quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

(Hearing Earring 4 de 4) Pink Pop Classic Festival 12/mai/08


O 3o show era já no dia seguinte, o open-air PINK POP CLASSIC FESTIVAL em Landgraaf, perto de Maastricht, 150km ao sul de Breda onde me hospedara para os primeiros dois. Isto significou muita correria: fui dormir às 4, acordei às 8, check-out às 11, estrada. No caminho fui ouvindo o 2nd Live, observando que todo o espetacular instrumental rítmico esporrento está lá, somente acontece que nos shows a guitarra é muitíssimo mais alta. Talvez os discos do futuro venham com opção de mixagem: um instrumento em cada canal, algumas masterizações pré-programadas (“flat”, ”original show”, ”recommended master”, etc) e o ouvinte poderá fazer sua própria mixagem. Tomara.

Programação do PINK POP CLASSIC FESTIVAL (após 16hs):
16:30 – 17:30 FISH
18:00 – 19:00 MANFRED MANN’S BAND
19:30 – 20:30 GOLDEN EARRING
21:00 – não sei UB40

Cheguei a Maastricht às 13h15m, correria absoluta, feriado nacional, área turística sem lugar para parar o carro, busca de hotel, descarreguei carro, esvaziei malas, banho, às 16h15m (15 minutos antes do horário do show do FISH) saí do Hotel. Trajeto de praxe: 25km de estrada, algumas rodadas dentro da cidadezica vizinha Landgraaf onde era o open-air, informações em holandês, estacionamento “Pers & Gast”, exibição do mail com o convite (“you have been included in the Golden Earring guest list”), parei o carro no estacionamento de gasts, mostrei de novo o mail... e pimba, pulserinha vip! Cinco e dez da tarde, entro em uma IMENSA área gramada cercada por tendas, barracas de comida e bebida, arquibancadas em estrutura metálica, feirão de CDs, DVDs, camisetas e todo tipo de rock and roll related materials, stands de official merchandising, um delicioso sol de primavera européia (é segunda-feira mas é alguma espécie de feriado nacional) e no palco FISH & Banda executando “Clutching at Straws” com guitarras distorcidas...

... e tive que cair no choro! Novamente chamando a atenção de todos com aquela camisa amarela (lavada às 3hs da manhã), mas era emoção demais, evento superb, MARILLION alive e meu último show do EARRING, too much for my peaceful heart. Peguei os 20 minutos finais de Derek Dick, ele ainda tocou:
- Clutching the Straws
- Faith Healer
- Incommunicado
- The Last Straw
De barba branca e ficando careca, Fish cada vez mais se parece com Peter Gabriel. Entre uma e outra música, o Peixe falou: - “It is sooo good to be here in Holland, with all these drugs, alcohol, sex and rock’n’roll !...”

Caguei para o show seguinte (Manfred Man, que tocou até um trecho de Smoke on the Water) e fiquei passeando pelo local do mega-evento. Descobri em um stand um disco de George Kooymans “Solo”, que depois Hans Muyson disse com olhos arregalados tratar-se de verdadeira raridade (e o próprio Kooymans, quando lhe mostrei o disco, riu e comentou sobre a capa:
- “Motorcycle Boy!... “).

Mais adiante em outra barraca encontrei e comprei DEZ Golden Earring remasterizados.

Os mictórios eram estranhíssimos, “quadrifacetados”, ao ar livre e misturados com os banheiros químicos femininos.

Showtime às 19h35m. Curioso como tem gente de todas as idades em todos os eventos na Holanda, não tem aquela coisa de “gueto” de idades que temos no Terceiro Mundo. Talvez esta seja uma das razões de serem tão mais cultos: desde cedo vão absorvendo os bons valores dos mais experientes, ao invés de começarem do zero como fazem nossos adolescentes. Na platéia, no gramado, nas arquibancadas, tinha gente não somente de todas as idades como também de todas as formas físicas, todas as roupas e todos os estados de percepção possíveis. Um festival é uma festa, e os holandeses são muito festivos!

3 gigs com o guitarrista que não erra. Para mim, em matéria de shows o ano de 2008 já acabou.

Foi uma versão compacta dos 2 shows anteriores, 10 músicas ao invés da 17 habituais e 70 minutos ao invés dos 125 de praxe. Durante a 4a música (“When the Lady Smiles”) o vocalista atravessou, teve que sustentar, a banda pulou alguns acordes, corrigiu e se acertou. Na seguinte (“Fighting Windmills”), novo erro! A partir daí eu cismei, e em “Long Blond Animal” achei que a banda estava confusa. Talvez fosse a sonorização, pois por outro lado achei que “Radar Love” teve sua melhor versão de todos os tempos, e “She Flies on Strange Wings” comprovou que é O riff. Chorei muito durante o show, estava me despedindo da banda. E o fecho dos 3 dias, “holy holy life, sometimes is lonely, sometimes is sad, but sooner or later they will find you dead”.

Fim de show, saí andando e por sorte encontrei a esposa de Sjaak que ia para o backstage. Minha pulseira era só de “gast”, e não “full access”, mas fui seguindo com ela... e entrei!, atravessei a lateral do palco e fui para o círculo de trailers das bandas no gramado atrás do enorme palco. A esta altura eu já conhecia todo mundo. Conversei com a esposa de George (irmã de Rinus), o motorista (está na foto abraçado com ela; em outra foto Mr. John O’Hello), os membros da banda (“here you are again!”) e até esnobei o FISH que estava sentado na grama a uns 10 metros de distância, bebendo com sua banda. Conheci a filha de Rinus, o filho de George e mais um monte de relatives. A filha de Rinus iria assistir ao show do UB40, de forma que ele iria ficar por ali. Acabei conversando com o cabra por mais quase 1 hora!

Quando saí do show – lembre-se que em alguns momentos achei a banda perdida – fiquei imaginando o que dizer quando me perguntassem sobre a gig. E decidi que falaria sobre Radar Love, pois tinha adorado a versão. E assim foi. Tão logo cheguei aos camarins encontrei Barry Hay, que foi logo perguntando:
- “What about the show?”
- “Best version of Radar Love I ever heard!”
A resposta dele se tornou um lema para mim:
- “If you say so, than it is so!”

SEGUNDA CONVERSA COM RINUS GERRITSEN

R – So what about the gig?

M – Best version of Radar Love I ever heard!

R – That means the others were not so good…

(Este Rinus é uma puta velha!…)

Conversamos – ou melhor, ele falou – longamente sobre futebol.

M – Do you support any team?

R – I like good football. In the past, Ajax (aiax) and Feynoord had good squads, but now they are just average.

Não vou reproduzir tudo aqui. Falou com entusiasmo sobre um goleiro brasileiro Gomes, segundo ele um espanto, não consegue entender como não é convocado para a seleção brasileira. Disse que todos os times holandeses têm 2 ou 3 jogadores brasileiros, garotos novos que usam a Holanda como “escada” para acessar o mercado europeu. Falou sobre crianças jogarem bola na rua no Brasil, o que ajuda a despertar o futebolista, e que não acontece na NL.

(Posteriormente Gloug me disse que eu deveria ter dado a ele a camisa da seleção brasileira durante esta conversa. É verdade, não me ocorreu no momento, verdadeiro insensível).

Mostrei os discos “remasterizados” que tinha comprado e perguntei se a banda de alguma forma participa do processo de remaster. Ele manipulou os discos com desprezo.

R – This is old stuff, from the time of Red Bullet Records. They are trying to make new money from worn things. (Obs – não tenho certeza se “worn” foi o termo utilizado).

Rinus definitivamente não gosta de olhar para trás. Glauco encomendara uma pergunta para George Kooymans: - “Have you ever played ‘The Lonesome D.J.’ alive?”; Kooymans respondeu que pouquíssimas vezes, mas que esta é uma excelente música para os acústicos, e que ia pensar em incluí-la em um próximo “Naked”. Portanto, se pintar um Lonesome D.J. acústico, devemos a Glauco Guedes. Fiz a mesma pergunta a Gerritsen. ‘The Lonesome D.J.’ é de SWITCH, álbum de 74, e portanto a resposta não me surpreendeu:

R – We sometimes put songs on albuns and when we play them alive they don’t work. I do not know if this is the case of this song – in fact, I don’t have the slightest idea of what song you’re talking about!

M – Do you ever listen to old albums?

R – Never.

M – Even if it’s only to remember the songs, maybe one could be included in a tour…

R – Never. I also do not see the videos. I do what I feel at the moment, it is pure improvisation, not rehearsed. I enter into a trance during my solo, and afterwards I don’t want to see myself lying on the ground, rolling on the ground with the bass, or licking it. That’s me?!? No! That’s not me!

Ele me apontou a família, o irmão empresário, a irmã que é esposa de George. Eu já estava íntimo o suficiente para dar uma sacaneada:

M – In Australia I saw a shirt written: ‘Don’t Yoko my band!’

R – (rindo) Have you ever seen the movie ‘Spinal Tap’? You got to see it, it shows everything that happens to a rock band, everything! When you have success, when you fall, the influence of relatives, the clichés, “let’s go to Japan”, the guitar player surrounded by new guitars still factory sealed, the expectation of releasing a new record and only 3 fans showing up for the autographs, it’s very funny! You keep imagining who wrote it, because it’s everything there!

As últimas palavras que Rinus me disse foram as mais marcantes:

R – Sometimes in a gig nothing works out well. Yesterday (AJOC Festival, De Ronde Venne) nothing was good: I had problems with equipment, sound failed, you go out home thinking ‘I don’t wanna do this anymore’. But in the following day there is a good show – I think today was very good (curiosamente eu tinha achado este 3o. show o menos bom) and then it is OK. And then we have someone like you coming all the way from Brazil only to see us, and that makes us think: we’re doing it well, it is worth, that’s what we play for. Thank you for coming, those things are good for us, are very important, make us want to continue.

Eu tinha pensado em terminar este relato dizendo “se você tem dúvidas se os deuses existem, eu sou testemunha que sim. Convivi com eles durante 3 dias”; mas nem isto Rinus Gerritsen deixou de pé:

R – You have lived with us for three days, have seen our lives, have seen our families. You have seen we are only common people.

Não Rinus, vocês não são pessoas comuns; são deuses que levam a vida de pessoas comuns.

Voltei para casa dirigindo muito devagar, curtindo a enormidade disto tudo; de ter George Kooymans me falando: - “See you next time!”.

Holy holy life.

Nota – setlist GOLDEN EARRING at PINK POP CLASSIC:
1 – TWILIGHT
2 – 45 MILES
3 – LEATHER
4 – LADY SMILES
5 – FIGHTIN’ WIND
6 – LONG BLOND
7 – GOIN’ FOR THE RUN (different intro)
SOLO BAIXO
8 – RADAR (best version ever)
ENCORE
9 – SHE FLIES (riff espetacular)
10 – HOLY LIFE

(mai/2008 – jan/2010)

Nenhum comentário:

Postar um comentário