sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Passione

Assisti de forma errática à derradeira “novela das 8” da Rede Globo (a partir da próxima, passarão a ser chamadas “novela das 9”).

Ao longo da trama tudo me levava a acreditar em um final genial, uma virada diabólica que deixaria todos os espectadores com merecida cara de tacho.

O grande vilão da história, o bicho-papão mor é o personagem de Reynaldo Gianecchini. Suas entrelinhas, no entanto, vão muito além de um simples vilão: trata-se de um Vingador, lutando sozinho contra os milionários donos e gestores da Empresa que levou seu Pai à ruína e ao suicídio. Seu afã de vingança é mais do que justificado, além do fato de se tratar de um “Lonely Rider” sem posses lutando contra os abastados e mesquinhos propritários de uma Empresa corrupta. Sim, era ele o grande Herói desta história.

Do lado do Mal estaria evidentemente a péssima Fernanda Montenegro (parêntesis: como é possível que alguém julgue esta cooooisa uma “grande atriz”? Sua expressão é SEMPRE exatamente a mesma, esteja ela angustiada, feliz, ansiosa, preocupada ou dando lição de moral. Uma canastrã que só poderia ser estrela em um País do Terceiro Mundo, sem histórico de cultura ou referências comparativas; o Brasil precisa desesperadamente de ídolos, daí fazer sucesso até mesmo quem não o merece). O desfecho perfeito seria se ela tivesse matado o próprio Marido (Mauro Mendonça em brevíssima participação) no primeiro capítulo. Motivo para o crime não lhe faltava: o defunto tinha escondido um Filho dela, Tony Ramos, e o enviou em segredo para a Itália (Tony, o Totó, deveria se chamar Bocó: um dos mais paspalhões personagens da história, só sabe agitar os braços e esbravejar). Depois Montenegro matou – ou mandou matar - o próprio Filho (Werner Schünemann, tão excelente ator que conseguiu me deixar com raiva de seu personagem) quando este descobriu que a Mãe era assassina do Pai e começou a chantageá-la, para assumir o controle da Empresa familiar (que ele roubava). O resto da Família também é rotten to the core: o outro Filho de Montenegro (Marcelo Anthony) era pedófilo, ou então um enrustido apaixonado pelo filho do motorista da Família (Rodrigo Lombardi) de quem por ciúmes roubou a Noiva, mas infelizmente a auto-censura ou os pudores não deixaram que esta tragédia familiar fosse levada ao ar, e a tal doença do pervert acabou virando um idiótico e palérmico “sexo-sujo-em-banheiros-públicos” que ninguém engoliu. A Filha de Fernanda (Mayana Moura) era uma Mimada insuportável, tendo armado os mais baixos golpes para ficar com – ela também o amava! – o mesmo Filho do motorista. E um neto da Montenegro (Cauã Reymond) era viciado em crack, e roubava a própria Família.

Seria possível se estender longamente sobre um final no qual esta Grande Família vomitasse seus podres e o Espírito-Que-Anda derrotasse a todos e saísse por cima, o que seria mais do que justo e merecido. Mas acima de tudo seria uma enorme lição para os telespectadores, que teriam gratuitamente confiado em gente do Mal, assassinos e manipuladores, tarado e mimada, só por causa da bela mansão e do sobrenome quatrocentão, enfim: só pelas aparências. De quebra Fernanda Montenegro teria o inesquecível papel de Maior Vilã De Todos Os Tempos, pois teria matado o Marido e o Filho e ainda passado por santa. E o Gianecchini teria vingado o Pai, seu Herói de infância que se suicidou a 1 metro de distância do Filho.

Mas não. Tudo se encaminha para um final óbvio, decepcionante, burocrático, previsível e covarde. Fernanda Montenegro, oooh!, é boazinha!, a Madre Montenegro de Calcutá e o bastião de justiça de toda a novela – apesar do marido pulha, filhos calhordas e neto viciado, ou seja, apesar de ser responsável pela Família mais corrupta e desajustada da História. Gianecchini, The Hero, vai se dar mal. E o Totó, o Bocó (isto lá é nome de protagonista?), vai ficar na Itália com a Patricia Pillar, provando que na Globo vale a pena ser mané.

Absolutamente pífio.


Nota – “Passione” primou por personagens insuportáveis: Aracy Balabanian merece um prêmio, pois JAMAIS haverá na televisão personagem mais intragável do que sua Gemma. Carolina Dieckman no papel de múmia paralítica sofredora chegou a ganhar campanha na internet para que fosse assassinada (mas quem morreu foi o Werner). Tinha outros MUITO chatos, mas nada que chegue aos pés destas duas sumidades.

Tudo de ruim? Não: destaque para Gabriela Duarte, maravilhosa e divertidíssima, uma Jessica à altura da Rabbit. E Irene Ravache transformou o que seria um personagem bobo em um pilar da novela.

(jan/2011)

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