio: afastada do trabalho e incapaz de assegurar sua subsistência fora das asas da casa paterna, restava a ela conquistar um mantenedor que lhe assegurasse a estabilidade financeira e o status de desencalhada. Em troca ela organizava toda a infra-estrutura do Maridão (que não era pouca).

O bônus para o Homem era a certeza (ou quase) da fidelidade feminina. A Mulher não necessita a fidelidade: por mais parceiros que usufrua, ela sempre tem a certeza óbvia de que os filhos são dela, independentemente de quem seja o pai. Já o Homem só terá tal certeza se a Mulher tiver sido semeada exclusivamente por ele. Em outras palavras, a fidelidade só é essencial para o Homem; é uma invenção que só ao Homem interessa. As Mulheres deveriam se libertar deste grilhão, e acabar com o conceito de Fidelidade; mas não é este o foco desta matéria.

Embora tenha imperado por milênios, este modelo de relação motivada pela dependência não tem mais espaço na Sociedade atual, onde cessaram as dependências financeira e operacional. Mulheres e Homens trabalham igualmente, e qualquer um pode comprar comida pronta, congelada ou encomendar um delivery em casa; todo mundo tem micro-ondas e máquina de lavar roupa, carro e faxineira, e a capacidade de operar um controle remoto; ninguém depende mais de um parceiro full-time para prover mais nada.

E isto é muito melhor, pois a função do Companheiro de Jornada não é – ou não deveria ser – prática ou operacional, mas sim de complementação pessoal.

Desta forma, quem se libertar do convencional e da opressão social por ter filhos não vai mais ter motivos para uma convivência forçada full-time com o parceiro. Como li certa vez, "as pessoas confundem Amor com Convivência". Morar junto acaba com o Romantismo: as pessoas deixam de se arrumarem para se encontrarem com seus Parceiros, e passam a se arrumar quando vão encontrar outras pessoas! O cheiro do companheiro deixa de ser uma delicatesse e se torna uma commodity do dia-a-dia (ou do noite-a-noite), esteja a pessoa a fim ou não de dormir acompanhada. O compartilhamento de travesseiros se torna uma rotina (ou uma obrigação, pois só há 1 cama), e não uma opção prazeirosa; o caviar vira feijão. O que dizer então dos flatos? Ou a pessoa os expele na presença do parceiro e empesteia deselegante e desrespeitosamente o ambiente, ou os retém e fica inchado com dores abdominais. (Quem acha que isto não é importante deveria comparecer a uma festa com maioria de Mulheres descasadas falando de seus ex-Maridos).

Estarei então defendendo que não se tenha parceiros? De jeito nenhum! Advogo somente que não exista a obrigatoriedade da convivência ininterrupta. Além de não ser saudável, isto também não é mais necessário.

E qual a solução proposta? Morar próximos, muito próximos, sugiro que no mesmo prédio – mas cada qual com sua casa. Cada qual com seu espaço, com lugar para abrigar eventuais Filhos que não sejam comuns a ambos, ouvir a música que desejarem na altura que desejarem na hora que desejarem, deixar bagunça espalhada quando for o caso, dormir e acordar em horários diferentes – ao mesmo tempo que estão próximos o suficiente para se apoiarem, se ajudarem, jantar juntos e dormir juntos quando adequado. Assim os dois se preparam, se arrumam e se perfumam para se encontrarem; o Romantismo é preservado; a troca de olhares não é uma obrigação, mas uma escolha de cada momento.

Como disse o Vovô, "como duas madeiras em uma fogueira: próximos o suficiente para se aquecerem mutuamente, mas afastados o suficiente para que ambos respirem".

Ainda por cima, muito pouca gente usa as escadas do prédio, de forma que no meio da noite vocês poderão até mesmo subir e descer de pijamas os degraus que os separam, com todo o conforto e discrição.

E se o meu depoimento pessoal servir para alguma coisa, posso atestar que é ótimo!

(jan/2011)

2 comentários:

  1. Como quase tudo que importa na vida, não há receita de bolo para casamento. Good that you find something that works.

    ResponderExcluir
  2. Hi Dear,
    Penso que assim como não ha receita para tomar decisões importantes na vida, tal como criar/ educar filhos, escolher uma profissão...
    Como dizia meu pai, acredito que cada um de nos, ao nascer é um livro sem palavras e à medida que vamos crescendo vamos escrevendo a nossa historia, o que nos faz seres únicos pelas proprias escolhas. E, essa é a grande aventura de viver... Sem receitas sem manuais de instrução... Cada um sabe dentro de si o que o seu coração quer.

    ResponderExcluir