sábado, 16 de janeiro de 2010

Palestra na Casa de Espanha

(Palestra proferida na Casa de Espanha / RJ no dia 24 de julho do Ano Santo Compostelano de 1999)

O CAMINHO FRANCÊS A SANTIAGO E FINISTERRE

Gostaria primeiramente de agradecer a Clarice Ferté por manter o Caminho vivo em todos nós, Peregrinos. É claro que quem faz o Caminho nunca vai esquecê-lo – mas sem nossa Primeira Dama ele nunca seria tão incandescente em nossas vidas como ela o torna.

O que vou apresentar aqui são muito mais as anotações e memórias de um Peregrino do que o resultado da pesquisa de um historiador. Desde já peço desculpas por algumas imprecisões.

O Caminho sempre começou da porta da casa de cada um até o seu destino final. Lembrem-se que estávamos no Século IX ou mesmo antes, e não existiam aviões, trens ou ônibus para levar o Peregrino até um “ponto de partida”. A pessoa saía de sua casa até Santiago – ou Finisterre, falaremos sobre isto mais tarde – e depois voltava. Tudo a pé ou a cavalo.

Para quem vem andando de qualquer lugar da Europa – Itália, Bélgica, Holanda, Alemanha – na direção da Espanha, passar pela França é obrigatório. Talvez por isto o Caminho Francês seja considerado o “Caminho de Santiago por excelência”: a França se tornou uma “porta de entrada” para o Caminho ao Norte da Espanha, à exceção dos peregrinos portugueses – como nosso amigo Aurélio já contou – ou dos espanhóis – a Via de la Plata do José Roberto. Aliás, os espanhóis se aproveitam do fato do Caminho estar “em sua casa” e o aproveitam de uma forma bem mais íntima: pais percorrem com os filhos, peregrinos que fazem a peregrinação em vários anos – andam 300 km em um ano, voltam para casa, nas próximas férias retornam para mais 300 km, até completarem. Fazem “passeios de 1 semana” pelo Caminho.

Devido a seu forte apelo religioso, a rota de peregrinação teve uma enorme importância como foco da resistência cristã à invasão muçulmana na Andaluzia (sul da Espanha) nos primeiros séculos deste milênio.

PORTA DE ENTRADA

São 4 as principais vias de acesso da França ao Caminho; 3 delas (vindas de Paris, Vezelay e Le Puy) se encontram em Ostabat, pouco antes de Saint Jean Pied de Port. Muitos brasileiros começam seus trajetos nesta última cidade francesa, ao pé dos Pirineus. Isto se deve à grande influência do Paulo Coelho e seu “Diário de um Mago”, que começa lá. Bem, eu também comecei lá, em minha peregrinação na primavera / verão de 1996.

Uma das perguntas mais comuns entre peregrinos – talvez a mais comum – é:
- “Aonde você começou?”
Esta é uma das vantagens de começar em Saint Jean. Sua resposta é:
- “Comecei na França!”
, resposta que provoca – “Oh!”s tão mais admirados quanto mais perto de Santiago você estiver.

Me pediram que contasse algumas experiências pessoais do Caminho, então vou inserir algumas aqui e ali. Saint Jean me deu um emocionante início de Peregrinação. Eu estava naquele nervosismo inicial, já tinha falado ½ hora com Mme. Debrill, carimbado a credencial, pronto para sair. Nervoso, parei no Portal dos Peregrinos, me concentrei e pensei:
- “Vou começar. Mais um peregrino no Caminho de Santiago.”
No mesmo momento todos os sinos da cidade começaram a tocar! Fiquei ali parado, imobilizado, cercado por aqueles sons celestiais, já emocionado antes de dar o primeiro passo! Foi um belíssimo “bem-vindo” que recebi do Caminho. (Depois eu entendi que era meio-dia, mas isto não muda nada).

Falam maravilhas da vista no alto dos Pirineus, onde “o Peregrino sente que pode tocar o Céu” – infelizmente não sou eu quem poderá contar. Estava um tempo horroroso, um frio terrível, muita névoa, não via nada à frente, uma tremenda pirambeira Pirineus acima, assustador para um primeiro dia de Peregrino.

Também não dá para descrever a emoção que é estar no meio do nevoeiro, no meio do silêncio, no meio do nada, e de repente cara a cara com a Virgem dos Pastores. Mas entra aqui mais uma historinha pessoal. Quando ia descendo, já no lado espanhol, em um determinado momento eu tinha a alternativa de seguir pela carretera sinuosa ou em frente pelo meio da floresta, em linha reta. Setas amarelas nas 2 direções. Consultei o mapa – ou xerox de mapa, que é o que eu tinha para aquele trecho – e as duas alternativas serviam. Eu estava encharcado, enregelado, exausto e com pressa, e optei pela linha reta, mais direta, pelo meio do mato. Havia um rebanho de ovelhas à beira da estrada, e quando eu saí da estrada e entrei pelo mato elas começaram a balir. Desci mais um pouco e elas:
- “BÉÉ… BÉÉ…”
Parei e elas pararam. Pensei:
- “Será que é comigo?”
Não, não era possível. Continuei descendo pelo mato e elas recomeçaram:
- “BÉÉ… BÉÉ… BÉÉ…”
Parei de novo. Elas pararam de novo. Não era possível! Continuei descendo – afinal era o caminho mais direto – e as ovelhas balindo! Até que consultei o mapa de novo e lá estava escrito em letras pequenas: com tempo ruim, o peregrino deve seguir a carreteira, pois o mato fica escorregadio e perigoso! As ovelhas estavam balindo comigo! Subi tudo de novo em meio à névoa e ao silêncio. Cheguei próximo a elas e agradeci:
- “Béé… Béé…”
E segui pela estrada.

Em Roncesvalles, primeira cidade do Caminho Francês em solo espanhol, temos a famosa Colegiata, fundada no século XII, um dos primeiros exemplos da arte gótica na Espanha, muito bem restaurada. A Missa dos Peregrinos é tão bela e significativa que chega a ser obrigatória.

A Mme. Debrill tinha me avisado para seguir as setas amarelas, e não as marcas vermelhas e brancas que segundo ela são feitas por “desportistas”. Fiquei com o pé atrás com aquelas marcas vermelhas e brancas, e só muito depois eu vim a entender que elas são feitas pelos franceses; são a marcação do Caminho Francês. São muitos os franceses no Caminho, tenho a impressão que eles tomam conta do Caminho também. Era muito comum algum francês ficar embromando no refúgio até o último peregrino sair – em geral, eu. Acabei pegando confiança, e mais de uma vez optei por seguir a marcação vermelha e branca pelo meio do mato ao invés das setas amarelas pela carretera segura.

Pouco antes de Puente la Reina, sobre a 4ª via francesa (vinda de Arles via Somport e Jaca) se encontra Eunate, uma das pérolas do Caminho: é um templo funerário octogonal com disposição semelhante ao Santo Sepulcro, em Jerusalém. Lá conheci uma forte - e bela - Feiticeira, que voltei a encontrar aqui e ali ao longo do Caminho.

A partir de Puente la Reina todas as vias se juntaram e só há um Caminho Francês.

SENTIDO OESTE E A VIA LÁCTEA

O Caminho Francês tem uma característica geográfica bem marcante: caminhamos para o Oeste, sempre. Como quase sempre se caminha de manhã - ou ao menos antes da 1 da tarde, quando o Sol fica inclemente – acabamos seguindo a sombra; nossa própria sombra indica sempre o caminho a seguir.

A noite temos a Via Láctea bem acima de nossas cabeças, também na direção Leste-Oeste. Indicando Santiago lá na frente.

Conheci um inglês muito engraçado – Steve, epilético, que bufava muito com seu equipamento totalmente inadequado (mochilão desconfortável, jeans) – e morria de calor. Uma vez comentei com ele que de dia nossa sombra apontava Santiago, e à noite era a Via Láctea:
- “Santiago is at the end, there!”
Steve retrucou:
- “Like a pot of gold at the end of the rainbow!…”

CIDADES GRANDES

Ao longo do trecho espanhol do Caminho Francês passamos por 3 cidades grandes – Pamplona, Burgos e León, além da própria Santiago de Compostela. As cidades grandes não são boas para o Peregrino – não tem nada a ver você de mochila, calça de selva, cajado e cantil no meio de carros, trânsito e gente de terno. Ainda por cima os refúgios são ruins e tumultuados. Nas cidades grandes eu sempre tirava um “day-off”, me hospedava em hostais – a US$ 8 ou 10 – e virava turista. Fazia compras, descansava, visitava, andava sem botas. Uma parada uma vez por semana chega a ser obrigatória, para o corpo e a cabeça. Fica tudo em dia e você fica louco para voltar para os campos.

Para quem quiser caminhar à noite, recomendo o trecho entre Sahagun e Mansilla de las Mulas. São 35 km de estrada de terra no meio do deserto, somente com uma estrada de ferro ao longe. De 9 em 9 metros há um arbusto que há anos tenta virar alguma coisa. Um calor infernal, um tédio absoluto. Não há como se perder, e creio ser esta a melhor oportunidade para caminhar se guiando pela Via Láctea.

HOSPITAIS

Os hospitais atendem os peregrinos de graça. Eu me machuquei seriamente duas vezes e sempre fui muito bem atendido – menos nas cidades grandes. Uma vez – em Frómista – eu bati na porta do hospital bem cedo, antes de começar a caminhar: ele estava fechado. Bati, bati (eu precisava ser enfaixado, tinha quebrado uma costela) até que veio uma enfermeira, me viu, virou para dentro e gritou:
- “Un peregrino!”
Ela abriu a porta e fui muito bem atendido por umas 3 pessoas. Quando ela estava me enfaixando, eu perguntei:
- “Você já fez o Caminho?”
Nunca esqueci a resposta:
- “Não… mas o Caminho não está dentro de cada um?”

Em resumo – hospital te trata muito bem.

Aliás, o povo espanhol te trata muito bem. Adoram peregrinos, adoram brasileiros. Sempre me chamavam para tomar um golinho de vinho e conversar. E quando sabiam que eu era brasileiro se desmanchavam:
- “Ya estuve en Brasil!”
- “Tengo un hermano que vive allá!”
- “El año que viene me voy a Brasil!”
- “Ronaldinho!”
E queriam que eu bebesse mais vinho…

Eu gostaria de aproveitar esta oportunidade e o fato de estar na Casa de Espanha para agradecer a todo o povo espanhol por nos tratarem tão bem e por proporcionarem ao Mundo esta experiência única.

O VINHO, por si só já seria um motivo para se fazer a peregrinação pelo Norte da Espanha. Esta é uma ótima região de excelentes vinhos: La Rioja, El Bierzo. Eu aprendi – e aprendi com um Padre – que um vinhozinho pela manhã é ótimo para dar pique. Tomei muito vinho às dez, onze da manhã, quando começava a cansar. Tomava também muito vinho no jantar. E vinho no Porrón. Temos até mesmo uma fonte de vinho no Caminho, em Irache. A Espanha – ou melhor, o Caminho Francês – foi o meu grande “iniciador” na arte da degustação de vinho.

Dois lugares particularmente encantadores me ocorrem. Um é San Juan de Ortega, um mosteiro construído no meio do nada exclusivamente para abrigar peregrinos. É um lugar especial, só tem peregrinos, missa especial à noite, visita às catacumbas do mosteiro guiadas pelo Padre Jose Maria, jantar com comunhão, debates, um ótimo tanque para lavar roupa – item importantíssimo para o peregrino – e um café da manhã fornecido pelo Padre e reforçado com alguma beberagem… (o tal aprendizado mencionado há pouco).

O outro é Astorga, uma graça de cidade elevada com dois monumentos que valem uma parada turística: o Palácio dos Caminhos do Gaudi e a majestosa catedral. À saída vale a pena desviar do Caminho por 5 km para conhecer Castrillo de los Polvazares, uma cidadezinha toda de pedras – dos telhados ao piso das ruas.

O Caminho Francês é cheio de belas histórias, de lendas e de milagres. Eu poderia passar horas aqui falando da Ponte do Passo Honroso, de Santo Domingo de la Calzada – onde la galiña cantó después de asada -, do Cebreiro. Mas o peregrino vai descobrir tudo.

Quanto mais perto vamos chegando de Santiago, mais gente encontramos. É claro: tem aqueles que começaram em Pamplona, soma os que impiezaran em Burgos, mais os de León, até Sarria, a 100 km que é a última onde se pode começar e ainda ganhar a Compostelana. É cada vez mais gente, grupos de estudantes religiosos, turistas, mochileiros; a peregrinação vai deixando de ser introspecção e virando festa. E você perde sua intimidade com a Natureza.

Embora a versão corrente do nome Compostela seja bastante romântica (viria de "Campus Stellae", campo de estrelas, avistadas sobre a cova do Apóstolo) a verdade é que a origem do nome é "Compositum Tellae", ou seja, Cemitério: o corpo de São Tiago (Jakob, Iago, Jacques, James) teria sido encontrado em um cemitério, e é sobre ele que se ergue hoje a majestosa Catedral.

A chegada a Santiago chega a ser decepcionante: cidade confusa, poluída, turística, cheia de gente, foi o único lugar onde me perdi (2 vezes!). Ainda por cima representa o término de dias tão gratificantes. É claro que há todo o ritual de missa com Botafumero, comer de graça no Parador 5 estrelas dos Reyes Catolicos, 3 dias em um refúgio com armário (!), mil lojinhas e restaurantes. Mas não era isto que eu queria após 43 dias de caminhada, e assim resolvi seguir até Finisterre, embora todos me recomendassem o contrário (com os mesmos arqumentos que usavam para tentar convencer a não fazer o Caminho: “Não há nada para se ver no caminho”, “É perigoso”, “Não tem onde dormir”, “Vá de ônibus”, “Os cachorros não são presos” e “Siga a carretera”). Mas a esta altura você já aprendeu a graça da coisa, e quer mais é seguir em frente.

FINISTERRE

O Caminho de Santiago está em verdade sobre uma antiquíssima rota de peregrinação até Finisterre, o "Fim da Terra" dos antigos, quando a Terra ainda era plana. Ali o Homem ia se defrontar com o Fim, com o seu fim, com a Morte, tão bem representados pelo pôr do Sol no imenso oceano sem horizonte. Ali também o Homem se encontrava com o Renascimento, igualmente bem representado pelo nascer do Sol no dia seguinte. Rituais de Fecundidade são representados em pinturas na pedra em imemoriais ruínas. Em um “Leito do Santo” na Capilla de San Guillermo (na pedra) as mulheres inférteis tentavam engravidar (religiosamente abençoadas).

Finisterre assim reprentava (representa) não somente o fim de uma jornada, mas também o início de uma outra: a volta. O reinício, o recomeço, estando o Peregrino agora mudado. Os rituais não poderiam ser mais significativos: depois de ir até o fim da terra (onde há um Farol), você desce até o mar onde devolve sua Concha ao Oceano, queima suas roupas de Peregrino/a, mergulha totalmente nu/nua (em uma água gelada) e vê o Sol se pôr (ou morrer) no Mar. E então, retorna ao Mundo. Renascido.

Não dá para cumprir este ritual de consagração de ônibus…

Em 1996 era muito difícil conseguir informações sobre como fazer este trecho à pé. Mas consegui alguns péssimos mapas e segui. Aqui se acabaram as setas amarelas, os refúgios e os cachorros presos. Agora estamos andando sobre mato desconhecido, guiados por bússola e feeling – felizmente após 760 km teu feeling de caminhante está tinindo!

1º DIA

Não há o que questionar no primeiro dia: o trajeto é até Negreira, a 20 Km. de Santiago. São 20 quilômetros em condições bem diferentes das que você está acostumado, portanto não pense que vai percorrê-los no mesmo tempo e com a mesma calma dos últimos tempos de Peregrinação (a Galícia nos deixou mal acostumados...). Primeiramente um pouco de mato; depois uma perigosa carretera; finalmente você começa a caminhar pelas estradas comarcais. Povoados graciosos e gente simples e simpática. E subidas puxadas sob sol escaldante.

No meio do trajeto, uma pérola: Ponte Maceira, com uma enorme e maravilhosa ponte medieval, uma das mais bonitas do caminho – e com uma vista extasiante. Do outro lado da ponte a Capilla de San Blás, o padroeiro das doenças da garganta: não deixe de tomar um pouco da água de sua fonte (aliás, pode encher logo o cantil com esta geladíssima água santa!…).

Negreira tem pensões, restaurantes e mercados: é fácil se virar.

2º DIA

No segundo dia a coisa complica: a próxima pensão fica em Ceé, a 44 Km. de Negreira e 12 Km. antes de Finisterre; ou seja, você vai ter que achar alguma coisa no caminho. E este caminho vai sendo feito a cada passo. Esta é uma caminhada que faz um bem enorme. Você fica sozinho, longe daqueles grupos de turistas que infestavam o Caminho nas últimas dezenas de quilômetros; se perde muitas vezes, tem que conversar com todo mundo, traçar o próprio caminho. Cada pessoa com quem você conversa te dá uma idéia diferente de por onde prosseguir, cabe a você decidir. Você escolhe subir um morro ou contorná-lo (eu escolhia subi-lo) ou aonde vai atravessar os rios.
Em um trecho absolutamente deserto comecei a ser acompanhado por uma manada de vacas, do outro lado de uma sebe de espinhos depois de uma vala. Não tive dúvidas: atravessei a vala e me enfiei na sebe, esticando as mãos para que as vacas a lambessem. Naquele momento não conseguia entender como algum dia eu já tinha usado terno… Aliás, até hoje eu ainda não entendo.

Para encontrar onde dormir desviei-me 4 Km. do rumo e fui dormir em Picota (capital do município de Mazaricos), próxima a Lagos, 26 km. depois de Negreira. Não havia hotéisou pensões, e tive que alugar um quarto de uma casa em construção para ter um teto e um banheiro.

3º DIA – CAMINHO REAL

No último dia peguei um tempo igualzinho ao do primeiro dia nos Pirineus: nevoeiro, frio, não via nada. Andei para lá e para cá pelo Caminho Real. Me perdi e me achei várias vezes em minúsculos povoados de 5 casas entre as montanhas. Parecia que no primeiro dia eu tinha atravessado um portal, e agora estava saindo!

E de repente, à distância, 2 meses depois… você enxerga o Mar. Enxerga o Fim da Terra. Você chegou.

Finisterre é a mais maravilhosa recompensa que se pode encontrar ao fim desta Peregrinação. Uma cidade de pescadores acostumada a receber turistas de um ou dois dias. Ali fiquei por toda uma semana, bebendo vinho, comendo os mais deliciosos peixes, escrevendo muito e visitando inacreditáveis lugares: o Farol do fim do Mundo, com seus penhascos que te trazem todas as perguntas (e a certeza da inutilidade das respostas); a Praia do Mar de Fora, ideal para o ritual final do Peregrino e banhos de mar sem roupas; a praia da Langosteira com sua cor incomparável; uma segunda visita ao Farol à noite (sempre a pé); as belíssimas imagens de santos na Iglesia Paroquial de Santa Maria das Areas; o enorme quebra-mar; e tudo mais que você vai conhecer lá.

Fiquei em uma pensão chamada Casa Velay, em um quarto de frente para o belíssimo mar em uma inesquecível enseada. Restaurantes existem aos montes, mas não deixe de visitar os que ficam em frente ao porto. Nas Galerias Pérez se encontra informação, souvenirs, literatura e receptividade da sra. Lourdes. Na prefeitura você carimba sua credencial (carimbei até meu passaporte!) com o ‘sello’ “Fin da Ruta Xacobea * Consello de Fisterra”. E no Patronato (e não na Igreja) você obtém o último carimbo. Se der sorte, a sra. Pilar escreverá em sua credencial: “Fisterra. Fin Ruta Xacobea. Que el faro y la estrella te guie en tu caminar”. Atualmente existe até uma “Finisterrana” e um refúgio para quem faz este último trecho à pé.

Ao longo do Caminho se encontra muita história antiga, muita arte, muitas lendas e milagres. Se encontra amigos e se abre o olho para inimigos. Sua sensibilidade poreja, sua atenção é total, você não perde nada. E jamais esquecerá aqueles dias nos quais - mais do que nunca - sua vida fez total sentido.

(jul/1999)

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