quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

(Hearing Earring 2 de 4) O13 Tilburg 09/mai/08


Algumas pessoas comentaram também já terem feito transcontinental flights para assistir a gigs. Aldo foi assistir ao RUSH em London em meados dos anos 80, e como bonus teve o antológico show do QUEEN en Wembley. E Mamãe foi a Miami para assistir com a Prima Lola Mary aos ROLLING STONES no show "No Security", sem segurança entre platéia e palco - e as duas em assentos “front row”...

Fui ao primeiro dos 3 shows com a camisa atual da seleção brasileira especialmente confeccionada para a ocasião, com o nome GOLDEN EARRING e o número "08" gravados nas costas. Ainda bem que saí de Breda 4 horas antes do horário (Zaal open 20.00, Aanvang 21.00, saí às 17h30m, mas o Earring só comecou às 22hs), pois levei uma hora e meia para percorrer os 25km entre o hotel e a O13 em Tilburg. Mudei a opção de trajeto no meio do caminho, e aí babau, pois todas as setas e indicações são em holandês - é óbvio - e a sinalização de estradas deles não tem NADA a ver com nossa lógica... Imagine o nó ao errar uma esquina!

A "O13" é uma excelente arena, um mini-Canecão ou mini-Credicard Hall. Cabem umas 1000 pessoas. Cervejas e todas as demais bebidas são vendidas através de "tokens", cada um custando 1,90 euro e dando direito a um copo pequeno (300ml) de draft local.

No casaco de couro de um motoqueiro na platéia: "Remember when SEX was safe and MOTORCYCLES were dangerous?"

O opening act foi a banda inglesa The 925's, garotada de 18-20 anos, brilhantes, arrebentaram, roubariam a cena não fossem as estrelas da noite as estrelas da noite... Comecaram às 20h40m e terminaram às 21h35m. Desci para forcar um xixi e pegar mais cerveja, e perguntei à loura do stand de merchandise da banda se ela estaria lá ao final do Earring (pois queira comprar o CD) - ela estaria. (continua abaixo)

Voltei e fiquei bem próximo ao palco, no 3o. degrau de baixo para cima, de onde dava para ver absolutamente TUDO.

1. SKYSCRAPER HELL OF A TOWN - O Earring entra elétrico, enxuto, saídos do banho, cheios de energia. Os 4 totalmente de preto e evidentemente felizes por estarem ali. Sem dúvida estão em casa, não há porque excursionar em outro lugar. Para minha surpresa, abrem o show com versão ainda mais pesada da música que mais tenho ouvido e cantado ultimamente: "I'm goin' up, I'm goin'down / in this skyscraper hell of a town..." (do último disco "Milbrook USA").

2. CANDY'S GOIN' BAD - Kooymans tocando com wah-wah, versão brilhante e com a surpresa do final extendido da versão original - só que bem mais pesado, é claro!

3. ANOTHER 45 MILES TO GO - Barry Hay anuncia: - "Here's Jojo!" e Kooymans canta acompanhado por TODA a platéia. Eu tinha me esquecido de que ele é um tremendo presepeiro; fica agitando a platéia todo o tempo.

4. LEATHER - Uma música curiosa: de um disco ("Grab It For A Second") que tem 8 músicas das quais 6 eu acho ESPETACULARES, eles elegeram esta “coisa” para fazer sucesso. Uma pena... mas é obvio que adorei. Um segundo guitarrista (de NYC) deixou o som mais denso - aliás, na versão original eles ainda tinham Eelco Geeling na segunda guitarra.

5. TWILIGHT ZONE - Versão hipnótica, o longuíssimo solo voando e passeando entre os falantes. Estarei sonhando? Tive certeza que sim. Se eu já tinha chorado muito de emoção durante a tarde, depois já na venue antes do show, e muito mais após o início, aqui abri o berreiro. Uma holandesa no degrau abaixo reparou e chamou a atenção do namorado.

6. LONG BLOND ANIMAL - PQP! A maior música de todos os tempos, ali, na minha frente, ao vivo! Long Blond Animal faz muito mais sentido nesta terra em que TODAS as mulheres são blondies (aliás, para quem gostar de lourinhas de olhos claros e pele branca com seios volumosos e estupendos saltando por decotes escancarados, esta terra é o PARADIS!!!).

7. FIGHTIN' WINDMILLS - Totalmente adequada para a Holanda, terra dos moinhos e das "vacas Atom Heart Mother". O Guitarrista convidado ficou no violão eletrico, Barry Hay mandou na segunda guitarra. A música que tem o verso mais marcante de minha vida, e que na adolescência cheguei a mandar gravar em uma placa: "Anything, but givin' in". Fightin' windmills, in the end... you win! Efeitos especiais: a pedaleira de Rinus Gerritsen faz o som sinfônico; e do meio para o fim, o som dos moinhos girando, bem mais alto do que no "Live 1977".

8. MY LIPS ARE SEALED - Nova. Reconheci porque já havia lido a respeito no site. Normalmente nunca gosto das músicas no Earring na primeira audição; sempre demoro umas 3 vezes para entender e mais 3 para gostar (o que aliás sempre me aconteceu com todas as bandas que idolatro); mas neste caso, foi - é óbvio - paixão à primeira audição.

9. GAMBLER BLUES - Excepcional musica do "Paradise In Distress": "I came here to gamble / not to dance tonight"... Marcada, pulsante, viril. Choro convulsivo esguinchando, o que não impediu por um único momento os olhos esbugalhados brilhantes absorvendo e refletindo tudo o que acontecia no palco. O eterno Bertus Bogers toca um maravilhoso solo de sax, um sax-rock, detesto este instrumento que prefiro chamar de "corneta", mas no caso dele (e de Andy Mackay), é um OUTRO instrumento...

10. BOMBAY - com 3 guitarras!!! Me esbugalhei de chorar, gracas a esta música eu fiz um enorme desvio em minha viagem à Índia só para visitá-la e poder cantar in loco: "Bombay seems / lost in dreams..." Um ritmo da bateria absolutamente contagiante, a platéia cantava e dançava e balançava os braços: "If I die... Kama Sutra is the reason why!".

11. WEEKEND LOVE - com 3 violas elétricas. A menina da fila da frente olhava mais para mim do que para o show, mas desta vez eu não estava chorando!... (Ela provavelmente achou que eu estaria porque Weekend Love é uma balada de sucesso). Daqui para o fim, o guitarrista convidado tocou em tudo ou quase tudo.

12. WHEN THE LADY SMILES, uma de minhas favoritas, se é que consigo ter favoritas. Introdução feita pela pedaleira de Gerritsen. O grito de Kooymans ("I know...") com distorção e delay, nunca vi algo assim.

13. GOING TO THE RUN - feita para um motociclista amigo da banda que morreu. Fabio Star adora ("He rides a bike instead of a car / I wanna be his friend..."). "Going to the run" significa "saindo para um passeio", estes passeios-esticada de moto de final de semana nos quais vai a maior galera.

14. JOHNNY MAKE-BELIEVE - a música que gostaria que tocasse em meu enterro (ou melhor, cremação).

SOLO RINUS GERRITSEN seguido por dueto com CESAR ZUIDERWIK. A cozinha do Earring destrói o Mundo na minha frente. Rinus está muito bem, dá o sangue por seu instrumento. A performance da banda é impecável, inesquecível. O baixo de dois braços era um prenúncio do que viria em seguida...

15. RADAR LOVE - Ladies & Gentlemen, Madames & Monseigneurs, Boys & Girls: eu já vi o Golden Earring tocar Radar Love ao vivo...

Com pouco mais de 1h40m o show acaba. A platéia do Earring tem um grito de guerra "we want more" que chegou até mesmo a ser o nome do lado 4 do LP "Live" de 1977. A banda volta, é claro.

ENCORE

16. SHE FLIES ON STRANGE WINGS - "Lonely as a night without you...". Música antiga em versão punk, destorcida, veloz, cruel. A esta altura a holandesa já tinha subido para o meu degrau, e dancava esbarra-daqui-esbarra -dali.

17. HOLY HOLY LIFE - demorei para reconhecer. Preciso ouvir mais Golden Earring...

Duas horas de show e eu estava emocionalmente destroçado. Falei para a holandesa: "You must have seen me crying for a couple of times...", e contei a história. Depois contei para o namorado dela, e então para um amigo do casal (que adorava música brasileira, "Planet Hemp for instance", ao que respondi "For sure"...). Começou a juntar gente, estava todo mundo curioso com aquela peça de cabeleira grisalha (deixei o cabelo crescer por 2 meses para este show, e meu cabelo cresce para os lados...), com camisa do Brasil com o nome da banda. Eu contava a história, e uma outra holandesa se chegou e falou: "But you left your country with all these women with big asses!..." e fazia gesto de mãos apalpando bundas salientes; "Here we women are all flat!". Com toda a educação que Papai & Mamae me deram, respondi: - "I prefer long blond animals...". A mulher ficou dançando e rebolando enlouquecidamente na minha frente enquanto eu falava da viagem para uma enorme galera.

No balcão de merchandise do "The 925's", os 4 da banda estavam lá. Dei efusivos parabéns, disse que era fã do Golden há 35 anos e que tinha feito a viagem exclusivamente para ver o show; mas que do jeito que o 925's é, dentro de 35 anos estarei fazendo uma viagem para vê-los... Os caras adoraram, a loura peituda e gostosinha do stand tambem adorou, comprei 3 CDs autografados pelos 4 (um e' para Marcela). Perguntei o que quer dizer o nome da banda, "it is nine to five, we work nine to five... but in fact nowadays we work from four to one!".

Na fila para entrar no camarim do Earring, a blondie do 925's passava para lá e para cá, sempre dando olhares e sorrisos sedutores e entregues. Aí disse: "I like you". Depois abriu o bolso da calça, apontou para mim, e apontou para dentro... Até que me agarrou e me sapecou um beijo - na bochecha. Estava indo embora.

No camarim, George Kooymans (bem mais alto do que eu) foi extremamente atencioso ao saber de minha história, e me convidou para entrar e beber alguma coisa - peguei uma coca, ainda ia pegar a estrada de volta. Barry Hay estava completamente alcoolizado, e quando falei do Brazil ficou falando: "I've been to Brazil two times...". Contei que sabia de Taubaté (a hilária historia que Fabio Star contou da passagem de Barry Hay por Taubaté, onde comeu "o melhor frango de sua vida"!!!), e ele balbuciou: "Taw-bah-tee... Uw-bah-two-bah...". Fiz a pergunta que sempre quis fazer: a letra de "They Dance" é sobre o Carnaval no Brasil? Os olhos de Barry brilharam, ele escavucou a memória e disse "YES, I made it in Sao Paulo, I had just visited a 'favela'... You got it man!, it is about the dancers of Carnival", eu emendei "too poor to strike a match / if you know what I mean", ele cantou um trecho errado, eu corrigi ("they dance to that voodoo rhythm"), EU CORRIGI BARRY HAY EM UMA LETRA DO GOLDEN EARRING!, enfim foi isto.

Ao final Rinus Gerritsen percebeu o quão emocionado eu estava, me abraçou para a foto, aí é que me caiu o mundo, não consegui mais parar de chorar. Falei para cada um três (Cesar já tinha ido embora) a mesma coisa: "you are the soundtrack of my life, thank you for everything, I came to the Netherlands just to see you", e Rinus respondeu "... while we are still standing...".

Foi isto. Que a sua vida tenha momentos tão sagrados quanto este. A chave está na última música do show: Holy holy life, sometimes is lonely, sometimes is sad, but sooner or later, they'll find you dead.

Holy holy life.

(mai/2008)

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