terça-feira, 15 de setembro de 2009

As cores do deserto

O norte do Chile é um imenso deserto que termina abruptamente em despenhadeiros que se projetam sobre rochedos e o Oceano Pacífico. É absolutamente lindo, merece muito mais do que os 18 dias que aqui estou passando; e merece ser cumprido de carro. Em Iquique se olha para um lado e é mar, e olhando para o outro se vê os desfiladeiros que iniciam o deserto: eu SUBI aqueles penhascos na unha, exaustivo e espetacular.

O Chile é uma aula de Geologia, aquí se vê todo o processo de formação do solo, das rochas, suas camadas e deslizamento. Nosso Planeta, vivo e ativo.

O Deserto de Atacama é um lugar muito além de minhas expectativas, que já eram grandes. Tudo é tremendamente impressionante: as CORES, de inesgotáveis quantidade e variedade, milhares de tons de terra, barro e areia, vermelhos, brancos, rosas, laranjas, claros, escuros, toneladas de diferentes verdes na vegetação, é muito mais do que possamos imaginar, me perco em encantamento, uma Pintora ou uma Fotógrafa poderiam passar aqui o resto da vida e ainda teriam muito a se deliciar. O Céu é de um azul berrante, escandaloso, chapado; à noite se pode ver quantas estrelas, constelações e estrelas cadentes se queira – principalmente se você caminhar até o deserto…

O SOL é um capitulo a parte, a pino todo o tempo, sempre escaldante. Aqui não existe a preocupação “que tempo vai fazer amanhã?”: é Sol a pino! Tenho que me cobrir de cremas protetoras durante o dia, e hidratantes à noite; mas mesmo assim estou parecendo um mouro.

A maioria dos programas exige que voce acorde MUITO cedo, e passe o dia no trekking – é claro que estou amando. A altitude prejudica muito, facilmente falta ar, facilmente se fica tonto. San Pedro de Atacama fica a 2.600 metros, mas a maioria dos passeios é a 4.500 metros ou mais.

Os passeios são inacreditáveis, me divido entre excursões de 1 dia e caminhadas sozinho pelo deserto. Há muito que ver. GEISERS explodindo agua fervente ao nascer do Sol. Tomei banho em aguas vulcânicas (e depois usei a toalha que trouxe do Brasil, creio que com isto o sr. Gabriel possa me qualificar como Mochileiro das Galaxias). Os SALARES são inacreditáveis, dezenas de quilômetros de esculturas e solo de sal, como flocos de neve de meio metro, tudo absolutamente branco. FAUNA e FLORA: zorros, vicunhas, alpacas, lhamas, flamingos, florestas de cactos. RUÍNAS INCAS no cume de montanhas. Aqui aprendemos a importância de uma árvore: após varios quilômetros caminhando sob o Sol inclemente, você faz uma festa quando encontra uma, descansa, come, se refresca – e se enche de cremes mais uma vez. Outro lugar mágico são os OÁSIS, paradisíacos, exatamente como os fantasiamos. Quem sabe eu consiga realizar um sonho: ir a boca de um Vulcão – San Pedro é cercada por belos vulcões, sendo um ativo...

Já caminhei descalço pelo deserto e pelo leito de seus rios, envolto em uma manta de lã (lana) – Jesus e Moisés perdem… A média é de 40 fotos/dia, tudo o que peço é que elas saiam como estavam no visor.

No deserto o tempo não passa. Seu silêncio é muito impressionante, devastador, ensurdecedor. No deserto não somos afetados pela quantidade de interferências das cidades. Aquí os sinais se tornam muito claros, não poluídos, não disfarçados; Paulo Coelho estava coberto de razão em “As Valquírias”. Tambem não existe consumismo, tudo é precioso, um saco de plástico é usado várias vezes, dosamos a água, o desperdício definitivamente não é o estado natural do Ser Humano.

Fabio Star me disse certa vez que lembrasse dele ao cruzar o deserto – bem, meu caro Fabio, acertastes em cheio, é a quarta vez (sendo as outras o Saara, o Death Valley e as areias escaldantes de Ipanema).

Já Ronaldo Garcia se deliciaria com as melecas no Atacama, verdadeiros bifes carnudos (porém ressecados).

Normalmente não faço planos de voltar a algum lugar – mas minha alma está no Deserto. 10 dias aquí é muito pouco. Wanda me pergunta o que tanto busco na vida, o porquê do Deserto; a resposta é que não sei o que se possa encontrar fora dele...

(mar/2003)

Nenhum comentário:

Postar um comentário