Sinto informar que os tão alardeados problemas de
racismo que vêm sendo apontados no Futebol são um caso muito mais sério do que
racismo no Futebol.
Vivemos uma era em que as vitórias se tornaram mais
importantes do que a Honra; mais importantes do que os escrúpulos. No vale-tudo
que se tornou a busca pela vitória, nos defrontamos com todo tipo de baixaria
tais como (por exemplo) água envenenada para a equipe adversária, vestiário do
time visitante esfumaçado sendo impossível respirar, torcida fazendo balbúrdia
em hotéis à noite para evitar que a delegação visitante descanse, jogadores
simulando faltas inexistentes para cavar penalidades, advertências e expulsões,
e todo tipo de falcatrua escorada no princípio “os fins justificam os meios”.
Como o Futebol é o esporte mais popular no Brasil, é no
Futebol que tais manifestações de completa falta de caráter se projetam com
mais veemência. As agressões verbais racistas não são manifestação de racismo de
nosso povo – se o fossem, apareceriam também em outros fóruns sociais– mas diretamente
uma busca de desestabilizar os atletas adversários através de agressividade
baixa e mesquinha, e com isto conseguir o que é considerado o mais valioso: a Vitória.
A Honestidade e a Honra se tornam meros empecilhos a serem superados no caminho
de tal Objetivo Final.
E quem semeia isto? Quem coloca a vitória como o
objetivo único do esporte? São aqueles que colocam estrelas em camisas e
bandeiras de times e confederações nacionais, implicando que somente os
vitoriosos têm lugar em nossa História; são aqueles que determinam que o mais
importante em uma Olimpíada são as medalhas de ouro, em uma evidente afronta à
máxima “o importante é competir”; são aqueles que dão planos de saúde e
ingressos gratuitos pelo resto da vida para atletas campeões, deixando todos os
que representaram aquela camisa mas não conquistaram um título com a certeza de
que não significaram absolutamente NADA naquela História.
Você não conquistou nada? Então você não vale nada!
É só olhar para um Quadro de medalhas: uma medalha de
ouro vale hoje mais do que 15 de prata, ou do que 80 participações. O atleta
que é bem sucedido em um fingimento e que consegue enganar um Juiz cavando um
penalty inexistente ou uma expulsão injusta é louvado por seus companheiros e
aclamado por sua torcida!
Não é de admirar que as agressões cheguem à torcida.
Não se trata de Racismo; é falta de Ética. Falta de Honra. Falta de escrúpulos
e de Moral. Quando jogo botão, prefiro perder por 5x4 a ganhar por 1x0. Esporte
(em minha idílica visão) deveria significar aprimoramento, desenvolvimento,
diversão saudável; e não esta desenfreada e sôfrega busca de afirmação “eu sou
mais forte do que você”, “eu sou mais rápido do que você”, “eu sou melhor do
que você” (variantes do “eu sou mais rico”), “você é pior do que eu, mais
fraco, mais lento”, “escolheu pior por quem torcer” (variante de “eu te
humilho”).
Vencer pode ser bom, mas a Nobreza é muito mais
importante. Infelizmente parece que as pessoas dão mais importância à opinião
dos outros do que à própria (o que também leva à Mentira; mas este é um outro
tópico). E assim, o Esporte – ao menos parte dele – vai se tornando um reduto
de sentimentos sórdidos.
Quem quiser se divertir jogando Botão, estou à
disposição!
(São Paulo, 29 de agosto de 2014)
Gostei, acho que é racismo sim, fruto justamente da falta de honra q vc citou, mas fora isso concordo e extrapolo, dentro de quadra aprendi (e vale pros gramados e por que não, na mesa de botão), conhecemos as pessoas mais rápido, o ambiente esportivo é de competição declarada, e talvez por isso se exponha com rapidez o caráter das pessoas, a que custo buscam a vitória, e indo ainda mais longe, se torna um ambiente onde aparecem sob holofotes e lentes os atrasos que permeiam nossa sociedade.
ResponderExcluirEu acho que a vitória tem que ser valorizada. É um prêmio ao talento, a dedicação, ao esforço e etc... O que não é saudável é a exaltação à vitória, não importa os modos e os meios de obtê-la.
ResponderExcluirO problema se agrava quando passam a ser confirmadas, aceitas e até comemoradas as vitórias obtidas de forma inescrupulosa ou ilegítima. O futebol brasileiro confirma a máxima: Onde não há justiça, não pode haver ética.
Muito bem escrito, parabéns!
ResponderExcluirQue bacana seria voltar aos tempos do esporte amador! Onde tb o atleta competia pelo seu amor à camisa e não pelo dinheiro...
Abr!
Nota: esta postagem - ligeiramente modificada - acabou se tornando uma "pergunta de aniversário" à Rádio CBN, e foi ao ar em 01/out/2014. Está em:
ResponderExcluirhttp://cbn.globoradio.globo.com/grandescoberturas/cbn-23-anos/2014/10/01/O-ARBITRO-NO-BRASIL-NAO-TEM-NINGUEM-PARA-AJUDA-LO.htm